Yukihira Souma era o colega de classe de Tadokoro Megumi. Desse modo não era o senpai da garota embora por algum motivo Tadokoro o admirasse como fosse; pensar em Souma a acalmava. Era seu anjo da guarda. O patrono a qual poderia se apoiar quando a própria Megumi estivesse contra ela mesma, o corpo tremendo por maus pensamentos.

Por isso Tadokoro queria estar nas expectativas de Souma. Tadokoro esperava ser uma amiga que Souma pudesse se sentir calmo mesmo em momentos ruins; apesar de que não imaginasse que Souma precisasse desse conforto.

Tadokoro esquecia que Souma era tão humano quanto ela. Normalmente não passaria pela cabeça da garota que Souma também tinha seus momentos de frustações. Quando comemoraram o resultado das preliminares Tadokoro não pode deixar de se surpreender com o jeito distante de Souma.

Souma odiava perder. E a derrota podia ser mascarada com uma vitória. O sorriso nem sempre poderia ser sincero. Tadokoro podia entender isso em algum grau.

Tadokoro mentiria se dissesse que não tinha se sentido feliz quando Souma a pediu em casamento. Na verdade ela mal podia acreditar no que ouvia. Tadokoro lembrou de se beliscar. Poderia estar alucinando com o risoto de maçã mais uma vez; ou com o polvo com amendoim.

Tadokoro olhou para as garotas de seu dormitório que pareciam tão chocadas quanto ela. Os garotos não tiveram reação diferente. Provavelmente a pessoa mais arrasada com a notícia foi Nikumi. Ou Takumi.

Principalmente porque Souma nem era seu namorado!

- Souma-kun! Você tem ideia do que está dizendo? - Tadokoro perguntou nervosa para o garoto.

- Tenho sim. Quero que seja minha esposa Tadokoro! Mas não vou te forçar. - Souma disse com uma ar animado.

Apesar do dito, o ar do quarto de Marui era frio; os colegas sem saber se deveriam levar a sério ou não. Estavam falando de Yukihira Souma afinal.

- Hum... Souma-kun... Esse foi um pedido repentino...! - Tadokoro disse tentando deixar o clima mais leve, as maçãs do rosto extremamente vermelhas - E, além disso, só temos 15 anos!

- Acha cedo? Eu não estava esperando uma resposta rápida... - Souma falou cruzando os braços atrás da nuca - Bom, como falei, não vou te forçar. Pode esquecer se quiser.

Como Tadokoro poderia recusar uma proposta dessas? Mas o corpo de Tadokoro a traía mais uma vez, e o coração batia o suficiente para impedir que dissesse ou fizesse alguma coisa além de se desculpar. Para sua sorte ou azar seus colegas eram muito amigáveis e a atmosfera foi consertada.

Yukihira Souma tinha se afastado dela mais uma vez, como se de fato nada tivesse acontecido. Os presentes continuaram a festejar até que a manhã viesse e acabassem dormindo. E mesmo que Souma fizesse bem Tadokoro podia diferenciar o sorriso em especial no rosto de Souma dos demais que geralmente dava.

Esse sorriso era um que escondia desapontamento. Tadokoro reconhecia, pois já tinha se utilizado dele quando queria segurar algumas lágrimas.

Souma parecia ter falado sério. O que o ruivo teria considerado para fazer aquele pedido a Tadokoro? Apesar de parecer, Souma não agia sem motivos. Tadokoro duvidava que fosse uma brincadeira, ainda mais por flagrá-lo sair da festa mais cedo que os demais.

Só que sua mente já nublada pelos prazeres dos pratos a fez concluir que tudo ficaria bem do jeito que estava. A festa que mascarava a derrota de Souma logo perdeu sua magia no dia seguinte. Tadokoro percebeu tarde a vitória da resignação e do medo sobre seus próprios sentimentos.

Como era covarde.

Os dias passaram junto ao surgimento dos mais variados tipos de atividades. Era difícil para Tadokoro tocar no tema. Ela se lembrava do sorriso de Souma, e pensar ser a causa de um deles a atormentava. Souma e Tadokoro continuaram com suas atividades em dupla. Assim como permaneceram em companhia do outro quando não eram obrigados pelo sistema estudantil.

Tadokoro aproveitava da companhia de Souma, entretanto se sentia sufocada. Tadokoro não se sentia à vontade de comentar com as meninas a respeito disso; não queria perturbar as pessoas com coisas que a entristecia. No entanto não deixaria que a situação se prolongasse. Isso se ela ainda quisesse que seu coração continuasse batendo até o fim do ano.

- Souma-kun! Porque pediu para se casar comigo? - Tadokoro disse com as mãos fechadas em punhos próximas ao peito.

Até ali Tadokoro estava apenas observando o colega testar novos tipos de prato.

- Ah, aquilo? Pensava que tinha se esquecido Tadokoro. - Souma disse em um tom animado sem parar de cortar os legumes.

- Como se eu pudesse me esquecer, Souma-kun! Não é algo importante? - Tadokoro reagiu, se atrapalhando depois - Digo...

Por um instante Yukihira Souma ficou estático; mas não demorou muito em continuar o que fazia sem olhar diretamente para ela:

- Você acha?

- Sim... - Tadokoro disse sentindo o rosto esquentar - S-Se pudesse me dizer o motivo...

- Só tem um motivo para as pessoas fazerem isso não é? - Souma disse em um tom relaxado - O meu não foi diferente!

A faca parou na mesa com os legumes cortados em tamanho ideal. Tadokoro teve uma das mãos tomadas pela do garoto. Souma beijou as costas daquela mão para assim esboçar um sorriso travesso.

Não demorou para que o cérebro de Tadokoro quase nublasse por completo devido ao calor de seu rosto atravessando o seu peito, mãos, até os dedos dos pés.

-... Você está bem, Tadokoro? - Souma disse em tom preocupado.

- Sim... - Tadokoro disse com esforço - Digo... Não vejo problema em começar como sua namorada, Souma-kun... S-Se ainda estiver interessado é claro...

- Ah! É mesmo, tinha essa etapa, não é? - Souma disse rindo consigo. - Agora sei porque Tadokoro me rejeitou da última vez...

- Eu... Não rejeitei, Souma-kun. - Tadokoro disse com a firmeza que conseguiu -... De repente falou na frente de todo mundo... Fiquei sem saber o que fazer!

- Mas então não tem problema, hein, Tadokoro? Se eu quiser te beijar agora...

Tadokoro respondeu se aproximando do rosto do garoto e colando seus lábios aos dele gentilmente. Yukihira provavelmente se assustou com aquela súbita iniciativa, mas Tadokoro não poderia ver de olhos fechados. Estavam bem fechados por sinal considerando o nervosismo que passava pelo corpo de Tadokoro a ponto de ele se mover por si só.

Apenas soube do susto que Yukihira ao ouvir a risada meio sem graça do garoto, enquanto que ele puxava Tadokoro cuidadosamente para si e retribuía o carinho oferecido. Nos lábios de Souma ainda permanecia o gosto dos pratos mal sucedidos, mas Tadokoro não se perturbou. Infeliz ou felizmente tinha se acostumado devido aos seus dias de cobaia.

Não poderia classificar aquele beijo como ruim ou bom, o banco de informações de Tadokoro desse tipo de assunto era quase nulo; no entanto Tadokoro mal podia esperar pelas novas degustações que aquele cozinheiro ofereceria apenas para ela.