Daimon Hellstrom jogou Wong no centro do pentagrama. Em cada ponta, uma figura demoníaca surgia. Eram Mefisto, Lúcifer, Zarathos, Lilith e Azazel. Lúcifer, seu pai, se aproximou do ajudante de Stephen Strange. Ele estendeu a mão, tentando tocar o mortal. Um tridente cutucou seu braço. Era Daimon.

— Mantenha distância, Lúcifer — ordenou ele, apontando com o tridente para o pai.

Nas outras pontas, Mefisto, Azazel, Zarathos e Lilith riram de Lúcifer. O Satã se recompôs, ficando de pé em sua ponta do pentagrama. Cada um deles estava cercado por um círculo de sal, que os prendia ali durante o ritual.

­— Não compreendo, Daimon. Trata-se de uma oferenda. Por que não podemos toca-lo?

Daimon bateu com o tridente no chão, e uma roupa vermelha com alguns adornos amarelos surgiu. Seus olhos brilharam, com pequenas chamas infernais ardendo em sua pupila.

— Pai. Eu sou Hellstrom, o Filho de Satã. Já deveria saber que não dou coisas sem algo em troca.

Os cinco demônios se entreolharam.

— E o que você quer? — perguntou Mefisto.

— Eu quero muitas coisas. De vocês, porém, apenas uma me interessa.

— Posso imaginar — disse Lilith, seus olhos femininos demonstrando ódio.

— Você quer o título de Satã — sugeriu Zarathos.

— Errado. O título é algo ambicioso demais para que eu possa pedir a vocês. Alcançarei tamanha honra por conta própria, em um futuro não tão próximo.

— O que você quer, então? — disse Azazel, suspirando como quem está entediado.

Daimon se apoiou no tridente, colocando um sorriso ambicioso em seu rosto. Um semblante sombrio tomou conta do rosto dele ao pronunciar o nome, realçando seus olhos brilhantes.

— O Darkhold.

Lúcifer riu zombeteiro.

— O livro supremo da Magia Negra. Impossível.

Uma pontada de desapontamento aflorou no peito de Daimon.

— Decerto vocês o têm.

Todos negaram com a cabeça.

— Ele estava com Dormammu — respondeu Mefisto.

O ódio borbulhou fervente dentro de Daimon. Maldito fosse Dormammu.

— Mas ele está morto. Quem o tem agora? A sobrinha, Clea?

Azazel soltou um riso irônico.

— De forma alguma. Ela está ocupada demais tentando “consertar” a Dimensão Negra.

— Stephen Strange — disse Lilith, com nojo da voz.

Wong soltou um gemido assustado ao ouvir o nome do Mago Supremo.

— Ele... fará com vocês a mesma coisa que fez com Dormammu! — ele gritou após uma breve hesitação, devido ao ar que ficara com pouco oxigênio por causa do fogo.

Percebendo que Wong não aguentaria muito mais, Daimon abriu uma pequena janela colada ao teto em uma das paredes. As chamas se intensificaram com o oxigênio renovado. Em seguida, Wong recebeu um cutucão com o tridente, que lhe fez arranhões, dos quais escorreu sangue.

— Strange... — disse Daimon, com raiva na voz. — Maldito seja. Receio que terei que pedir por outra coisa no lugar.

Irritado, ele bateu com seu tridente no chão.

— Quero uma alma negra.

Lúcifer sorriu.

— Você é, de fato, meu filho, não é mesmo?

— Orgulhoso e ganancioso como o pai — riu Azazel.

Em troca, foi fulminado por Lúcifer com seu olhar macabro. Azazel fez um rápido gesto com seu dedo médio, mostrando não se importar com o que Lúcifer pensava do que dissera.

— Não estou pedindo nada demais. Uma alma por uma alma negra. Me parece justo.

Eles ainda pareciam indecisos.

— É claro que terei que fechar acordo com apenas um. Aquele com a melhor oferta ficará com a alma de Wong.

Os demônios trocaram olhares ameaçadores, e Daimon conteve um sorriso. Sabia que apelar para a competitividade dos cinco era vitória na certa.

— Vou te dar duas almas negras em troca — disse Zarathos.

— Três — disse Mefisto.

— Vocês vão mesmo fazer isso? — disse Azazel.

— Quatro — provocou Lilith.

Lúcifer pensou um pouco.

— Já basta. Minha oferta maior é cinco.

Daimon sorriu para Lúcifer.

— Então nós temos um acordo, pai.

Na escadaria que levava à sala deles, Stephen Strange e Linda Carter avançavam em silêncio para cima. A iluminação do corredor vinha de algum lugar lá em cima, provavelmente uma sala. Stephen estava estranho, desconfortável com algo.

— Tudo bem? — ela perguntou.

— Estou sentindo uma grande quantidade de magia negra lá em cima.

Linda estremeceu.

— O que você acha que é?

— Demônios. Dos grandes.

Com base no que lhe contaram sobre os Hellstrom, Linda logo pensou em uma coisa.

— Você acha que possa ser...?

— Lúcifer? Sim.

Linda engoliu em seco e continuou subindo. A porta que encontraram praticamente brilhava com tamanha luminosidade na parte de dentro.

— Entramos? — ela pergunta.

— Obviamente.

Antes que ela pudesse abrir a porta, Stephen a parou com a mão e pediu silêncio. Ele levou a mão na direção da porta, arrancando-a das dobradiças e arremessando-a para dentro. Linda vê algo disparando uma bola de fogo na direção da porta, reduzindo-a a cinzas.

— Quem está aí?! — gritou uma voz masculina.

— A reunião está comprometida — disse uma voz feminina e raivosa.

Stephen suspirou e começou a flutuar, voando na direção da sala.

— Eu sou Stephen Strange, Mago Supremo da Terra, e ordeno que parem. A prática de magia negra é perigosa demais nesta dimensão.

Os olhos flamejantes e raivosos dos demônios lá dentro fuzilaram Stephen com seu olhar. Ele imediatamente identificou a todos na sala.

— Mefisto. Zarathos. Azazel. Lilith. E Lúcifer, é claro. Todos reunidos aqui. Algum motivo em específico?

Daimon Hellstrom surgiu das cinzas, com suas vestes vermelhas e seu tridente.

— A que devo sua visita, Strange?

— Desculpe atrapalhar sua reunião familiar, Daimon, mas não posso permitir que ofereça Wong a esses demônios.

— Uma pena. Agora teremos que no enfrentar.

Hellstrom bateu com o tridente no chão. Chamas consumiram suas vestes, deixando-o com apenas uma calça preta. Em seu peito nu e malhado, um pentagrama ardia em chamas.

— Eu sou o Filho do Satã, Stephen Strange. Levarei você para o Inferno.

Stephen encarou ele, com um semblante sério.

— Linda? Eu cuido dele. Apague o pentagrama.

— Não! — gritou  Daimon, atacando Stephen com o tridente. — Lúcifer, as almas negras!

— Quero uma alma em troca.

Daimon cerrou o punho.

— Se eu derrotar Strange, a alma dele será sua.

Os outros demônios foram tomados pela inveja. Antes que Lúcifer reagisse, uma alma negra foi libertada por Lilith, indo de encontro com Daimon. O poder dele aumentou com a energia da alma negra, aumentando o brilho em seus olhos.

Uma luz foi liberada de seu tridente, e ele disparou um projétil de fogo na direção de Stephen, que desviou. O fogo incendiou o armário, no qual Daimon mantivera Wong em cativeiro. Aproveitando que a batalha entre os dois começara, Linda entrou na sala. Ela viu os demônios e o pentagrama de fogo, o que a fez estremecer.

— Linda Carter — disse Azazel, sorrindo.

Ela quis saber como ele sabia o nome dela, mas teve receio de se surpreender com a resposta.

— Se aproxime, querida — convidou Lilith.

Ela deu um passo em direção ao pentagrama flamejante. Quem falou com ela em seguida foi Lúcifer.

— Estamos presos aqui, com estes círculos de sal. Liberte-nos, e lhe daremos algo em troca.

— Te daremos aquilo que mais deseja — completou Mefisto.

Linda parou. Caminhou na direção de Lúcifer.

— Senhorita Carter, não... — rogou Wong.

— Calado — ordenou Zarathos.

Então, ela começou a pisotear as chamas. O fogo sumiu em uma das pontas, e logo a figura dos demônios começou a sumir.

— Não! — gritaram todos em uníssono.

E então, o pentagrama se apagou completamente. Daimon também gritou, mas era tarde. Os demônios desapareceram. Quando ele ia avançar sobre Linda, entretanto, o prédio começou a tremer.

Lá embaixo, a batalha entre Satanna e Johnny Blaze continuava. Mesmo com suas correntes estava difícil, para ele, deter a filha de Lúcifer. Ela invocara mulheres-demônio para ajuda-la, mas não adiantara. De repente, porém, o mesmo tremor começou a acontecer.

Minutos atrás, em uma das salas, o Rosa se juntara ao grupo de procura. Eles haviam tirado o carpete, e se deparado com um buraco enorme. Com ajuda do arpão do Rosa, desceram para dentro do buraco. Haviam se deparado com uma porta enorme em meio às catacumbas. Abriram-na com magia, mas aconteceu algo inesperado. Assim que passaram, uma armadilha fora acionada, começando a explodir a câmara de entrada. Isso originara enormes tremores, e abalara a estrutura do Clube do Inferno.

Lá em cima novamente, Linda e Wong aproveitaram a confusão do tremor para sair da torre. Então, ela começou a cair. Desceram a escada correndo, a tempo de ouvir Stephen ordenando que o deixassem. Ele lançou um feitiço em Daimon, e se teleportou para junto deles. O grito de Daimon devido ao vácuo sombrio era alto o suficiente para ouvir do térreo quando lá chegaram.