Depois de a garota explicar todo o trabalho á João e implorar muito, o rapaz aceitou e Bianca o empurrou corredor a frente, rumo a sala da garota. Assim que os dois entraram, a sala inteira encarou curioso o nerd. João conhecia quase todos ali. Os garotos do fundo, que corriam atrás dele, pelo menos três vezes por semana, depois da escola para bater em João. As patricinhas da fileira da janela que sempre no fim do bimestre entregavam seus cadernos á ele para fazer seus trabalhos. O grupinho do meio que sempre o chamava de “Hey esquisito” quando passava por ele. E os nerds da frente que o odiava por ser o melhor nos jogos. Mas ninguém ali sabia seu nome.
– Bianca, o que está acontecendo?- Perguntou a professora irritada com a garota tomando a frente da sala.
– A Bi só quer mostrar o novo namoradinho dela, vamos Bi, nos conte em qual lan house vocês se conheceram?- Zombou Jade.
– Modos mocinha, modos!- Ralhou a professora.- Vamos Bianca, estou esperando uma explicação.
– Esse é João Spinelli, o meu trabalho de artes.- Falou Bianca sorridente apontando para o garoto magricela.- Diz oi para galera.- Sussurrou para o nerd.
– Oi.
João ergueu o braço direito magricela e notou que as pessoas que estavam sentadas na fileira da frente franziu o nariz. Então o garoto se lembrou que não tinha tomado banho de manhã e sua blusa de mangas compridas tinha sido usada ontem, no dia anterior o João havia corrido dois quarterões dos valentões.
– João, pode abaixar o braço, por favor.- Falou Bianca sem graça.
– Ok Bianca, boa sorte com o seu trabalho, porque você vai precisar.- Falou a professora se setando na sua cadeira.
João voltou para sua sala e Bianca para o seu lugar.
– Olha Bianquinha, a professora falou “transformação humana”, não “milagre”.- Zombou Vicki.

(...)
João estava em seu quarto com Bianca, que praticamente, estava depenando seu guarda roupa. Ela olhava uma peça de roupa e balançava a cabeça jogando no chão. João não tinha certeza, mas acreditava que as roupas que estavam no chão eram inadequadas aos olhos da morena.
– Será que você não tem nenhuma calça jeans decente?- Perguntou Bianca jogando uma calça jeans surrada no chão.
– Qual o problema com as minhas calças?- Perguntou João coçando a bochecha direita.
– Larga de mais.- Bianca mostrou uma calça para o garoto e depois a descartando na pilha de roupa no chão.- Clara de mais.- Bianca descartou outra.- Retrô de mais.- Mais uma para a pilha.- Sem graça demais.- Outra que se juntou a pilha.
Bianca olhou para o guarda roupa e a enorme montanha de roupas no chão.
– Diz pra mim que essas não são suas únicas roupas.
– Ah claro que não, se você puxar aquele livro verde na estante, abrirá um closed enorme.- Disse João sarcástico.- Qual é garota? Você vai dizer que a roupa que eu estou vestindo também “não é decente”?
– Não é, mas não dá para você ficar pelado.- Bianca suspirou alto derrotada.- Vamos lá Bianca, você consegue, você não vai repetir em artes.- Disse a garota mais para si de olhos fechados.
– Você tá falando com quem?- Questionou João próximo demais da garota.
– Aí meu Deus.- Bianca deu um passo atrás.- Vamos fazer assim, sem aproximação, ao menos que eu peça.
– Ok.- João ergueu os dois braços dando uma voltinha.- E o que você vai fazer com esse seu trabalho de artes?- Perguntou o garoto sorrindo.
– Primeiro de tudo.- Bianca pegou uma calça qualquer e uma camiseta da pilha de roupas.- Vai tomar um banho e, se tiver um perfume, passe.- Bianca entregou o muda de roupa ao rapaz e o observou enquanto ele saia para a portinha que levava ao banheiro.
“Isso vai ser um desastre” pensou a garota.

(...)
Bianca levou o rapaz até a academia do pai e assim que entrou no ambiente, os brutamontes (como João o costumava chamar) o encarou e começaram a rir.
– Fique aqui, é rapidinho.- Falou a garota deixando o nerd sozinho.
Nervoso João puxou o celular do bolso e abriu um dos aplicativos de jogo. Jogar sempre o acalmava, fingia que era um dos caras musculosos com armaduras e espadas, sentia que era invencível e que ninguém o machucaria.
– Hey, o que você está fazendo aqui?- Escutou uma voz familiar e nem precisou olhar para saber que era Karina. A amiga lutava ali, na academia do pai das duas irmãs Duartes, Gael Duarte.
– Coisa da Bianca. Parece que eu sou o trabalho de artes dela.- Falou João sem tirar os olhos do jogo.
– Trabalho de artes? Que parada é essa?- Perguntou a loira confusa.
– Sei lá, só sei que ela vai me mudar por completo. Me transformar no cara mais cobiçado da escola.- Explicou João.
– Meu Deus.- Karina riu.- Boa sorte para Bianca.
– Por que todo mundo da risada?- Perguntou João irritado.
Karina voltou para o treino rindo e Bianca surgiu com um peso nas mãos.
– Larga esse celular.- Ordenou Bianca e João bufou colocando o celular no bolso.- Aqui, todo dia de manhã quero que você levante esse peso 50 vezes em cada braço.- Bianca entregou o peso para o garoto que revirou os olhos.
– Pra que isso?
– Pra que sim! As garotas gostam de bíceps, sabia?
– Eu não vou ter bíceps, nunca.- Lamentou João.
– Dá para parar de ser pessimista.- Bianca o intimou com aqueles olhos castanhos chocolates e João apenas abaixou a cabeça concordando em tentar.

(...)
Bianca passou pela biblioteca e pegou alguns livros mais atuais de fantasia. Histórias do tipo que adolescentes normalmente lêem.
– De tudo, eu nunca imaginei que você me levaria á uma biblioteca.- Confessou João pegando um quadrinho do Capuz Vermelho.
– As garotas amam os heróis dos livros, eles são o príncipe encantado dos anos atrás.- Explicou Bianca colocando uma distopia na pilha em seus braços.
Quando viu a hq nas mãos do rapaz, o encarou tirando o quadrinho da mão de João.
– Quando disse “heróis” não estava falando de quadrinhos. As garotas não gostam de quadrinhos.- Disse Bianca colocando a pilha de livros nas mãos do nerd.
– Ah qual é? O Capuz Vermelho não é nem um herói.- João seguia a garota pelas prateleiras de livros.

(...)
Os dois pararam em frente a casa do adolescente e Bianca suspirou encarando o rapaz.
– Olha, amanhã trabalharemos sua postura, por hoje acho que é só.
– Sou um homem livre agora?- Perguntou João sarcástico.
– Foi tão ruim assim?
– É que você é muito mandona.- Falou João tentando não magoar a garota.
– Me desculpe, sério.- Bianca olhou para João.- Aquela professora me odeia… eu só quero que isso dê certo.
– Eu prometo que vai dar.- João sorriu tranquilizando a garota.- Por qual desses eu devo começar?- João se referia aos livros.
Que tema mais louco e de fato João não queria mudar, nunca parou para pensar em uma mudança, mas acreditava que era a vida tentando não fazer do seu ensino médio um inferno completo.