Fui até o guarda-roupa, peguei uma camiseta e um short qualquer e me vesti, peguei a jaqueta e o celular e desci até o portão. Ao chegar lá avistei um homem, ele aparentava ter uns 25 anos. Era alto, musculoso, olhos escuros... Eu realmente não me lembrava.

– Oi – Disse tentando me lembrar de algo.

– Obrigado por trazer – Disse ele enquanto pegava as coisas da minha mão.

– De nada. Qual o seu nome mesmo?

– Você não lembra? – Ele me olhava fixamente.

– Não leve para o lado pessoal... Eu não me lembro de nada da noite passada.

– Não é difícil de acreditar. – Disse abrindo um sorriso para mim.

– O que você quer dizer com isso?

– Que você estava doidona – Ele soltou um pequeno riso, como estivesse se lembrando.

– Doidona? Como assim?

– Bêbada – Ele disse como se fosse obvio.

– Isso explica a dor de cabeça – Eu ri.

– Enfim – Disse ele sorrindo – Obrigado de novo.

– Não foi nada – Acenei para ele.

– A propósito, meu nome é Henry – Ele sorriu e foi embora.

Voltei para dentro e fui direto pro meu quarto, deitei na cama e caí no sono novamente.

Illinois – Chicago

BEN

Meu nome é Benjamin. Sou uma pessoa reservada e de poucas palavras, não sou um cara muito sociável e prefiro minha própria companhia, mas fui forçado a ser assim. Moro em um galpão com meu irmão mais velho, Thomas. Nós dois fomos adotados por uma família logo após nossos pais biológicos terem morrido em um terrível acidente aéreo. Essa família adotiva nos maltratava e torturava tanto física quando psicologicamente.
Meu irmão, mesmo sendo somente oito anos mais velho que eu, sempre foi muito protetor. Ele já fez muitas coisas terríveis para nos proteger e só estamos vivos até hoje graças a ele. Ele se sacrificou por mim e pelo meu futuro tantas vezes que nem consigo contar.

Mas hoje em dia, nós vivemos isolados e sempre desconfiando de tudo e de todos. A história que nos levou a isso envolve nossos pais adotivos. Meu irmão, cansado de ser maltratado, decidiu fazer justiça com as próprias mãos. Ele me tirou na cama no meio da noite e me deixou do lado de fora de casa, voltou para dentro e alguns minutos depois voltou pra o lado de fora, pegou na minha mão e disse:

– Ben, corre!

Eu corri junto com ele sem questionar. Quando chegamos ao final da rua, ouvi um estrondo. Quando olhei pra trás nossa casa havia explodido. Pedaços da casa voando para todos os lados, vizinhos saindo de suas casas e gritando. Olhei para Thomas:

– O que você fez Thomas?

– Eu salvei a gente, Ben. – Ele olhou nos meus olhos – Não se preocupe, eu vou cuidar de você.

E nós dias de hoje nos adaptamos a nossa vida do jeito que é.

– Thomas – Gritei – Eu estou indo correr!

– Aonde? – Gritou Thomas.

– No Lakefront Trail!

Sai do galpão correndo em direção ao Lincoln Park para chegar até a trilha, que é na verdade tipo um calçadão em frente ao Lago Michigan. Eu sempre gostei de correr ao longo do litoral do Lago pelas manhãs. Acho que faz bem pra alma e desestressa. Coloquei os fones de ouvido, e aumentei o volume. A playlist estava no aleatório e a primeira música a tocar foi uma das minhas preferidas – Linkin Park – What I’ve Done. Corri prestando atenção na letra e pensando em como me identifiquei desde a primeira vez que ouvi.

Normalmente só corro até a metade – ou menos – do litoral que banha o Lincoln Park. Não me atrevo a correr até o fim, pois ainda teria o percurso da volta. Ao correr, sinto a brisa batendo no meu rosto e me arrisco a dizer que quando saio pra correr, é a melhor parte do meu dia. Amo a sensação de liberdade que isso me dá. Ao chegar ao final do meu trajeto, comprei uma garrafa d’água e sentei-me em um banco de madeira em frente ao lago. Olhei para o relógio e vi que ainda era meio dia e então eu decidi ficar por ali mais alguns minutos.