EPÍLOGO

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  Com o celular equilibrado no ombro, a televisão desligada e os pés inquietos andando de um canto para o outro do pequeno apartamento (quarto, cozinha, sala, quarto, cozinha...), Rose esperava com impaciência a tão desejada visita - mesmo que estivesse ocupada demais com a tia do outro lado da linha. Ela era péssima com ligações, péssima. Estava tão concentrada em não falar qualquer bobagem que sequer reparou no abrir da porta da frente e na chegada do namorado.

— Não, tia, eu não vou fugir dessa vez.— resmungou, dando meia volta e encarando Scorpius surpresa. Seus cabelos estavam uma bagunça e ele ria dela. Deu uma risada silenciosa e se aproximou de Scorpius, afastando o celular da orelha e lhe dando um selinho rápido. Se afastou e indicou o celular com uma careta engraçada. - Juro que estou indo pro almoço, sério. Sim. Com certeza. Pode deixar. Até mais tarde.

A ruiva desligou o smartphone rapidamente, o jogando longe em direção ao sofá. Encarou o loiro, que agora já ria abertamente, como se quisesse estrangulá-lo. Scorpius amava ver a namorada passando por perrengues com a família - e sequer fingia que não. Rose jamais sabia como lidar com os pedidos da tia, as conversas políticas do tio, os desejos insistentes dos primos, as invasões de privacidade do irmão e tantas outras peculiaridades Weasley. E era uma graça.

— Isso é culpa sua e da Dominique, sabia?! Eu não devia ter deixado vocês me convencerem com essa ideia.

— Mas é seu aniversário, né doidinha. - ele passou os braços envolta do corpo dela, abraçando-a. - Só— Ironizou com a cara da namorada que ainda não conseguia acreditar que havia sido convencida a passar seu aniversário de 22 anos com toda a família Weasley-Potter.

Ela olhou séria para ele, negando com a cabeça. No entanto não podia negar que era, de certa forma, bem interessante ter um dia só para ela. Lily tinha até mesmo insistido em vir mais cedo para fazer um momento girly com ela e a prima - e, mesmo que tivesse necessitado certo esforço da mais nova, Rose também não viu muito problema em fazer alguma coisa diferente. Era óbvio que não deixou a prima pintar suas unhas ou maquiá-la, aquilo seria exagero demais, mas tinha sido engraçado ficar com um monte de creme no rosto por algumas horas.

— É só uma idade, fala sério, vocês querem mesmo é que eu diga que vou pagar a cerveja de vocês pelo resto do mês. - levantou uma sobrancelha, sorrindo. - Ou vai dizer que não?

Scorpius riu, dando ombros.

— Se você tá dizendo que vai pagar, seria uma enorme ofensa não aceitar, né? Mas admita, você só tá fazendo charme. Se não quisesse ter toda sua família reunida teria dito não pros seus pais.

— Você deu a ideia e você é exagerado, Scorp. Eu disse: algumas pessoas e tudo bem. Mas agora todos vão ir para a casa dos meus avós porque por algum motivo alguém aqui conseguiu empolgar não só minha mãe e a tia Ginny, mas todo mundo.

Ele negou com a cabeça. Era, claro, para ser algo não tão grande, mas pelas próprias palavras do namorado “que graça teria, Hermione, se não reunir todo mundo?”. Por que, sim, ele tinha a ousadia de chamá-la pelo primeiro nome. Pelo menos até o momento ele não havia chamado seu pai - seu amado e protetor pai - de sogrão na frente dele.

— Você reclama e reclama, mas não me responde.

Foi a vez dela rir. Passou os braços pelo seu ombro, mordendo o lábio enquanto dava uma pausa dramática. Ela responderia, era claro - não porque não queria ser mal agradecida ou irritantemente estraga prazeres, mas porque era a verdade. E, Rose Weasley havia aprendido aos poucos nos últimos meses que ser honesta consigo e com os outros era um ótimo caminho para, em pequenos passos, melhorar as coisas.

Principalmente pelo fato de que, agora, sua relação com a família tinha mudado um pouco. Para melhor, com certeza para melhor.

— Você agora criou uma nova mania? - questionou Scorpius, sentindo as unhas dela por sua barba não feita. - Não que eu me incomode, aliás não me incomoda nem um pouco. Só... curiosidade.

Ela apertou os olhos em sua direção. Não podia negar que seu mutante tinha uma aparência que a deixava, talvez ainda, um pouco boba, porém a barba… A barba era sua mais recente fraqueza.

Rose ainda esperava pelo dia em que não ficaria namorando a aparência do próprio namorado. Já que, até agora, nada tinha mudado.

— Ah, me deixa em paz um pouco! - riu, se afastando para a sala. - Vou pegar meu casaco e ai podemos sair...

O barulho do molho de chaves foi acompanhado pela a porta se abrindo e uma animada e frenética Dominique correndo em direção os braços de Rose. Ela a apertou em forte abraço, e não deu nem tempo para a outra respirar antes de começar seu longo e clichê discurso de aniversário - que Rose nem quis interrompeu. Porque, no fundo, ela se desmanchou inteira com o discurso que contava desde o início da amizade das duas, o amor de Domi por Rose, os altos e baixos de ambas e como ela sempre, sempre seria a Meredith de sua Christina. E elas continuaram abraçadas, feito cola.

— Vai com sua irmã ? - perguntou, depois que Dominique largou suas coisas e sentou com eles na sala.

— Sim, mas eles só vão mais tarde. Sabe como Teddy não sobreviveria ficar sendo questionado sobre seu futuro pedido de casamento. - esclareceu Dominque e sorriu marota ao ver Scorpius. - Aposto quinze libras que a vovó fez um suéter pra você, mesmo que você não seja de fato da família e também não seja seu aniversário.

Demorou um tempo para Dominique realmente não se sentir envergonhada na frente dele - por tudo que ela tinha feito, mesmo que para proteger Rose. Mas, felizmente, eles tinham criado uma amizade - e era bem irritante, para Rose, quando eles ficavam falando em grego coisas de medicina. “Vou começar Grey’s Anatomy só pra entender vocês…” resmungava, recebendo risos como resposta (e claro, alguma gracinha do namorado).

Rose e Scorpius saíram um tempo depois do apartamento para não chegarem tarde demais no próprio almoço dela - quase sendo expulsos pela Delacour por Rose ter especulado sobre uma daquelas sacolas esconder seu presente.

Eles estavam na rua, quase subindo na moto, quando o garoto a olhou esquisito.

— Ei, Rose, o que é isso no seu bolso? - Scorpius questionou, juntando as sobrancelhas. Em resposta Rose segurou o próprio capacete em um dos braços e colocou a mão no bolso esquerdo, para só então olhar com surpresa e entendimento na direção dele.

— Você… Eu disse que não precisava.

Mas ela estava sorrindo, com os olhos brilhando, quando abriu a sacolinha vermelha de presente. Era óbvio que ele não ia ouvir seu pedido, aquele cretino! Rose não gostava que ele pagasse coisas para ela além do considerado aceitável por seu orgulho, porque, apesar deles serem namorados, Scorpius tinha mais grana que ela e a última coisa que Rose queria era parecer estar se aproveitando disso. Mas aquele presente…

— Eu não acredito. Seu ridículo, você… - era riu, olhando para os tickets de jogo. Seu time tinha finalmente se reerguido e aquela partida seria a decisiva da temporada e ela queria muito ir assistir, mas não imaginava que ele… - Você é muito manipulador! Me fez acreditar que meu presente tinha sido… Nossa quero muito bater em você agora!

Mas ela não bateu - na verdade, fez o oposto. E, depois, quando subiu na moto e foi em direção a casa dos avós, não podia mensurar a própria felicidade. Ninguém sabia da história do namoro online dos dois além de Dominique, Lily e Albus - o que era um alívio, principalmente porque as piadinhas não seriam poucas (e nem durariam pouco) - e as perguntas já não eram mais tão frequentes, mas isso não impedia dos que sabiam de provocá-los. E, quando todos começaram a questionar quando Rose finalmente conheceria seus sogros ela queria sair batendo em todo mundo. Principalmente em seu namorado, que sempre atiçava a provocação toda.

Sua família parecia ter voltado a ser mágica como antes, à sua maneira. Ela ainda tinha problemas em impedir a si mesma de se isolar de todos, mas pela primeira vez em anos conseguia pertencer àquilo de novo. E… Ela sentia-se feliz. Por completo. Seus problemas (e os problemas de seus amigos) ainda continuavam, mas não arrancavam as coisas boas mesmo assim. Sua mãe havia sido a primeira a abraçá-la e demonstrar orgulho quando Rose anunciou que tinha conseguido um estágio - e não podia negar como sentiu falta daquele carinho. Dominique e James pareciam conseguir conviver em um mesmo cômodo mesmo que seu relacionamento secreto tivesse ido por água abaixo, e mesmo que alguns parentes ainda insistissem em colocá-la em uma posição ruim… Rose não se importava mais com aquilo, as coisas haviam mudado e principalmente ela.

Talvez a Weasley não admitisse aquilo em voz alta, mas Scorpius - o Malfoy, o loiro, o namorado e amigo, o mutante e sexy - foi um dos maiores responsáveis por aquilo. Por ajudá-la a ser quem era queria ser. E Rose jamais poderia ter pedido por algo melhor.

Naquele dia, ela sorriu para o céu descoberto de nuvens e murmurou para si mesma, como uma agradecimento à tudo.

— Feliz aniversário, Rose Weasley.