Valentino‏ escrita por TM


Capítulo 19
Regalo




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Parei-me, um milhão de pensamentos passavam pela minha cabeça, não tinha um só que estivesse focado, assim como a política de Roma, estavam todos bagunçados. Por um instante, segurei o ar de meus pulmões, e o soltei com toda a calma que encontrei naquele momento. As palavras ecoavam em minha mente "Lucrezia concordou com isso?" "É claro que sim, ela que deu a ideia", bom, pensei, se ela concorda com tal feito, não há motivos para eu negar.

Nicolau Machiavelli me entregou uma pena de pavão, manchada com tinta preta na ponta. Peguei-a imediatamente, a ansiedade era tanta que minha mão chegava a tremer. Dei uma última olhada para Cesare antes de assinar, ele mordia o lábio, e quando percebeu que estava o encarando, deu um sorriso de leve, no qual retribui rapidamente.

— Meu nome passará a ser Giorgia Borgia? — Perguntei.

— Não. O nome dos seus filhos terá Borgia, mas você, infelizmente não. — Nicolau anunciou. — Para que tornem-se importantes, Cesare terá de faze-los duques e duquesas. Está de acordo?

— Sim.

Assinei o mais rapidamente que podia, e quando terminei, percebi que Cesare olhava o relógio com um olhar ansioso, nem tinha percebido que eu tinha assinado o contrato.

— Vamos, mulher, assine isso logo, tenho mais coisas á fazer!

— Eu já assinei.

— Ótimo. — Cesare Borgia abriu a porta e desapareceu naquele mar luxuoso.

Nicolau Machiavelli me encarava com uma expressão feliz, orgulhosa.

— Parabéns, filha. Você garantiu um belo futuro para si mesma e para seus filhos. Nada me deixa mais orgulhoso do que ver você usando a razão ao invés das emoções, sempre soube que você estava um passo a cima dos romanos. Você é a nova teoria da evolução, Giorgia.

— Fico agradecida por tais elogios, mas acho que não mereço ser digna deles. Pensando bem, o que eu acabei de fazer destinou com que eu queimasse no Inferno.

Machiavelli levava a taça cheia de vinho a boca.

— Não vejo o por quê, Cesare será um bom pai, dará tudo que precisar. Ele é como seu marido, mas ilegalmente.

— Isso é o que mais me incomoda, pai. Um dia eu terei de casar com um bom senhor, que me trate da maneira correta, que me aceite como seu verdadeiro amor, não como um simples passatempo. — Pensei um pouco, Nicolau se deliciava com o vinho de quatro anos. — Se fosse eu no lugar de Cesare, pensaria duas vezes antes de causar tamanha tristeza á Charlotte. Ela é poderosa.

— Eu também pensaria duas vezes antes de causar algum mal á você, meu amor, você nem imagina o quão és importante. — Nicolau Machiavelli chegou mais perto de mim, e senti o seu cheiro familiar, o cheiro de Florença, o cheiro de casa. — Mas agora estou de partida, espero que se cuide até nossa próxima visita. A cada ano que passa, vossa senhoria fica cada dia mais linda, fica mais parecida com os deuses mitológicos, meu amor.

— Desejo-lhe uma boa viagem, e com ela leve consigo toda a felicidade que lhe desejo. Apesar de tudo que aconteceu em nossas vidas, o senhor se provou forte para encarar todos os obstáculos possíveis, e por isso, sou eternamente grata a ti, Nicolau Machiavelli. O senhor sempre terá meu amor e devoção eterna. — Ele foi acariciando meu rosto, percebendo que ia cair em lágrimas, dei um sorriso e completei. — Não se esqueça de pedir para que Cecília me escreva. Também quero cartas suas, meu pai. Espero em breve conhecer Bernardo.

E foram com essas palavras e um demorado abraço que eu e meu pai nos despedimos. Ele seguiu caminho até sua gloriosa e querida Roma, enquanto eu, seguia cambaleando até meu quarto.

~[]~

No meu quarto, percebi que havia dois novos vestidos em cima da cama; um de seda vermelho com vários bordados e um branco, com várias pérolas ao seu redor. Minha intuição dizia para que devolvesse tudo para o dono, mas, quem comprara tamanha raridade para mim?

Encontrei um cartão em cima do vestido vermelho, destacava-se o selo da Espanha. Abri-o, curiosa.

Querida Machiavelli,

Venho observado-a á tempos, e não me canso de dizer aos meus companheiros o quanto me sinto atraído por vossa senhoria. Peço que aceite esses vestidos como um presente, e que não devolva-os, adoraria vê-los em ti. Não sabes o quanto quero casar com ti.

Um vizinho meu disse-me que tu és uma das damas de companhia de dona Lucrezia. Que notícia maravilhosa! Espero que ela me conceda a honra de casar com vossa senhoria, afinal, somos espanhóis, sabemos o que fazemos. Dê-me uma chance para provar minha afeição, pois aqui, não passam de pobres e meras palavras. Deixe-me provar o quão bom é o gosto do amor.

Meus sinceros comprimentos.

Luís de Aragão.

Terminei de ler e fiquei perguntando-me, quem diabos era Luís de Aragão? Minha mente estava curiosa a respeito dele, mas sabia que ele poderia ser igual ao homem que meu pai prometera anos atrás, uma verdadeira maldição. Ou talvez ele pudesse ser minha bênção.

~[]~

Guardei-os, e soube que Cesare me chamava para uma festa nos aposentos papais, sabia que não teria nada além de príncipes da Santa Madre Igreja e prostitutas divertindo-se. Mesmo assim, coloquei um vestido preto bastante discreto, soltei meus cabelos e fui até lá.

Quando cheguei, vi que na porta do aposento tinha um cardeal com uma prostituta, senti meu estômago revirar. Ignorei a visão e fui para dentro, admirei o bom gosto do papa, era decorado com os mais caros móveis franceses e continha pinturas sagradas por todo o ambiente.

Fui andando em frente até que vi uma mesa, e os rostos eram familiares. Na ponta estava o Papa Alexandre VI, la bella Farnese, Lucrezia, Cesare e Vannozza. Admirei-os por um tempo, vendo-os rir e conversar, e então um olhar cruzou com o meu, o do papa.

— Dannata, Dannata! Por que não se junta á nós?

— Claro. — Andei o mais rápido que pude e sentei ao lado de Vannozza, ela me encarava com olhos gentis.

— Fiquei sabendo que Dannata recebeu um pedido de casamento hoje, não é mesmo? — Lucrezia anunciou, abaixei a cabeça, envergonhada. — Vamos, conte a novidade á todos. Somos uma família agora.

— Isso é mesmo verdade, Dannata? — Giulia perguntava-me entre lentos goles de vinho, eu confirmei com a cabeça. — Fico extremamente feliz por você.

— Obrigada.

— E enquanto ao noivo, é confiável? — Perguntou o papa, desconfiado.

— Ele é espanhol, senhor. Não o conheço.

— Qual o nome dele?

— Luís de Aragão. — O papa deu várias batidinhas na mesa e bateu palmas, comemorando. — Ele disse que ia pedir permissão para dona Lucrezia.

— Mas é claro que permito! Faça com ele o que quiseres, minha deusa. — Lucrezia estava visivelmente embriagada.

— Você pensa em aceitar o pedido? — Cesare perguntou com a voz áspera, enciumado .

— Não sei. — Olhei em seus olhos, ele desviou o olhar. — Perguntarei á Charlotte o que ela acha sobre isso. Aposto que ela estará do meu lado, meu senhor.


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