Capítulo 13 – Presente para Neuta ~*

Neuta acorda cedo no último dia de rodeio em São José do Rio Preto.
Ela dá uma volta, procurando Dinho quando de repente ele surge por trás dela, beijando seu pescoço.
N: (ela da um pulo)Ui.. que susto... peraí Dinho!
D: Dona Neuta, a senhora não sabe!
N: O que?
D: Eu acabei de pegar um cavalo novo.
N: Ah é!? Cade?
D: Vem comigo... – Dinho vai levando Neuta para as cocheiras que ficam do outro lado do acampamento. – Eu tava indo atrás da senhora nesse minuto mesmo! Achei até que a senhora ia embora...
N: Ah, as meninas queriam muito ficar pro show da Ivete, então a gente fica até amanhã!
D: Ah então que bom que a senhora não foi. A senhora vai adorar...
Ao fundo, em uma das cocheiras já dava pra ver a cabeça de um cavalo, era um cavalo de grande porte, era o único que estava com o pescoço pra fora, era um enorme manga-larga marrom claro com uma lindíssima crina bem clarinha!
N: (sorridente) É aquele ali Dinho? – Disse Neuta maravilhada!
D: (também sorrindo) Hê, é aquele mesmo dona Neuta!!!
N: Ai, adorei Dinho!! É sério!? Você acabou de pegar?
D: Sim, peguei nesse instantinho mesmo! Mas eu já tinha combinado com o moço que eu ia pegar hoje!
N: Ai, que legal Dinho!!! Como ele vai chamar?
D: É "ela" dona Neuta!
N: (Neuta arregala os olhos) É uma égua Dinho? Nossa, não é possível!! Desse tamanho!!? É a égua mais linda que eu já vi!! – Neuta começa a fazer carinho na égua, admirada com ela, reparando em sua crina!
D: Ela é sua dona Neuta, eu comprei só pra poder levar a senhora comigo na garupa! – Dinho fala rindo.
Neuta volta os olhares pra Dinho, sem expressão.
N: Como assim minha, Dinho!?
D: É sua sim senhora! E essa aí eu já percebi que é bem arretada, vocês vão se dar muito bem as duas!
Neuta dá uma bela risada, reparando na égua! Nossa, mas que égua maravilhosa, ela pensou! Ela era linda e ela tinha amado!
Ele só podia estar brincando! Como ele sabia que ela ia amar aquela égua? Aonde ele havia arrumado uma égua assim?
Ela mesma tinha uma centena de cavalos e não havia nenhunzinho nem perecido, tão lindo como ela!
Nossa, e uma égua dessa, de raça boa, com certeza havia custado muito caro.
Por que Dinho tava dando pra ela? Ninguém nunca havia dado um presente desses pra ela!!
Ela não conseguia acreditar!!! Como aquele peão sabia agradá-la!! Como um peão sabia do gosto dela desse jeito?! Não podia ser!!
N: Nossa Dinho, to impressionada! Eu gostei mesmo da sua égua, mas eu não posso aceitá-la... Eu vou querer dar uma volta, posso?
D: Claro! Ela é sua! De verdade dona Neuta, eu comprei pra senhora mesmo! E eu ficaria muito contente se a senhora aceitasse!
Neuta estava com um sorrisinho bobo, difícil de arrancar do rosto! Pensava com ela mesmo “tudo bem Dinho, já estou bem apaixonada por você, não precisava comprar esse presente maravilhoso”!!
N: (ansiosa) Então vamos Dinho, me ajuda a subir. – Neuta já foi puxando a égua, percebendo que estava pronta pra ser montada e sobe nela com a ajuda de Dinho, que sobe logo atrás. Neuta olha ao lado das cocheiras, aquele montão de palha e matinho seco na grama, lembrando do Dinho tentando convencê-la, durante a noite, a entrar ali com ele, no breu da madrugada. HAHAHA Como pode né!? Peão é tudo igual mesmo! Querem de qualquer jeito levar as mulheres pra cocheira, pra mato, pra paiol... Mas que sina era essa!?
Ela começa a rir ao se dar conta que estava tãaao feliz com seu peão. Que estava tão feliz de estar ali, passeando naquela égua linda com Dinho.
Ela amava andar a cavalo! E estava começando a fazer questão da companhia dele!
Ela não tinha receio de andar junto dele, ela sabia que também o amava, que queria colar seu corpo no dele em cima de qualquer cavalo, em qualquer lugar. Ele era um peão, agia como peão, mas não sentia como um! Era um homem de verdade! Apesar da idade dele... Quantos anos ele tinha mesmo? Acho que o cérebro dela bloqueava essa informação, nem queria saber! Não queria ficar fazendo conta da diferença entre eles na cabeça dela! Ela achou melhor deixar essas ideias pra lá, haviam tanto empecilhos nesse amor... Mas o mais importante ela sabia, ele a amava, a amava do jeito dela e amava muito!
Dinho mexeu demais com ela no momento que a segurou, naquele temporal. Ela tava tão perdida, e ele chegou acolhendo ela de uma maneira que ninguém nunca fez! Ele era bem do jeito que ela queria, do jeito que ela bem gostava! E cada dia ele mostrava ser o homem ideal pra ela! Ele a tratava feito uma rainha! Nossa, quem diria que eu encontraria um peão assim a essa altura do campeonato. Ela não conseguia tirar o sorriso do rosto quando estava ao seu lado!
D: Tá feliz dona Neuta!??
N: To sim Dinho, to muito feliz!
D: Que bom, olha, eu gosto demais de andar a cavalo juntinho com a senhora! – Ela sorriu mais ainda, como se fosse possível.
Dinho ia direcionando o cavalo para o campo, naquele dia parecia que aquele campo estava mais verde, o sol parecia estar mais brilhante, as árvores pareciam dançar ao horizonte e o som dos pássaros deixava tudo em volta mais bonito ainda! Estava uma belíssima paisagem, e Dinho ia se afastando cada vez mais.
N: (dando uma leve olhadinha pra trás) Essa noite eu que sonhei com você, sabia?
D: (com leve frio na barriga) Ô dona Neuta, não faz isso comigo! Que que a senhora sonhou comigo?
N: (mirando o horizonte) Ah, nada demais Dinho, mas eu sabia que estava gostoso, você me beijando, deitado comigo e tinha uma paisagem bonita igual à essa
Ela dá um sorriso, e vira, tentando olhar nos olhos dele.
N: Aonde estamos indo Dinho? – Neuta percebe que Dinho vai na rota da mata que tinha ali perto.
D: A senhora vai gostar dona Neuta.
Dinho vai se direcionando pra uma trilha com um pouco de mato e plantas à sua volta. O belíssimo sol daquele manhã deixava tudo mais bonito e bem iluminado entre as árvores. Neuta estava adorando passear por aquela parte, já que não conhecia, ia reparando cada detalhe daquele caminho no meio do nada!
Eles iam cada vez mais pra dentro da mata. Neuta foi avistando ao longe uma cachoeira, eles vão se aproximando aos poucos. Dinho chega próximo a uma pedra e para, olha um tempinho para aquele lugar e desce.
Dinho pega na cintura de Neuta e a ajuda a descer.
N: Nossa Dinho, que lugar lindo!
Ela senta ali, numa pedra, admirando tudo naquele lugar e Dinho senta logo atrás. Neuta encosta a cabeça no peito de Dinho.
D: (com sorriso de orelha à orelha) Pelo visto a senhora gostou!
N: Nossa Dinho, não tem como não gostar!
D: Eu gosto muito desse lugar, eu queria muito trazer a senhora aqui!
N: Você vem sempre aqui Dinho?
D: Não, mas é tudo tão bonito aqui, nossinhora! Dá vontade de não sair daqui!! Eu quero olhar bem pra esse lugar, olhar bem pra senhora, e guardar bem na minha cabeça esse momento!
N: Ai Dinho, eu to tão feliz sabia!? Dá até um medo sabe!?
D: Medo do que dona Neuta?
N: (pensativa) Ah, de tudo acabar, assim, de repente...
Neuta havia recebido aquela notícia que Sinval estava sendo procurado pela polícia, mas não queria comentar nada com Dinho! Só estava um pouco preocupada, teria que resolver algumas coisas quando voltasse para casa.
D: (preocupado) A senhora tá pensando em acabar comigo?
N: (responde prontamente!) Nãao Dinho!!! Claro que não!!
D: Ô dona Neuta, se a senhora tiver alguma coisa pra me falar, pode falar! Eu não quero perder a senhora não viu!
N: Não vai perder Dinho... (Dando beijinhos no rosto dele)
D: Eu fico com uns pensamento aqui às vezes... Dona Neuta, não tem homem nesse mundo que ame mais a senhora do que eu não viu!
N: (sorrindo) Eu sei disso Dinho!
D: Dona Neuta, sabe aquilo que eu disse aquele dia, que se eu fosse outra coisa que não fosse peão, se a senhora se casava comigo!?
N: (rindo) Seeei...
D: A senhora falou que gosta de mim sendo peão mesmo!
N: Falei... – Fala Neuta desviando o olhar, olhando pra natureza, reparando no lugar...
D: Eu não entendo que tem horas que a senhora fala tão mal de peão dona Neuta. Queria mostrar que peão não é tudo igual não viu!
N: Eu sei Dinho, você não é um peão qualquer! (Passando a mão em seu rosto) E eu realmente gosto de você assim! Do jeito que você é!
D: O finado da senhora, que a senhora foi casada, ele era peão não é verdade!?
N: Ai, Dinho – Neuta voltou a lembrar do assunto do Sinval. Ela vai se levantando. – Não vamos falar disso agora né!? – Neuta desconversa, olha pra tudo à sua volta, pra queda da cachoeira, pras pedras entre o verde e as árvores em volta. – Eu to tão feliz de estar aqui com você, conhecer esse lugar. E além do mais, nesse momento eu estou completamente apaixonada... – Neuta volta os olhares pra Dinho. – por essa égua que você comprou! E eu quero saber, afinal, posso dar um nome pra ela então? – Neuta olha pra Dinho, esperançosa.
D: Mas ela já tem nome dona Neuta, o nome dela é Chuva!
(...) ~*