Tudo começou com uma tosse no fundo da garganta.

Primeiro uma leve coceira, que evoluiu para um forte formigamento. Eu tentei resistir no começo. E consegui.

Tudo havia voltado ao normal. Foi quando senti aquela sensação outra vez.

Veio subitamente dessa vez, sem sequer um mísero sinal. Aquela maldita sensação de mal estar. E quando eu digo que queria que fosse apenas um formigamento mais uma vez, acreditem.

Toda a região do meu estômago embrulhou-se, como se um enorme martelo estivesse prensando aquela região. Um ruído alto e áspero – próximo a de um arroto – ressoou do meu corpo, e eu quis esconder meu rosto no primeiro buraco que eu conseguisse encontrar de tanta vergonha.

Meu estômago gritou mais uma vez antes de eu começar a sentir meu corpo ficar tenso, rígido. A sensação de mal estar aumentou, agora era a pata de um elefante prensando meu estômago contra o chão.

Ergui e apertei minha mão contra minha boca quando uma sensação de ânsia me invadiu, e no interior do meu corpo, eu poderia jurar que havia algo líquido, melado e nojento querendo sair.

Foi quando meu próprio corpo se voltou contra mim, e eu não pude fazer nada para impedir.

Eu retirei minha mão no segundo exato, e então vomitei.

Vomitei vermelho. Roxo. E azul.

Vomitei o vestido de formatura que a vadia da minha sala comprou antes de mim para usar.

Vomitei os sonhos que eu havia escrito no meu diário com cheirinho de morango.

Vomitei a água salgada do mar, e junto com ela, toda a areia que demorou três meses para sair de mim.

Vomitei todas as metas do ano que eu deixei na capa do livro de matemática.

Vomitei as noites em claro que eu passei terminando a última garrafa de cerveja.

Vomitei todos os manuscritos da minha vida sem pé nem cabeça.

Quando consegui parar, fechei a boca e olhei para aquela gororoba no chão.

E era lindo.

Um arco-íris enfeitado de purpurina, com flores e mais flores completando a moldura.

Fechei os olhos e vomitei outra vez.