No Ginásio...

- NÃO ME DIGA PARA ME ACALMAR THALIA, MEU NAMORADO ACABOU DE SUMIR! – gritava Annabeth para sua amiga, seus olhos já inchados de tanto chorar, e sua aparência, antes digna de uma filha de Afrodite, agora estava deplorável. Seu cabelo estava bagunçado, a tiara havia caído em algum canto ( e a garota realmente não se importava com isso) e sua túnica grega estava toda suja de poeira e rasgada em diversos pontos. A garota também possuía um pequeno corte na bochecha direita, alguns arranhões nos braços e a perna esquerda estava inchada e dolorida, com uma feia tonalidade arroxeada. Provavelmente havia torcido a perna quando caíra.

Apesar disso tudo, Annabeth não se preocupava consigo mesma, mas sim com Percy. Ela já tivera machucados muito piores e até mais doloridos, porém naquele momento o que lhe doía mais era o fato de ter perdido Percy.

Rachel, Thalia e Nico tentavam consolar a amiga. Daniel e Bianca assistiam à cena desconfortáveis, sentindo-se intrusos naquele meio, sem saber o que dizer ou fazer.

- Annabeth, calma, o Percy está bem, confie em mim! – disse Rachel e ela falara aquilo com tanta certeza e tranqüilidade que era possível até acreditar. Porém, todos sabiam que era quase impossível Percy sequer estar vivo. A esta altura, já deveria ter virado comida. Porém, ainda havia a esperança de ele apenas ter sido seqüestrado.

-Annabeth já não mais chorava, porém não pelo que os amigos diziam. Apesar da situação completamente emocional em que se encontrava, ainda tinha seu lado racional, afinal, ainda era uma filha de Atena. Sem contar com suas premonições de semi-deusa. Enquanto as engrenagens de seu cérebro funcionavam, aceitou de bom grado o néctar e a ambrosia que Thalia lhe oferecia.

-Annabeth, escute, eu tenho que voltar à Caçada, mas posso falar com Lady Artemis e... – começou Thalia, porém foi interrompida por Annabeth.

- Não, Thalia, você já fez muito acredite. Eu posso cuidar disso tudo sozinha. – O jeito como Annabeth disse aquilo assustou, pois ela possuía o olhar distante e determinado, porém havia algo a mais ali. Raiva, talvez?

- Annabeth, está tudo bem?

- Claro que está. Eu só tenho um palpite de quem possa ter feito isso... – de repente, ela se virou para Nico. – Nico, você acha que pode me levar ao Mundo Inferior?

A pergunta repentina assustou todos à volta. A primeira a se pronunciar foi Bianca.

-Mundo Inferior? Você tá brincando, né? Você não deve achar que aquele cabeça-de-alga possa estar...

Annabeth fuzilou a garota com o olhar, fazendo-a calar-se instantaneamente. Ela se levantou, com o pé bem melhor do que antes, embora ainda latejasse, e, mancando, se aproximou de Bianca. Apesar de estar com um pouquinho de medo sobre o que Annabeth poderia fazer com ela, Bianca não vacilou e encarou Annabeth, desdenhosamente.

- Que é, tá me olhando assim por que? Cara feia pra mim é fome, tá?

Daniel revirou os olhos atrás dela, não acreditando que sua prima estivesse sendo tão idiota daquela forma. Já estavam todos tensos o suficiente sem precisar dela arrumando briga e os outros presentes pareciam pensar a mesma coisa.

Annabeth puxou sua faca e apontou para Bianca ameaçadoramente:

-Agora escute aqui, sua... sua... vadia, se você continuar dando em cima de meu namorado, eu juro pelos deuses que corto sua garganta. Além do mais, só eu tenho o direito de chamá-lo de cabeça de alga, para você é apenas Percy, entendeu?

- Okay, lembrem-me de nunca chamar Percy de cabeça de alga na frente da Annabeth. – Murmurou Nico para Rachel e Thalia, fazendo as duas soltarem risadas abafadas.

Os três voltaram a atenção para a briga de Bianca e Annabeth, que agora parecia se passar apenas pelo olhar. Annabeth transmitia apenas raiva, enquanto Bianca a encarava com ar de deboche.

- Quer saber, ele nem vale tanto a pena, prefiro mesmo continuar só sendo amiga dele. Além do mais, quando eu dei em cima dele, eu nem sabia que ele tinha namorada, porque não sou do tipo que fica dando em cima de garotos comprometidos, pra sua informação. Você devia era estar com raiva dele por não ter me contado desde o inicio que tinha namorada e não de mim!

As palavras de Bianca atingiram Annabeth como um soco, deixando-a atordoada. Ela abriu a boca pra falar, mas não tinha argumentos contra aquilo e, começou a realmente sentir raiva de Percy, que a pusera numa situação constrangedora como aquela.

- Bem, sei quando não sou bem vinda em um lugar e não estou nem um pouco a fim de ir atrás de você no Mundo Inferior, por causa de alguém que conheci ainda essa semana. To indo!

Com essas palavras, Bianca deu meia volta, seu arco e flecha transformando-se em uma pequena presilha, e partiu.

Annabeth virou-se para Daniel e perguntou:

-E você?

- Desculpa, Annie, eu adoraria ajudar, mas... – Annabeth nem o deixou terminar a frase, apenas assentiu e murmurou um "pode ir".

Agora, virou-se para os três amigos que restaram:

-Então, vamos?

- Er... Annabeth, não sei se você se lembra, mas... Eu ainda sou uma mortal apesar de ser o oráculo. – Murmurou Rachel cabisbaixa. – Não me leve a mal, você sabe que eu gostaria muito de ajudar vocês, mas...

- Tá tudo bem, Rachel, eu sei. – Annabeth disse com um pequeno sorriso.

- Mas, antes de vocês irem, eu realmente gostaria de saber o porquê de você querer ir lá.

- É, eu também! – Disseram Thalia e Nico em uníssono.

Annabeth respirou fundo e respondeu:

- Tudo bem, eu lhes conto, mas vamos sair daqui antes. Não é bom continuar em um ginásio de escola destruído enquanto tentam descobrir o motivo da destruição e o culpado pela mesma.

Os três concordaram e saíram correndo pelos fundos da escola, já que a policia e o corpo de bombeiros já deviam estar aparecendo na parte frontal do ginásio.

No Mundo Inferior

Percy acordara com uma terrível dor de cabeça deitado em um pequeno sofá. Piscou um pouco para seus olhos poderem se acostumar com a luminosidade, mesmo que a mesma fosse pouca.

- Onde estou? – Foi a única frase que conseguiu formular naquele momento.

- Ora, ora, ora, se meu sobrinho favorito não acordou finalmente!

Percy reconhecera imediatamente aquela voz que estava logo atrás dele.

- Hades? – perguntou ainda confuso com a situação.

- Não, o Zé Ramalho. – Respondeu Hades em um tom sarcástico, aparecendo na sua frente, sentando-se numa poltrona preta que estava logo em frente ao sofá no qual havia acordado. – Ah, e respondendo à sua pergunta, você está no meu..hã, escritório, digamos assim.

- E porque estou aqui? – perguntou Percy, ainda mais confuso. – E por que você mandou tantos monstros atrás da gente?

- Eu? Eu não mandei monstro nenhum, apenas minhas fúrias para te buscarem, mas a sua santíssima inteligência deciciu reunir mais uns 5 semideuses em um mesmo local, sendo que três eram filhos dos três grandes e... Bem, você viu no que deu, né?

- Mas... A Rachel viu o ataque numa visão e...

- ah, como o futuro pode ser bizarro as vezes, não? Ela viu justamente o resultado de suas atitudes idiotas. – Explicou Hades, como se tivesse comentando sobre o tempo. Porém, Percy continuou sem entender, e sua confusão estava bastante aparente, pois Hades soltou um suspiro.

- Você tinha mesmo que ser filho de meu irmão mais velho, e herdou a lerdeza dele completamente! – reclamou Hades. – Bem, o que aconteceu foi o seguinte: você chamou seus amiguinhos semideuses (e infelizmente meu filho é um deles) porque sua amiguinha oráculo teve uma visão de ataque de monstros, certo? – Percy assentiu. – Porém, esse ataque apenas aconteceu porque você juntou vários semideuses em um único local, pois ele não devia ter acontecido. Sua amiguinha oráculo viu as conseqüências de seus próprios atos idiotas, entendeu?

- Acho que sim... – Respondeu Percy, com certa incerteza na voz. Okay, Percy não era tão burro assim. Sim, ele havia entendido o que Hades queria dizer, mas isso não o fez ficar menos confuso com toda aquela história. Deuses, como coisas sobre o futuro eram complicadas!

- Mas... ainda não entendi porque o senhor quer falar comigo.

- Ah, isso – Hades fez um aceno com a mão como se o assunto a se tratar fosse banal, porém ainda assim parecia um tanto nervoso. – Eu só quero lhe pedir um pequeno favor!

- E o que eu ganharia com isso? – perguntou Percy, seu lado abusado e desafiador finalmente tomando força.

- Ai, vocês semideuses... A cada era que passa, ficam mais abusados. Saudades da Grécia antiga, quando os semideuses costumavam respeitar os deuses, sabe? Principalmente o deus do Mundo Inferior! – Hades pronunciara as ultimas palavras em tom ameaçador e frio, fazendo Percy se encolher um pouco. – Bom, espero que tenha aprendido seu lugar! Mas, voltando a sua missão... O caso é que semana que vem é meu aniversário de casamento.

Percy deixou o queixo cair sem querer e não conseguiu segurar a risada, mesmo que abafada, que deixou escapar depois. Hades o fuzilou com os olhos e, rapidamente, fez sinal para que ele continuasse.

- Então, como eu estava dizendo... Semana que vem é meu aniversário de casamento e Perséfone anda meio chateada comigo. Sabe, não pára de reclamar que eu a traí com uma mortal, a mãe de Nico e Bianca, entende? Por isso, eu gostaria de dar à ela algo especial de presente, para ela amolecer um pouco e parar de me aporrinhar.

- Hã... por que você não dá essas coisas comuns que garotas gostam? Tipo, flores, chocolates...

Hades deixou escapar uma gargalhada.

- Você acha mesmo que eu quero um conselho seu, que ainda tá no primeiro namoro de, o que, duas semanas? Além disso, você quer mesmo que eu dê flores para a deusa da Primavera? Qualquer flor que eu dê, ela é capaz de criar alguma outra melhor! Não, não e não! Eu quero que você fale com Afrodite!

- Hã? – De todas as casas confusas e/ou incrédulas que Percy já fizera naquela noite, aquela sem duvida fora a mais cômica. Seu rosto era um misto de confusão e incredulidade hilário.

- Exatamente isso que você ouviu, quero que você fale com Afrodite!

- Pra que?

Hades revirou os olhos, mas respondeu:

- Droga, você realmente puxou Poseidon, moleque! Afrodite, deusa do amor... Quem melhor para me dá alguma idéia sobre um presente de aniversário de casamento do que ela?

- E por que o senhor mesmo não vai falar com ela?

- Numero um: porque, como você sabe, eu sou quase um renegado dos "doze grandes" – Hades fez aspas com os dedos. – Numero dois: Porque é pra isso que vocês, semideuses, servem! Numero três: Por algum motivo estranho e obscuro, Afrodite adora você e com certeza faria qualquer coisa que você pedisse.

Percy assentiu ainda incrédulo, concordando com a missão que lhe fora imposta. Não era, nem de longe, uma missão difícil. Aliás, ele iria ver Afrodite e, tinha que confessar que o fato de saber que Afrodite gostava dele fora o maior fator que lhe fez aceitar aquela missão. Percy teria até quarta feira para dar a resposta à Hades.

- Er... senhor... Pode me levar de volta aos meus amigos?

- Ah, claro. – Hades estalou os dedos e Percy desapareceu nas sombras, caindo apenas do lado de fora do palácio, porém bem aos pés de Annabeth e Nico.

- Percy? – perguntaram Annabeth e Nico ao mesmo tempo. O garoto se levantou, meio dolorido, com um sorriso torto no rosto.

- Er... oi?

O sorriso logo sumira do rosto de Percy ao ver a expressão de fúria de Annabeth.

- Er... Acho melhor sairmos daqui, né? – disse Percy.

- Ah, nem precisa, porque é provável que você tenha de voltar pra cá daqui a alguns minutos, então é melhor ficar aqui direto, né?

- Do que você tá fal... – Percy não terminou a frase, pois Nico imediatamente pegara o braço dele e o de Annabeth, levando-os de volta ao mundo mortal.

Continua...