A Princesa Preciosa escrita por Sensei Arê


Capítulo 4
Quarta Noite: Velhos Sentimentos, Novas Marcas


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos exploradores! Como tem passado?
Já faz um bom tempo desde a nossa última aventura, não é mesmo? Bem, andei passando por alguns momentos bem complicados, e agora tive uma oportunidade pra sentar e postar a continuação. Pasmem, já estava betado a eras, pela brilhantíssima xará!
Bem, pretendo ser breve, então, aqui está a playlist:

Começo: https://www.youtube.com/watch?v=YvhP6YYUwEI

Canção da Hinata: https://www.youtube.com/watch?v=qWJmoZY_sGI

ShinoIno: https://www.youtube.com/watch?v=0_82LEP4zmI

Neji: https://www.youtube.com/watch?v=BOIIjIvlhwE

Confissão: https://www.youtube.com/watch?v=972-bGg30-w

Então, por enquanto é isso! Nos vemos no final!
P.S.: glossário ao fim do capítulo!



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Com a chegada dos novos exploradores, o acampamento tornou-se muito mais cheio e agitado. Bem, eu poderia atribuir a culpa disso tudo à Ino Yamanaka, que mal havia chegado e já impunha suas mudanças e atribulações ao meu pessoal.

— Cuidado com essas caixas, rapazes! Lembrem-se: rapidez e cuidado trabalhando juntos! – disse a jovem, apressando os homens na armação do seu local de trabalho – Não acredito que esse Escaravelho Aburame não tinha um local para a enfermaria nesse pardieiro! O que faziam com os feridos? Abandonavam-nos à morte?

— Oras, pare de importunar o jovem Aburame, filhinha... – entreviu o Sr. Inoichi, com um sorriso debochado – Afinal, o homem merece crédito por ter lhe tirado do precipício!

— Bem, isto é verdade, mas... – disse ela, como se estivesse envergonhada e depois encobrindo o sentimento – Mas isso não justifica o fato dele não ter instalações adequadas para cuidados emergenciais!

— Nós sempre trabalhamos com atenção e eficiência, Srta. Yamanaka. – respondi por entre os dentes – Nunca tivemos mais do que uma insolação ou desidratação nesse acampamento exploratório. E, de qualquer modo, eles sempre foram tratados com o que tínhamos de melhor!

— Oh, e devo supor que se houvesse algum acidente, você bateria suas asinhas e levaria os feridos no ombro até a civilização... – replicou ela, virando-se para mim com um sorriso sarcástico – Ou será que aproveitaria da situação e sugaria o sangue destes pobres coitados? Escaravelhos fazem isso, não é mesmo?

Eu pensei em responder, mas quando me lembrei de qual eram as principais fontes de alimento dos escaravelhos mordi a língua e bufei exasperado. A risadinha divertida dela seria como música para os meus ouvidos, se o motivo não fosse o meu escárnio.

As minhas lembranças em relação à jovem donzela eram inconstantes. Crescemos juntos, éramos bons amigos em nossa infância e até mesmo planejávamos nossas aventuras quando nos tornássemos maiores. Lembro como queríamos cruzar os céus numa volta ao mundo, assim como queríamos velejar pelos sete mares. Era natural me divertir com Ino, pois ela parecia ser a única que me compreendia, ela embarcava nas minhas brincadeiras e ouvia as minhas histórias.

Bem... Isso até ela crescer e se tornar essa jovem megera que me chama de Escaravelho a torto e a direito!

— Srta. Yamanaka... – murmurei, tentando permanecer calmo – Eu lhe agradeço por suas intervenções medicinais, mas peço que não atrapalhe o andamento das escavações. Eu deixarei dois ou três homens para ajudá-la no que for preciso...

— Claro, claro... – disse ela, gesticulando com as mãos – Agora vá buscar o seu guia para que eu cuide daquela ferida direito, antes que infeccione.

Eu a encarei boquiaberto, tanto pelo fato dela ter me interrompido quanto por ela achar que poderia me dar ordens. A petulância daquela mulher conseguia me tirar do sério! No entanto, apenas para evitar mais discussões, eu fui até a tenda de Neji como ela havia ‘pedido’, enquanto a própria continuava demandando ordens ao som das risadas do próprio pai.

Chegando próximo às tendas dos escravos e das concubinas, encontrei a barraca que procurava, vendo Neji deitado em um simples tapete, com a cabeça apoiada no colo de Hinata – agora já vestida por completo –, que lhe fazia carinho nos longos cabelos castanhos.

Laakh, iss dil ko, hum ne samjhaaya...

Dil yahaan phir bhi humko le aayaa…

Tantas vezes, para este coração, eu tentei explicar…

Mas meu coração me trouxe para este lugar mesmo assim...

A jovem de olhos perolados cantarolava uma doce canção enquanto afagava seu protetor, e ele a acompanhava de olhos fechados, com a expressão um pouco dolorida. A ferida pelo tiro que o guia havia ganhado já parecia ter sido estancada com algum tipo de tecido simples – provavelmente de alguma das vestes dele. E a pele da bela dançarina também voltava a ter o tom rosado de pêssego que ela tinha e agora já não parecia sentir tanta dor no corpo.

Ao vê-los ali, feridos e juntos meu coração se compadeceu dos dois. Eu gostaria que os dois pudessem parar de sofrer, eu gostaria de poder ajudá-los. Depois de ouvir a história de Hinata e de ter aquela conversa com Neji, os sentimentos de luxúria e ódio se dissiparam de mim, como se um véu tivesse sido arrancado dos meus olhos. “Enquanto acreditardes em nós e em nossa história... Poderemos ter uma chance.”, as palavras dele ainda ecoavam dentro de mim, e aquela era a verdade que me cabia. Ela pertencia a ele, assim como ele pertencia a ela. E era assim que devia ser!

— Neji, Hinata... – chamei-os levemente, tendo os dois pares de olhos perolados voltados para mim – Ino está com quase tudo pronto para poder cuidar de suas feridas e me pediu para que viesse buscá-los.

— Dhan'yavaada... – agradeceu-me Hinata, ajudando seu protetor a levantar-se – Somos muito gratos por seus préstimos, Senhor Shino.

— Oras... Não precisam agradecer. – respondi, abaixando-me para ajudar também – Gostaria de poder ajudar mais. Em minha loucura, acabei fazendo mal a ambos... Envergonho-me de mim mesmo.

— Eu já havia dito, Shino: o que nos ocorreu não foi tua culpa. – disse-me Neji, grunhindo ao fazer força para levantar – Os sentimentos de um homem podem voltar-se contra ele, caso o coração esteja despreparado para lutar contra as influências do opressor. Não sejas tão rígido consigo mesmo, priya mitra.

— De qualquer modo, apenas posso torcer para que tudo se ajeite no final das contas. – resignei-me a dizer, amparando Neji por debaixo do braço – Talvez, com os lucros que me vierem dessa busca, eu possa fazer uma boa oferta para libertá-los. Não deixarei que continuem trabalhando como escravos para estes mercenários!

— Mesmo que nos liberte, nossa sina está atrelada a algo muito maior do que pensas. – disse ele, firmando o corpo – Enquanto ele ainda existir, nossa batalha irá perdurar.

— Está falando de Drugbha? – perguntei baixinho, guiando-o para fora da tenda – Acreditam que ele também possa ter renascido, como vocês?

— Não exatamente... Ao contrário de nós, ele não teve de passar da morte para a vida em uma reencarnação. – respondeu Hinata, acompanhando-nos de perto – Sua existência permaneceu estagnada no mundo através das eras.

— Vocês saberiam como identificá-lo? – cogitei, pensando em como ajudar – Sobre a aparência dele, ou algum tipo de marca...

— Assim como nós dois mudamos nossa fisionomia em cada vida que vivemos, assim ele também altera sua forma. – respondeu a morena, abraçando o próprio corpo – Nem sempre é fácil nos reconhecermos. Houve vidas em que não chegamos nem ao menos nos encontrar, em outras ele nos encontrava primeiro e tudo acabava antes que houvesse uma chance de escapar. Nessa vida, tivemos sorte até então...

— Ele é como uma cobra dentro de um cesto, apenas esperando que abram a tampa para dar o bote. – completou Neji, arfando conforme andávamos – Ele sempre encontra um jeito de nos apartar e destruir. Vida após vida, era após era. Mas dessa vez está diferente...

— Como assim? – questionei intrigado.

— Além de nós dois termos sido abençoados de nascer próximos e nos descobrirmos desde pequenos, esta é a primeira vida em que voltamos ao início de tudo... – respondeu ele, olhando diretamente para mim – Kishkindha é nossa terra natal, onde tudo aconteceu... Cada vez que avançamos para a Cidade Perdida nosso passado colide com o presente.

— E ao mesmo passo em que vocês dois se aproximam de lá, Drugbha também pode estar perto... – concluí, apertando o braço de Neji em torno de mim, por leve apreensão.

— Haam... Não sei o que isto pode significar... – confessou Hinata, tomando a mão livre de Neji nas suas – Mas, talvez, nos seja dada uma boa oportunidade de mudar as coisas a nosso favor...

— Torceremos por isso, kamana... – disse Neji, exibindo um sorriso dolorido.

Ainda pensativo, guiei o casal por entre as tendas até o novo consultório de Ino. E em meu coração, passei a desejar encontrar uma maneira de ajudar os meus dois novos amigos.

~*~*~*~

Sem Neji para nos guiar pela densa mata da Índia, o processo para encontrar a Cidade Perdida tornou-se muito mais lento. Avançamos muito pouco e não tínhamos nenhuma pista se seguíamos o caminho certo. Ino fez o que estava ao seu alcance para fechar e tratar o ferimento do tiro que ele havia levado, e impôs que ele ficasse de repouso para a ferida curar-se rapidamente. No entanto, não foi tão rápido quanto esperávamos.

Com novos trabalhadores e muito mais gente para manter e alimentar, logo o acampamento ficou sem guarnições. Hinata, algumas dançarinas e escravos foram mandados de volta à cidade do harém, de onde começamos, para conseguir mais provisões, medicamentos e roupas novas. Com certa relutância, a morena se despediu de seu amado e de mim, pedindo que cuidássemos um do outro em sua ausência. E com ela, o sentimento de amabilidade do acampamento também se foi.

O nosso ritmo de trabalho mudou muito por conta da presença de Obito Uchiha. Ele era rude, libidinoso e até mesmo cruel com as pessoas ao seu redor. Certa vez ele teve o prazer de espancar um dos homens que não limpou suas armas do modo como ele gostava, assim como chicoteou uma das mulheres que não o agradou na cama durante a noite. Era um bárbaro! E nenhum de nós estava a salvo com ele... Nem mesmo eu.

Dia após dia eu era cobrado pelos membros daquela família quanto ao meu propósito naquele empreendimento. Quando não era Sasuke era seu pai, e quando não era nenhum dos dois era o meu hostil empregador. Apenas os membros de sua família e os Yamanaka pareciam saber como lidar com o homem. Já eu, fazia o meu possível para não ter de me encontrar com ele. Não que ele colocasse medo em mim ou algo do tipo, mas eu me sentia sufocado em sua presença; como um inseto preso numa teia e com a aranha se aproximando.

Ficar no mesmo ambiente que aquele homem era desgastante, portanto, eu me empenhei ainda mais e ficava cada vez mais tempo longe do acampamento, buscando pistas, traçando rotas... Qualquer coisa era válida. Em uma dessas tardes, quando eu e os exploradores havíamos voltado de nossa busca, ainda sem sucesso, a única coisa que eu desejava era um pouco de comida e uma boa noite descanso.

No entanto, a palavra descanso não combina nem um pouco com Ino Yamanaka.

— Preciso conversar com você, Escaravelho... – informou ela, aparecendo em minha tenda enquanto eu lavava meu rosto.

“Era só o que me faltava!”, pensei irritado. Será que eu não podia ter nem um pingo de descanso? E por que diabos essa mulher insistia em ser tão mandona e mal criada? Por mais gentil ou educado que meus pais me doutrinaram a ser, já bastava de aguentar aquelas provocações calado!

— Parece que agora consigo compreender o ditado que diz: “não dê pérolas aos porcos”... – retruquei com humor ácido, cansado daquele apelido idiota – Conseguiu redefinir o termo, Srta. Yamanaka.

— Como disse? – disse ela, com visível choque na voz – Que bicho o mordeu, Aburame?

— Está mais para um filhote de javali ganindo na minha orelha... – dei de ombros, pegando a toalha – Ou será que deveria dizer... Uma Porquinha?

— Oras, seu...! – bradou ela, avançando sobre mim.

Por um instante, voltei aos meus tempos de menino, quando conheci Ino pela primeira vez. Crianças podem ser doces e animadas, mas também sabem ser cruéis com seus apelidos e maldades.

A pequenina de olhos azuis sempre detestou ser chamada de Porquinha pelos nossos colegas do internato, assim como eu detestava ser tomado como esquisito. Ao chamá-la pelo antigo apelido, dei a ela o gosto do próprio remédio. Pelo espelho, eu vi a loura erguer os punhos para me espancar e virei no exato momento em que ela ia desferir o primeiro golpe.

Se Ino Yamanaka me irritava como ninguém quando queria se mostrar altiva, ela também conseguiu arrancar uma risada divertida quando a situação se inverteu. Toda a vez em que ela se aproximava, eu me esquivava. Eu era como um besouro ligeiro, e ela uma gatinha frustrada miando pela tenda. Logo, todo o mal estar daqueles dias passou, e assim, ela conseguiu me fazer sentir mais jovem desde... Bem, desde quando eu era realmente jovem!

Em meio à correria na tenda, a jovem enfermeira não percebeu minha bolsa de materiais jogada no chão, e acabou por enroscar seus pés na alça da mesma. Tendo um déjà vu com a cena, eu me impulsionei para frente e a amparei antes que ela caísse no chão.

E então ficamos ali, parados. Por um instante, nada no mundo parecia ser mais audível do que as nossas respirações. Ruborizada, ela ergueu seus olhos para mim e – novamente – eu desejei me perder naquela imensidão azul. Mesmo que fosse indecoroso ficar abraçado com uma mulher que não fosse minha, eu simplesmente não conseguia me mover, do mesmo modo que ela não fez nenhuma menção se afastar de mim.

— Sa-sabe q-que... – balbuciou ela, envergonhada pela situação – Não go-gosto que me chamem assim... Shino...

— Eu sei, Ino, e lhe peço desculpas... – respondi, afastando a franja dela do rosto – Apenas quero que você entenda que também não gosto que me chame de Escaravelho. Afinal, eu nunca entendi porque você começou a me tratar dessa forma... Éramos bons amigos, não?

Sim, em outro lugar e num outro momento, fomos grandes amigos. Parceiros de aventura, colegas destemidos e sonhadores...

Quando foi que essa menina mimada se tornou a bela mulher que agora tenho em meus braços? Quando foi que eu perdi a transformação de lagarta em borboleta?

Uma névoa de lembranças agridoces nos envolveu, e eu vi os olhos azuis de Ino brilharem intensamente antes de se fecharem com uma expressão de desgosto. Se eu ao menos pudesse...

— Sim, nós éramos... – respondeu-me ela, abrindo os olhos e afastando-se de mim – Os melhores amigos do mundo inteiro. Isso até você decidir me abandonar...

— Abandonar? O que quer dizer com isso? – perguntei, ficando completamente surpreso – Foi você quem decidiu que não queria mais vir à minha casa para ouvir histórias e nem quis mais que eu fosse vê-la para ajudar com os deveres! Como eu poderia...

— Oras... E como é que você poderia lembrar, não é mesmo? – tornou ela, com um sorriso triste – Afinal de contas: seu mundo é feito de conhecimentos e livros...

— Ino, por que... – balbuciei, atônito.

— Você disse que entendeu um ditado hoje, não foi? Pois eu lhe darei outro: “quem vive de passado é museu”! – interrompeu-me, cruzando os braços em frente ao corpo – Não quero me lembrar do passado. De qualquer modo, eu apenas vim para lhe falar sobre Neji.

Abandonar? Como diabos eu poderia tê-la abandonado quando tudo o que eu fiz na minha vida inteira é estudar e viver para obter algo melhor?

Ainda confuso, mas ciente de que não conseguiria arrancar mais nada daquela mulher, bufei e me virei, indo até a minha mesa. Coloquei meus óculos e me apoiei na bancada, de costas para Ino.

— O que tem ele? – perguntei por Neji, buscando novamente uma zona de conforto.

— A ferida dele não fecha. – respondeu Ino, falando com a voz de profissional – Eu já usei diferentes anti-inflamatórios e refaço o curativo todos os dias com o máximo de cuidado, mas ele simplesmente não se cura. Ele está ficando cada dia mais fraco e eu temo que logo a sua ferida comece a necrosar ou... Bem, algo pior do que isso...

— Isto é curioso. A esta altura, a ferida já deveria estar cicatrizada. – eu disse, ainda de costas, mas escutando atentamente – Você tem certeza que tirou a bala de dentro dele?

— A bala não ficou alojada. O tiro que ele levou foi de raspão, não existe qualquer vestígio de pólvora ou chumbo na ferida. – completou a Yamanaka, andando em círculos pela tenda – Então, tenho duas hipóteses: ou este homem está com uma grave infecção, ou ele pode ter Xeroftalmia.

— Como disse? Xeroftalmia? – perguntei, virando-me para ela com a expressão confusa – Mas esta doença apenas faz com que o paciente não produza lágrimas e tenha dificuldades para enxergar a noite, é a chamada  “cegueira noturna”... O que isto tem a ver com a falta de cicatrização?

— A Xeroftalmia é uma doença que é causada pela falta da vitamina A. – disse a loura, baixando a cabeça com um olhar preocupado – Isso por si só já causa a dificuldade de cicatrização, no entanto...

— No entanto... O que, Ino? – questionei, aproximando-me lentamente.

— Os olhos de Neji e Hinata tem uma cor que eu nunca vi antes em toda a minha vida. – respondeu ela, voltando o olhar triste para mim – No entanto, surgiram algumas manchas acinzentadas nos olhos dele... Eu fiz alguns testes tanto ao dia quanto à noite, e Neji não respondeu positivamente... Ele está ficando cego, Shino.

— Por Deus... – naquele instante, eu senti meu coração bater em um compasso diferente – E você contou isso para mais alguém?

— Não, ele não quis. – respondeu-me ela, baixando a cabeça – Ele pediu para que eu mantivesse tudo em segredo, inclusive de você mesmo, até termos certeza... Mas eu não tenho mais opções. Não sei o que fazer!

Isso não poderia acontecer... Não agora! Passando por Ino como uma flecha, eu saí da minha tenda e fui até o centro médico que ela havia montado, com a própria no meu encalço.

Desviando de carregadores e expedicionários, cheguei ao local onde encontrei meu guia mais pálido do que jamais o vi. O suor frio escorria por seu rosto abatido e seus olhos lilás perolados, outrora vibrantes e sagazes, jaziam opacos e esmorecidos.

“Maldição...”. Um sentimento de culpa tomou conta de mim. Em minha busca desenfreada por Kishkindha e para me afastar de todos os Uchihas, eu acabei deixando de lado o bem estar de meu companheiro. E eu tinha prometido a Hinata que cuidaria dele.

— Neji, meu bom amigo... – murmurei, aproximando-me e tomando uma de suas mãos entre as minhas – Que está havendo com você?

— Shino... Priya mitra... – disse ele com dificuldade, abrindo um sorriso abatido – Estou... Passando por uma... Mahaan pareekshan, uma grande provação... Estou tão... Horrível, de se ver?

— Você está um trapo, meu caro... – devolvi com um sorriso de compaixão – Devo-lhe desculpas, eu não cuidei de você como deveria. O que Hinata fará ao vê-lo dessa forma?

— Ela... Ela não deve... Não deve saber... – disse ele, balançando a cabeça – É melhor... Bem melhor assim... Longe, ela está a salvo...

— A salvo? – perguntei, olhando-o com seriedade.

— Haam... – ele disse, soltando um longo suspiro.

— Então, quer dizer que... - bastou um único olhar do guia para que eu tivesse certeza – Drugbha está próximo.

— Dru... O que? – ouvi Ino perguntar atrás de mim – O que é isso?

— Peço-lhe que... Perdoe-me, Senhorita Yamanaka... – murmurou Neji, voltando seus olhos para Ino – Seus remédios... Não irão me curar...

— A medicina ocidental não surte efeito em você... – eu disse, olhando para um vidro de medicamento na bancada ao lado da maca – Precisamos de algo que seja da sua terra natal!

— Não se trata... De tua medicina ou da minha... – disse o guia, fazendo menção de se levantar – A cobra... Pode mudar sua pele... Mas o veneno é o mesmo...

— Cobras, veneno... – questionou a loira, inclinando-se para deitar Neji na maca novamente – Mas do que é você estão falando?

— O veneno é o mesmo... – sussurrei pensativo, depois arregalando os olhos com surpresa – Veneno! É claro! Agora tudo faz sentido!

— Será que alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? – bradou Ino, ficando irritada por ser deixada de lado.

— Não tenho tempo de explicar! Preciso agir logo! – eu disse, virando meu rosto para ela e depois para Neji – Não tema, meu amigo! Vou dar um jeito de curar você!

— Tende cuidado... – murmurou ele, tentando sorrir - Priya mitra...

Assenti para o bravo guerreiro e tomei Ino pela mão, saindo da tenda da enfermaria com pressa. Eu tinha um plano simples em mente, bastava muita sorte e rapidez para executá-lo!

Assim como uma picada de cobra se cura com o antídoto correto, eu primeiro tinha de achar a fonte da moléstia de Neji. E, se as minhas suspeitas estivessem corretas, a fonte estava na espingarda de Obito Uchiha.

— Shino Aburame, é bom você me explicar agora mesmo o que está acontecendo! – bradou Ino, tentando soltar sua mão da minha – Solte-me agora, ou vou gritar!

— Ino, controle sua voz e fique calma! – eu disse, virando-me e encarando-a seriamente – Você quer curar Neji, não quer? Eu preciso de sua ajuda e preciso dela agora!

— Não vou compactuar com nada até me explicar o que está acontecendo! – disse ela, soltando a mão e cruzando os braços diante do peito – O que é esse tal de “Dru-não-sei-o-que”?! E que veneno é esse que vocês falaram?

Deuses, como esta mulher é difícil! Bufei e retirei os óculos um instante, buscando me acalmar pelo bem de Neji e de todos nós. Contar tudo a Ino poderia ser arriscado. Além de achar que estou louco, ela poderia muito bem me delatar aos outros e isso acabaria em despejo para mim e morte certa para o meu guia.

— Ino, nós não temos muito tempo, então preciso que preste muita atenção em tudo o que eu vou lhe contar agora, certo? – eu disse, puxando-a para um canto mais afastado – Eu sei que vai parecer confuso, mas quero que escute tudo antes de falar qualquer coisa.

— Oras, apenas fale de uma vez! – disse ela exasperada, depois baixando os ombros – Desculpe, prometo só falar depois que você terminar.

Respirei fundo e então comecei a contar a história que Hinata havia me contado dias antes. Contei sobre a vida de Halimed e Nanshu e sobre o amor que eles foram proibidos de ter por conta da inveja e do ódio de Drugbha. Contei também sobre o seu final trágico e sobre as reencarnações que os dois tiveram de enfrentar para chegar até os dias de hoje.

Ino escutou tudo em silêncio, apenas seus olhos demonstravam as emoções que se passavam dentro de si. Quando finalmente terminei, ela pensou uns instantes com a cabeça baixa.

— Quer me dizer que você acredita que Hinata e Neji na verdade são reencarnações de uma princesa e um deus indiano? – perguntou ela, erguendo os olhos desconfiados para mim – E você espera que eu acredite nessa história toda de que eles vivem e morrem por conta de um demônio que os perseguem?

— Exatamente isso. – respondi, olhando-a por cima dos óculos.

— Mas isso é loucura, Shino! – disse ela irritada, gesticulando com as mãos – Que prova você tem disso tudo?

— Então, minha cara, como você explicaria uma ferida que não se cura mesmo com os medicamentos mais avançados que temos? – desafiei-a cruzando meus braços.

— Eu já disse: Xeroftalmia! – respondeu ela, com um sorrisinho convencido.

— Ino, você sabe muito bem que não se trata dessa doença, apenas quer acreditas em algo que lhe parece real. – respondi de modo brando, tentando acalmá-la – Lembra-se da pele de Hinata? Você mesmo viu como as queimaduras haviam sarado num piscar de olhos depois que o sol estava alto no céu. Não sabemos de tudo e nem tudo é como parece ser...

— Mas... Mas isto é loucura, Shino! – murmurou ela, balançando a cabeça – Você deveria ter deixado os contos de fadas para trás!

— Eu sei Ino, mas, por favor, apenas acredite! – eu pedi, segurando-a levemente pelos ombros – Enquanto nós dois acreditarmos neles, eles poderão ter uma chance de se salvar desse destino cruel!

— Shino...

— Por favor, Ino! – pedi novamente, aproximando-me mais – Eu preciso salvar meus amigos e preciso da sua ajuda. Preciso de você...

As palavras passaram pelos meus lábios antes que eu processasse a informação do que acabara de dizer. Ino me encarou com os olhos azuis arregalados e muito brilhantes, como o céu celeste. Aquilo mais parecia uma confissão amorosa do que um pedido de ajuda, e dei graças por estarmos afastados da agitação do acampamento. A jovem Yamanaka corou – como eu mesmo deveria ter corado – e baixou sua cabeça.

— E-eu... Eu be-bem...Oras, tudo bem, eu ajudo! – disse ela, fingindo-se de irritada – Apenas vamos logo com isso! Por onde começamos?

Eu sorri verdadeiramente ao ter o apoio de alguém que realmente entendia o que se passava na minha cabeça, sem achar que eu devesse me consultar com um psiquiatra. Agora, bastava começar a por o plano em ação.

— Precisaremos de uma das balas da espingarda do Senhor Obito. – eu disse, voltando a seriedade – Tenho quase certeza de que ali está o veneno que está sucumbindo Neji. Como o velho Uchiha gosta de caçar, provavelmente embebe sua munição em veneno para matar animais grandes com mais rapidez.

— Pois bem, aquela é a cabana onde o tio Obito guarda seu armamento. – disse Ino, apontando para uma tenda do outro lado do acampamento – Sei que ele mantém dois homens guardando a entrada... Como pretende chegar lá sem ser notado?

— Bem, minha cara, eu creio que teremos de causar um pouco de... – olhei para ela, sorrindo maliciosamente – Distração...


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Notas finais do capítulo

Antes de qualquer coisa, cá está o nosso glossário:

Kishkindha: é o reino macaco (Vanara) do rei Sugriva, o irmão mais novo de Vali, na teologia indiana do tempo de Ramayana. Este era o reino em que ele governou com a ajuda de seu amigo, Hanuman. (só pra relembrar, heheh)

Dhan'yavaada: do hindi, "obrigada".

Priya mitra: do hindi, "caro amigo".

Haam: do hindi, "sim".

Mahaan pareekshan: do hindi, "grande provação".

Xeroftalmia: é uma doença caracterizada pela não-produção de lágrimas e por dificuldades de enxergar, principalmente durante a noite. É uma avitaminose causada pela falta da vitamina A, que é uma vitamina lipossolúvel, ou seja, se dissolve na presença de gordura. Caracteriza-se pela degeneração da conjuntiva e da córnea, que se apresentam secas, enrugadas e atrofiadas. As glândulas ópticas, obstruídas, deixam de produzir a secreção lacrimal responsável pela lubrificação do globo ocular e pode provocar falcotomia, uma rara doença.

Bem, e que tal estão achando? O cerco está se fechando em torno dos nossos protagonistas, hein? Será que a Ino realmente acreditou no Shino e vai ajudar mesmo? E a Hina, será que volta a tempo? Bem, nem vou falar muito sobre a condição do Neji... Ele tá mal, só.
Espero que continuem gostando e que continuem acompanhando!
Dentro em breve venho com mais um capítulo!
Beijos e até a próxima!



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