A história de duas vidas. escrita por Juliana Rosa
Geralmente era ele quem me acalmava ao acordar gritando depois dos pesadelos. Peeta. Mas essa noite, eu pedira para ficar com ele. Me sentia inquieta, temerosa. No dia seguinte, a tarde, seria o nosso casamento. Eu chamava de teatro pela sobrevivência. Depois de vencer os jogos, fomos levados para a Vila dos Vencedores. Nossas família tinham uma casa confortável, comida farta de boa qualidade e dinheiro. Em troca disso representávamos nosso papel.O povo estava encantado com os amantes sobreviventes da Arena e agora a mídia precisava vender o seu show. Então Peeta acordou no meio da noite, com os olhos arregalados e ofegante, com se ainda estivesse no meio do sonho. Levou uns dez segundos para ele me reconhecer e ouvir minha voz trazendo-o de volta para a realidade.
– Tudo bem, foi só um pesadelo.
Ele me abraçou e percebi que estava trêmulo e coberto de suor. Não dissemos nada. Fiquei apenas esperando sua respiração se regularizar, as batidas de seu coração se acalmando lentamente. Era bom. Desde que fomos mandados para a Arena e depois obrigados a representar uma intimidade forçada de casal apaixonado, abraça-lo se tornou natural. Me fazia sentir tranquila, protegida, acolhida e quente como se estivesse numa chuva fria. E eu gostava da sensação. Era diferente de quando eu via Gale. Eu sempre ficava tensa na presença dele e ao vir embora. Era como um fogo que me queimava e eu não seria suficiente, uma tempestade sempre pronta a desabar dentro de mim. Uma fúria que eu não entendia.
Peeta era a serenidade. Expressa até mesmo em seus olhos azuis.
– Você está melhor? - perguntei depois de um longo silencio.
Ele se afastou, meio envergonhado por me abraçar tanto tempo. Eu não tinha me importado.
– Sim. Me desculpe por te acordar.
Balancei a cabeça com um meio sorriso. Ele respirou fundo.
– Não é engraçado?
– O que?
–Vamos nos casar daqui a algumas horas.- ele franziu a testa dando de ombros. - Eu deveria estar numa despedida de solteiro e você em alguma comemoração feminina.
– Chá de panela. - disse achando engraçado o fato de ele não saber o nome.
– Ou isso.
– É só uma cena para eles verem e ficarem maravilhados Peeta, não é de verdade. - Eu não queria, mas a frase soou rude.
Vi um minúsculo desapontamento nos olhos dele. Vi? Ele engoliu em seco e assentiu.
– Você tem razão. - seu tom era frio e não sei por que me incomodou.
Limpei a garganta.
– Vou voltar para o meu quarto. Você vai ficar bem?
– Claro. - O mesmo tom frio, sem olhar para mim dessa vez.
Eu tinha ido até ele por que estava tensa. E tinha melhorado, mas voltou e muito maior. Percebi que o pesadelo de Peeta não era nada diante do que aconteceria em algumas horas. A confusão de sentimentos, a mudança dos destinos e o rumo que as coisas tomariam dali em diante. Isso sim era o verdadeiro pesadelo.
Me levantei e saí do quarto fechando a porta com um silêncio mortal na alma.
Continua.
Juliana Rosa dos Santos
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