Ela escrita por Lua


Capítulo 1
Cafeteria


Notas iniciais do capítulo

Todo enredo, assim como os personagens são ficcionais e de minha autoria. Saboreie a leitura!
Fic betada por Camy Lannister *-*



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Ela se foi.

Tinha uma certa hipnose em seu sorriso, eu poderia observá-la por horas e não me cansar; ela era extravagante, andava como se o mundo se dobrasse aos seus pés quando passava. O meu se dobrava, mas ela não sabia.

Seus olhos são o espelho de sua alma, eu poderia dizer como ela se sentia em dois segundos; eu também sabia dizer quando ela estava ansiosa – se você a olhasse na face, diria que tudo estava bem, mas eu sabia onde procurar –, só olhava em suas mãos. Quando estavam entrelaçadas uma à outra era porque ela não se sentia segura. Ás vezes, sem mais nem menos ela cantava, e eu adorava quando ela fazia isso. Eu costumava conhecê-la, sei que ainda poderia lê-la por completo, realmente me tornei perito em interpretá-la.

E ela se foi, porque eu a mandei ir embora.

Eu disse a ela que não voltasse, que não aparecesse nunca mais, que não ligasse, que não escrevesse, que não tentasse, mas eu não lhe disse o quanto sinto sua falta. Eu pensei que ela não me daria ouvidos, como sempre fez – ah como ela era teimosa! – Nunca prestava atenção ao que eu falava e quando o fazia, perguntava, duvidava, pleiteava, e, mesmo quando não conseguia sustentar seus argumentos, não perdia a discussão. Simplesmente ria, dela mesma, de mim, e eu lutava para não me render àquele riso. De qualquer forma, não importa, porque o tempo vai passar e eu vou me esquecer; o tempo vai passar e isso vai com ele. Estou certo de que tudo vai ser sossego, como era antes.

Então eu a vejo.

De longe eu a observo, sorrateiramente. Estou dentro do meu carro, estacionado em uma rua próxima à sua casa. Quando dirigi para cá, eu me convencia de que não estava indo atrás dela, eu dizia a mim mesmo que não havia chance de ela cruzar o meu caminho, de escolher exatamente aquele dia, exatamente aquela rua, exatamente aquela hora, e depois de quarenta minutos parado, sozinho, encontrando desculpas para estar ali, ela surge. Meu coração para quando a vê. Ela caminha com a graciosidade de sempre, é a mesma musa que eu usara tantas vezes como fonte de inspiração. Ontem ela ligou, mas eu não atendi, excluí o número da minha lista, mas sabia quem era. Só que dessa vez ela não insistiu, desistiu sem saber que aquilo amarrou uma corda em meu pescoço e me arrastou direto para onde eu estou. Ela passa por mim, porém não me nota, e eu não quero que note, mas de uma maneira estranha isso me fere. Dói.

Minha mente não é mais a mesma, ela não sai da minha cabeça. Se eu ao menos pudesse falar com ela, novamente… Meu orgulho me impede e eu estou cansado demais para lutar contra ele. Passo os dias imaginando onde ela está, o que está fazendo; me pergunto se ela sofre.

Depois de tempo demais perdido no labirinto das minhas emoções, eu decido frequentar o mesmo Café que ela frequenta toda semana. Antes de sair de casa, me arrumo cuidadosamente, passo o perfume que ela gosta, só em caso de ter a oportunidade de me aproximar. Vou para o lugar pretendido, respiro fundo tomando coragem e, quando entro, lá está ela, linda como sempre. Ela me vê, e eu finjo que não me importo, sento em uma cadeira enquanto ela se volta para sua companhia: um livro. Ela havia tentado ler para mim algumas vezes, mas eu nunca me importei o quanto deveria. Mudava de assunto, dizia que aquilo era chato, inconveniente. Neste momento eu suplicaria para que ela lesse para mim, seja qual fosse o assunto. Mas eu não suplico, mal a olho, temo que ela perceba o real motivo de eu estar aqui.

O tempo passou e pensei que ela iria parar de frequentar a cafeteria quando percebesse que eu estava lá, regularmente. Tolo fui eu de acreditar que era motivo o bastante para impactar a vida dela. Ela parecia não se incomodar com a minha presença, não tinha medo de me observar, me olhava como se conhecesse meus mais profundos segredos, os segredos que revelam a nudez da minha alma, e aquilo me torturava. Nunca a via com alguma companhia em pessoa, mas ao contrário de mim, ela não parecia solitária. Em uma ocasião, eu usava uma camisa nova que havia comprado especialmente para impressioná-la, ela vestia uma saia azul florida e batom vermelho, estava concentrada em sua leitura, e um assento vazio piscava a seu lado. Olhei para mim no reflexo de meu celular e disse internamente que eu podia fazer aquilo, que, apesar de tudo, ainda a conhecia como a palma da minha mão, que no momento em que me aproximasse, seria como todas as outras vezes. Então levantei e sentei na cadeira piscante.

Quis jogar toda a minha vida fora. Quando senti seu perfume, foi como se nada em mim valesse alguma coisa. No momento em que eu ouvi aquela voz, me transformei em uma criança pequena deixada no meio da multidão, foi aterrorizante e ao mesmo tempo magnífico. Ela ainda era maravilhosa como eu me lembrava, seus olhos revelavam seus sentimentos, porém dessa vez eram sentimentos que eu desconhecia, suas expressões eram enigmáticas para mim, e quando percebi que não mais podia interpretá-la, entrei em queda livre.

Ela havia mudado.

Suas ações e reações demonstravam profunda segurança, mas eu não tinha convicção alguma do que fazia. Ela pregava peças na minha mente, me abandonava no caos enquanto falava, através de seu corpo. Me confundia a cada segundo. Ela havia mudado, mas eu não, eu ainda a queria como sempre quis e estava perdido como nunca estive. Ela havia usurpado o meu trono, havia tomado o controle, e por mais cretino que isso possa soar: eu me importava. Eu a detestava por ter roubado minha coroa e se tornado rainha, mas eu também a amava. Os minutos que passei ali, ao seu lado, foram mais que suficientes para me massacrar. Naquele dia eu vi que a perdi.

Me pergunto se ela ainda pensa em mim, se ela imagina se eu voltarei algum dia àquele Café. Fui embora com a certeza de nuca mais voltar. Posso afirmar que o tempo vai passar, mas não posso afirmar que ele vá levar tudo isso com ele. Não importa aonde eu vá, sempre me lembro dela, ao invés de caminhar em direção a ela, eu fujo, e quando, acidentalmente, a encontro, eu a cobiço.

Ela não está mais aqui, não porque eu a mandei ir embora, mas porque quis ir.

Tem uma certa hipnose em seu sorriso, eu poderia observá-la por horas e não me cansar; ela é extravagante, anda como se o mundo se dobrasse aos seus pés quando passa. O meu se dobra, mas ela não sabe, e agora ela não se importa.

Ela se foi.


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