Merida acordou quase em um sobressalto, virou-se na direção em que Soluço permanecia dormindo, bem ao seu lado, próximo de mais e nu. Não que ela não se lembrava do que tinha acontecido, mas por um instante pensou ser apenas um sonho, fruto da sua imaginação fértil. Mas não era. A respiração pesada de seu marido adormecido tocava a sua pele e ela não conseguiu ficar nem um segundo com aquela sensação.

Merida se sentou, e respirou fundo com os olhos semi serrados, encarando as cinzas quentes da lareira do seu quarto, ela segurava os joelhos tentando se proteger do clima que começava a esfriar sem o cobertor sobre seu corpo e sem o corpo de Soluço para aquece-la.

Ela estava pensativa. Como uma dama da realeza em DunBroch sempre foram limitados certos assuntos para ela, porém tabus eram temas fáceis de se encontrar, sempre foram. Eles estavam casados, ela o quis e o tinha conseguido. Não entendia por que estava tão triste.

–Merida...

Soluço gemeu sonolento, tentou puxá-la de volta para que ela voltasse a deitar e impedisse que o clima gélido continuasse entrando pelo buraco da coberta que Merida tinha feito. Mas ela hesitou, e aquilo surpreendeu Soluço que na hora despertou receoso, o jovem viking se sentou, serio, encarando a com as sobrancelhas contraídas. E perguntou.

–Merida, o que há de errado?

Ela estremeceu com a suavidade da voz dele, ele estava preocupado de verdade, e Merida virou o rosto para o outro lado com a intenção de conseguir desviar seus olhos dos dele. Iria ser tudo mais doloroso agora.

Mas Soluço foi mais adiante ele tocou o rosto dela para virá-lo e seu coração doeu ao ver lagrimas nos olhos dela, ele não questionou os motivos apenas a puxou para um abraço, que no momento foi correspondido, e Merida abafou seu choro, ficaram minutos naquela posição, quando finalmente a princesa se acalmou e ergueu sua cabeça para fixar nos olhos verdes como a grama em DunBroch de Soluço.

–Me desculpa por tudo, Soluço.

O sorriso dele foi terno e com o polegar ele limpou as lagrimas da guerreira que naquele momento parecia tão frágil quanto um dia imaginou. Merida era forte e se um dia tinha duvidado da história que ela tinha salvo a própria mãe de uma maldição parecia tão real agora. Mas era tão nítida a infelicidade dela, Soluço cogitou a possibilidade de fazer qualquer coisa apenas para que ela pudesse ser feliz. Ela não queria estar ali, não foi um casamento planejado por ambos, e aquilo deixava Soluço triste. Em saber que Merida ainda o via como obrigação. Mas o jovem sabia camuflar suas emoções.

–Não, Merida. Eu me desculpo, por tudo. Por você estar aqui, por estar triste, por ser privada da sua liberdade...

Merida tentou o interromper mais foi impedida, pela intensidade da maneira em que ele falava. Ele estava lendo seus pensamentos por acaso? Era intimidador a maneira em que em tão pouco tempo ele já conseguia obriga-la a ouvi-lo. Nem a rainha conseguira isso em seus dezoito anos de vida. Ele continuou.

–Mas eu peço que me dê uma chance. Eu posso fazê-la feliz em Berk... Isso é uma promessa.

A mão de Soluço estava em seu queixo, impedindo de desviar o olhar. Merida sentia como se ele estivesse tentando domá-la, embora tenha dado a possibilidade de escolha, não era como se pudesse escolher um “não” como resposta, por mais que teve curiosidade de ver a reação do viking caso o dissesse, as palavras dele eram sinceras, e o olhar dele dizia que estava implorando. E os poucos segundos que tinha ficado pensativa deixou explicito o desespero interno de Soluço, ele não era o único que sabia ler pensamentos naquele relacionamento.

Ela sorriu tímida e assentiu com a cabeça positivamente. Soluço arfou aliviado e a abraçou com força.

–Obrigado, por Odin, obrigado.

Merida correspondeu desconfiada e lentamente, acariciando as costas de Soluço o tempo todo, seus olhos estavam abertos e ela estava totalmente incerta.

–--x---

Merida estava encostada na parede, mas seu olhar estava fixado em Soluço, sentado na escrivaninha, e tinha dificuldades para se concentrar com Merida o encarando daquele jeito.

Banguela estava na sala e se coçava loucamente e mal prestava atenção nas figuras humanas da sala, não mais.

–Sabe...É... Provavelmente você não sabe o que o objeto que você resgatou de Dagur significa não é mesmo?

Merida negou com a cabeça.

–Isso aqui muda tudo o que conhecemos. É a porta de entrada para um novo mundo. Lugares nunca explorados... É incrível.

Ele terminou sorrindo meio envergonhado pela empolgação que tomou conta de si naquele momento. Era o que ele era afinal, o desconhecido o chamando para novas aventuras era tão inexplicável. Merida riu divertida da reação dele, era exatamente daquelas atitudes de Soluço que a fizeram chegar até onde foi na noite passada. Quando falavam de sonhos, era tudo tão mágico. Soluço não era um sonhador, ele era um conquistador.

Ela deu passos rápidos, e o beijou de surpresa. Era estranho pensar em fugir e ainda sim, querer tanto ficar. Precisava do olho de dragão para poder partir, o sonho de Merida certamente era ser livre, era sua personalidade não podia fazer nada a respeito senão transformar pessoas em ursos para mudar seu destino. Mas daquela vez faria sem ajuda de magia. Por mais doloroso que fosse ter que se afastar de alguém tão legal quanto Soluço.

Três batidas na porta o fizeram se separar.

–Entra.

Soluço comentou encarando a porta esperando ver quem é que se revelaria. Era Astrid, tentando fugir da nevasca que ocorria do lado de fora, entrando de imediato. A sala começou a ficar molhada pela quantidade de gelo que começou a se derreter apenas com a presença do Furia da Noite. Soluço mirou o chão com os olhos espantados e depois levou os olhos para Merida que teve a mesma reação e por ultimo encararam Banguela que rangeu os dentes, mas depois foi ao encontro de Astrid cumprimentando-a.

–Pelo menos alguém tem educação nessa sala não é mesmo? – Disse a loira sarcástica. E depois suspirou lembrando o que tinha lhe levado até aquela sala, que de fato, era mais importante do que implicar com um dos dois. Por mais que fosse tentador questionar Soluço que tinha desaparecido da festa na noite passada, ou o por que dele não te ido até a academia naquela manhã, considerando que com o ataque de Dagur, mesmo no inverno os novos cavaleiros tinham começado novos treinamentos, e Merida era um dos recrutas. Bom, ela decidiu não incomodar lua-de-mel atrasada dos dois, mas se pudessem evitar uma guerra, o único capaz de pensar em alternativas era Soluço em toda Berk. Ela suspirou antes de falar.

–Soluço... Heather está no Salão conversando com seu pai. Ela trás péssimas notícias em relação à Dagur.