Fluorescent Adolescence escrita por NotYourArabella


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Fic respostada em outra conta. Ano passado comecei com essa fic, mas por motivos pessoais tive de abandoná-la. Resolvi voltar a postá-la, o enredo será o mesmo, entretanto o rumo de alguns personagens mudaram.



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Clove cruzava os corredores do Mockinjay High School Institute como um fantasma, visivelmente alheia a toda a euforia causada pelo primeiro dia do último ano de colégio. Não fazia questão de ser simpática, embora não recusasse um sorriso educado a quem viesse cumprimentá-la.

Aliviada, sim, ela se sentia aliviada por finalmente conseguir contar os dias para o fim de todo aquele pesadelo conhecido como High School e o terror da Califórnia. Mas, céus, seria realmente necessário toda aquela algazarra e histeria coletiva? Marchava calmamente pelos corredores apertando um exemplar de “The Hollow Mansion” contra seu peito como um escudo que a protegeria de todo o falso, porém adorável, clima de nostalgia e companheirismo exagerado.

Com seu horário finalmente em mãos, dirigiu-se com um sorriso satisfeito no rosto à sala de biologia, sua matéria favorita. Escolheu um lugar na frente da sala e despejou seus materiais. Sentou-se e abriu seu livro, o mesmo que trouxera consigo em seu primeiro dia de aula. Olhou ao redor e suspirou aliviada por não haver ninguém a encarando, voltou com sua leitura agradecendo mentalmente por finalmente ter sido esquecida. Ria consigo mesma ao lembrar-se de como era tratada em seu primeiro ano.

Há quatro anos chegara da Alemanha e podia jurar que todos aqueles alunos a consideravam uma espécie de animal exótico, a espiando de canto de olho e especulando qualquer coisa sobre sua vida. Finalmente conseguiu tirar o nome “Garota da Alemanha” da boca do povo. É muito mais fácil atravessar o ensino médio quando se é anônimo.

–Hey, pessoal! – Levantou seus olhos na direção da voz. Glimmer estava em cima do tablado, apoiada no ombro de uma de suas amigas, que ria descontroladamente – Fim do mês – gargalhou, mas logo se recompôs– Fim do mês, festa na minha casa! – Soltou um gritinho que foi seguido por um coro de assobios e “yeahs”.

Glimmer desceu do tablado, recebendo os cumprimentos de todos enquanto desfilava com seu jeans skinny e jaqueta do time do colégio até o fundo da sala.

Mesmo quando a matéria já estava sendo explicada os burburinhos não cessavam. E assim seria até o fim do mês. As festas na casa de Glimmer sempre geravam expectativas e nunca decepcionavam. Desde as bebidas, até a música, tudo parecia feito para ser a melhor noite da vida de todos. E realmente era. Até que a próxima festa chegasse e provasse que eles ainda não haviam vivido nada.

–Então, de acordo com o heredograma, e do cruzamento decisivo entre 5 e 6, podemos concluir que a doença em questão possui caráter recessivo...

–Senhor Danniels? Com licença.

Como em um filme, os sussurros sumiram e todos viraram seus rostos para o garoto alto e loiro parado na porta.

“Oh, wow” Clove ouviu uma menina suspirar ao seu lado.

Cato Doyle. O astro do futebol dos Mockinjays, o garoto de ouro do colégio. Até que na primeira semana do segundo ano, sem dizer nada, ele desaparecera. Durante um mês os boatos correram, alguns diziam que havia fugido de casa, alguns que ele apenas mudara de colégio por ter se envolvido com uma líder de torcida comprometida. Outros ouviram dizer que ele sofrera uma overdose e estava na reabilitação, os mais radicais apostavam que o mesmo havia morrido. Agora, dois anos depois* ele aparecera da mesma maneira.

–Senhor Doyle... É... Um prazer tê-lo de aqui. Sente-se. – O professor, que compartilhava da expressão de surpresa com seus alunos, o apontou uma carteira vazia no fundo da classe.

Os olhos de Cato e Clove se encontraram por um breve momento, mas foi o suficiente para fazer com que uma sensação de desconforto descesse por sua espinha e subisse até sua garganta.

–P-professor? – Levantou uma de suas mãos, enquanto a outra apertava com toda força que tinha sua coxa – Não estou me sentindo muito bem, posso ir ao banheiro.

Assim que entrou no refeitório, Clove percebeu como seria impossível a tarefa de comer ali hoje.

“Você soube do Cato?”

Após ter gritado um “cala a boca” para um garoto magricela que estava atrás dela na fila resolveu comer no pátio externo, já prevendo seus punhos tomarem vida própria e acertarem alguém caso continuasse mais um minuto ali.

“Céus, a única coisa que esse menino faz é pegar a porra de uma bola”.

Com Alex Turner berrando em seus ouvidos, finalmente se sentiu em paz o suficiente para ler e comer sua macarronada com gosto de plástico.

Looked so miffed, when you wished

For a thousand places better than this”

–Olá… - Um garoto loiro e de olhos azuis parou na sua frente.

“You are a fugitive, but you don’t know what you’re running from

You can’t kid us and you couldn’t trick anyone”

–Eu... – O garoto insistiu tímido. – Com licença...

“Houdini, love, you don’t know what you’re running away from”

–Com licença. – Disse mais uma vez, agora um pouco mais alto. Clove levantou os olhos de seu livro para notar o garoto de cabelos dourados bem penteados e bochechas rosadas a sua frente.

–Me desculpe? – Perguntou desconfiada, tirando um de seus fones. – Quer algo?

–Eu... Er... – A morena franziu a testa impaciente. – Posso me sentar aqui?

“Isso é sério?”

–É um lugar público, claro.

–Com licença. – O loiro se sentou rapidamente, sem levantar o rosto e abrindo um caderno de desenhos. A garota achou graça do comportamento do garoto e soltou um risinho. - Eu sou Peeta.

–Clove. – Colocou novamente seu fone e voltou a fingir estar saboreando seu almoço.

Peeta observava a garota na sua frente. Pequena, ossos saltados, branca demais para uma moradora de Santa Mônica e cabelos escuros caindo sob seu rosto coberto de sardas.

Os dois continuaram em um silêncio confortável, quebrado por Clove alguns minutos depois.

–Peter... Peeta. Yeah, Peeta. – Jogou seus fones em cima de sua bandeja – São bonitos. – Apontou para o caderno de desenhos. “Então ela estava observando?” – Artista, hun?

–Bom...

–Posso ver? – Peeta assentiu e lhe passou o caderno marrom de couro. Clove olhava os desenhos ao mesmo tempo em que observava Peeta encarando seu par de All Star surrado. Vez ou outra ele a olhava, mas desviava o olhar quando notava estar sendo observado. Novamente não conseguiu segurar o riso.

–São muito bonitos.

–Sério? Obrigado. – Ele sorriu. A garota pôde ver seus olhos brilhando.

–Uhum. Você é talentoso, eu gostaria de conseguir desenhar mais do que um bonequinho de palito. – Os dois riram juntos.

–Não pode ser tão ruim.

– Sério, eu sou um desastre. Então, vai fazer artes? Ser um artista ou algo do tipo?

–É. Algo do tipo.

–Legal. Eu compraria um quadro seu. – O rosto de Peeta de iluminou.

–Toma. – Ele destacou um dos desenhos e a entregou. A garota fingiu não notar as linhas vermelhas nos pulsos de Peeta, que logo puxou as mangas de seu moletom. Levou os olhos para o desenho. Era um belo e colorido pássaro, cujas penas formavam chamas.

–Sério?

–Aham. Pra você.

–Wow, obrigada.

–Clove? – Os dois olharam para cima. Era Cato. Clove fechou a cara e Peeta voltou a encarar seus tênis.

–O que é?

–Sobre o trabalho de biologia... Não vou poder te ver hoje.

–E por que não? – Fingiu descontentamento, mas por dentro comemorava por não ter que passar uma tarde inteira com ele.

–Eu...

–Ei, Cato! – Os dois olharam para a escadaria, aonde Marvel Smith aparecera. – Tava te procurando! Vem logo, filho da puta!

–Só não vou poder. – Deu as costas para se encontrar com o amigo. Marvel gritou um “Hail Hitler” para Clove, que lhe mostrou o dedo do meio, antes de desaparecer com Cato para dentro do refeitório.

Quando o sinal soou, Clove se levantou rapidamente recolhendo suas coisas.

–Nos vemos amanhã?

–Claro. – Peeta disse se levantando também. – Posso trazer alguma coisa mais tragável para você comer.

–Por favor! – Gritou desaparecendo no meio da multidão.

A aula de geometria estava indo bem. Peeta já havia terminado e rabiscava sua carteira, enquanto observava seus colegas quebrarem suas cabeças tentando resolver o desafio proposto pelo professor, que ignorava os xingamentos e olhares de ódio por começar o ano com uma questão daquelas. Mas sabia que logo depois teria um horário de artes, e apesar de adorar a matéria e a professora Effie não ser tão terrível, aquela aula o dava ataques de pânico. E mesmo faltando trinta minutos para o fim de geometria, já podia sentir uma crise a caminho.

Lutou contra a ideia de pedir mais uma questão ao professor, não queria acabar em uma lixeira logo no primeiro dia, mas precisava ocupar a cabeça, enquanto calculava não tinha tempo para pensar sobre sua vida e muito menos surtar no meio de uma sala lotada de adolescentes e smartphones.

“Primeiro dia” isso lhe dava arrepios. Não podia mais ignorar o fato de que possuía apenas alguns meses para resolver seu futuro. E o futuro lhe dava medo.

Olhou para seu caderno de desenhos embaixo de seu livro de matemática, se imaginando como Peeta Mellark, um artista que mal consegue pagar o aluguel e deve trabalhar em uma lanchonete qualquer para pagar a conta de luz de seu apartamento no Brooklyn. Pelo menos isso é o que aconteceria segundo seus pais.

Suspirou se dando por vencido.

Faria o maldito curso de engenharia em alguma faculdade de prestígio, ganharia dinheiro, conheceria uma bela garota, se casariam, mudariam para o subúrbio e então se aposentaria em frente a uma lareira com um quadro de algum artista moderno em cima.

Olhou para o lado e uma garota ruiva o encarava desconfiada.

“Droga, será que estou falando sozinho de novo?”

“Eu compraria um quadro seu” não pôde deixar de sorrir com as palavras da garota que, sem saber, havia conseguido ser a única coisa boa de seu dia.


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Notas finais do capítulo

* O High school nos EUA é feito em 4 anos.



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