As luzes caem, e eu grito, porque escuto os berros dos meninos. Após um longo tempo, estou em outro lugar, amarrada a uma cadeira e Demetrius está diante de mim, assistindo a um monitor com muita atenção.

–Veja isso - ele se vira para mim. - São seus amigos.

A tela está dividida em três, cada uma mostrando uma sala. Na primeira, Martim está mergulhado até os cabelos num tanque de água; na segunda, Felix está sendo atacado por aranhas; e na última e mais dolorosa visão, Daniel está pendurado de cabeça para baixo.

–A decisão é sua Julie, ou me ajuda, ou eles morrem novamente.

Não posso deixá-los morrer. Mesmo que agora eu saiba que as almas permanecem na Terra depois da morte, eles irão me odiar se eu for conivente com sua morte. Assinto lentamente e ele diz, sorrindo:

–Eu finalmente descobri o que você é, uma Conjuradora. Me diga uma coisinha, quando é seu aniversário e quantos anos faz?

–Onze de julho... - respondo, com medo. - Completo dezesseis.

–Que ótimo! - ele comemora. - Vejamos... você e seus amigos vão passar mais uma semana comigo e então, voltamos a conversar. Soltem os garotos!

E novamente, as luzes apagam e acordo em outra sala, mas dessa vez, os garotos estão comigo.

–Daniel! - esganiço e corro para ele, abraçando-o.

–Está tudo bem com você amor?

Esse é o meu Daniel. Foi colocado de cabeça para baixo, mas ainda assim se preocupa mais comigo do que com ele.

–Estou bem, mas fiquei preocupada com vocês.

Fito meus amigos. Martim tem alguns hematomas pequenos pelo pescoço; já Felix foi picado algumas vezes. Daniel passa os braços por meu pescoço e me beija, tentando me acalmar. Não funciona muito, mas ajuda. Dormimos abraçados, ouvindo os roncos de Martim.

+++

O dia amanhece, e em nossa cela, há uma pequena mesa com o café da manhã.

–O que significa isso? - Felix pergunta.

–Ele quer nos tratar bem - respondo. - Até o meu aniversário, pelo menos. Disse que descobriu o que eu sou, e é claro, propôs uma troca.

–O que pelo quê? - questiona Daniel.

–Eu tenho que ajudá-lo com alguma coisa que não sei o que é ou ele mata vocês.

–O que vai fazer? - Martim pergunta, mordendo um pão.

–Ajudá-lo, é claro - me sirvo de café. - Acha que vou deixar vocês morrerem?

–E se ele matar você? - Daniel fala. - Para mim vai dar no mesmo.

–Eu sou útil para ele. Não faria isso.

Com as sobrancelhas arqueadas, ele se serve de chá. Ninguém aqui confia em Demetrius, mas temos que colaborar enquanto tentamos descobrir uma forma de fugir daqui. Displicente, Felix cutuca uma grade, que se solta.

–Onde será que vai dar?

–Só tem um jeito de descobrir - digo.

POV DEMETRIUS

Quando um dos rapazes encontra a passagem na grade, a segurança se ativa. Milhares de policiais espectrais se deslocam para a saída da passagem, e eu me acomodo em minha cadeira para assistir ao show.

–Você simplesmente permitiu que eles saissem? - pergunta Amma, a mulher que me disse a verdade sobre Julie.

–Eu não permiti, eu apenas estou me divertindo com eles. Será uma longa semana até o aniversário dela, preciso de algo para me entreter.

–Entretenimento? Quando aquela garota souber o que é, com certeza irá se voltar contra você se continuar com isso!

–Eu sei que ela vai usar os poderes contra mim, ela me odeia! Então tanto faz se me divirto agora ou não.

Bufando, Amma deixa a sala e eu vou para o monitor, esperando o momento em que os guardas os encontrarão, mas também pensando no que Amma disse. É lógico que Julie usará seus poderes contra mim no futuro, mas há algo que eu possa fazer para que ela mude de ideia?