Pov. Aaron

– Ele vai para direita, pega a bola e marca! – Gabriel berra apontando para a TV. – Ponto para o time vermelho e búlgaro que eu não sei quem é.

– É incrível como você consegue se distrair tão facilmente com um jogo estrangeiro. – confesso observando o jogo. – O que é isso?

– E você acha que eu sei? É um tipo de esporte, eu assumo. – ele responde dando de ombros, me fazendo rir.

Gabriel era, no mínimo, estranho. Sentia como se ele fosse meu irmão, enquanto, na verdade, era meu tio. Ele era apenas dois meses mais velho, porém meus avós eram novos e meu pai era casado com 18 anos, resultado: meu tio parece meu irmão. Mas, fisicamente, nós não éramos tão parecidos assim. Enquanto ele era moreno de olhos castanhos claros, eu era loiro de olhos azuis. Digamos que eu puxei ao meu pai, que puxou ao pai dele, enquanto ele puxou a minha vó, que na verdade é mãe dele. A vida é confusa.

– O que vocês estão fazendo? – um vulto ruivo pergunta, correndo até estar em nossa frente.

– É, o que nós estamos fazendo? – repito para Gabriel, que apenas revira os olhos.

– Descansando dos deveres reais.

– Eu sou o herdeiro, você não tem que fazer porcaria nenhuma. – reclamo, enquanto minha irmã me olhava confusa.

Arabella era tão linda com seus seis anos de vida, que eu já sentia medo do futuro próximo que envolvia garotos. Já sofria com minha outra irmã, mas Ari tinha o poder de fazer todos se derreterem por ela. Nós éramos três no total: eu, Alexia e Arabella. Ao mesmo tempo que eu e Alexia possuíamos cabelos loiros e olhos azuis escuro, a mais nova tinha incríveis cabelos ruivos e olhos cinzentos.

Tínhamos uma união diferente dos demais irmãos, eu acho. Alexia e eu aprendemos a nos entender sem ao menor falar, e, por termos uma diferença de apenas um ano, nos confundiam como irmãos gêmeos. Isso dava até um ponto para mim, já que assim garotos relutavam para se aproximar dela, achando que eu era sua metade, ou qualquer coisa desse gênero. Mas isso também era ruim, pois a deixava irritada. Nenhuma mulher da nossa família irritada é algo bom.

– Tudo bem, Aaron? – ela pergunta se aproximando.

– Tudo ótimo. – sorrio, vendo a pequena sorrir, e se despedir de mim com um beijo.

– E eu? – Gabriel berra, mas Ari já havia saído correndo novamente. – Pessoinha mal amada.

– Nós deveríamos viajar. – falo, levantando-me com um salto do pufe.

– Viajar? – Gabriel pergunta como se eu estivesse louco.

– Nós ainda temos um ano escolar pela frente, por que não faze-lo em outro lugar?

Ele me olhou, cogitando a ideia, e então nega com a cabeça.

– Meus pais nunca vão deixar.

– Mas os meus vão. Ou pelo menos eu acho. – digo e então saio da sala de jogos.

– Aaron! – Gabriel me chama, correndo atrás de mim. – Aonde você vai?

Não respondo, pois logo estou em frente ao escrito de meu pai. Bato cuidadosamente na porta, sabendo que não devo entrar sem permissão (o fato de ter encontrado meus pais quase fazendo outro filho não é algo que eu goste de lembrar). Escuto um ''entre'', e o faço. O escritório do meu pai era calmo, e eu gostava de trabalhar ali, junto a ele. Minha mãe também estava ali, ajudando-o na programação de alguma escola pública que eles iriam construir.

– Aaron, querido. – minha mãe fala sorrindo, me abraçando.

– Oi, mamãe. – respondo fracamente, enquanto Gabriel fechava a porta.

– Gabriel. – minha mãe o cumprimenta.

– Ele veio, eu vim atrás. – o moreno justifica, sentando-se em frente a meus pais.

– Então, eu tenho uma proposta. – falo, sem me sentar. Meus pais se olham apreensivos, então continuo. – Eu tenho mais um ano de estudo, e, em vez de estudar aqui, gostaria de ir para os Estados Unidos.

Meus pais sorriem, me deixando confuso. Eu sabia que a probabilidade deles deixarem era alta, mas tão alta assim? Não.

– New Jersey? Que tal? – minha mãe pergunta sorrindo.

– Não, Denver.

– Denver? – Gabriel pergunta, me olhando.

– Denver. – confirmo, sem parar de olhar para meus pais.

– Denver. – o moreno repete, olhando para meus pais. – Mas eu também quero ir. Sabe, precisam de um responsável por ele lá.

– Novamente, você é dois meses mais velho que eu. – falo indignado.

– Me respeite, sou seu tio. – ele exclama, sem olhar para mim. – E então?

– Eu falo com eles. – meu pai responde.

Sem nos olharmos, Gabriel e eu fazemos um Hi-5, e saímos da sala. Ainda conseguia escutar meus pais rindo, e então um barulho de beijos. Isso era, no mínimo, nojento. Obviamente, eu não esperava nada menos de meu pai, pois eu era a copia dele, mas de qualquer jeito, ela é minha mãe.

Caminhando devagar pelo corredor, até a porta do escritório do meu pai abrir novamente, e ele falar pela fresta da porta:

– Vocês têm uma semana para se arrumar. E eu quero que escolham um dos guardas. – falando isso, ele fecha a porta, me fazendo olhar para Gabriel.

– Com ''eu'', ele quer dizer sua mãe? – ele pergunta e eu confirmo. Era óbvio que não seria tão fácil.

Um dos pontos de viajar para lá eram as festas e uma garota diferente a cada dia, mas, com um guarda, isso seria mais difícil.

– Kenny. – decido, e Gabriel concorda.

Era o guarda mais jovem, com apenas vinte e três anos, e quem nos ajudava a sair do castelo de vez em quando. Continuamos a caminhar pelo extenso corredor, até escutarmos risadinhas. Já tinha me esquecido que a madrinha de Alexia, Ally, estava nos visitando, e trouxera sua filha, Kayla, que por sua vez trouxe amigas. Eu não podia negar que ela era bonita, mas suas amigas eram mil vezes mais gostosas. Isso não era um ponto negativo para mim.

– Alteza. – elas falam, enquanto fazem uma reverência.

– Olá. – respondo sorrindo de lado, fazendo Gabriel revirar os olhos. – Tudo bem com as senhoritas?

– Ótimo, Alteza. – elas respondem, e então Kayla se pronuncia.

– Fazendo alguma coisa, Aaron? – o fato de ela usar meu nome, devido à quantidade de anos que nos conhecemos, pareceu excitar as meninas, que suspiram.

– Nada de interessante. – respondo, mas cravo meus olhos em uma morena, simplesmente linda. – Com licença, você tem planos para hoje?

– Não, Alteza. – ela responde, gaguejando um pouco.

– Me daria o prazer de desfrutar sua presença? – pergunto oferecendo meu braço.

Ela corou e pegou-o. Comecei a caminhar, conseguia ver os movimentos sutis dela olhando para trás, onde Kayla revirava os olhos e o resto das meninas delirava e olhava para Gabriel de forma sonhadora.

– Vamos aonde, Alteza? Se me permite perguntar. – ela pergunta, quando a levo para o corredor de meu quarto.

Eu não me importava com a idade dela. O fato de ela ser amiga de Kayla significava que possuía a mesma idade, quinze anos. Beijos nunca mataram ninguém.

– Pode me chamar de Aaron. – comento vagamente, observando seu corpo tremer, enquanto ela mordia seu lábio inferior para não gemer.

Essa era uma das vantagens de ser um príncipe: todas querem um pedaço.