Garoto de Papel (Hiato) escrita por Risoto


Capítulo 10
Senti sua falta


Notas iniciais do capítulo

Título clichê
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA ME DESCULPEM
NÃO ME MATEM POR FAVOR
Eu to sem desculpa, eu to errada, então a única coisa que eu posso dizer é: Vai ter cap no próximo final de semana nem que pra isso eu precise sacrificar minha alma para conseguir inspiração.
ME
DESCULPEM.



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Meu olhos nunca estiveram tão inchados.

Lembro-me de poucas coisas depois que vi a pasta aberta em cima de minha cama. Foi como numa cena de filme. Um zumbido crescente me fez ficar tonta e cair de joelhos. Arrastei-me até minha cama, peguei meu celular e liguei para Mel. Depois, deitei-me e fiquei lá, olhando para o teto. Acho que minha mãe deve ter percebido que eu não estava bem, porque nem tentou me tirar do meu estado vegetativo.

Mel chegou correndo, mas nem mesmo me movi ao som de seus passos apressados. Só fiquei lá, parada, respirando o mínimo possível.

A primeira coisa que vi foi seu cabelo ruivo contra a luz que irradiava de minha janela. Ela sentou-se ao meu lado, passou a mão em minha cabeça e eu finalmente comecei a chorar. Chorei como só havia chorado uma vez, na primeira briga por causa do divórcio.

Só me acalmei dez minutos depois, e Mel só falou quando minha respiração se regularizou. Ela passou a mão em minha bochecha molhada e gelada, sorrindo.

— Quer me contar? — ela sussurrou, como se fosse um segredo.

— Você iria me achar uma maluca... — sussurrei de volta, com o peito contraído.

— Talvez, mas o que custa tentar? — levantei-me, peguei a pasta transparente que Daniel havia largado e entreguei para ela.

— Leia. — sentei-me ao seu lado, e ela me olhou com os olhos arregalados. Sei por quê. Nunca havia deixado que lesse qualquer coisa minha, mas se ela não o fizesse, não tinha a mínima chance de acreditar em mim.

Os minutos se passaram incontáveis. Mel não esboçava reação, era preocupante. Quando ela finalmente terminou, olhou para mim com os olhos sérios.

— Você escreveu uma história de amor com o Daniel? Mas vocês só se conhecem há um mês! — bati a mão na testa. Que ótimo.

— Não, Melissa. Você não entendeu. Está vendo isso? — apontei para as datas no topo das páginas —Eu escrevi essa história anos atrás, okay? O que eu quero dizer é que... Esse Daniel, o nosso vizinho, é o meu Daniel, o meu personagem. — disse tudo numa lufada de ar.

— É, você tem razão, eu acho que você está totalmente pirada. — Mel se levantou devagar, chegando perto de mim. Afastei-me.

—Não olhe para mim com esse olhar! — ela parou onde estava, e eu senti meus olhos se inundarem. — Mel, eu juro para você, eu tentei de todas as maneiras possíveis achar uma explicação lógica para tudo isso. Mas não existe. Por isso eu fechei a porta na cara do Daniel quando o vi pela primeira vez. Por isso que eu fiquei tão estranha durante um tempo. Para mim, eu estava ficando louca, maluca, psicótica. Mas, por mais impossível que seja, ele está aqui, ele é real, e ele não deveria ser.

— Alana, isso é impossível... — ela começou hesitante.

Eu sei! Eu sei, droga! Mel, uma vez eu conversei com ele sobre as origens dele. Ele só respondia as coisas que eu escrevi. Quando eu perguntava coisas que não estavam escritas, ele fazia uma cara confusa e mudava de assunto! Tenta fazer esse teste, você vai perceber! — ela não me respondia, e minha cabeça começou a girar. A única pessoa que eu precisava não acreditava em mim. Aquilo fez todo meu corpo doer dez vezes mais. — Você não acredita em mim... Não acredita...

— Eu acredito, Alana — ela chegou mais perto, passando a mão na minha cabeça. —, por isso que estou com tanto medo. É cientificamente impossível, no entanto... Eu acredito em você. — então senti seus braços me envolverem, e ela ficou sentada comigo, ali, no chão, afagando minha cabeça enquanto eu me agarrava a ela, chorando.

— O que eu faço, Mel...? — perguntei, fracamente.

— Nada. Levante a cabeça, limpe esses olhos, sorria e continue. Uma hora tudo vai passar, vai voltar ao normal.         

Assenti, pois sabia que ela estava certa. Ninguém acreditaria em mim, e tudo que estava ao meu alcance era continuar a viver como se Daniel Lopes Pacheco não fosse meu vizinho de andar (nem meu amor juvenil).

*

Na segunda semana, eu ainda não tinha desistido. Mas minha esperança de que ele fosse voltar era ínfima.

Acordei naquela quinta feira como tinha acordado na quarta, terça e segunda: acabada.

Na noite anterior e a anterior àquela, Mel e Gui haviam me arrastado para festas que duravam a noite inteira e me esgotavam. Eu não queira fazer o tipo de adolescente idiota que muda totalmente só por causa de uma desilusão amorosa, mas viver esse clichê fazia minha vida parecer mais normal.

E também, era engraçado ver Mel e Gui se beijarem atrás das decorações das festas.

A única coisa boa dessa bagunça toda foi que Mel pareceu tomar coragem para se declarar de verdade para Guilherme. Os dois conversaram, e logo estavam se pegando publicamente. Eu fui o exemplo triste e solitário que fez os dois perceberem que esconder e tentar negar o sentimento que existia entre eles era inútil.

Minha mãe fez vista grossa, mas eu percebi que ela não estava gostando. Resolvi não sair mais, até porque, a única coisa que eu fazia era sentar no sofá das casas de festa e beber água, o que eu podia fazer na minha casa e sem música ruim.

Outra coisa que mudou foi que eu passei a caminhar até minha escola. Era um pouco longe, mas isso me obrigava a acordar cedo e fazer algum exercício físico, mesmo que mínimo. E eu não corria o risco de esbarrar em Daniel.

Cheguei à escola um pouco suada, mas nem tanto quanto da primeira vez que caminhei. Prendi meu cabelo e fui direto para a sala, sem ânimo para conversar com ninguém.  Mel e Gui estavam juntos em algum lugar da escola, e não notariam minha presença mesmo que eu procurasse por eles.

Subi as escadas arrastando os pés. Vi, no mínimo, dois casais se beijando. Quando passei pelo segundo andar, vi Mel e Guilherme no canto da escada de emergência. Dei um chute leve na bunda dela, que foi com tudo para frente. Mandei um beijo enquanto ela e Guilherme me mostravam o dedo do meio. Subi o resto das escadas com um sorriso no rosto.

Quando abri a porta, me surpreendi com a luz acesa. Corri os olhos pela sala, e vi na última carteira da segunda fileira da parede para a janela, Daniel.

Não soube como agir, o que fazer. Ele só percebeu minha presença um minuto completo depois que eu abri a porta, e não consegui distinguir emoções nos seus olhos. Ele se levantou lentamente, mas não deu um passo. Minhas mãos tremiam.

Tomei uma decisão muito rápida. Não sei nem se eu realmente pensei sobre aquilo. Eu só corri na direção dele, enlacei seu pescoço e o abracei com força. Me aqueci por inteiro quando ele colocou as mãos sobre minha cintura. Chorei um pouco, e uma lágrima dele molhou meu ombro.

Ele passou o nariz na minha bochecha e beijou o local. Senti meus pelos se arrepiarem. Depois sussurrou, numa voz falha e aconchegante:

— Senti sua falta.

Não respondi, mas sei que ele sabia a resposta.


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Notas finais do capítulo

Cap dedicado à Celynna Hatter, e ela sabe por quê. TE AMO MUITÃO.
Mil beijos e me perdoem, por favor ♥