Hell on us escrita por Sami


Capítulo 3
Pequeno problema


Notas iniciais do capítulo

Desculpe pela demora.



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O som alto do disparo foi quase impossível de ser ignorado naquele momento, senti todo o meu corpo ficar tenso no mesmo instante por causa daquele som; seja lá quem fosse que estava nos atacando estava levando total vantagem sobre nós.

Virei meu rosto e notei que David continuava parado ao meu lado segurando sua pistola, ele parecia estar tenso por causa daquele péssimo momento que estávamos passando e mesmo que ele estivesse tentando se mostrar o durão que sempre foi eu sabia que assim como eu ele também estava com medo do que poderia nos acontecer em seguida.

Nós não tínhamos nenhuma estratégia para revidar ao ataque que estavamos sofrendo, nem mesmo tínhamos pensado em algum plano para conseguir sair daquela situação com vida; tudo o que estávamos fazendo naquele momento era nos manter escondidos torcendo para que aquele grupo desconhecido não nos encontrasse.

Ouvimos gritos das pessoas que faziam parte do grupo e foi difícil não imaginá-las sendo mortas por eles e pelos milhares de errantes que haviam conseguido entrar por causa do ataque surpresa que sofremos, ouvimos mais tiros e eu não soube distinguir quem havia atirado, se eram as pessoas do nosso grupo ou se eram do grupo inimigo.

Meu coração disparava numa velocidade absurda, minhas mãos estavam suadas e sentia todo meu corpo tremer devido à tensão dali. Tentei pensar de forma positiva, que iríamos conseguir sair dali com vida.

Porém conforme aquele barulho de tiros e gritos, minha mente só focava os pensamentos na desgraça que acontecia.

Um grito alto de uma mulher fez com que eu me assustasse ainda mais com tudo aquilo, senti todo o meu corpo tremer e mesmo com David ainda ao meu lado eu não consegui me sentir nem um pouco tranquila ou segura com aquilo.

Senti um dos seus braços passarem pelos meus ombros e com rapidez ele me puxou para sua direção e logo passamos para o outro canto do nosso esconderijo nada seguro. Meu coração ainda disparava de uma forma tão absurda que eu sentia como se ele fosse pular do meu peito se continuasse batendo daquele jeito. A sensação que eu o vomitaria ali mesmo não me deixava.

— Acha que você consegue correr? — Ele perguntou de forma desesperada, eu o olhei sem entender muito bem o que ele quis dizer com aquela pergunta e me preocupei com o que ela poderia significar. — Ayla! — Ele gritou meu nome, agora mais desesperado que antes.

Eu demorei um pouco para responder, nunca fui o tipo de pessoa que era ótima em esportes e correr não era bem uma das minhas qualidades, na verdade, minhas pernas não pareciam colaborar tanto assim quando o assunto se tratava de correr de alguma coisa. Mas entendia o que ele queria que eu fizesse naquele momento.

— Eu acho que sim, mas o que... — Precisei balançar a cabeça várias vezes para tentar convencer a mim mesma que eu poderia fazer aquilo sem ter problema nenhum e não me senti cem por cento certa disso. 

David levantou seu corpo o suficiente para ter uma visão mais ampla do lugar em que estávamos o condomínio que usávamos para nos abrigar já não parecia assim tão seguro quanto antes e o lugar que ele me jurou que seria bom para mim já tinha outra cara no momento.

— Ayla eu preciso que você corra o mais rápido que você conseguir, tem um lado do muro que cedeu e será por lá que você irá sair. — Ele se abaixou novamente, dessa vez me olhava parecendo estar realmente preocupado. — Não importa o que você ouça ou veja tudo o que você precisa fazer é correr. Você me entendeu?

— Espera ai, o que você?... — Parei de falar.

— Eu prometi a mim mesmo que iria te deixar segura e é exatamente isso o que eu vou fazer Ayla! — David tirou de seu cinto sua faca de cabo azul e me entregou colocando-a na minha mão e forçou para que eu a segurasse. — Saia daqui e continue seguindo até encontrar um lugar que seja completamente seguro, eu vou tentar te encontrar assim que eu conseguir sair daqui!

— Vai me dar a sua faca? — Perguntei nervosa a olhando brevemente. — O que você quer fa... — Eu parei de falar por um momento respirando fundo, desde o primeiro momento em que o conheci, David sempre mostrou um grande afeto por aquela faca; ele sempre dizia que só deixaria aquela faca sob os cuidados de outra pessoa quando estivesse morto. — David não faça a merda que você está pensando em fazer, por favor!

Implorei quando enfim entendi o que ele havia planejado.

— Ayla vai dar tudo certo! — Ele tentou sorrir; como se aquilo fosse me deixar mais tranquila. — Nada vai acontecer comigo e você sabe muito bem disso, só te dei a faca para você ter com o que se defender quando estiver lá fora! Vamos conseguir escapar dessa merda!

~***~

A faca de cabo azul ficou presa na cabeça do errante que havia acabado de matar, puxei com força tentando tirá-la dele até que finalmente consegui claro que, isso acabou resultando em uma mão totalmente coberta de sangue de morto.

Eu passei a lâmina por minha calça a limpando, sujando a roupa limpa que ganhei e voltei a matar os errantes que estavam se aglomerando cada vez mais na cercas que protegiam a prisão. Segundos antes de voltar a matar os errantes da cerca, observei um pouco o céu e notei que pela primeira vez desde que eu havia chegado à prisão estava realmente um dia muito bonito e razoavelmente calmo.

Já tinha quase quatro dias desde que Rick e Daryl haviam me chamado para fazer parte do grupo da prisão e durante esses poucos dias posso dizer que até acabei gostando de como as coisas eram por lá; todos que viviam ali tinham que fazer alguma coisa para ajudar e sempre havia um tipo de revezamento para ajudar na cerca.

E isso era algo que todos deveriam fazer. Pelo menos foi isso que um garoto chamado Carl havia me dito. Claro que eu também tinha que fazer alguma coisa enquanto vivia na prisão. Às vezes eu ajudava Carol na cozinha — isso nunca foi meu forte, mas, acabei aprendendo um pouco mais graças a ela — e outras vezes eu ajudava Carl a cuidar da plantação.

Mas naquele dia, eu e mais algumas pessoas — e Carl — foram os escolhidos para ajudar na limpeza da cerca.

Limpar a área das cercas estava ficando um pouco mais complicado do que eu imaginava que seria, quanto mais matávamos mais deles apareciam; era como se estivessem se multiplicando ali mesmo.

E só sete pessoas — contando comigo — não dariam conta do recado. Além de mim, que ajudava também era, Carl, Daryl, Rick, a filha mais velha do Hershel, Maggie, Glenn e mais um homem que eu não sabia direito se o nome dele era Bob ou Brian.

Enfiei a faca na cabeça de mais um morto que caiu para frente e logo em seguida matei mais um, os dois caíram amontoados um em cima do outro e foi assim com mais três deles. Os que ainda continuavam ‘vivos’ empurravam a cerca que nos deixavam separados deles, fiquei um pouco surpresa por ver que mesmo com partes já entrando em decomposição eles ainda tinham forças para fazer algo desse tipo.

Isso me assustou também, já que quanto mais eles empurravam mais parecia que toda a cerca iria cair em cima da gente.

— Rick eles são muitos... — A voz de Maggie parecia quase desesperada, ela matava os mortos com um pé de cabra enferrujado e Rick usava um pedaço pontiagudo de ferro. — Não estamos dando conta de tudo isso!

Eu olhei para o lado vendo os dois se olharem por um tempo, Rick parecia não saber o que fazer naquele momento, seus olhos azuis se dirigiram até a cerca onde mais deles apareceram e depois ele olhou para todos nós que estavam perto dele.

Rick parecia perdido em seus pensamentos enquanto nos olhava e isso era bastante estranho.

— Podemos... — Ele olhou para todo o corredor em que estávamos ele também estava cercado por uma mesma cerca de arame. — Seria arriscado demais...

Mudou de ideia.

Maggie o olhava esperando por alguma resposta; acho que todos nós estávamos olhando para ele esperando a mesma coisa.

— Rick?...

— Precisamos de mais gente aqui — Ele gritou matando mais um walker — Glenn vá chamar mais gente, mas não deixe que eles tragam armas. Não podemos chamar mais atenção deles aqui! Vamos tentar limpar o máximo que conseguirmos até que eles venham!

O céu começou a ficar escuro escondendo por completo o sol que fazia e não demorou muito para que começasse a chover forte — era a primeira vez desde muito tempo que uma chuva de verdade caía sobre a terra depois que o apocalipse havia acontecido.

Mesmo com a chuva ficando mais forte nós não paramos o trabalho que tinha que ser feito na cerca.

Eu me aproximei um pouco mais da cerca tentando matar mais deles o mais rápido que eu conseguisse, olhei de relance para o chão e havia muitos dos mortos caídos fazendo um tipo de pequeno monte deles; alguns ainda pareciam vivos, mas meu foco maior era nos mortos que ainda estavam de pé.

Começou a trovejar e isso pareceu deixar os errantes ainda mais agitados, eles esticaram seus braços os passando pelos buracos que havia na cerca tentando nos pegar quase que de uma maneira desesperada. Olhei rapidamente para o lado e Glenn ainda não havia chegado com ajuda; teríamos que agüentar um pouco mais tudo aquilo.

Duas mãos seguraram meu braço com a faca e mais uma mão segurou meu calcanhar, de inicio eu achei que fosse cair, mas eles pareciam estar me segurando e impediram que eu caísse no chão. Com a mão que tinha livre eu peguei minha faca e passei a acertar algumas cabeças. A quantidade de walkers que havia ali era tanta que eu não sabia qual estavam me segurando, matei vários e mais deles se aglomeravam para mais perto impedindo minha visão dos merdas que me seguravam.

Eu consegui cortar a mão de um e logo outra me segurou — isso foi ridículo —, tentei não ficar desesperada, queria manter a pouca calma que ainda sobrava dentro de mim. Chutei algumas vezes a mão que segurava meu calcanhar até conseguir fazê-la me soltar, me afastei o máximo que consegui da cerca para não ser pega novamente e tentei agora soltar meu braço.

Sobre a forte chuva que caia a cerca finalmente começou a balançar, ela se inclinou quase trombando para dentro e isso sim me deixou um pouco desesperada.

— Droga! — Ao meu lado, Carl murmurou mais alto. Dando conta do que estava acontecendo.

Eu puxei meu braço de volta com força e quando percebi estava no chão, agora que a cerca havia começado a balançar mais deles apareceram com seus braços esticados para nós. O número era quase incontável.

—Ayla! — Senti uma mão me segurar pelo braço e logo vi que era Rick tentando me ajudar a levantar, eu não tive muito tempo para agradecer a ele já que a cerca estava balançando ainda mais e tivemos que voltar a matar os mortos.

Ele aproveitou a deixa e também puxou Carl pelo braço, nos afastando mais um pouco da cerca prestes a cair.

Glenn havia finalmente voltado com mais gente e pouco a pouco mais pessoas começaram a aparecer para também nos ajudar, alguns seguravam a cerca tentando fazê-la voltar para o outro lado enquanto outros atraíam alguns dos mortos para outro lado. Um verdadeiro trabalho em equipe estava sendo feito naquele momento.

— Rick a cerca vai cair!

Para impedir que mais um incidente me acontecesse não olhei pra saber quem estava falando com Rick, apenas continuei matando os mortos tentando ao máximo ouvir.

— Eu já sei... Daryl, Glenn e Tyreese e Bob vamos pegar aqueles troncos que usamos semana passada como lenha...

Vi Daryl e Rick se afastarem do grupo que estava na cerca e logo voltei minha atenção para o que realmente interessava. Mesmo com a chuva forte que caía todos ali parecia não se importar com isso — era obvio que todos queriam deixar o lugar em moravam seguro e livre daqueles mortos.

Pela primeira vez eu percebi que o grupo da prisão não era apenas uma junção de várias pessoas que se encontraram para sobreviver juntas; eles haviam se tornado uma família no meio de tudo aquilo.

Um ajudava o outro e isso era ótimo de se ver, fiz parte de grupos que essa palavra família parecia não existir mais em seus vocabulários.

O restante de nós continuamos na cerca, matando a maior quantidade que conseguíamos para livrar pelo menos uma parte dela. O outro adolescente me ajudava, estávamos agora numa ponta mais afastada dos outros e atraiamos alguns para nós. Tirando assim um peso de apenas um lado, o plano se formou de repente; como se já soubéssemos o que precisava ser feito para ajudar.

Ele me puxou pela blusa molhada quando eu quase escorreguei e matou um que esticou o braço em minha direção. Lancei um olhar rápido de agradecimento a ele e voltei a minha tarefa.

— Chama eles para o outro lado! — Ele gritou para mim, atraindo minha atenção e apontando para a parte livre logo atrás de onde eu estava. — Você mata eles de lá e eu daqui.

Assenti e passei a fazer barulho, conseguindo chamar vários deles para onde Carl havia falado e como uma dupla, passamos a matá-los. Um a um até fazermos um amontoado deles próximos ao nossos pés.

...

A chuva havia dado uma leve trégua em questão de força, ainda que continuasse a chover a força não era a mesma de antes. Depois de muita luta a cerca estava um pouco mais segura, Rick havia chamado mais homens para colocar as madeiras de modo que a cerca não balançasse mais.

Por ter quase tudo sob controle, Rick dispensou Carl e eu, agradec por isso, pois já estava ensopada demais. Por sorte Carol havia me dado roupas limpas e secas mais cedo.

Eu estava dentro da minha cela — ou quarto — terminando de secar meu cabelo, olhei para meu punho e vi algumas marcas nele, provavelmente eram dos walkers que haviam me segurado horas atrás enquanto ajudava na cerca. Eu dei de ombros não me importando muito com aquilo, se fosse uma mordida aí sim eu estaria realmente muito preocupada.

— Como você está? — Eu me assustei ao ver que Rick estava parado do lado de fora da minha cela me olhando um pouco preocupado. — Carl me disse que você caiu várias vezes.

— Ele está preocupado comigo? — O questionei curiosa.

— Terá de perguntar a ele mais tarde. — Riu. — Está tudo bem?

Perguntou outra vez,

—Eu estou bem e a cerca? —Perguntei outra vez, querendo saber da situação atual da cerca.

— Deu tudo certo lá, as madeiras vão segurar um pouco mais e assim teremos mais tempo para planejar algum plano caso isso volte a acontecer de novo. — Falou, parecendo certo do que havia me dito.

Eu assenti torcendo um pouco a boca.

— Carl estava mesmo preocupado comigo? — Dessa vez não consegui esconder minha curiosidade, senti vontade de rir, ainda não o conhecia muito bem, mas achei legal saber de sua preocupação.

Rick riu baixo outra vez.

— Como eu disse, terá de perguntar a ele mais tarde. — Ele deixou um certo mistério no ar. — Se machucou? Hershel e Alec podem ajudá-la caso tenha se ferido.

— Já passei por coisa bem pior que isso Rick. — Garanti, tudo o que houve na cerca não era nada comparado ao que eu já havia passado antes de chegar a prisão.

— Tem certeza? — Ele parecia um pai preocupado.

— Pode acreditar em mim, o que houve hoje foi moleza. — Tentei sorrir, estava um pouco cansada com o trabalho de hoje. Mas ao mesmo tempo me sentia até mais revigorada.

Como se minha ajuda ali na cerca tivesse de fato feito uma grande diferença. Para muitos poderia não parecer grande coisa, porém eu sentia que fiz algo importante ali.

— Tudo bem então. Saiba que qualquer coisa é só ir ver Hershel, ele saberá o que fazer. — Lembrou-me. — A deixarei descansar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Beijocas e até o próximo capítulo.



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