Saímos correndo para fora da biblioteca. Miguel segurava minha mão e andávamos depressa em direção a um carro, naquele momento eu não me dava conta do que tinha acabado de acontecer, só conseguia pensar que finalmente eu teria meu corpo junto ao seu, a saudade que eu sentia da pele dele, dos beijos, de sentir sua respiração ofegante na mesma frequência que a minha, essas lembranças ocupavam todo o meu pensamento, não sobrando lugar para nenhum raciocínio logico. Nossas mãos dadas suavam igualmente, meu batimento cardíaco acelerado, e eu não conseguia definir se era por medo ou felicidade, então deixe-me levar por ele. Miguel soltou minha mão e sorriu, abrindo a porta do carro para que eu entrasse, entrei e o observei pelo retrovisor, ele entrou no carro e me olhou de lado.

– Te prometo que essa noite vai ser mágica. – ele ligou o carro e sorriu olhando para frente. Permaneci em silêncio, apenas admirando cada gesto que ele fazia, matando a saudade que meus olhos sentiam dos dele.

– Onde você tá me levando? Caso você não se lembre, eu tenho filho pequeno, não posso passar a noite fora. – Disse passando a mão no seu cabelo.

– NÓS temos um filho pequeno. E não se preocupa que eu já pensei em tudo. – Miguel me olhou nos olhos e me deu um beijo suave no canto da boca. O fato dele ter enfatizado a palavra nós, mexeu comigo, parecia que era outro Miguel falando.

– Chegamos - ele desceu do carro e correu para o lado da minha porta para abri-la antes de mim. Desci do carro segurando em sua mão e ele apontou para o mar.

– Vamos, o barco nos espera. – Ele me olhou sorrindo com a mão estendida.

– Como assim? Pensei que fossemos ficar em terra firme. Miguel eu falei que não posso deixa o Joaquim sozinho, a babá tem horário sabia?

– Será que dá pra você desarmar um pouco. A Julia vai cuidar do Joaquim, já está tudo combinado a tempo, só você não sabia. – Ele acarinhou meu rosto, e pegou minha mão para beija-la.

– Você planejou tudo? – Indaguei surpresa, passando minha mão em sua barba. –Sim. – Respondeu ele sorrindo me puxando pela cintura para um beijo.

– Podemos ir agora? - Ele perguntou, assentir com a cabeça e logo demos as mãos, caminhando em direção ao deck onde o barco estava. Miguel me abraçou por trás e continuamos caminhando, lentamente, o vento balançava o meu cabelo fazendo com que impedisse a visão dele. Ele afastou meu cabelo com a mão e me beijou no pescoço.

– Pensei que tinha esquecido o seu cheiro, mas não. É exatamente como eu imaginava todas as noites. – Ele falou baixinho no meu ouvido, me causando arrepio, me encolhi um pouco e ele sorriu.

Ao chegarmos frente ao barco, Miguel subiu primeiro, e me pediu para esperar um pouco, disse que tinha uma surpresa para me fazer. Fiquei esperando ansiosa, olhando ao redor, até que, por um momento uma série de recordações me tomou. O fato de me encontrar ali parada no deck esperando o Miguel, me fez lembrar do dia que ele foi embora sem ao menos um adeus, me deixando sozinha, ajoelhada chorando sua partida. E a partir dai, fui invadida pelas magoas do passado, pelas frustrações sofridas com ele. E o medo de passar por tudo aquilo de novo, anulou todos os momentos bons. Só conseguia pensar que não ia dar certo mais uma vez, e que eu estava a me enganar novamente, meus olhos ficaram marejados e me parecia que eu não tinha mais controle sobre mim.

– Pronto, agora você pode vim. – Estava tão longe que me assustei ao ouvir sua voz. Me virei para ele assustada. Ele notou meu nervosismo e percebeu a tristeza nos meus olhos.

– Lígia tá tudo bem? – Ele desceu do barco para vir até mim, e meu impulso foi correr na direção oposta a ele.

– LÍGIA!! – Ele gritou meu nome e correu em minha direção, conseguindo me alcançar, segurou meu braço me fazendo virar de frente a ele. – Espera, o que aconteceu? – Ele me questionou confuso, ao se deparar comigo chorando, eu não conseguia olhar nos seus olhos, então permaneci com a cabeça baixa. Miguel passou a mão no meu rosto, tentando enxugar minhas lágrimas e segurou meu queixo de forma a erguer meu rosto, para me olhar nos olhos.

– Me deixa ir embora. – Tentei me desvencilhar dos seus braços

– Não sem antes você me dizer o que tá acontecendo. – Ele me largou, e ficou esperando uma resposta.

– Isso não tá certo, você vai embora sem nem olhar pra trás, depois me aparece do nada com uma aliança e juras de amor eterno. Nada disso vai acontecer.

– O que não vai?

– Você e eu. – Fiz um gesto coma mão apontando para nós dois. – Não adianta eu tentar de novo, porque eu sei bem como isso termina. – Retirei a aliança e puxei a mão dele, colocando o anel na palma da sua mão. Ele me olhou sem reação, com os olhos marejados, negando com a cabeça, enquanto eu dava as costas pra ir embora.

– Espera ai Lígia. – Ele me puxou pelo braço novamente, e nos olhamos nos olhos. – Você precisa acreditar que dessa vez vai ser diferente, porque vai ser. Eu te prometo. – um silêncio se instalou sobre nós e assim permaneceu por alguns segundos. Meus olhos direcionados para a boca dele, clamava por um beijo, mas eu não conseguia me entregar a esse amor.

– Não dá, eu não consigo. – Me afastei dele e fui embora, não consegui olhar para trás, não suportaria olhar no seu rosto e ver a decepção. Essa dúvida me atormentava, meu coração apertado, dizia para voltar, mas a minha consciência dizia o contrário, e como saber qual devo ouvir nesse momento? Simplesmente não sei. Caminhei para o mais longe possível enquanto chorava, até que consegui parar um táxi e fui direto para casa. Desci do táxi arrasada, lembrando de cada momento dessa noite, entrei em casa ainda com lágrimas nos olhos, havia esquecido completamente que a Julia estava lá para cuidar do Joaquim.

– Lígia, o que aconteceu? - Ela questionou ao se deparar comigo as lágrimas

– Você não precisa mais cuidar do Joaquim, eu não vou sair. – Disse enquanto retirava meus saltos, com uma mão apoiada a parede e a cabeça baixa.

– Tá bom.. mas você não deveria tá com o Miguel? - Caminhei em direção a escada e subi alguns degraus, e Julia chamou meu nome, ela iria continuar insistindo por uma resposta, então eu parei e lhe respondi:

– Nem todas as histórias de amor tem um feliz para sempre...