Ventos do Inverno escrita por Noriko Rokurou


Capítulo 3
Capítulo 3




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Quando Sasuke saiu de casa, o relógio marcava 07h30min. Era cedo ainda — a sessão do cinema começaria apenas às 08h45min, e o combinado era se encontrarem às 08h15min —, mas a possibilidade de um tempo sozinho lhe agradava. Além, é claro, do risco de chegar atrasado caso saísse um pouco mais tarde, uma vez que iria a pé. Embora isso não fosse realmente um fator a ser levado em conta, pois Sasuke era conhecido, em especial, por sua pontualidade.

O rapaz sorriu.

Era fim de Novembro, já, e as aulas do primeiro ano do colégio chegavam ao fim. Havia certa nostalgia naquela situação toda — mais uma etapa ultrapassada —, e um pouco de ansiedade também; em pouco mais de dois meses começaria o segundo ano. Deixariam para trás a infantilidade que ainda acompanha os 15 anos — alguns, claro; outros a carregariam pelo resto da vida —, dando mais um passo em direção ao fim do colégio, em direção aos sonhos almejados. Era quase um milagre que quase todos fossem permanecer na mesma escola; nem sempre uma pessoa tem a sorte de estudar com os amigos até a hora de cada um ir atrás do que quer.

Sasuke estava feliz. Ao longo do ano que passara, muitas mudanças pareciam ter ocorrido. Laços foram criados, firmados, ou quebrados. Sua própria relação com Naruto parecia ter mudado: estavam mais próximos agora, mais unidos, mais amigos. Eram quase irmãos, e isso o agradava. Além disso, finalmente deixara de lado parte da indiferença que sempre sentira, e acatara aos pedidos do loiro — seu círculo de amizades parecia cada vez maior e mais diversificado. Desde Sakura — que fazia parte de seu denominado “fã-clube” desde pequena —, até Juugo — um rapaz que conseguia ser mais anti-social do que Sasuke fora em sua vida toda, mas que era um bom amigo. Nem todos eram amigos próximos, mas eram próximos o bastante para que ele pudesse chamá-los de amigos. Fora, sim, deveras difícil deixar de lado a hesitação na primeira vez em que conversara — realmente conversara, e não só gaguejara ou resmungara respostas monossilábicas — com uma garota. Garotos sempre haviam sido infinitamente mais fáceis de lidar, mas, ainda assim. Sakura tinha uma parcela de culpa nessa história — talvez ela fosse uma pessoa gentil por natureza, ou só o fizesse ao redor de Sasuke; o fato é que não ficar lhe pressionando e cutucando e tentando se intrometer em seus assuntos fora um divisor de águas para ele.

Portanto, é. Ele agora tinha uma vida social. E conversava tranquilamente com outras pessoas.

Com exceção de Hyuuga Hinata. Ela sempre era a maldita exceção. Mas não era que Sasuke ficasse visivelmente ansioso ao redor dela — ele sempre fora um bom fingidor —, era um conjunto de situações e complicações que sempre tornavam as interações entre ele e a garota em algo superficial ou coisas desconexas. O nervosismo dela, os olhos inquietos, as palavras gaguejadas, o óbvio desconforto de Hinata toda vez que o Uchiha tentava iniciar uma conversa; eles faziam com que a confiança de Sasuke se esvaísse até que ele estivesse tropeçando nas próprias palavras, perdendo-se em seus próprios pensamentos, afogando-os no silêncio — reduzindo-o outra vez ao garoto tímido que fora durante a infância.

Era difícil conversar com ela. Quase impossível, Sasuke se atreveria a dizer. Ele nunca fora nada se não um rapaz determinado, porém. Obcecado, talvez. Mas, para todos os casos, determinado. Prometera a si mesmo que iria se tornar amigo de Hinata, independentemente do custo. Ela o fascinava, chamava sua atenção, fazia com que Sasuke tivesse vontade de conhecer seus segredos, seus mistérios. Seu rosto estava quase sempre sério — por quê? Seus olhos de prata eram intrigantes; faziam com que Sasuke se perguntasse o que a faria abandonar aquele ar melancólico e tímido, e rir.

Ele queria ouvi-la rir.

Então, talvez sua intenção ao aceitar prontamente o convite de Naruto para ir ao cinema até tivesse segundas, terceiras — quartas, quintas, quem ligava? —, intenções; Sasuke estava ok com isso. Não iriam só eles, afinal. Talvez Hinata se sentisse mais à vontade com outras garotas por perto, uma vez que não parecia tão propensa ao silêncio quando não estava sozinha.

Ao menos, era com isso que ele estava contando.

✖✖✖

Dizer que os planos de Sasuke foram completamente por água a baixo seria leviano. Eles não foram por água a baixo — eles foram destruídos, destroçados, pisoteados, esmagados. Sasuke só podia encarar, estupefato, enquanto, mais uma vez, sua sorte resolvia virar-lhe as costas e dar no pé.

Maldito melhor amigo. Maldito. Não era como se Sasuke não soubesse da paixão de Naruto por Sakura — todos os garotos sabiam. Ele só não esperava… Só não esperava…

— Nós vamos comprar a pipoca, vocês cuidam do ingresso, tudo bem? — Sakura sorriu, animada, e no momento seguinte ela e Hinata caminhavam na direção contrária.

Sasuke aproveitou a deixa e virou-se para o melhor amigo; indignado, horrorizado, vagamente assustado ou ansioso, tudo ao mesmo tempo.

— Dobe. O que foi que você fez?

Naruto encolheu os ombros. O bastardo nem parecia se sentir culpado.

— Marquei um encontro duplo. — respondeu, na maior naturalidade do mundo.

E Sasuke quis matá-lo. Ali mesmo. Naquele momento. Não sabia o que era maior: a vontade de estrangular o amigo, ou socar a si mesmo por não ter pensado na possibilidade de aquilo ser mais uma das artimanhas deste.

— Você é idiota?? — perguntou, e sua voz soava alguns tons mais aguda do que deveria ser. — Um encontro duplo? Um encontro?? Naruto, que tipo de merda você tem na cabeça?

O loiro baixou os olhos.

— Escuta, Sasuke. — disse, sério. — Não tenta vir com lição de moral, tudo bem? Você não sabe como é. Você não entende.

— De que raios você 'tá falando? — Sasuke franziu o cenho, e Naruto pareceu se irritar um pouco.

— Estou falando de estar apaixonado, Teme!

Oh.

— Eu estou falando de estar completa e irrevogavelmente apaixonado por uma garota que nunca olhou pra mim antes de se tornar sua amiga! Você por acaso já se apaixonou alguma vez? Você poderia ter qualquer garota no momento que quisesse. Inferno, talvez até qualquer garoto! Todo mundo sabe disso. Mas, eu? Eu não tenho esse privilégio, Sasuke. Foi um martírio pra fazer a Sakura-chan olhar pra mim. Foi muito difícil fazer ela gostar de mim. E eu não sei nem qual é o sentido desse “gostar”! Então, 'tá, eu menti! Me desculpe se isso aqui não é o que você estava esperando! Me desculpe se o único jeito de ela vir era trazendo a Hinata-chan também!

Sasuke ainda estava com raiva. Inegável: uma pessoa não podia simplesmente mentir pra ele desse jeito, na cara dura, e esperar que tudo ficasse bem. Mas… Dizer que também não se sentia inclinado a continuar ali seria uma mentira.

Conhecia seu amigo. Seu melhor amigo. Sabia que não era uma brincadeira, que ele realmente gostava de Sakura há tempos, e que ela nunca lhe dera atenção. Sabia o quanto aquilo o tinha machucado antes, e o quanto era importante para ele…

— Tch. — resmungou por fim, quando o silêncio se arrastou por algo que pareceu tempo demais. — Você paga os ingressos, idiota.

Mesmo sabendo que provavelmente se arrependeria depois, naquele momento, o sorriso de Naruto fez valer a pena¹.

✖✖✖

O filme não fora tão ruim quanto Sasuke esperara. Talvez um pouco dramático demais — eram pessoas ou balões cheios de sangue, afinal? —, mas ele ao menos se divertira.

Até, é claro, o fim da sessão. O Uchiha esperava que ele e os outros três fossem ficar mais algum tempo juntos; andar por aí, comer alguma coisa em algum lugar. Entretanto, não era isso que Naruto tinha em mente, porque no momento em que deixaram a sala do cinema, ele e Sakura desapareceram no mar de pessoas, abandonando tanto Sasuke quanto Hinata.

— Tch. Onde aqueles dois se meteram? — Sasuke passeava os olhos pelo ambiente, embora tivesse consciência do quão inútil era. Sakura tinha cabelo cor-de-rosa, pelo amor de deus! Se ainda estivesse por ali, ele certamente já a teria visto. Desgostoso com a situação, o moreno voltou os olhos para a garota ao seu lado. — Quer sentar em um daqueles bancos ali, até eles voltarem? — apontou para ditos bancos.

Hinata pareceu ponderar por alguns instantes, antes de acenar positivamente com a cabeça — o que só serviu para deixar Sasuke um pouquinho mais irritado. Sem troca de palavras, então. Ali, ao menos, ele não se importava. Se ela preferia não falar nada, ele é que, apesar da inegável vontade de conversar, não iria incomodá-la.

Foram juntos e sentaram-se em silêncio. Sasuke dedicou-se à tediosa tarefa de observar o padrão do piso, enquanto Hinata fazia — sabe-se lá deus o que ela fazia; ele não estava olhando, como é que iria saber? Talvez tenham se passado horas, ou muito mais provavelmente minutos, já que o tédio era grande demais para se ter certeza; o fato é que, pela primeira vez desde sempre, foi Hinata quem iniciou uma conversa.

— U-Uchiha-san…

— Sim? — Sasuke arregalou os olhos, surpreso, voltando-se para encarar a garota, internamente agradecido por não ter gaguejado. Hinata mantinha os olhos baixos, aparentemente concentrada em procurar nós em seus cabelos agora longos.

— V-Você… É amigo do Naruto-kun há muito tempo… N-Não é?

— Eu… — Sasuke engoliu em seco. — Uh, é. Sim. Quero dizer, sou.

A Hyuuga hesitou durante alguns instantes, antes de finalmente erguer os olhos — aqueles olhos encantadores — para encará-lo, parecendo apreensiva. Sasuke se sentia vulnerável, como se o olhar dela pudesse atravessar seu corpo e ver muito além de todas as coisas que ele já dissera, fizera; como se somente por encará-lo, Hinata fosse capaz de enxergar os cantos mais distantes de seu âmago. Quase como se pudesse ver sua alma.

Era desconcertante.

— Ele é apaixonado pela Sakura-chan. — Hinata constatou; mas parecia querer que aquilo soasse como uma pergunta, pois no momento seguinte suas sobrancelhas se uniram, formando uma expressão levemente frustrada.

O quê? Sasuke não respondeu. Abriu a boca, com o intuito de fazê-lo, mas sua mente era um espaço em branco. Perguntou-se se aquilo era um delírio criado por sua mente exausta pelos estudos, uma alucinação por conta da quantidade de café ingerida nos últimos dias, ou talvez apenas um sonho muito confuso e realista.

Foi trazido de volta à realidade quando Hinata suspirou e desviou os olhos, lábios levemente trêmulos e silenciosos. Sasuke continuou a encará-la, num misto de desconforto, confusão, e com uma sensação deveras incômoda no peito.

Foi nesse momento que Uchiha Sasuke percebeu que Hyuuga Hinata era completamente apaixonada por seu melhor amigo.


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Notas finais do capítulo

¹isso foi um hint de NaruSasu/SasuNaru, e eu não me arrependo. MAS aos haters de plantão, e também àqueles que não se sentem confortáveis (é diferente), não, gente, não vai rolar romance entre eles nessa história. Só uma amizade platônica muito forte.
(Sacaram o drama?)
Enfim.
Agradecimentos à Reeh Tetsuya, por ter comentado nos últimos capítulos! :D

Espero que tenham gostado, e até outro dia! :)



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