Eu não conseguia ficar parado em casa. Hiperatividade, Transtorno de Déficit de Atenção e ansiedade não ficam muito bem juntos. Eu andava para lá e para cá, zapeava por todos os canais... Enquanto Paul ria. Minha mãe estava no trabalho e, bem, como Paul é professor, o expediente dele acanou junto com o meu.
- Calma aí, Percy, se não você acaba quebrando esse controle remoto! - ele disse, tomando o controle da minha mão enquanto eu zapeava pelos canais da Tv à cabo pela quinta vez desde que eu chegara em casa. Fui à geladeira e descobri eu que eu já havia acabado com toda a Coca-cola. Então, comecei a andar para lá e para cá no apartamento. Paul segurou meu braço e me puxou para o sofá.
- Calma aí, rapaz! É só um encontro! - ele falou, embora ainda tivesse rindo. Encontro. Aquela palavra realmente não me ajudou a relaxar nem um pouco.
A campainha tocou. Eu dei um pulo e corri para atender a porta. E lá estava ela. E não parecia ter acabado de voltar de um dia de trabalho no Olimpo. Annabeth usava um vestido azul simples, pouco acima dos joelhos e com um decote simples. Seus cabelos estavam soltos, ela havia trocado os brincos de corujas por um par de brincos de ouro e seus lábios estavam um pouco rosados. Sério, eu queria dizer algo como: "Uau, como você está linda!", mas tudo o que saiu foi um:
- Uh! - eu devia estar parecendo um perfeito lesado. Annabeth sorriu.
- Espero que eu possa considerar isso um elogio!
Eu não respondi, continuei olhando pra ela igual à um idiota, até que Paul apareceu.
- Olá Annabeth!
- Olá, sr. Blofis!
- Não vou interromper vocês dois, então só vim entregar a chave do meu carro para o Percy, que não parece estar no meio de nós neste momento.
Annabeth riu e eu despertei do meu transe. Paul me entregou as chaves e disse:
-Juízo vocês dois, hein! E vê se não se desconcentra muito da estrada, viu Percy? - Paul sorriu e meio que nos enxotou para fora de casa.
Eu e Annabeth descemos até a garagem e pegamos o carro de Paul. Eu evitei olhar para ela para não correr o risco de entrar em transe novamente enquanto estávamos na estrada e causar algum acidente.
- Um dracma pelos seus pensamentos, Percy Jackson! - ela disse quando paramos em um sinal vermelho. Me arrisquei em olhá-la e, felizmente, não entrei em transe novamente. Graças aos deuses fora apena o choque inicial.
Eu sorri para ela e respondi:
- Você tá linda! - consegui dizer e senti meu rosto esquentar. Ela corou também, mas sorriu de volta.
- Sinal verde! - ela disse.
- Hã?!
- O sinal ficou verde, cabeça de alga!
- Ah tá! - e voltei a dirigir. Ah, é! Esqueci de mencionar que já havia tirado minnha carteira de motorista.
****
Enfim, chegamos ao cinema. Depois de um tempo tentando decidir qual filme assistiriamos(tudo bem, o filme não faria diferença, já que não íamos prestar atenção de qualquer jeito), nos sentamos em uma mesinha da lanchonete do cinema. A seção iria a começar só dali a meia hora, então, decidimos comer alguma coisa.
- E então, como foi lá no Olimpo? - perguntei, embora soubesse que não ia prestar muita atenção no que ela ia falar. E não deu outra. Ela começou a falar das idéias dela, de como estava ficando e blá blá blá. Seus olhos brilhavam, e eu sabia que só ver ela feliz daquele jeito valia a pena em troca de escutar um discurso sobre arquitetura. Quando ela parou de falar, eu lembre de algo:
- Ah, e o que sua mãe falou pra você? - eu perguntei, me sentindo meio culpado de tê-la deixado lá levando sermão sozinha. Annabeth não parecia abalada com isso, mas corou um pouco.
- Bem, ela primeiro brigou por eu ter me atrasado.
- Mas a gente saiu cedo do seu colégio justamente para não chegarmos atrasados! - eu respondi indignado.
- Sim, mas a gente parou bastante no caminho, caso você não se lembre. - Annabeth ficou bastante vermelha agora e eu tentei lembrar de quantas vezes a gente havia parado só para nos beijar. Não pareciam ter sido tantas. - E ela também disse que não aprova nosso relacionamento.
- Me diz algo que eu ainda não saiba! - Annabeth riu.
- Mas minha mãe não pode fazer mais nada já que recebemos a benção de Afrodite.
- E o que isso quer dizer?
- Bem, minha mãe pretendia separar a gente de alguma maneira, principalmente atacando você! - Respondeu Annabeth indignada. Espero realmente que ela não tenha discutido com a mãe por minha causa. Ela abriu outro sorriso. - Mas minha mãe não pode fazer mais nada porque recebemos a benção de Afrodite!
Continuei olhando confuso para ela. Annabeth tomou fôlego, do jeito que ela fazia quando estava prestes a explicar algo.
- Acontece, Percy, que quando Afrodite se simpatiza com algum casal, ela dá a esse casal sua benção. Não é muita coisa, só que nenhum outro deus, semi-deus ou espiritos da natureza podem intervir. Em alguns casos, os mortais também são abençoados, mas são pouquíssimos. A maioria recebe uma maldição, por isso há tantos casamentos que não dão certo hoje em dia. E, garanto que Hera não gosta nem um pouquinho das maldições de Afrodite. Em todo caso, o casal que recebe a benção de Afrodite só é separado quando há um abalo dentro da relação, mas não pode ser separado por meio de outras pessoas.
- Logo, as tais líderes de torcida que você estava com medo não podem fazer nada contra nós. - eu concluí. Annabeth fechou a cara.
- Eu nunca disse que tinha medo delas!
- Tudo Annabeth me deu um tapa no ombro e eu ri. Estava prestes a puxá-la para perto de mim e beijá-la, quando...
- Ora, ora, ora, se não é a Nerdbeth! E esse deve ser o tal do Percy!
Ambos, eu e Annabeth, olhamos para o lado. Lá estava um grupo de 5 garotas, todas usando roupas minúsculas. A que estava no meio, provavelmente a "líder" delas, era morena, de cabelos e olhos negros. Haviam duas loiras, de cabelos lisos e olhos verdes, muito idênticas, provavelmente gêmeas. A quarta também tinha cabelos negros e lisos, que, acredite ou não, chegavam até a cintura e olhos castanhos. A última era a única que parecia não querer estar ali, ela tinha cabelos curtos, em um corte channel, e ruivos e seus olhos eram castanhos também, porém eram os únicos olhos que demonstravam compaixão e não superioridade.
- Olá, Isabelle! - respondeu Annabeth friamente. Ela segurou minha mão e me puxou delicadamente.- Vamos, Percy, nosso filme já vai começar.
- Ah, Nerdbeth, não seje mal educada. Pelo menos nos apresente ao seu namorado. Parece que já sabemos tanto sobre ele e ele nem ao menos nos conhece! - Disse uma das gêmeas sorrindo maldosamente.
- Acho que a escola toda já conhece ele, né, Claire? - respondeu a outra gêmea maldosamente. Todas as meninas riram, exceto a ruiva.
Annabeth ruborizou e eu senti uma raiva daquelas garotas pecorrer todo o meu corpo.
- Então, já que Nerdbeth não faz as honras, acho que vamos ter nos apresentar! - suspirou a líder do grupo. Annabeth tentou me puxar para longe, mas elas haviam nos cercado e, infelizmente, não podiamos atacá-las. - Bem, meu nome é Isabelle e essas são minhas companheiras de torcida. Essas são Claire e Hadley - ela apontou para as gêmeas, que acenaram sorrindo maliciosamente. - Aquela ali é Vanessa - ela apontou para a garota de cabelo comprido. - E essa daqui é Juliet! - ela apontou para ruiva, embora eu tenha notado que ela não parecia gostar muito da tal de Juliet.
Confesso que as achei razoavelmente bonitas, mas, cá entre nós, As Caçadoras e as filhas de Afrodite davam um banho nelas. E, obviamente, Annabeth era muito mais bonita que todas, sem nem ao menos fazer esforço, ao contrário delas.
- Mas que fofo, os dois tem mechas combinando no cabelo. - falou a tal de Vanessa num tom falsamente infantil e mecheu no meu cabelo. Eu havia até esquecido que tanto eu quanto Annabeth ficamos com parte do nosso cabelo branco após segurar o céu, literalmente.
Eu queria sair dali e ir curtir o cinema com Annabeth, mas aquelas garotas não pareciam que iam sair dali tão rápido. Tentei forçar um sorriso e as respondi:
- Muito prazer, garotas. Bem, se vocês nos derem licença, eu gostaria de ir assistir ao filme com Annabeth!
Eu juro que tentei ser o mais frio possível, mas minha voz acabou tremendo. As meninas riram e sentaram na mesa que antes eu e Annabeth estávamos, as gêmeas nos empurraram de volta.
- Não sejam bobos, a próxima sessão só começa em 15 minutos, podemos conversar um pouco! - até que a gêmea que me forçou na cadeira era bem forte.
- Olha, nunca pensei que Nerdbeth fosse ter tamanho bom gosto!- disse a gêmea que havia me empurrado, Hadley. Ou Claire, não interessa! E o jeito como elas estavam chamando Annabeth estava realmente me irritando, eu queria atacá-las com Contracorrente, mas o bronze celestial não machucava mortais. Uma pena! Olhei para Annabeth, suas feições eram de pura indiferença.
- Concordo! Chegoa me perguntar o que um cara lindo desses viu nessa nerd! - respondeu a tal de Vanessa. Senti a mão de Annabeth apertando a minha e percebi que ela provavelmente estava tão irritada quanto eu.
- O que eu vi nela não é da conta de vocês! - respondi. - E com certeza é algo que não vejo em nenhuma de vocês, porque Annabeth é milhões de vezes melhor e mais bonita do que qualquer uma dessas líderes de torcida aqui! Agora, se me derem licença, eu vou assistir ao filme com minha namorada!
Elas não pareceram gostar muito da minha resposta. A única que sorriu foi a tal de Juliet, e, sinceramente, eu estava até achando ela legal, apesar de andar com aquele grupo de patricinhas metidas.
A líder, Isabelle, se aproximou de mim e disse:
- Você vai ser arrepender disso, Percy Jackson!
- Estou esperando pra ver! - eu respondi com um sorriso de desafio no rosto.
Isabelle se afastou com raiva no olhar. Eu me virei para Annabeth e estava pretes a puxá-la para o cinema quando uma das líderes de torcida, Vanessa, gritou:
- VOCÊ SABIA QUE A SUA NAMORADINHA TEM SONHOS ERÓTICOS COM VOCÊ?
Aquilo me atingiu como um soco no estômago. Elas não estavam nem tão distantes assim para ela gritar, então eu percebi que a maioria das pessoas ali no cinema estavam olhando para nós e rindo, juntamente com as líderes de torcida(exceto por Juliet). Annabeth estava muito vermelha e eu provavelmente não estava diferente.
- Vamos assistir ao filme? - sugeri. Annabeth assentiu e corremos para a sala de cinema.
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Estávamos constrangidos demais para falarmos qualquer coisa. Para ser sincero, eu me senti um tanto lisonjeado de saber que Annabeth tinha sonhos comigo, até porque ás vezes eu confesso que também tinha. Mas obviamente não era algo que nenhum dos dois comentaria ao outro. Estava passando os trailers na tela do cinema, mas eu realmente não estava prestando muita atenção.
- Você acha aquilo mesmo? - sussurrou Annabeth ao meu lado e eu percebi que seus olhos estavam marejados. Que ótimo namorado eu era: minha namorada havia acabado de ser humilhada em público e eu pensando em sonhos eróticos!
- Aquilo o que? - Perguntei meio sem graça.
- Que eu sou mais bonitaque as líderes de torcida?
Eu sorri para ela.
- Você é milhões de vezes mais bonita que qualquer uma delas! - eu respondi e fiquei feliz ao vê-la abrir um sorriso, apesar dos olhos marejados.
-Ah, e quanto aos sonhos... - eu não deixei ela terminar, calando-a com meu dedo indicador. Aquilo já era constrangedor demais sem precisar falar no assunto.
- Esquece isso, ok?
E a beijei ternamente. Ela correspondeu e, logo, o beijo já não estava mais tão...terno. Qual é, era a primeira vez que ficávamos realmente a sós. Tudo bem que a sala de cinema tinha outros casais, mas todos estavam ocupados demais para prestar atenção em nós dois. Além do mais, não tínhamos tanta privacidade no Acampamento, exceto quando estávamos no fundo do lago, ou do rio, ou do mar(é, ser filho de Poseidon tinha lá suas vantagens), mas não podiamos ficar tão a vontade por causa das ninfas da água. Elas achavam ofensivo nós dois nos agarrando no meio delas.
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A sessão já havia acabado, todas as pessoas já haviam saído e nós ainda estávamos lá, nos "pegando". O lanterninha foi chamar nossa atenção, parecendo tão constrangido quanto nós. Mas ele pareceu reconhecer Annabeth.
- Você não é a garota do diário?
- O que? - eu e Annabeth dissemos ao mesmo tempo.
- A garota do diário que tem sonhos eróticos com o namorado! - o cara respondeu animado. - Cara, eu vi o vídeo das líderes de torcida lendo o seu diário no youtube!
Eu olhei para Annabeth e o estado dela não era muito legal. Por causa dos nossos...hã...amassos, ela estava descabelada e seu vestido estava amarrotado. Eu sabia que não devia estar muito diferente. Os olhos dela encheram d'água. Eu quis bater no cara, mas sabia que a culpa não era dele. Agora era definitivo: eu ia acabar com aquelas líderes de torcida.
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Enquanto eu a levava de volta para o internato, nenhum de nós disse nada. Eu queria consolá-la, mas não sabia como.
- Que horas são? - ela perguntou em um murmúrio.
- 21:45. - respondi, olhando meu relógio. Annabeth suspirou.
- Posso dormir na sua casa? - ela perguntou.
- Claro, mas... por que?
- O toque de recolher do internato é 21:30. Depois disso, ninguém mais pode entrar. - Annabeth não parecia tão desapontada com isso, ela pareceu até agradecer aos deuses por ter passado da hora. Ela olhava pela janela e eu podia sentir a tristeza emanando dela.
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Chegamos em minha casa e explicamos à minha mãe o que acontecera. Obviamente, minha mãe notou que havia algo errado, mas não fez perguntas. Provavelmente pensou que haviamos sido atacados por monstros ou algo do gênero. Bem, era quase isso.
Annabeth ficou no meu quarto e eu arrumei o sofá para dormir. Quando minha mãe e Paul já haviam ido dormir, Annabeth sentou-se ao meu lado. Ela tava usando uma camiseta minha e um short que minha mãe havia emprestado.
Eu a abracei e ela começou a chorar. Não me veio nada na mente que eu pudesse dizar, por isso, só acariciei seus cabelos e murmurava coisas como: "Tá tudo bem!". Após um tempo ela adormeceu. Eu a carreguei de volta para o quarto(sim, eu estava forte o suficiente para isso) e a deixei na cama. Cobri ela e lhe beijei nos lábios.
"Eu amo você!" Sussurrei no ouvido dela. Sabia que ela provavelmente não havia ouvido, mas eu tive necessidade de dizer aquilo à ela.
Voltei ao sofá e dormi. Graças aos deuse, eu não tive nenhum sonho, acho que pela primeira vez na vida.