Epílogo Outonal escrita por Makimoto


Capítulo 1
Capítulo único — Eterno Outono;


Notas iniciais do capítulo

Não é obrigatória, mas, perguntada anteriormente por um amigo sobre uma música que podia ser ouvida durante a leitura da história, eu sugeri uma instrumental (https://www.youtube.com/watch?v=eRgrXBSvfys). Sintam-se à vontade desfrutá-la. ♡



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Ele pôs-se a escalar, serpenteando por entre as pedras que tornavam o caminho mais árduo do que conseguia se lembrar, e sentiu-se embebido por uma profunda sensação de felicidade quando finalmente foi capaz de enxergar o carvalho no topo da colina. Estava quase seco, com algumas poucas manchas alaranjadas sobre os galhos retorcidos, e totalmente diferente de quando o vira pela última vez; firme, vistoso e com uma aura mágica. O chão estava coberto de folhas secas e quase formavam uma trilha perfeita que conduzia o jovem e moribundo nobre em direção à base da árvore.

Era possível enxergar uma silhueta humana e esguia à medida que ele se aproximava. Era uma mulher; tinha longos e sedosos cabelos loiros e estava enroupada em um vestido azul muito claro e que atingia a ponta dos seus pés descalços. Seu semblante era sereno como o cair das folhas do carvalho e ela, assim que o viu, olhou-o com uma ternura tão profunda que era capaz de aplacar até o coração negro do pior dos pecadores.

— Eu voltei, Layern. — Murmurou o jovem enfiado em trapos que um dia tinham sido os de um nobre pomposo.

Estendeu as mãos e segurou as dela; eram macias, delicadas e cheiravam bem mesmo de longe, enquanto permitia-se ser encantado pelo seu sorriso e perder-se na profundidade abismal de seus olhos de oceano. Sentia-se incapaz de descrever o quanto desejou ser envolto por tudo aquilo novamente durante o tempo em que esteve na guerra.

— Nenhum inverno rigoroso me impediria de chegar aqui, assim como o sol de verão não seria suficiente para me castigar, pois em nenhuma primavera eu encontraria uma flor tão sublime quanto você.

E ele a abraçou—tomou-a e apertou-a contra o peito, como tanto se imaginou fazendo em seus mais profundos e fugazes sonhos. Enfrentou dias de profunda angústia, presenciou a morte de muitos dos seus companheiros e dormiu ao lado da carcaça de guerreiros invencíveis. E suportou, sem praguejar nem se lamentar, que perdesse parte de si naquela batalha com a muda condição que ainda tivesse, antes que o outono terminasse, outra parte para levar de volta para casa.

Para ela.

— Petros, você lembra o que me disse quando partiu?

Ele ergueu os olhos depois de soltá-la e, por alguma razão obscura que ele não sabia explicar, seu coração foi tomado por um sentimento ruim. A mulher, no entanto, continuava encarando-o com a mesma doçura de antes.

— Você disse que voltaria... — completou. — ... E que eu não tinha autorização para ir embora até que a última folha de outono caísse deste carvalho.

E então que ele entendeu.

Baixou a vista em direção às mãos, as mesmas que a abraçaram minutos atrás, e deparou-se com uma folha vermelha e seca que jazia morta sobre seus dedos. Os olhos do rapaz se encheram de lágrimas quentes. Seus joelhos trêmulos se apoiaram no chão e a única coisa que ele conseguia pensar, enquanto a imagem etérea da moça se desfazia no ar, foi:

“Não me deixe...”


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