Valentino‏ escrita por TM


Capítulo 5
Amici




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Li e reli aquela carta por horas, incontáveis vezes. Cada vez que lia, sentia uma emoção diferente; amor, ódio, medo e até um pouquinho de esperança. Por sorte, naquela manhã ninguém acordou com o barulho.

Finalmente me cansei de ler a carta, então fiquei passando meus dedos nas letras do meu amado, e então ousei em guardá-la em uma das gavetas do meu guarda-roupa.

Me dei conta de que o sol já nascera, e Cecília ainda não tinha ido no meu quarto ainda, o que eu achei estranho, pois ela era a primeira pessoa que eu via quando acordava e a última quando ia dormir. Ela era uma espécie de salvadora, uma espécie de mãe, talvez até um anjo.

Então, como estava perdida em pensamentos e em perguntas que provavelmente nem o Senhor Todo Poderoso teria as respostas, resolvi deitar. Me afoguei debaixo das cobertas e me permiti nadar em meio a minha imaginação.

Ouvi três batidas na porta, e então deixei com que meu instinto falasse por mim:

– Entre. - Ouvi-me dizer.

– Com licença, filha. - Nicolau foi entrando em meu quarto com uma roupa de um tom azul escuro o suficiente para confundi-lo com preto, e exibia uma capa escarlate. Achei-o elegante demais para uma quarta feira qualquer, mas não lhe fiz perguntas, apenas ouvi. - Cecília está doente, então, hoje terá de ir em Roma comigo. Aproveitando a situação, você ficará lá e com a ajuda de Lucrezia, ou talvez até mesmo de Micheletto, você poderá se inscrever para estudar artes.

– Não é o seu sonho, filha? - Ele me encarava. - Arrume suas coisas, vamos partir em exatamente duas horas.

– Me deixe respirar um pouco, sim? - Eu me levantei, ainda meio zonza pela surra das notícias que tinha levado a poucos segundos. - Se te faz bem, irei arrumar minhas coisas agora, mas antes irei ver como está Cecília.

– Como desejar. - Ele saiu em retirada para alguma praça ou para a casa de algum nobre em Florença.

Eu via Nicolau Machiavelli como ele realmente era, gostava de pensar que em meio aquela anarquia que acontecia naquele tempo, ele era um soldado de Deus; a maioria das pessoas o viam como o próprio diabo, mas como sempre, ele não dava atenções a tais coisas que considerava irrelevante - não diminuíam em nada, apenas aumentavam a fama do poderoso Machiavelli - e, pra ser franca, acho que ele gostava disso.

Então, me desci as pressas para ver como Cecília estava. Seu quarto ficava num pequeno cômodo perto da cozinha, por isso seu quarto fedia a peixe e fritura. Bati na porta duas vezes, mas o que eu ouvi foram só tosses, entrei apressada no quarto; Cecília estava acabada.

Seus cabelos negros que antes eram brilhantes e invejáveis agora estavam quebradiços e opacos, seus olhos estavam semi-abertos exibindo bolsas embaixo deles e sua pele estava pálida, pela primeira vez, estava com medo do que o futuro aguardava para Cecília Sforza.

– Oi, minha menina. - Ela deu um leve sorriso, parecia feliz pelo simples fato de eu estar ali. - Como você vai?

– Como você vai? - Repeti a pergunta. - Você quase me mata de susto! Não é a peste, né?

Ela riu baixinho, de forma prazeirosa.

– Eu vou bem, obrigada. O médico me disse que é apenas uma gripe, e que, em questão de dias estarei bem. Que Deus o ouça! - Ela me fez sinal para sentar ao lado dela na cama, obedeci rapidamente. - Fiquei sabendo que em questão de horas estará com o grande Papa e com seus filhos, e que em breve, começará os estudos na matéria que sempre fora apaixonada: Artes. Saiba que eu estou orgulhosa de você, Giorgia, - Seus olhos se encheram de lágrimas e ela sorriu. - mesmo não sendo sua mãe de sangue, sinto que sou sua mãe de alma. Você sempre foi o meu amor, minha princesa. Saiba que eu estou feliz por você, e que, se depender de mim, você terá minha benção e felicidade eterna.

Em um gesto involuntário de meu corpo, escorreram-se lágrimas, e instantaneamente abraçou Cecília, sem se importar com sua doença.

– Obrigada por tudo. Eu amo você! - Admiti, depois que a soltei comecei a limpar minhas lágrimas e soltei um riso. - Não faça com que isso pareça uma despedida eterna, certo? Eu ainda vou vir pra visitar você e o papai, e serei eternamente grata por tudo que vocês fizeram e têm feito pra me fazer feliz.

– Pela sua carinha vejo que algo a preocupa. Posso saber o que é?

– Me preocupo com os Borgia, e também com que roupas irei levar para conhecer a realeza. - Rimos. - Se não se importa, irei arrumar minhas malas.

Eu me levantei e ela me olhou com um brilho indecifrável.

– E leve aquele vestido rosa que te comprei mês passado, você nunca o usou ainda, mas eu tenho certeza que ficaria lindo em você.

– Você é minha heroína. - Gesticulei com os lábios, sem produzir nenhum som.

~[]~

Fiz minhas malas rapidamente, e quando me dei conta, já estava na carruagem ao lado de meu pai, incomodada com a conversa dos cavalariços, mas mesmo assim a ansiedade me dominava; eu ia conhecer meu novo lar.

Tenho certeza de que dormi a viagem inteira, pois ela se passara tão depressa que só me dei conta que estava em Roma quando vi a Catedral de São Pedro. Aquele lugar é lindo por fora, mal podia esperar para conhecê-lo por dentro.

Nas escadarias estavam Lucrezia e o Papa com uns cardeais atrás dele, esperando-nos. Notei que Lucrezia exibia uma empatia dirigida a mim, e isso me fez o pensar o por quê do vestido de luto. Realmente essa era uma ocasião para usá-lo?

O Papa Alexandre VI estava ao lado de seu fiel companheiro, o cardeal Orsini. Desci as pequenas escadas da carruagem com a ajuda de meu pai, e juntos, de mãos dadas, andamos até os anfitriões.

Papai os cumprimentou primeiro, e em seguida, pediu pra que eu fizesse o mesmo. Ignorei a presença dos cardeais ali presentes - incluindo Orsini - e cumprimentei o Papa; ele não tentara nenhuma gracinha, graças a Deus, mas seu olhar sobre mim falava por ele.

Com Lucrezia foi a mesma coisa, meu pai e o papa foram os primeiros a entrar na catedral, deixando eu e Lucrezia a sós.

– Acho que começamos com o pé esquerdo. - Disse ela. - Não que eu seja assim com todo mundo, é que como todos dizem, você tem uma beleza e tanto, e eu meio que fiquei com inveja disso. Somos parecidas, mas mesmo assim... Você é falada pelas ruas de Roma, Giorgia. Você é cobiçada por todos os homens da face da Terra.

– O que adianta ter tudo isso se o homem que eu amo não expressa o mesmo sentimento? - Eu a olhei. - Realmente, beleza não importa. O amor importa, e acredite, sem ele não somos nada, absolutamente nada.

– Concordo com suas palavras. - Ela me deu um sorriso sincero. - Acho que vamos ser ótimas amigas. O que me diz?

– Como quiser, vossa majestade. - Eu sorri, satisfeita.


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