A história de duas vidas. escrita por Juliana Rosa


Capítulo 9
Reprise.


Notas iniciais do capítulo

Tudo sempre volta ao começo.



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Meus olhos percorrem a multidão assustados. Estou me controlando ao máximo, mas tenho que admitir que não é fácil e estou com medo, apavorada. Mais que da outras vezes, pois agora ah muito mais em risco.

Estamos no Distrito 12. A cena é igual. Moças e meninas de um lado, rapazes e meninos do outro, todos com as mãos para trás e a cabeça baixa, rezando para que seus nomes não sejam ditos. Prim e Gale estão lá também, tudo sempre volta ao começo. A única diferença é que dessa vez eu estou no palco, ao lado de Effie Trinkent que nessa manha cinzenta, parece um poodle cor de rosa com muitas camadas de pó branco no rosto para realçar a sombra e o batom do mesmo tom fazendo-a parecer uma figura de cera. Peeta está do outro lado, muito sério, os punhos cerrados ao longo do corpo, decidido.

A nossa frente estão os famosos e aterrorizantes vasos de vidro com o nome de todos ali escritos em papel brilhante e colorido. Beleza e brilho para a morte. É irônico. Numa última manobra para continuar mostrando seu poder através do medo, o Presidente Snow decidiu sortear um tributo entre os vencedores e outro no distrito de cada um, de forma que qualquer um ali poderia ser mandado para o inferno para a diversão de outros. Minha mãe observa tudo com olhos arregalados e sinto que ela foi arrancada do conto de fadas que pensava estar vivendo e jogada no meio de um furacão sem meios de se proteger.

– Muito bem. - Effie diz com sua habitual voz entusiasmada, mas percebo que hoje ela está se esforçando para fazer aquilo. - Vamos sortear o primeiro tributo entre os vencedores.

Ela se aproxima do vaso a minha frente e apenas fingi mexer nos papeis. Já há uma escolha em sua mão. Ela volta para o microfone abri o papel e lê.

– E o tributo feminino dos vencedores é...? Katniss Mellark.

Fecho os olhos por um segundo, "Deus de novo não", uma lágrima corre pelo meu rosto. Olho para Effie e vejo solidariedade em seu olhar e um sorriso triste quando ela estica o braço me chamando. Me arrasto até ela. Vejo Prim com os punhos cerrados fazendo menção de se mexer e meu coração dispara. Faço um quase imperceptível gesto em negativa e ela para.

Effie vai para o outro vaso. Engulo em seco enquanto, dessa vez, ela remexe os papeis, tira um deles e lê.

– E o tributo masculino dos distritos é ...Gale Hawcthorne do distrito 12.

Fico paralisada. Vejo Gale dar um passo ao mesmo tempo em que Peeta avança até Effie.

– Eu me ofereço como tributo. Eu me ofereço. - ele grita.

Gale para, seu rosto se contrai de raiva e Effie está tão perdida que apenas dá um sorriso sem graça e continua o show.

– Vejam só e novamente do distrito 12 temos Peeta e Katniss. Vamos aplaudir nossos corajosos competidores apaixonados que enfrentarão a arena pela segunda vez.

Mas ninguém aplaude, ao invés disso todos levantam um braço com três dedos também erguidos, o sinal do 12. De respeito, de que todos ali sabem que esse sorteio é uma farsa e estão revoltados com o modo com que a Capital brinca com suas vidas.

Peeta e eu damos as mãos e retribuímos fazendo o mesmo gesto e é como se acendêssemos o pavio de uma bomba. A multidão, avança, soldados tentam contê-la com brutalidade. Ouço Prim gritando, os braços se agitando em minha direção, Gale levando ela e minha mãe para longe. Gritos, confusão, tiros. Percebo que também estou sendo arrastada por dois soldados para dentro.

– Não. - me debato mas é inútil.

– Katniss.... - ouço a voz desesperada de Prim, mas não a vejo e antes das portas se fecharem, vejo pela fresta pessoas caindo e sangue correndo. Olho para o outro lado e Peeta está sendo levado para outra direção.

– Peeta. Peeta. - grito.

–Katniss. Para onde estão levando ela?- ele também está desesperado. - Não a machuquem . Katniss, Katniss...

Nenhuma resposta. Ele some levado pelos soldados.

Com a mesma brutalidade sou jogada numa cela escura e sem janelas, me jogo contra a porta percebendo que está trancada.

–Não, me tirem daqui. - grito, chuto, mas é tudo em vão.

O cheiro de mofo e poeira velha faz meu estômago revirar e vomito. Quando os vômitos param e minha respiração está menos ofegante me encolho num canto abraçada aos joelhos . Ainda estou tremendo, suada. Preciso me concentrar em algo ou vou enlouquecer ali dentro. Penso em mãe e Prim. Sim elas estão seguras. Gale cuidará delas, ele me prometeu. Penso no pequeno bebê dentro de mim. Como farei para protegê-lo se não consigo nem proteger a mim mesma? Me lembro do sangue vermelho correndo sobre os degraus brancos por minha causa. E Peeta? Para onde foi levado? Preciso da serenidade de seus olhos, da tranquilidade de seu abraço, e por incrível que pareça, preciso da proteção dele. Começo a chorar compulsivamente.

A porta é destrancada e alguém entra.

– Katniss?

Naquela escuridão não preciso vê-lo para reconhecer sua voz. Peeta. Me lanço nos braços dele.

– Peeta, meu Deus. Você está bem? - pergunto entre soluços, desorientada e minhas mãos trêmulas deslizam pelo seu rosto, pescoço, ombros e o peito tentando ver se ele está ferido.

Ele segura minhas mãos me olhando.

– Eu estou bem Katniss, está tudo bem.

– Eu não sabia onde você estava eu.... - nesse momento meus joelhos cedem e Peeta se abaixa me segurando.

– Fui colocado numa cela como essa. - ele responde.

Estou zonza, tudo roda. Ele me segura.

– Vamos sair daqui.

A voz dele parece distante e antes de apagar, sinto Peeta me carregando para fora daquele lugar horrível e ouço seu sussurro tranquilizador.

– Sempre estarei com você. Sempre.


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Notas finais do capítulo

Como será o futuro agora?
Uma boa leitura.