POV EMILY

Sabe como é aquela sensação de ter sua mente fora do corpo... em outra dimensão? Não sei explicar direito, mas... sei lá, é tão surreal que eu nem acreditava que podia sentir algo assim. Mas no último minuto eu experimentei dessa sensação e sinceramente é a melhor coisa do mundo.

Como um simples beijo poderia causar tanta coisa dentro de mim?

Agora vem a minha cabeça tudo aquilo que falam sobre quando você está apaixonado... que tudo é maximizado… os sorrisos, os toques, os beijos. Agora tudo faz sentido.

Emily: Uau! – suspirei ao encerrar o beijo.

Alison: É... – pôs a mão na boca. – Desculpe... eu não… sabia direito o que fazer. – murmurou sem jeito.

Emily: Não se desculpe! – retirei sua mão do rosto, e me aproximei de novo, inclinando-me para dar um selinho em seus lábios. – Foi o melhor beijo da minha vida. – disse com sinceridade.

Alison: Mas Emily, você sabe... eu não sei beijar e você... bem... já deve ter...

Emily: Primeiro… – a interrompi. – isso de saber beijar é subjetivo. E, sinceramente... pra quem nunca beijou, você se saiu muito bem. – sorri. – Segundo: o que faz o beijo ser bom não é a suposta experiência da pessoa, e sim as sensações que o beijo em si te proporciona. – finalizei.

A expressão de Alison suavizou, e eu pude admirar o belo sorriso que brotou em seus lábios.

Emily: Ah, e mais uma coisa... – tomei um gole do meu drink. – Por que você acha que eu tenho essa experiência toda?

Alison: Não sei... eu só… quer dizer... – pausou. – olha pra você Emily. – apontou. – Você é linda, simpática, inteligente... você deve ter metade do mundo aos seus pés.

Emily: Obrigada pelos elogios Ali, mas não é bem assim. Pra falar a verdade eu só tive um namorado sério... de apresentar pro meu pai e tudo mais. Foi na época da escola, no último ano. – Alison parecia surpresa. – Sempre olhei as garotas de forma diferente, mas só fiquei com uma depois de entrar pra faculdade... nem foram tantas, mas nenhuma delas me despertou um sentimento mais forte.... de querer um relacionamento sério. – expliquei.

Alison: Das garotas que você já ficou... uma delas... é a Hanna, não é? – perguntou receosa.

Emily: Sim. – confirmei. – Han foi a primeira garota que eu beijei.

– Nessa festa que eu a conheci, fizeram aquela brincadeira da garrafa e nós tivemos que nos beijar. Apenas aquele beijo me fez ter a certeza de que eu era bissexual. No final da festa ela veio conversar comigo, e eu acabei me abrindo. Ela foi super legal comigo, me dando vários conselhos... – Alison ouvia tudo atentamente. - E desde aquele dia, a Han tornou-se uma ótima amiga... A única exceto minha irmã com quem eu converso sobre garotos... e principalmente garotas. – finalizei. Alison parecia pensativa.. absorvendo tudo o que eu tinha acabado de contar.

…

Depois daquela conversa, Alison ficou mais retraída ainda. E dessa vez eu não tinha certeza do motivo, mas resolvi não pressionar. Vi que já era quase duas horas e resolvi enviar uma mensagem pra Carolyn, dizendo que já iríamos embora.

Emily: Está ficando tarde... melhor pedirmos a conta. – Alison acenou em resposta.

Entramos no carro e as meninas não paravam de tagarelar no banco de trás... comentando sobre o som, as luzes, as pessoas... elas ainda estavam elétricas.

Carolyn: Emily, vai pela orla... eu vou dormir na casa dos avós Paige, já falei com o papai.

Emily: Tudo bem.

O percurso estava silencioso, um silêncio diferente. A expressão de Alison não era chateada, porém eu estava me corroendo por dentro. Sabia que ela tinha ficado incomodada com algo na nossa conversa.

Após dirigir por cerca de quinze minutos, cheguei ao luxuoso condomínio onde os avós da Paige moravam. As meninas desceram... e nós nos despedimos.

Emily: Seus pais não vão reclamar por causa da hora? – puxei assunto, ainda com o carro estacionado dentro do condomínio.

Alison: Não. E meu pai disse que se eu quisesse eu poderia dormir na sua casa. – respondeu.

Emily: E você quer? – perguntei esperançosa.

Alison: Eu...

Emily: Ali, - A interrompi. - Você sabe que pode me contar qualquer coisa não é? – ela acenou. – Então me diz... o que te deixou assim? Foi a nossa conversa mais cedo? Eu falei algo errado?

Alison: Não sei... eu só senti alguma coisa quando vi você com a Hanna.. – franziu o nariz. – não sei explicar.

– Me fez sentir como se eu não fosse a pessoa certa pra você. Mas ela sim. – suspirou. – Você podia ter quem quisesse daquele lugar... – pausou. - quando fomos ao banheiro eu notei os olhares em cima de você... eu ouvi aquele cara flertando com você. - baixou a cabeça. – Eu só... acho que essas pessoas tem mais a ver com você. Não eu.

Emily: Alison, entenda. – peguei suas mãos. – Não existe isso de ‘’pessoas que tem a ver com a outra’’. Não me interessa quem olhou, ou quem flertou comigo. Desde aquele dia no grupo de apoio eu só consigo pensar em você. – disse com seriedade. - E eu nunca ficaria com a Hanna de novo. Nos beijamos uma vez... há um ano atrás... Hoje somos grandes amigas, fim. – sorri. – Não fica pensando essas coisas, por favor. – pedi, acariciando suas mãos.

Alison acenou fracamente com a cabeça e eu soltei o cinto, puxando-a para mim, num abraço meio desajeitado.

Abracei-a com muita força, querendo mostrar que nada dessas baboseiras que ela tava pensando era verdade... que toda essa insegurança não era necessária.

Eu queria muito dizer-lhe com todas as letras que eu estou completamente apaixonada por ela, que eu não tenho olhos pra ninguém exceto pra ela, mas acho que seria demais... que ela poderia se assustar… ou se sentir obrigada a falar algo que ela não quer, ou que ainda não esteja preparada.

Emily: Dorme lá em casa? Por favor? – sussurrei em seu ouvido. – Quero ficar abraçada com você.

Alison: Tá bom. – sorriu. – Vamos. - Sorri largamente, depois lhe dei um beijo estalado na bochecha.

…

Chegamos à minha casa e meu pai e Chris já estavam dormindo. Dei umas roupas minhas pra Alison e ela tomou banho no meu banheiro, enquanto eu usava o banheiro do corredor. Depois fui até a cozinha procurar algo para comermos... encontrei metade de uma pizza de pepperoni.

Emily: Eu sei que está muito tarde... mas é o que temos pra agora. – mostrei a pizza pra Alison, já no meu quarto.

Alison: Não tem hora pra comer pizza. Principalmente de pepperoni. – gargalhou timidamente, do jeito que só ela consegue fazer.

Depois desse sorriso gostoso eu pude ficar mais aliviada. Ela finalmente tinha esquecido aquele assunto. Eu sabia que não seria de uma hora pra outra que a Alison iria perder todo esse medo e insegurança que a rondam. E eu nem estava me referindo ao seu trauma, mas a sua própria personalidade.

Terminamos de comer, escovamos os dentes e fomos deitar.

Ao sentir o macio colchão tocar minhas costas, meu corpo inteiro reagiu... estremecendo dolorosamente… fazendo-me soltar um pequeno gemido. É... o dia havia sido muito longo e cansativo.

Alison: O que foi? – perguntou preocupada, enquanto deitava ao meu lado.

Emily: Nada... é que eu só reparei agora o quanto estou cansada. Minhas costas doem. – resmunguei.

Alison: Você deveria tomar algum remédio. – Falou em tom de preocupação. - Quer que eu pegue pra você?

Emily: Não precisa. – sorri fraco. – O remédio mais eficaz do mundo já está aqui... – fiz sinal para ela chegar mais perto.

Com prontidão, Alison se aproximou... passando um braço pela minha cintura e entrelaçando nossas pernas. Pra completar, ela enterrou seu rosto em meu pescoço, causando um arrepio gostoso.

Emily: Boa noite doce Ali. – beijei –lhe o topo da cabeça.

Alison: Boa noite... minha Em.