P.O.V. Zeke

— Pouse esse carro! – imploro para Remo. Pressiono Rachel no banco para que ela pare de se debater violentamente. Ela ainda está gritando e seus olhos verdes brilham. – Agora!

Remo faz uma virada brusca e dirigi o carro quase que verticalmente na direção do chão.

— Faça ela parar! – Ian tenta gritar por cima do berro de Rachel. Ele está pressionando as mãos em seus ouvidos.

Remo olha para a rua movimentada lá embaixo. Não conseguiremos pousar com tantos carros na rua e procurar por uma área menos movimentada pode nos gastar um precioso tempo. Então ele vira o carro na direção do terraço vazio de um prédio azul. O bruxo estaciona o carro o mais rápido que pode sem causar acidentes.

Lupin se vira para Rachel e aponta a varinha para ela.

— Estupefaça! – Nenhum feitiço sai da varinha do bruxo. – Imobilus! – Nada acontece. – Impedimenta! Minble Wimble! Finite Incantatem!

Rachel grita tão alto, que talvez eu fique surdo por não estar protegendo meus ouvidos. Até que um som mais alto se sobrepõe ao dela.

— Silêncioooooooooo! – Uma voz tão intensa e anormal que faz todos os vidros do carro quebrarem.

Meus lábios parecem presos uns aos outros. Rachel para de gritar e desmaia em cima de mim. O resto de nós olha espantado para a fonte dessa voz.

Ted desmaia em cima de Ian.

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Depois de colocarmos Rachel em uma posição confortável e pousarmos Ted no chão do terraço. Peguei minha mochila no porta-malas enquanto Ian pegava a mochila de “Frozen”. Dentro da minha mochila, tiro uma toalha de rosto. Molho-a com uma garrafa de água que Ian encontrara na nossa “geladeira portátil”.

A pele de Rachel está tão quente quanto esteve quando ela anunciou a profecia. Remo não pudera fazer nada, então temos que resolver isso com uma toalhinha molhada e uma garrafa de água.

Só percebo que a garota acorda quando ela põe sua mão quente sobre a minha, que segurava a toalha sobre sua testa. Apesar da mão quente, senti um frio na barriga.

— Zeke?

— Estou aqui. – Tiro a toalha de seu rosto.

A garota abre os olhos e tenta se sentar. Eu preciso ajudá-la para que ela conseguisse erguer o corpo.

— Vou chamar Remo. Vou dizer que acordou. – Lupin pedira pra fazermos isso enquanto ele lançava feitiços protetores ao redor do terraço. Estou me levantando para ir falar com o bruxo, mas Rachel segura meu pulso.

Calafrio na barriga. De novo.

— Espere – pede ela. A garota se afasta um pouco da porta, dando um pequeno espaço no banco. – Senta aqui.

Meio hesitante, sento-me ao seu lado. Sinto a inquietação espalhar-se por todo o meu corpo.

— Preciso contar uma coisa pra você. – Ela me olha, séria. – É extremamente importante.

Aceno com a cabeça.

— Estou ouvindo.

Rachel observa o lugar onde estamos através das janelas quebradas. Ela avista Remo e Percy, que estão de costas para nós. O bruxo está tentado lançar um feitiço de proteção. Jackson só o está acompanhando, pois o bruxo pedira. A garota se vira para mim com uma expressão ainda mais séria.

— Me prometa que não vai contar isso para ninguém, tá bom?

Imagino se o que ela vai dizer está relacionado ao ataque que ela teve pouco tempo atrás.

— Prometo.

Ela olha de relance para Remo.

— Zeke, eu acho que... – Rachel morde o lábio inferior. – Acho que não podemos mais confiar em Remo.

Meu coração bate mais forte. A inquietação que eu sentia foi substituída por outro tipo de nervosismo. Eu já tinha considerado a possibilidade de Lupin não ser confiável antes, mas nunca disse isso em voz alta.

— Por que diz isso? – Reduzo o volume da minha voz. Espio o bruxo no outro lado do terraço.

— Eu sinto como se... Como se ele soubesse que Dolores estava indo para o nosso quarto de hotel. Acho que Lupin tinha previsto tudo antes de realmente acontecer.

— Como ele poderia saber disso? – sussurro a pergunta.

— Não sei exatamente, mas lá no quarto de hotel, ele deixou tudo preparado para o caso de alguém invadir o quarto. Ele me pedira para ficar escondida dentro do armário e me disse o código para ativar o travesseiro enfeitiçado no caso de alguém entrar lá. Acho que não foi só coincidência.

A ideia é interessante, mas a conclusão que ela estava tomando parecia ser muito precipitada.

— Pode ter sido coincidência. Ele só tomou precauções...

—Zeke – ela interrompe –, você pode me dizer o que ele estava fazendo enquanto a gente comprava aqueles materiais no shopping? O que ele estava fazendo enquanto todos os outros se ocupavam em outras tarefas?

— Talvez... Ele devia estar coletando poção da invisibilidade do carro voador...? – sugeri, sem muita convicção.

— Por uma hora? Acho que não. Além disso, o que ele fazia enquanto você, Ted e Percy estavam na Mansão? Você não acha que ele estava paradinho no ponto de encontro depois que vocês pegassem a Mensagem, acha?

Eu não consigo pensar em nada que Remo poderia estar fazendo enquanto aquelas coisas aconteciam, mas Rachel agora que Rachel aponta esses fatos...

— Devemos contar aos outros?

— Não. – Rachel responde sem nem mesmo hesitar. – Não falamos nada por enquanto. Tenho a sensação de que Lupin só está nos escondendo isso por causa de um verso da Profecia: “O heróis e o vilão não planejados”.

— Eu... Não entendi.

Rachel revira os olhos, impaciente.

— Remo está nos mantendo fora dos planos por que acha que um de nós é esse herói.

— Eu não interpretei a profecia desse jeito... – contestei.

— A profecia pode ter muitas interpretações. Todas elas podem estar certa, ou somente uma. Talvez essa parte da profecia não esteja se referindo a alguém que não foi planejado, mas a alguém que não sabia que estava nos planos!

Minha cabeça gira loucamente com essas suposições.

— Se isso for verdade, então nenhum de nós dois podemos ser esse herói. Poderia ser Ian, Percy ou Ted. Ou alguém que nem mesmo está aqui.

— Zeke, não está óbvio? Percy apareceu na mesma praia que vocês foram, os Dementadores atacaram vocês no dia seguinte, o oráculo me informara que uma pessoa especial estaria em Salvador e Hipnos também estava se dirigindo para lá quando foi capturado. A profecia só saiu de minha boca quando você e seu irmão apareceram na minha frente. Todos esses fatos apontam para vocês dois como nossos principais candidatos!

— Mas se eu não sou esse herói...

— Então é Ted – completou Rachel.

Essa ideia parece absurda por um instante, mas todas as peças do quebra-cabeça se encaixam facilmente agora que Rachel me dera algumas peças. Recordo-me do momento em que Ted colocara “Amy” como a senha de Ian. Também não me esqueço do grito potente que saíra da boca de meu irmão e em como aquilo fez com que Rachel se calasse.

— O que devo fazer? – pergunto.

— Não pode deixar que ninguém mais descubra. Principalmente Remo. Não pode contar a Ted até ter certeza de que essa teoria esteja errada. Acho que não deveria contar a Ian, quanto menos pessoas souberem melhor.

— Não vou nem tocar no assunto – prometo.

— Não é tão simples assim. Remo é um bruxo. Ele pode ler mentes. Isso se ele tiver magia suficiente, mas é possível. Você tem que evitar pensar nisso. Deixe sua mente limpa, ou pense em alguma outra coisa.

Definitivamente não vai ser fácil limpar minha mente. Eu nem sei como fazer isso. Talvez essa segunda opção seja melhor.

— Em que eu deveria pensar?

A garota ajeita seu cabelo ruivo e aproxima-se de mim. Ela apoia uma mão na minha coxa e morde o canto do lábio sensualmente. Seu rosto está tão perto do meu que nossos narizes quase se tocam. Ela desliza sua palma pela minha perna. Prendo a respiração.

— Pense em mim – sussurra.

Fecho os olhos.

— Vocês podem parar de se pegar por um minuto, por favor?

Rachel afasta-se de mim quase que instantaneamente, tirando sua mão de cima da minha calça e voltando à sua posição inicial com um pulo. Voltei a respirar e olhei para a janela do outro lado. Ted está com metade do rosto visível através do buraco que uma hora fora vidro. Suas sobrancelhas estão erguidas, mas não consigo ver o resto de sua face.

Eu me inclino por cima de Rachel, na direção de Ted. Empurro sua testa para trás, mas ele só perde um pouco de equilíbrio.

— Ai.

Saio do carro e vou para o outro lado deste, onde Ted e Ian estão. Rachel me segue. Os garotos estão sentados no chão. Ian está com o rosto vermelho, Ted não parece nem um pouco arrependido de ter estragado o meu momento, nem mesmo quando envio a ele meu melhor olhar assassino.

— O que você quer? – pergunto a ele sem o mínimo interesse.

— Eu não quero nada! Ian é quem precisava falar com vocês, mas ele não teve coragem para interromper o romancezinho de vocês.

Ian desvia o olhar para o chão, ficando ainda mais vermelho.

— Eu s-só queria avisar que Ted tinha... Tinha acordado – gagueja o garoto. – Temos que chamar Remo.

Por sorte, eles não ouviram nada do que eu e Rachel conversamos.

“Sorte”.

Nem precisamos chamar ele, pois o bruxo vê Ted e Rachel acordados e parte em nossa direção com Percy ao seu lado. Quando Lupin chega perto, observo seu rosto atentamente. Ele só parece frustrado por não conseguir utilizar os feitiços de proteção corretamente. Seus ombros estão caídos e os olhos cor de âmbar parecem tristes ou decepcionados.

Ele não parece alguém que anda escondendo segredos da gente.

Por pura coincidência, ou não, Lupin olha diretamente para mim no momento em que termino esse pensamento. Em um ato instintivo, penso em Rachel. Em seus olhos cor de jade e sua mão quente sobre a minha.

O olhar de Remo se desvia de mim e vai até a garota ao meu lado. Depois ele olha para Ian e para Ted. Sua expressão facial não muda.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – pede Ted. – Sinto que perdi alguma coisa.

Todos nos entreolhamos. Rachel é quem responde:

— Foi o oráculo, ele me encontrou novamente. Ele conseguiu fazer conexão comigo e me trouxe mais informações úteis. Ele se sentiu irritado por vocês tentarem interromper a conexão, então possuiu o corpo de Ted para pedir silêncio. Ele não podia me utilizar pra isso porque não seria muito bom pra minha saúde.

Senti-me um pouco aliviado ao saber que aquela voz não viera do próprio Ted.

— E como fica a minha saúde? – indagou Ted.

— Ninguém liga pra sua saúde – rebato para ele.

— Você vai ficar bem – afirma Rachel – o importante é que vamos ter que mudar um pouco as coisas por aqui.

Esse “mudar as coisas por aqui” não parece muito promissor.

— O que o oráculo te mostrou? – interroga Lupin.

— Ele me mostrou bastante coisa. O próximo personagem que vocês encontrarão é uma garota, não sei dizer quem ela é ou onde a encontrarão. Vi uma batalha de magia, não sei quem vai estar dos dois lados da batalha. Vi um avião sobrevoando o oceano. Vi todos os nomes e traços da Mensagem Quatro desaparecerem. Uma faca ameaçando cortar a garganta de Ted. Percy correndo na direção de alguém. Um pégaso voando ao lado de uma vassoura montada. Um cruzeiro partindo do porto. Ian segurando um pequeno colar, suas mãos ensanguentadas.

À medida que Rachel falava, seus olhos brilhavam cada vez mais e sua voz ficava mais grave, como se estivesse recitando outra profecia. De certo modo, ela estava. Ela estava prevendo o futuro.

Pelo menos, ela não desmaia quando termina de falar. Ela até parece bem.

— A última coisa de que eu me lembro, é do Big Beng e a Estação Kings Cross— continua – mas também tem outro detalhe: em nenhuma dessas visões eu apareci. Em todas elas, eu estou vendo por um ângulo mais alto do que eu deveria estar e eu sinto que não presencio nenhuma delas ao vivo.

— Você poderia estar em outro lugar enquanto aquelas coisas aconteciam – sugere Percy.

— Um lugar bem longe – diz ela – Eu não vou continuar com vocês a partir daqui.

— O quê?! – eu, Percy e Remo exclamamos ao mesmo tempo.

— O oráculo continua aqui no Brasil, acho que Hipnos e Annabeth também. Eu preciso ficar e ver o que o oráculo quer me mostrar. Eu também posso encontrar Snape e ficar de olho em Dolores. Não vou poder sair daqui tão cedo e vocês precisam partir. A imprensa já divulgou informações demais, vocês estão sendo procurados, tanto pela polícia, quanto por vilões. Além disso, tem gente esperando por vocês precisam ir ao nordeste. Tem uma personagem escondida em Fortaleza. A Mensagem pode não mostrar isso, mas ela vai estar lá quando vocês chegarem.

— Eu fico aqui, com você – digo sem pensar duas vezes.

— Você não pode. Vi todos vocês muito longe daqui, todos vocês. Nem um a menos.

— Não podemos deixá-la sozinha – argumenta Remo – pode ser perigoso.

— Aceitei o perigo quando aceitei ser portadora do Espírito de Delfos – contra-argumenta – e eu sei me virar sozinha.

Meu coração afunda a cada palavra que ela diz. Olho para os outros em desespero.

— Nós não podemos deixá-la! Temos que levá-la com a gente! – imploro para Remo.

O bruxo pensa em minhas palavras por um momento, mas diz:

— Ela fez uma escolha, não cabe a nós decidir o que ela deve ou não fazer.

— Nós não podemos desafiar as visões do Oráculo. Se levarmos ela com a gente, Rachel pode morrer pelo simples fato de que ela não devia estar lá – acrescenta Ted.

Olho para Percy e Ian, pedindo ajuda.

— Ela é mais forte do que você pode imaginar, ela se vira – diz Percy.

— Deixe-a ir – pede Ian.

Derrotado e com um nó na garganta eu me rendo. Suspiro. Ela vai embora de qualquer jeito, querendo ou não.

— Pode ir.

Ela me dá um sorriso triste e pega sua mochila no porta-malas do carro. A garota se despede de todos os outros. Sou o último.

Ela para na minha frente.

— Nos encontraremos novamente, Zeke. Pode apostar que sim. – ela me abraça. Quero ficar nessa posição para sempre, sentindo o cheiro de xampu de seu cabelo. – Lembre-se – sussurra tão baixo que eu me esforço para ouvir – Não confie nele.

Ela me dá um beijo suave na bochecha e vai embora.

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Fim da Primeira Fase da Saga A Reunião dos Heróis.