Anseios de Amor e Luta escrita por Italo Goldstorm


Capítulo 2
Bem-vinda à Elrem.


Notas iniciais do capítulo

O capítulo está bem curtinho, pretendo aumentar o conteúdo nos próximos, só preciso organizar as ideias que eu e o Rasmus estamos acrescentando no enredo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/620368/chapter/2

A silhueta negra atirou a mãe de Constance contra a porta. O turbilhão de sensações que Constance sentia a impedia de agir. Estava escondida com um encantamento que aprendeu com seu pai, o medo fez com que ela ficasse paralisada, mas isso não a impedia de ver tudo o que estava acontecendo. Sua mãe ficou estirada no chão enquanto seu pai segurava um cristal e recitava um conjuro. O ser a frente dela era irreconhecível, um vulto preto que assumia muitas formas. Manteve o silêncio até aquele momento, e quando falou, Constance desejou não estar ali.

— Está aqui , eu sei que está — A voz emitida era metálica e maligna. Constance conteve um grito.

— Não temos nada para você! — o pai dela gritou apavorado.

A silhueta avançou na direção dele e o envolveu como uma nuvem; o pai de Constance agonizava em gritos roucos. Momentos depois, seu corpo caiu inanimado no chão.

— Malditos. — A voz da silhueta soou enraivecida enquanto ela sumia no ar.

Constance acordou com um devaneio da carruagem. Soltou um suspiro de alívio ao sentir a realidade a sua volta, olhando pela janela ao lado os campos e constatando que seu primo, Jared, cochilava ao seu lado.

— Vamos demorar muito? — ela cutucou-o.

Estavam viajando há quatro horas sem nenhum intervalo.

— Não — Jared retrucou com um resmungo. Sua cabeça pendia no apoio do assento de madeira.

— Mas você nem sabe onde estamos! — Ela fez uma expressão de impaciência. Jared ajeitou-se em seu assento e espiou pela janela. Constance observava sem a mínima paciência.

— Já estamos bem longe de Londres, logo chegamos em Elrem. — Ele repousou a cabeça na lateral do veículo. Acordara às três da manhã para resgatar a prima.

— Como foi que aconteceu? — Jared perguntou sem ao menos virar-se para encarar Constance.

Ela entendeu a pergunta, não queria falar sobre a morte dos pais, seus olhos brilharam com as lágrimas que viriam em breve.

— Me desculpe. — Ele agora a observava — Vai ficar tudo bem.

Jared era péssimo com consolos, e desistindo, voltou a cabeça para o apoio lateral.

— Estamos chegando em Elrem.

— Nunca ouvi falar dessa cidade — Constance provocou o primo, que sempre deixou claro em visitas à sua antiga casa que se orgulhava de ter nascido em sua amada Elrem.

— É muito pequena para aparecer nos mapas, e digamos que Elrem também não é lá grande coisa, é mais como um vilarejo — ele respondeu com indiferença, acrescentando em seguida: — Mas é um ótimo lugar para se morar.

— Cadê todo aquele orgulho? — intrigou-se Constance.


— As coisas mudam. Elrem não é tão boa assim — ele riu.

Ela fez como o primo, relaxou sobre o apoio do seu assento. Estava ansiosa e ao mesmo tempo assustada; sua vida mudara de repente e ela não se sentia preparada para o que pudesse acontecer dali para frente. Depois de alguns minutos, a carruagem parou.

— Chegamos — Jared disse se levantando.

— Ainda bem. — Constance passou as mãos pelo vestido preto para alinhar a barra antes de se levantar. — Só um minuto — alertou para Jared, que já a esperava do lado de fora da carruagem.

Ele se moveu tão rápida e levemente que Ela não pôde reparar. A carruagem tinha um espelho pequeno na parte superior. Constance ficou alguns segundos ali se olhando. Estava abatida, seus olhos eram de um azul vivo, mas seu olhar estava apagado pelas olheiras. Seus cabelos longos e negros estavam bagunçados, a única coisa que continuava intacta era sua pele clara como uma folha em branco.

Ela se levantou e desceu da carruagem com cuidado. Observou ao redor e viu as casinhas lado a lado uma da outra. Algumas eram maiores que as outras, e longe, ao sul, ela viu a maior de todas: uma casa rústica, com janelas grandes e uma entrada gloriosa. Ela imaginou seu interior cheio de prata e móveis deslumbrantes.

O céu acima estava azul e o sol brilhava intensamente. Jared conversava com o condutor da carruagem, quando avistou Constance, ele indicou o caminho:

— Por ali — Ele apontou para uma casa um tanto maior em relação as outras, que ficava do outro lado do caminho de terra. — Vovó vai adorar te ver.

— Me acompanhe — Ela pediu com calma.

— Vou encontrar um amigo, te vejo depois. — Ele se despediu e começou a caminhar.

Constance ficou emburrada. Levantou a barra do vestido com as mãos e andou arrastando os pés. Os pequenos saltos provocavam uma dor incômoda. Chegando na casa de sua avó, bateu na porta de madeira e não demorou muito até que uma senhora de cabelos grisalhos e rosto redondo aparecesse, sorrindo instantaneamente.

— Oh, minha neta! — a avó exclamou. As maçãs do seu rosto subiram com um sorriso.

— Vovó! — Constance retrucou tentando mostrar o máximo de animação possível. As duas se envolveram num abraço apertado.

— Vamos, entre. Estou com uma velha amiga em casa e ela vai adorar te conhecer, querida — A avó fez um gesto convidativo com as mãos.

Constance acenou com a cabeça e entrou na casa. Sua primeira impressão foi que o imóvel era realmente confortável. A sala de entrada tinha móveis em madeira e muitos espelhos com belas molduras, uma grande mesa rodeada por cadeiras ocupava o centro do cômodo. Uma mulher negra de cabelos emaranhados presos em um coque estava sentada, um ar de satisfação passou pelo seu rosto quando avistou a jovem bruxa.

— Olá — ela cumprimentou movendo uma das mãos.

— Oi — Constance estava constrangida. Nunca vira aquela mulher antes. — Eu e sua avó Jena estávamos conversando sobre as nossas lendas antigas, quer se juntar a gente?

— Ela arrastou uma cadeira a fim de que Constance se sentasse, estava muito descontraída.

— Marie, ela deve estar muito cansada, ou talvez, com fome. — a avó advertiu.

— Jena, deixe-a responder. — mantinha um sorriso no rosto que convenceu Constance.

— Eu vou me sentar. — ela interrompeu as duas. —Vovó, dormi durante todo o caminho até aqui e não estou disposta para uma refeição.

– Tudo bem — respondeu

— Ótimo! — Marie explodiu em palmas, estava animada. — Sentem-se, vamos.

Jena sentou-se e sua neta a acompanhou.

Sobre a mesa, havia uma série de pedras coloridas. Constance reconheceu algumas, sua mãe as usava para encantamentos. Nunca a veria usá-las de novo.

— Você está crescida. — Os olhos de Jena brilhavam.

— Só tenho doze anos, vó. - Constance enrubesceu.

— Tem muito o que aprender, será uma grande bruxa. — Jena esfregava as mãos enrugadas. — Vou iniciar seu treinamento amanhã mesmo, Marie vai me ajudar. Você precisa de proteção.

— Ela parece inteligente. — Marie olhou para uma vela que se acendeu imediatamente. — Vamos continuar com as lendas? — perguntou. — O conhecimento teórico é indispensável para uma bruxa.

— Conhece a lenda da criação, Constance? — Jena perguntou arqueando uma das sobrancelhas.

— Minha mãe não me contava histórias. — A lembrança da mãe jogada no chão assombrou sua mente.

— Abigail foi a primeira bruxa — Marie iniciou a história. — Ela foi uma heroína. Salvou todo o seu vilarejo que sofria com uma praga e cuidou de um bebê órfão.

— A alma mais pura — Jena completou.


— Como ela fez isso? — Constance ficou curiosa.

— Ela e sua mãe usavam ervas para cuidar dos doentes. — Jena olhou para vários potinhos no beiral da Janela que ficava ao lado da porta. — Certo dia, ela foi colher plantas e o espírito da floresta concedeu os poderes à ela.

— Ela foi advertida de que tudo precisa de equilíbrio — Marie deu continuidade. Constance olhava atenta — Para manter o equilíbrio, o perigo andaria com as bruxas desde de então, e é assim até hoje. — Ela fez uma pausa e inspirou ar. — Sua mãe trouxe um bebê órfão para casa naquela noite e as duas resolveram criá-lo. O bebê cresceu e matou as duas, ele foi o primeiro caçador de bruxas.

— Nossa! — Constance exclamou.

— Abigail foi tão boa, não merecia esse fim.

— Esse é o destino das bruxas, querida. — Jena passou a mão nos cabelos negros da neta. — O perigo é nosso melhor amigo.

— Todo o cuidado é pouco na vida de uma bruxa — Marie acrescentou. — Mas vamos ao que interessa. — Ela aproximou as pedras de Constance. — Mostre-me o que você sabe.

— Eu não sei muita coisa — Constance abaixou a cabeça, estava envergonhada.

— Tudo bem, eu também não sabia quando era da sua idade, mas preciso saber como você lida com a magia.

Constance lançou um olhar de medo para sua avó.

— Vamos lá, querida. — Ela sorriu a fim de aliviar o medo da neta.

— Bom, essa é uma ametista. - Constance apontou para uma pedra lilás. - E aqui é uma hematita.

— Consegue fazer algo com elas? — Marie perguntou.

— Acho que sim. — respondeu.

Constance segurou a ametista. Uma onda de energia correu por seu corpo e concentrou-se no centro da testa. Com cautela, ela levou a pedra até o ponto de energia, fechou os olhos e sentiu tudo ao seu redor, como se todo o seu corpo fosse dotado de visão. Com muito esforço, concentrou-se nas cadeiras que rodeavam a mesa e fez com que elas se movessem alguns centímetros, afastando-se uma da outra. O barulho fúnebre do atrito preencheu o ambiente.

— Muito bem. — Marie aplaudiu com um sorriso largo.

Constance abriu os olhos e devolveu a pedra à mesa.

— Obrigada. — Ela sorriu, o feitiço a deixou cansada.

— Logo, estará fazendo isso. — Sem ao menos tocar na ametista, Marie fez com que as cadeiras retornassem ao seus lugares. Constance ficou impressionada, nunca vira alguém fazer aquilo.

— Como fez isso sem tocar na pedra? — perguntou.

— Não preciso mais de pedras, logo você não precisará também. — Marie levantou-se. — Preciso ir embora agora.

— Fique mais um pouco — Jena insistiu. — Eu adoraria, mas está tarde, sabe o que anda acontecendo com as mulheres da cidade. — Marie colocou uma mecha do cabelo grosso atrás da orelha.

— O que está acontecendo? — Constance perguntou.

— Muitas mulheres estão sendo... — Marie foi interrompida com um olhar de Jena. — É melhor sua avó lhe contar, ela é a pessoa mais adequada para isso.

Ela fez um gesto de despedida, caminhou até a porta e desapareceu na noite estrelada de Elrem.

— O que está acontecendo, vovó? — Constance insistiu, a impaciência fez com que seu coração saltasse violentamente.

— Mulheres andam desaparecendo sem paradeiro, mas não se preocupe, ficaremos seguras se nos mantivermos em casa. Venha, vou lhe mostrar seu quarto. — Jena levantou- se e convidou Constance para subir as escadas de madeira que ficavam no canto da sala, não queria falar sobre o assunto.

— Tudo bem, estou cansada. — Constance seguiu o gesto da avó, mas não desistiria de conseguir mais informações.

As duas subiram pela escada, os calçados de Constance faziam barulho no piso. No fim da escadaria, Constance se viu em um corredor com duas portas iluminado por uma série de velas postas em um candelabro.

— Seu quarto fica à direita. Vou arrumar umas coisas lá embaixo, fique a vontade, querida. — Jena voltou a descer as escadas silenciosamente.

Constance girou a maçaneta e entrou. O quarto era simples, uma cama pequena ocupava parte do espaço e um guarda-roupa fechava quase todo o caminho para uma janela ao fundo.

Ela tirou os sapatos e foi em direção a janela apreciar a vista noturna. A ruazinha abaixo estava iluminada com as luzes das casas. Constance avistou Jared logo na entrada, conversando com um garoto. Ela ficou encantada. Ele tinha cabelos castanhos ondulados pouco acima dos ombros. Seu corpo era alto, magro e os músculos eram um tanto definidos. O couro negro de suas vestes fez com que ele parecesse maduro e Constance concluiu que se a noite de Elrem fosse eterna, ela poderia passar sua vida observando-a se ele fizesse parte da paisagem.

No mesmo instante o garoto de despediu de Jared e foi em direção ao sul, Constance fechou a janela e se livrou do vestido pesado. Deitou-se na cama e adormeceu depois de um tempo, sem nenhum pesadelo para perturbá-la.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!