Romance em Ruína escrita por SlasherBlade


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/620046/chapter/1

Kathleen perdeu a mãe recentemente, a pessoa que ela tinha como exemplo, a mulher que trabalhou duro a vida inteira pra lhe proporcionar uma vida confortável, que substituiu o pai que a havia abandonado.

Louise perdeu a única filha já se fazia um mês, era quem ela mais amava no mundo, única lembrança boa de um ex-namorado imaturo que sumiu quando soube que seria pai, era a criança para qual dedicava todos os seus esforços.

Louise havia arrumado emprego em outra cidade, então decidiu arrumar um apartamento próximo ao local de trabalho por conveniência. Ela até estava em boas condições financeiras, mas nada que permitisse alugar um domicilio sozinha, então pôs na internet um anúncio de que precisava de uma colega de quarto.

Não demorou para que Kathleen respondesse, ela foi aprovada na universidade local e vinha de uma cidade distante, nunca havia morado sozinha antes, mas geralmente tinha boas relações com desconhecidos. A mãe provavelmente teria ficado preocupada em ver a filha indo morar com uma estranha, mas já que ela estava morta, sua opinião não fazia diferença.

Kathleen chegou ao apartamento três dias depois de Louise, antes daquela ocasião as duas nunca haviam se encontrado, apenas trocaram alguns e-mails e telefonemas, elas nem mesmo chegaram a se adicionar no Kik. Kathleen mostrava a imagem de uma mulher madura, cabelo loiro curto completamente domado, óculos de armação preta e pele firme. Louise era dois anos mais velha, era mais baixa, se vestia de forma mais introvertida, com roupas de cores escuras e o cabelo tingido de ruivo.

– É bom finalmente conhecer você, não precisamos ser amigas se você não quiser, mas peço que não nos tornemos inimigas. - Disse Louise, provocando espanto em Kathleen, por estar acostumada a tratamentos diferentes.

– Não se preocupe, a convivência comigo não costuma tirar a intimidade de ninguém. - Respondeu Kathleen.

No dia seguinte, Louise acordou cedo para seu primeiro dia de trabalho, era uma concessionaria de carros onde ela faria todo o trabalho administrativo. O lugar era bonito, o almoxarifado era bem decorado e tudo estava perfeitamente limpo, combinando com os pisos de cores claras e as paredes brancas.

O chefe de Louise era um homem de mais ou menos 1, 80 de altura, cabelos grisalhos e barba média por todo o rosto, também usava óculos, seu nome era Ramon.

– Olá Louise, seja muito bem vinda, todos estamos aqui para te ajudar, sua sala é ao lado da minha, no fim do corredor. - Afirmou gentilmente seu novo patrão.

A sala de Louise era bem simples, tinha uma escrivaninha com um computador bom, um quadro feio e uma prateleira ao fundo, além de uma cadeira para ela e outra para um visitante.

Inicialmente ela devia calcular algumas despesas da concessionaria com certos fornecedores, mas algumas notas fiscais não tinham valores, então Louise decidiu achar alguém para ajudar. Ao sair da sala, deu de cara com Michelle, colega morena de cabelos cacheados a qual ainda não havia sido apresentada.

– Oi, eu sou nova aqui, será que pode me ajudar?

– Pode falar! - Respondeu Michelle de forma rude.

– Eu preciso calcular essa dívida com os fornecedores, mas as notas dessas duas empresas não tem valor, o que eu faço?

– Vou te explicar só uma vez, você tem que entrar na conta da concessionaria no site dessas duas empresas e ver os valores das contas lá, a senha deve estar na pasta Temp do seu computador. - Respondeu Michelle já se afastando de Louise.

Kathleen tinha aulas a tarde na universidade, o lugar era muito bonito, uma construção antiga e muito grande com uma vasta área verde. Sua primeira aula ficava longe da entrada principal, numa sala do primeiro andar de um prédio a noroeste.

A sala já estava cheia quando Kathleen chegou, mas o professor ainda não estava ali, ela viu um lugar livre perto do fundo da sala e sentou se , rapidamente o colega que estava sentado atrás dela puxou assunto.

– Você viu que um aluno teve o carro roubado ontem aqui perto do campûs?

– Nossa! Não, como foi que aconteceu? - Perguntou Kathleen, assustada.

– O nome dele é Pedro, ouvi falar que foi na delegacia hoje de manhã bem cedo. Ele foi roubado ontem a noite, enquanto saía de um restaurante.

– Nossa, eu realmente não ouvi falar nada, que perigo!

– Qual é o seu nome?

– Kathleen.

– Olá Kathleen, eu sou George.

No mesmo instante, o professor chegou, era um homem de meia idade, calvo e se vestia bem, estava usando terno cinza e gravata, o nome dele era Benjamin.

Ao fim da aula, Kathleen estava chegando a saída principal quando George a alcançou.

– E então, o que achou dessa aula?

– Só não é mais chata que o professor, pena que não foi o carro dele que roubaram ontem! - Brincou Kathleen.

– Hahahaha, é verdade, eu quase dormi quando ele falou da antropologia nos meios de gestão.

– Ah, sim! Desculpe, eu não vi você dormindo, porque eu mesmo estava dormindo naquela hora!

– Escuta, você é uma pessoa legal, um pessoal e eu vamos até um pub do outro lado do campûs, não quer vir também?

– Não George, hoje não vai dar, desculpe.

À noite, Kathleen se encontrou com Louise em casa, as duas partilhavam um momento tranquilo de convivência, mesmo ainda não estando totalmente acostumadas uma à outra.

– E então, como foi o primeiro dia de trabalho? - Perguntou Kathleen.

– Foi bom, o patrão é simpático e eu praticamente só tenho que fazer alguns cálculos, mas tem uma colega que não gostou muito de mim, tive essa impressão.

– Nossa! Eu acho que preferiria uma colega que não gostasse de mim do que ter que fazer cálculos, detesto matemática.

– E você, como foi seu primeiro dia na faculdade? - Questionou Louise.

– Foi bom, a aula era um pouco chata, mas um colega me convidou para sair.

– Como ele é?

– Normal, cabelo castanho claro, mas os olhos são bonitos. - Kathleen gostava da maturidade frágil de Louise, Louise gostava da segurança infantil de Kathleen.

No meio da madrugada, o telefone de Kathleen tocou, ela acordou e atendeu rapidamente, não dando chance para Louise ouvir de seu quarto.

– Alô? - Uma voz masculina respondeu.

– Oi, sou eu!

– Já é tarde, o que você quer?

– Temos um trabalho amanhã, as 02:30 da manhã. - Ela concordou e desligou a chamada.

Já pela manhã, Louise estava trabalhando em sua sala quando o chefe entrou sem bater. Ele sentou na cadeira em frente a ela e perguntou com o tom sério.

– Louise, recebi uma mensagem anônima de que você intimidou a minha esposa, isso é verdade?

– O quê? Como assim? - Perguntou Louise.

– Ontem de noite você foi encontrá-la, eu perguntei e ela confirmou tudo, estou te demitindo.

– Mas isso não é justo, eu nunca vi sua esposa... - Ramon interrompeu.

– Vá embora, e agradeça por eu não fazer pior.

Kathleen teria aula de tarde e de noite naquele dia, então decidiu que jantaria na faculdade antes de ir para o compromisso que tinha marcado na madrugada anterior. George também estava naquela disciplina, e pediu para sentar perto dela.

– Oi George, seu convite ainda está de pé? - Perguntou ela, sorridente.

– O pessoal não vai sair hoje, então eu não sei.

– Hoje eu tenho que jantar aqui, o que você acha?

– Perfeito!

George não estava matriculado na aula que Kathleen tinha à noite, mas era uma disciplina leve com uma professora legal, o cabelo dela parecia uma vassoura, e vestia um conjunto de blusa e saia de cor salmão.

O restaurante da universidade era limpo e organizado, mas definitivamente não era muito bonito, as plantas eram todas verdes-escuras e os quadros eram falsificações de réplicas.

– É a primeira vez que janto neste restaurante, já comi algumas vezes, mas nunca havia jantado. - Falou George, pra não ficar sem assunto.

– A comida é cara, é preciso ser graduado para ter condições de comer aqui. - Comentou Kathleen, com seu senso de humor característico.

– O que você quer fazer depois de se formar?

– Ensinar, sempre quis ser professora.

A madrugada chegou e Kathleen foi para o local marcado, um beco de uma rua no centro da cidade, estava frio e a noite era escura. Lá ela encontrou Tony, o homem que lhe havia telefonado.

– Olá Kathleen, quanto tempo não nos vemos.

– Olá Tony, é verdade, pelo menos tem isso de bom. - Respondeu ela friamente ao cumprimento do sujeito.

– Enfim, o que você tem que fazer é simples, entre naquela loja na esquina, mate o atendente, esconda o corpo nos fundos e assuma o lugar. Espere um homem do Bertoglio chegar, dê o que ele quer e nós assumimos depois.

– Matar? Não me falou que eu teria que matar alguém!

– Claro que não, você recusaria, o Valentini está muito ocupado para ter problemas com você, agora vá, aqui está sua arma. - Justificou Tony, entregando uma nove milímetros para Kathleen.

– Eu ainda acabo com aquele mafioso maldito, e com você também, seu lacaio hipócrita.

– Espere até desativarmos as câmeras, não deve levar muito tempo.

Kathleen entrou na loja, era um estabelecimento 24 horas que comercializava ferragens, o atendente era um homem de uns 30 anos, moreno, calvo e usava óculos. Ela observou as câmeras e viu que ainda estavam ativadas, deu uma volta entre as poucas prateleiras da loja, o empregado foi atrás para ajudá-la.

– Boa noite moça, posso ajudar? - A luz se apagou por poucos segundos, Kathleen olhou para as câmeras novamente e viu que estavam desligadas, olhou para o atendente, atirou no peito e depois no pescoço.

Tony entrou pela porta dos fundos, limpou o sangue enquanto Kathleen carregava o corpo. Antes dele se esconder novamente, passou as últimas recomendações para a colega.

– A heroína está dentro do balcão, é um pacote de um quilo, o homem do Bertoglio deve chegar logo.

Kathleen assumiu o balcão e meia hora depois o homem que esperava chegou, ele era de descendência italiana, o nariz era torto e grande, tinha cabelos castanhos e a pele era clara, vestia um canguru cinza.

– Eu quero um quilo de farinha de churrasco com açúcar. - Disse o capanga.

– Está aqui! - Respondeu Kathleen abrindo o balcão e entregando a heroína. Assim que o homem saiu da loja, os homens de Tony apareceram em um furgão, o cobriram a cabeça e o levaram.

– Aqui está seu pagamento Kathleen, foi um trabalho bem feito, esperamos poder contar com você novamente. - Falou Tony, entregando um envelope com 20 mil dentro.

Ao chegar em casa, Kathleen fez silêncio, pois já passava das 5 horas da manhã e ela não queria acordar Louise. Ela ainda estava nervosa por ter matado um homem naquela noite, mas a medida em que chegava perto de seu quarto, ouvia ruídos no quarto de sua colega.

Ela aproximou bem o ouvido da porta e viu que Louise estava chorando, Kathleen não bateu na porta, apenas a abriu e entrou calmamente. A colega estava chorando sentada na cama, então Kathleen sentou ao lado dela e a abraçou.

– O que foi que houve?

– Eu perdi o emprego, não sei porque até agora, acho que armaram para mim. - Kathleen não conteve sua emoção também e a abraçou mais forte, Louise parou de chorar, olhou no fundo dos olhos da colega e a beijou, foi um beijo de quase dois minutos, as duas se despiram e transaram.

Por terem ido dormir tarde, as duas se acordaram apenas depois das 11 da manhã. Como estavam com fome, Louise preparou uma refeição reforçada com bolinhos de frango e macarrão, as duas se beijaram novamente e Kathleen perguntou.

– O que foi que aconteceu? Me conte como você perdeu seu emprego. - Louise contou o que havia acontecido na manhã anterior, deixando a amiga revoltada.

– Mas eu nunca vi a esposa dele na minha vida.

– Eu sei o que fazer, sabe onde seu patrão mora?

– Sim, uma das notas que verifiquei tinha o endereço, fica no subúrbio.

– Ótimo, vamos até lá agora. - Louise não entendeu muito bem, mas se vestiu, pegou sua bolsa e saiu com Kathleen.

A casa do ex-chefe de Louise era média, dois andares e quintal sem cerca com alguns arbustos. As duas chegaram a porta e Kathleen tocou a campainha.

– O que viemos fazer aqui? - Murmurou Louise. Então a esposa de Ramon atendeu, era uma mulher bonita, de uns 35 anos, latina e usava roupas de ficar em casa.

– Oi, no que posso ajudar? - Kathleen retrucou.

– De acordo com ela, você foi a responsável por seu marido tê-la demitido porque teria te intimidado. No entanto, posso ver que você não a conhece.

– Eu... não sei do que você está falando.

– Não minta, você enganou seu marido pra que ela fosse demitida, por quê? O que foi que ela te fez? Ou vai contradizer o que seu próprio esposo disse?

– Saia da minha casa, não devo explicações à você! - Kathleen mostrou sua arma.

– É mesmo? E que tal agora? - Louise se espantou ao olhar para a arma.

– Kathleen, você tem uma arma, por que isso?

– Vamos entrar, cuide dela para que não acione nenhum tipo de alarme.

Com a arma de Kathleen apontada para a cabeça dela, a esposa de Ramon não teve outra escolha a não ser confessar.

– Meu marido faz parte de uma quadrilha de contrabando de peças importadas, eu descobri faz pouco tempo e comecei a reunir provas contra ele.

– Quer prender seu próprio marido? - Perguntou Louise.

– Claro, não sou uma criminosa também. Mas fui descoberta pela Michelle antes de encontrar algo realmente incriminador, então ela começou a me chantagear com a ameaça de revelar o que eu estava fazendo.

– Michelle é aquela colega que comentei que não gostava de mim, pelo visto eu estava certa. - Disse Louise para Kathleen – E você tem alguma ideia desta prova que está faltando?

– Não, nunca achei nada... - Kathleen interrompeu a esposa de Ramon.

– Eu acho que eu tenho, por acaso Michelle também faz parte dessa quadrilha?

As duas denunciaram Michelle para a polícia, inicialmente a denúncia não teria dado em nada, mas as conexões de Kathleen com a mafia lhe permitiram plantar cocaína na casa da contrabandista para que não deixassem de investigá-la. Após duas semanas, os investigadores chegaram à um galpão abandonado, onde estavam escondidas provas e documentos que ligavam Michelle e Ramon ao contrabando.

Assim, toda a quadrilha foi desmanchada e Kathleen e Louise puderam viver seu amor em paz por algum tempo. No entanto, havia George, ele realmente estava investindo em Kathleen, e agora ouvia piadas na faculdade por tê-la perdido para outra mulher. Revoltado, ele começou a investigar a colega no intuito de destruir sua vida, e eventualmente acabou descobrindo que ela trabalhava com a máfia italiana.

Ele então decidiu mandar provas dos crimes de Kathleen para Louise, obviamente ela se decepcionou com sua namorada e rompeu o relacionamento, além de voltar para sua antiga cidade, pois já não tinha mais nenhum vínculo com a nova vida que havia tentado construir. Kathleen esperou um mês para procurar Louise, mas não teve sucesso na reconciliação.

– Me desculpe, há anos eu tento deixar a máfia, mas é difícil, eles podem fazer o que quiserem contra mim e a quem está por perto. - Argumentou Kathleen, triste.

– Eu não vou te denunciar porque sua relação com os bandidos me ajudou a limpar minha ficha, mas não quero continuar com você, sem contar que... - Kathleen interrompeu.

– O quê? Sem contar que o quê? - Louise concluiu.

– Sem contar que eu sou originalmente hétero, né? O choro é livre - Kathleen começou a chorar.

Louise então arrumou outro emprego em uma multinacional no outro lado do país, o que ganha dá e sobra na hora de pagar as despesas. Kathleen tentou armar uma emboscada para o Valentini, apesar de ter sido bem sucedida, acabou sob o fogo cruzado e está em coma. George superou as piadas na faculdade e começou a namorar com a ex-esposa de Ramon, mulher que ele acabou conhecendo fortuitamente.

FIM


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Romance em Ruína" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.