“Apenas lhe peço que por alguns minutos preste atenção nesta carta, sei que parece ridículo ainda mais nos dias de hoje, mas você não retorna minhas ligações e nem sei se lê minhas mensagens...

Nem todas às vezes cheguei a te encontrar desta maneira, perdido, atordoado. Com certeza se não tivesse presenciado alguns de seus súbitos surtos de raiva diria que este homem que nossos amigos estão me contando histórias não seria você. Eu sei que deve ter sido difícil a distância também estava me destruindo por dentro e todas as noites as lágrimas insistiam em rolar sobre minha face enquanto minha mente lembrava-se de seu rosto e da minha boca era pronunciado seu nome.

Meus lábios ansiavam por mais um beijo, que mais uma noite não poderíamos provar um do outro. Eu olhava as estrelas e tentava entender a ironia em nossa vida, quando mais parecia tudo ter se acertado nossos corações foram separados.

Mas agora estamos bem, na verdade, não tão bem assim. Falta você aqui em nossa casa, na nossa vida que você abandonou. Não fique mais se lamentando por algo que aconteceu há algumas semanas atrás, lembre-se de tudo o que passamos para ficarmos juntos e volte para mim.

Esse foi meu ultimo meio, minha ultima alternativa de lhe dizer o que estou sentindo em relação a tudo isso, já que não me restaram maneiras de explicar. Tudo que eu mais preciso é de conversar com você, os diálogos com nossos amigos não se resultam em nada e não agüento mais os olhares de piedade sobre mim.

Você deve saber que tentei voltar ao trabalho ignorar tudo isto que está acontecendo assim como você está ignorando tudo o que passamos juntos nesses últimos 6 meses e também deve saber que apenas não estou fazendo isso devido aos argumentos e proibições de Diggle e Thea para permanecer em casa e talvez eu esteja os obedecendo porque não quero os perder também.

A recuperação está sendo mais difícil sem você, enquanto as feridas sobre a superfície de minha pele se cicatrizam sua ausência faz com que inúmeras sejam abertas em meu coração. Quero que saiba ou que pelo menos entenda que todos aqueles dias terríveis do seqüestro eu apenas me mantive viva graças à fé que tenho em você. Pode ter demorado Oliver, mas eu acreditei que você me salvaria e você conseguiu. Sei que nossos amigos tiveram um grande papel nesse resgate e eu os agradeço todos os dias por isso afinal nós somos uma equipe. Ou costumávamos ser.

Nesses últimos dias não sei o que está acontecendo comigo, a sua falta está se tornando ainda pior, os pesadelos estão mais freqüentes e agora sua irmã ponderou de seu lado da cama, pois acordar no meio da noite e sentir um vazio ao meu lado faz com que me sinta pior.

Eu sei que de alguma maneira você deve saber de tudo isso, mas eu queria poder lhe dizer lhe tocar e sentir seu cheiro, aquela única noite que passou comigo no hospital não foi o suficiente para matar a falta que sinto de você.

Eu quero que saiba que você tentou Oliver, mas quando se é herói não conseguimos controlar nossas vidas e nem retornar ao que éramos antes. Alguns de nós costumávamos a fazer atos heróicos antes mesmo de te conhecer. Diggle, Lyla e até mesmo eu e esse ataque que sofremos há semanas atrás não foi sua culpa. Anos atrás eu deixei rastros no que eu faço de melhor e aquele dia o inimigo era meu.

Você sumiu de nossas vidas achando que por sua causa nós nos tornamos vigilantes e que pintamos um alvo em nossas costas para o inimigo, mas um herói de verdade não se é criado, eles nascem predestinados a passar por momentos que a vida testará os seus limites e devido algumas ocasiões um dia experimentaríamos o nosso ato heróico.

Como sei que ainda se encontra com Diggle pedi a ele este favor, já que nosso amigo não conseguiu lhe convencer a retornar para casa espero que esta carta o faça. Nossos amigos, nossa família precisa de você meu amor assim como eu também preciso.

Eu sei que você é um herói, sei que sabe se defender, mas mesmo assim me preocupo não sei onde está que tipo de perigo está enfrentando ou se está simplesmente bem. Eu apenas quero que saiba que mesmo depois disso tudo e depois de uma longa bronca eu vou estar lhe esperando de braços abertos porque eu te amo demais para ficar com raiva por tanto tempo, é apenas questão de você entender que seu lugar na mesa ainda está ali e você voltar para todos nós.”

As lágrimas escorriam com facilidade sobre seu rosto, uma mão trêmula segurava firme o papel enquanto a outra cobria sua boca abafando um soluço ou outro. Seu amigo mantinha um breve sorriso de esperança observando qual seria a reação dele logo em seguida pedia que ele tomasse juízo e saísse correndo para os braços daquela mulher predestinada a ele. Oliver sorriu pensando na bronca que levaria e a aceitaria com todo bom grado, merecia aquilo.

– Então? – Diggle tirou suas mãos dos bolsos de sua jaqueta preta e cruzou os braços firmemente sobre o vasto peitoral. – Ela conseguiu colocar juízo nesta cabeça ou eu terei que bater em você por decepcioná-la mais uma vez?

– Ela não entende Diggle, eu me tornei tudo àquilo que ela sempre me pediu para deixar de ser um dia, eu fui contra meus princípios.

– Eu faria o mesmo, apenas quero que saiba disso. – Ele suspirou e em seguida depositou uma mão sobre o ombro do amigo. – Eu faria o mesmo, quando se ameaça a família de um homem não se tem limites.

Oliver concordou com um aceno e dobrou a carta com cuidado a depositando em seu bolso, enxugou as lágrimas e abraçou o amigo.

– Obrigado. – Ele se distanciou e olhou nos olhos do homem.

– Agradeça a ela. Eu não consegui fazer nem que você cogitasse uma simples dúvida se voltaria ou não para casa.

Ambos sorriram e Oliver se prontificou a caminhar para o seu próximo destino e antes que pudesse criar uma distância muito longa John o chamou novamente.

– Oliver... – Ele esperou que o loiro o olhasse novamente. – Se magoá-la novamente eu juro que quebro sua cara. – Oliver sorriu agradecido por ver que mesmo se sua ausência se fizesse presente ainda sim Felicity teria quem cuidasse dela com um amor paternal.

– Obrigado John.

Ele correu e se preparou, não poderia retornar de qualquer maneira, dirigiu de volta para sua casa e parado no carro no outro lado da rua viu a movimentação dentro da casa com as luzes acesas, não passavam das 20h e a movimentação ali era de Thea e Roy. O rapaz mesmo correndo perigo em aparecer em sua antiga cidade comparecia algumas noites para ajudar Thea e ver sua amiga.

Quando tocou a campainha Roy correu para se esconder em um dos quartos enquanto Felicity apenas observava o ato enquanto remexia a comida em seu prato completamente intacto.

– Deveria se alimentar um pouco Fel. – Thea disse quando passou por ela mais uma vez insistindo na alimentação da loira.

– Um progresso de cada vez Thea. – A loira se queixou enquanto se levantava com um pouco de dificuldade e observava sua cunhada atender a porta. – Eu vou dormir.

– Eu acho que deveria ficar mais um pouco, é para você a visita. – A morena de cabelos curtos olhou para trás tentando não transparecer sua alegria.

– Peça desculpas eu não quero ver mais ninguém hoje. – Ela continuou caminhando na direção do corredor e ali naquele ponto Oliver podia vê-la, seu cabelo amarrado em rabo de cavalo que com toda certeza havia sido feito com a ajuda de sua irmã, seu braço estava pendido sobre uma tipóia devido a fratura no antebraço que sofreu, viu um roxo mais apagado em seu outro braço enquanto observava seu caminhar.

Sua caminhada terminou ali, quando ele abriu a boca e som de sua voz lhe atingiu como um baque de um caminhão, seu corpo congelou não permitindo que ela nem continuasse na direção que desejava ou virasse na direção da voz, ela não podia acreditar ou talvez não queria mais em meio a tantas peças que sua mente lhe pregou nos últimos dias. Quando ela virou a surpresa, era aquele mesmo olhar, aquele mesmo sorriso, era seu Oliver parado ali em sua frente e as lágrimas agora começavam a impedi-la de enxergá-lo nitidamente.

– Nem mesmo um homem arrependido em busca de seu perdão?