Illinois – Chicago

BEN

Cheguei em casa e fui direto tomar um banho, e fiquei pensando na vida – que no meu caso não era somente uma expressão – tentando imaginar como tudo seria se meus pais nunca tivessem morrido no acidente de avião. Meu irmão e eu tínhamos uma vida ótima antes de tudo isso acontecer. Depois que eles morreram nossa vida simplesmente virou do avesso e tudo mudou. Principalmente nós dois. Fomos forçados desde pequenos a enfrentar a vida sem a ajuda de ninguém. Mas Thomas foi o que mais mudou.

– Ben? É você? – gritou Thomas.

– Sim, estou no banheiro.

– Caralho Ben, já te pedi um milhão de vezes pra avisar quando entrar... Pensei que... – Ele fez uma pausa – Deixa pra lá.

– Eu sei. Me desculpa. Entrei e não te vi, então vim direto para o banheiro.

– Tudo bem, mas não se esqueça da próxima vez.

Sai do banheiro enrolado na toalha, e dei um meio sorriso tentado me desculpar. Odeio viver desse jeito, mas faço pelo Thomas. É o mínimo que posso fazer depois de tudo o que ele fez por mim. Fui até meu quarto e me vesti. Fiquei sentado na cama por alguns minutos encarando a parede. Respirei fundo e me levantei.

– Thomas...

– O quê?

– Conheci uma garota hoje no Lincoln Park. – Olhei para Thomas.

– Uma garota? Como assim? – Questionou.

– Sim. Ela veio falar comigo do nada... – Disse enquanto me sentava no sofá.

– Você disse alguma coisa pra ela? Ben, você precisa ser cauteloso.

– Eu sei, relaxa. Eu não disse nada, ela me pareceu inofensiva.

– Só porque ela pareceu inofensiva, não significa que ela é.

– Thomas, eu só estou contando porque você é meu irmão, estou puxando uma conversa. Não tem nada pra se preocupar, eu nem disse meu nome.

– Ok. Eu sei que eu posso confiar em você, mas depois do que aconteceu... Temos que ter cuidado em dobro.

Eu assenti.

– Ei, hoje vou naquela festa na casa do Jack. Tá a fim de ir? – Tentei quebrar o gelo.

– Você vai a uma festa?

– De inicio eu não ia, mas Jack insistiu até eu dizer que sim.

– Tudo bem, Jack é de confiança. Mas eu vou ficar por aqui mesmo.

– Você que sabe. Se mudar de ideia, você sabe onde ele mora.

Illinois – Chicago

KATE

Operação Mistério – pensei comigo mesma, apesar de ter me achado uma idiota no momento em que pensei.

Mas depois de ter sido traída pelo meu namorado e pela minha melhor amiga, eu sempre me agarrava a qualquer oportunidade que tinha para me distrair. Já fazia um pouco mais de três meses e eu ainda me sentia sozinha. Tudo o que eu tinha de mais importante não existia mais. Jenna era como uma irmã para mim, era pra ela que eu corria quando me sentia triste ou quando precisava confidenciar algo. Brian era como um porto seguro. Antes mesmo de começarmos o namoro éramos melhores amigos desde que me entendia por gente. Dá pra entender porque fiquei – e ainda estou, admito – tão devastada por dentro. Mas eu tento manter as aparências e faço de tudo para tentar esquecer aquilo.

De repente meu celular tocou, me assustando.

– Alo?

– Kate? É o Charlie.

– Oi, tudo bem?

– Tudo ótimo, como vão as coisas com você?

– Bem melhor do que da última vez que a gente se viu...

– Fico feliz em ouvir isso! – Disse ele em um tom animado.

Soltei um pequeno riso.

– Bom... Na verdade te liguei pra perguntar se você tá a fim de sair hoje à noite...

– Depende do que você tá planejando dessa vez.

– Prometo que hoje vai ser tranquilo, é uma festinha pequena na casa de um amigo da faculdade.

– Tudo bem. Só me promete uma coisa?

– Qualquer coisa.

– Não me deixa beber nada hoje. Minha cabeça está doendo até agora por causa de ontem.

– Tá prometido.

– Te vejo que horas?

– Passo na sua casa às 20h.

– Fechado. Até mais Charlie.

– Até.

Charlie é meu primo por parte de mãe, e nós sempre fomos grudados. Ele é pra mim o irmão que nunca tive. Ele está constantemente tentando me ajudar a passar dessa “fase” – como ele mesmo diz – sempre tentando fazer com que eu me distraia. Mas o jeito que ele arrumou pra isso, é me levar de festa em festa. No começo até que ajudou, mas agora nem tanto.

Eu só aceitei o convite porque eu sabia que Charlie só queria ajudar. Mas fiz com que ele me prometesse que não iria me deixar beber porque não quero que a noite passada se repita. Apesar de eu ter achado que isso estava tudo bem por um tempo, agora eu percebo que não estava tudo bem. Eu estava me perdendo, perdendo a essência que me fazia ser quem eu era.

– Agora só tenho que descobrir que roupa eu vou vestir. – E essa mania de falar sozinha tem que parar.