Estava bem mais frio que quando ele partiu, o ar estava mais pesado, a neve rala criava um manto sobre a cidade em volta deles, aquela visão era estonteante, principalmente para Peedee, finalmente o via novamente, usando roupas de frio, em pé na neve da praia, apenas alguns passos de distancia dele, mas mesmo assim ambos permaneciam parados, imóveis, quietos, apenas o som das ondas podia ser ouvido, o único movimento era o das nuvens de fumaça que se formavam a cada espirada dos dois, os olhos do rapaz brilhavam, fazia um mês, finalmente fazia um mês que ele partiu, e agora estava de volta.

Tudo começou mais cedo naquele mesmo dia, bem, não havia muito mais cedo para voltar, afinal eram apenas 10 da manha, mas faziam 2 dias que Peedee acordava antes do sol raiar, se arrumava, pegava um casaco e se sentava na área de serviço, bem... não era qualquer casaco, aquele era o casaco de Steven, aquele que foi esquecido um dia em sua casa, e que apareceu no quarto de Peedee com um recado escrito em um pedaço de papel:

“ainda estou aqui!”

Apenas 3 palavras, três palavras singelas que faziam com que Peedee esperasse tanto! Faziam apenas 30 dias que Steven partiu, mas ele ainda não havia chegado, então o trigésimo primeiro dia trouxe com ele a angustia, Peedee não estava tão seguro, a única coisa que o mantinha na realidade era aquele casaco, ainda com o bilhete no bolso, “ainda estou aqui!”, aquelas palavras eram tão verdadeiras para Peedee quanto sua própria existência, ele sentia que Steven estava com ele... mas ainda não tinha certeza se voltariam a ficar juntos, essa incerteza se esvaiu no trigésimo segundo dia, Ronaldo havia voltado para casa, passar umas férias com a família até a gravação da nova temporada de seu programa, era cedo quando o moço de cabelos enrolados entrou pela porta com um sorriso no rosto, abraçando Peedee por traz e dizendo.

–por que meu irmãozinho está tão sozinho aqui? Você devia ficar feliz, captaram uma nave entrando no perímetro atmosférico da terra, eu e meus amigos do canal ficamos malucos, mas depois eu lembrei de algo, parece que a nave era feita de água, Steven não ia voltar com aquela gem... Lapis Lazuli... de água... não é mesmo? Peedee? Você esta...

Peedee não estava mais lá para ouvir, ele já havia enfiado suas botas de frio, o casaco rosa de Steven que ficava meio curto no corpo e disparou em direção a estatua gigante do outro lado da praia, não conseguia esconder o sorriso no rosto, e foi na curva da praia que ele o viu, também correndo, eles desaceleraram até se encontrarem, então ficaram se olhando sobre o tapete de neve branco que cobria todo horizonte, e se estendia unindo-se com as nuvens brancas no céu, estava muito muito frio, e após finalmente um tempo se entreolhando, um abraço chegou lentamente, passo após passo, braço após braço, e um beijo sincero

–eu estou aqui!

–eu sei! Eu sempre soube!

E no momento um beijo se aflorou em meio a neve, um ponto de cor se formou em maio ao tudo branco resumia o mês de espera de Peedee, o ponto que marcava o fim da mesmice em sua vida, tudo iria mudar, ironicamente, aquele ponto colorido no branco marcou também o fim da neve branca, quando o ultimo floco tocou o chão silenciosamente, e os seus lábios se separaram.

–Você... está mais alto? - Peedee repara no crescimento que ele Steven teve em um mês

– Meu corpo físico é influenciado pela minha mentalidade, você é bem mais alto que eu... acho que eu queria ficar mais perto de você... então... eu acho que sim... eu fiquei mais alto!

Steven estava mais alto, mais alto que o crescimento normal, mas Peedee ainda continuava alto o suficiente para abraçar a cabeça de Steven entre os braços sem dificuldade, coisa que Steven adoraria, ele gostava de ser baixinho, Peedee soltou um riso alegre mostrando todos os dentes que podia ter, Steven então reparou.

–Seu... dente? Ele voltou? Como?

–Ele cresceu na semana em que você partiu... parece que nos esquecemos daquele detalhe...

–Saliva curativa! Eu estou tão feliz!

Steven apertou Peedee friccionando seu rosto contra o peito dele, depois respirou profundamente por sua camisa, soltando o ar com um som de satisfação.

–Você ainda cheira a batatas... eu amo isso!

Aquele momento foi um momento singelo, Peedee e Steven se entreolharam por um bom tempo, então Peedee se lembrou de sua promessa, uma que havia feito com si mesmo depois que Steven voltasse.

–Steven... venha! Eu tenho uma surpresa!

Peedee puxou Steven pelo braço rapidamente até sua casa, ele corria como o vento com um sorriso enorme na cara, Steven então começou a correr também, bem rápido, tentando ultrapassar Peedee, mas mesmo sendo um gem, o rapaz loiro cortava o ar com facilidade, e não importava a força que Steven fizesse nos pés Peedee conseguia ultrapassa-lo, eles chegaram em poucos instantes nesse ritmo, ambos pularam por cima do balcão, Peedee conduziu o recém chagado para a cozinha, ele então fala alegre e esperançoso.

–Eu fiquei o mês todo procurando uma receita, eu já havia feito ela há muito tempo, eu ia levar para a gente comer juntos, só que eu tropecei e derrubei tudo no chão – Peedee começa a se lembrar daquele dia, as bananas flambadas se tornaram sua obra prima, receita de seu bisavô, ele iria fazer questão de compartilhar com seu novo amigo que conhecera outro dia no cavalo marinho, ele correu com velocidade, o clima estava exatamente igual, nevado, o pequeno garotinho vestiu suas roupas de frio e saiu em disparada a casa do outro lado da praia, ele queria muito mostrar o que ele conseguia cozinhar, seus olhos brilhavam à medida que ele corria, mas então uma pequena pedra solta sobre a neve molhada fez com que Peedee escorrega-se, ele caiu para traz, mandando o prato para o alto, o pote caiu virado no chão, derramando tudo, Peedee chorou muito naquele dia... mas o dia de hoje não seria para chorar, Peedee se recompôs e continuou.

–Hoje eu vou fazer novamente! Eu achei a receita, treinei por um bom tempo, e agora adivinhe? Eu estou melhor na cozinha! Vamos ver... eu vou usar...

Peedee começa a remexer nos utensílios e ingredientes, eles se vira e vê Steven com a cabeça apoiada nos dois braços, os cotovelos sobre a mesa como se admira-se Peedee, com um grande sorriso no rosto

–O que foi... tem algo... estranho em mim?... Steven não me olhe assim... eu vou ficar...

–Você não mudou nada Peedee! Continua o mesmo de sempre!

–I-i... isso é ruim ou é bom?

Steven se levanta esse aproxima de Peedee calmamente, Peedee começa a suar frio, algo o fez ficar nervoso, o tom de voz de Steven talvez, a forma de olhar sedutora dele, um olhar que Steven nunca havia feito antes, ele se aproximou e disse bem perto

–Bem... Eu amo o Peedee de sempre...

Steven beija Peedee segurando sua cabeça por traz, entrelaçando seus dedos nos cabelos amarelos dele, naquele momento o garoto se sentia mais vermelho que a calda de morango que estava em suas mãos, estava, ele a derrubou no chão repentinamente e abraçou Steven, aquele momento poderia ser perfeito, isso mudou quando Ronaldo apareceu na porta da cozinha recostado na madeira do arco.

–Ora ora ora... então papai falou a verdade, meu irmãozinho está namorando o Crystal Gem Steven Quartz Universe... que interessante.

Peedee reage com um sobressalto, ele pega a calda de morango no chão e coloca sobre a mesa junto com as outras caldas, e então a retira imediatamente, pois com a de morango as caldas somavam 6, e números pares eram sempre ruins.

–Ro... Rona-ro-Ronaldo!

–calma calma... eu não vou ficar que nem o papai... ele foi meio cabeça dura, eu não tenho nada contra isso ok? Afinal eu sempre achei vocês dois juntos tão fofos!

Ronaldo se aproximou e apertou a bochecha dos dois, Steven ficou extremamente vermelho também, ele olhou para Peedee, Peedee olhou para ele, ambos vermelhos como pimentões. Ronaldo se afastou em direção a porta percebendo sua interferência

–espero que fique bem entre vocês dois, ah e Steven... segure ele, pode não parecer, mas Peedee é a pessoa mais valiosa que eu tenho, e ele com certeza fara você se sentir assim!

Ronaldo deixa a cozinha, Steven estava extremamente embaraçado, Peedee se virou e apertou o frasco de calda entre as mãos, dizendo.

–É... é melhor eu começar logo, você deve se sentar e esperar, não vai demorar muito, e eu tenho certeza de que você vai amar!

–eu já amo lembra! Steven dá um abraço por traz de Peedee e se senta novamente na mesa, observando Peedee colocar o avental azul e começar a preparar o prato, foi extremamente rápido, Peedee preparou em uma frigideira e colocou sobre a mesa, Steven olhou com os olhos estrelados as bananas na sua frente, e já com o garfo na mão estava indo abocanhar a primeira delas, Peedee vê e puxa a frigideira pelo cabo falando

–Ainda não... lembra qual é o nome do prato?

–Bananas Flambadas, por que?

–Por que falta flambar!

Com um fosforo, ele ateia fogo nas frigideiras, no começo, Steven achou loucura, mas na forma em que Peedee manuseava frigideira, jogava tudo para cima e depois pegava sem derramar nada, e o formato que as labaredas tomavam subindo no ar o deixaram completamente impressionado, já salivava esperando por comer aquilo, parecia tão delicioso, não lhe seria surpresa se realmente fosse uma delicia, afinal nada que Peedee havia preparado para ele tinha um gosto ruim, Peedee então apaga as chamas com uma tampa, e serve finalmente em duas largas tigelas os pedaços de banana mergulhados em calda tostada, Steven trata logo, sem fazer qualquer cerimonia, enfiar o primeiro pedaço na boca, ele ficou paralisado, o sabor era indescritivelmente bom, Peedee esperava ansiosamente por uma critica.

–E ai? Como ficou? Ficou bom? Gostou?

–ficou bom...

–bom? Nossa... esperava algo melhor...

–é que não dá pra encontrar outro adjetivo, isso está... está...

E Steven beija Peedee com toda força, aquele foi um ótimo momento, Steven não comia comida da terra a um mês, e sua primeira refeição sendo essa foi ótima, seus olhos lacrimejavam; Peedee e Steven terminam de comer com vontade, lavam os pratos e correm para o quarto, para colocar as conversas em dia, Peedee deita na cama e se estica o máximo que pode, Steven senta na beirada.

–E então... como vai as coisas lá fora, me conte sobre o espaço!

–Não tenho muito a falar... sabe acho perigoso você se meter nisso Peedee, não quero que você se machuque...

–Você me curaria lembra! O dente! – Peedee senta na cama e passa a língua no seu mais novo osso que havia crescido no lugar do buraco em sua boca.

–Mesmo assim o espaço ainda não é para humanos! É um lugar paga Gems!

–Você conseguia ver a terra de onde você estava?

–Ela acaba parecendo um ponto azul pálido vista de longe, mas é muito bonita quando você está tomando distancia, eh! eu tirei essa foto pra você!

Steven cria uma bolha rosada, dentro dela aparece uma pequena foto revelada, de começo Peedee não distinguiu o que era, mas ele percebeu do que se tratava imagem.

–ISSO È SATURNO? VOCÊ FOTOGRAFOU SATURNO!

–Sim sim... eu estava na orbita de Titã e de repente me veio em mente! Eu também trouxe isso! – Steven cria outra bolha, nessa havia um frasco com uma etiqueta dizendo “atmosfera de Titã, não abra!”

–VOCÊ PEGOU A ATMOSFERA DE TITÃ! ISSO È INCRIVEL! STEVEN! VOCÊ É O MELHOR NAMORADO DE TODOS!

Peedee abraça Steven e coloca as coisas que ele havia trazido cuidadosamente do espaço para ele, depois lhe bate a duvida.

– Eu não sabia que você conseguia embolhar coisas e traze-las até você Steven! Incrível!

–Não é? Eu guardava tido no Lion até que eu aprendi isso, agora eu coloco tudo nas bolhas, meu pen-drive com musicas, meus jogos, meu notebook, meu celular! Pera meu celular! Eu tenho que checar as chamadas!

Steven cria novamente outra bolha, ele a estoura e o celular cai em suas mãos, Steven mexe por alguns segundos e depois fala

–Nossa! 9 chamadas de um mesmo numero só nesses últimos dois dias!

–Quem era?

Steven abre e fica parado, ele não respondia, Peedee percebeu que algo estava errado, Steven olhava fixamente para a tela como se algo horrível fosse acontecer, Peedee perguntou novamente, Steven gaguejou, murmurou e depois falou:

– Era... a Connie.