Fix me. escrita por Sherry


Capítulo 11
Capítulo 11 - Especial.


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo, é uma comemoração! Siiim, estamos comemorando pela fic ter chegado há 10 capítulos e com 30 pessoas acompanhando! Weeeee *-*' Sei que parece pouco, mas é muito pra mim.



Então, teremos um pov especial! Ta grandinho, porque é bem explicativo, espero que leiam com atenção! Espero que gostem, boa leitura sz'



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POV Lucy:











Sexta-feira, quase onze horas da noite, e estou indo pro dormitório prendendo o choro. Depois de conseguir o milagre de trocar o plantão pra conseguir ficar o livre o final de semana, eu me resumo a raiva e arrependimento. Poderia estar indo pra uma festa com as garotas, ou estar de baixo das minhas cobertas dormindo pacificamente depois de 24h trabalhando na emergência de um hospital público, mas eu estou indo a pé para o dormitório, sozinha, com cara de choro.

Ridículo.

As ruas estavam ligeiramente movimentadas, então continuei a caminhada despreocupada. Mais a frente eu podia ver a entrada do campus da faculdade, apinhada de estudantes saindo a pé, tomando um táxi ou ostentando seus carrões.

Eu estava com vergonha de passar perto deles. Eles já deveriam saber sobre Lysandre e Nina. Claro que deveriam, essas fofocas idiotas correm mais rápido do que ladrão de carteira.

Quando passei pela entrada do portão do campus, resolvi pegar o celular pra me distrair e não ver a cara de ninguém. Haviam várias mensagens no grupo do whatsapp. Rosalya havia criado esse grupo na desculpa de todos nos comunicarmos, era até uma boa ideia, me deixava a par do pessoal com bastante rapidez, visto que no hospital não tenho como ficar pendurada no celular perguntando como cada um está.

Ambre havia flodado o grupo junto com Li. Elas estavam animadas convidando o pessoal para passar no bar da Rosa pra encher a cara, e de lá ir a uma boate.

— Ei. Ow. — a voz feminina gritou — Lucy! Ei garota, se você me ignorar vou continuar te gritando. — continuou, sem vergonha, e buzinou.

Parei, me virei e fiz o caminho de volta para a rua. O carro estava estacionado do outro lado da rua, em uma vaga de professores da faculdade. Ambre estava dentro de seu conversível preto, super chique. Li estava no banco do carona. Me aproximei, meio sem jeito. Eu ainda deveria estar com o nariz e os olhos vermelhos.

— Ah você teve o bom senso de vir. — ela falou dando um sorriso presunçoso — Pensei que ia precisar te perseguir pelo campus com o carro. — completou com humor.

Li deu uma risada, e eu senti meus ombros murcharem.

Eu não tinha nenhum problema com Ambre, e nem ela comigo. Nós tínhamos uma convivência normal e tranquila, apesar do humor arrogante que ela mantinha, eu nunca tive problemas com isso como a maioria das pessoas. Mas saber que ela era apaixonada por Castiel me deixava desconfortável. Eu não gostava de pensar nisso.


— Oi. Iai? — tentei um sorriso. Eu não queria começar um caso, desmoronar ou descontar nela.
— Que animação... — Li debochou, fazendo bico — Não se faz de idiota, você foi convidada pra nossa farra essa noite. — contou exultante.
— Deveria se sentir honrada. — Ambre completou, assentindo consigo mesma.

Revirei os olhos, enfiando toda minha angustia e raiva para dentro. Cruzei os braços e tentei sorrir novamente.

— Eu me sinto honradíssima. — falei exagerada — Mas, não to no clima meninas. — completei, seriamente, sem deixar o clima pesar pro drama.

Nessa hora, Ambre pareceu realmente desconfortável. Ela se remexeu no banco do carro e trocou olhares com Li. Então, sem mais nem menos, a loira saiu do carro, e parou na minha frente. Ela estava mais alta que eu devido ao salto. Seu vestido azul escuro com decote enorme e ligeiramente rodado em baixo, rodopiou com o movimento; As joias caríssimas brilhando contra a luz do poste. Ela colocou as mãos nos quadris, e jogou os cabelos pro lado.

— Olha só, eu to sabendo da sacanagem que to Lysandre fez contigo. — começou, sem rodeios — Mas, você deveria saber que a Nina também não presta. Ela é fissurada nele, faria qualquer coisa pra por ele. — contou, um pouco ríspida.

Eu respirei fundo. Não queria entrar naquele assunto.

— Não adianta bufar, nem fazer essa cara! Eu convivo com ele há mais tempo que você, sei que do que to falando, você deveria acreditar em mim. Ele não é culpado sozinho. — tagarelou, gesticulando.

O som de suas pulseiras tilintou dentro dos meus ouvidos, causando uma dorzinha chata na minha cabeça.

— Isso não importa agora. Não vale a pena passar por nada disso por causa dele. — confessei, querendo acabar logo com o assunto.

Li se esticou do banco do carona, largando o celular por um momento.

— Vocês terminaram? — ela perguntou arfando.

Assenti.

— Fala sério?! — ela perguntou descrente — Você tem que atualizar seus status então, se não vai continuar com cara de corna idiota. — completou alarmada.

Pensei em retrucar, mas além de estar sem disposição pra isso, eu sabia que ela não falava isso por mal. Ambre e Li, eram muito sem noção mesmo. Se elas estivessem querendo zuar comigo, estariam sendo falsas ou debochadas.

— Terminou?! Mais um motivo pra sair com a gente! — Ambre insistiu, dando um meio sorriso — Você fica bem melhor sem aquele esquisitão. — falou displicente.
— Brigada, eu acho. — falei, dando um sorriso cansado.
— Sério garota. Você precisava dele pra que? — a loira perguntou — Conseguimos um cara gostoso, fácil fácil, em uma noite na boate. — completou, convencida.
— É isso ai. — Li concordou, voltada para o celular.

Eu não estava convencida disso. Ainda estava preocupada com as fotos no instagram da Nina, e como Li havia mencionado, precisava mudar meus status nas redes sociais.

— Meninas, vocês são maravilhosas, de verdade. — falei, dando um sorriso sincero — Mas eu preciso passar no dormitório e mudar meus status como a Li mesmo disso. Além de que, preciso ver se resolvo toda essa história do instagram da Nina. — confessei meus pensamentos.

Ambre esticou o braço pra Li, e ela no mesmo instante deu o aparelho telefônico para a loira.

— Vou mandar o Armin hackear o insta dessa vadiazinha, deletar a conta, depois a gente ameaça ela. Agora, você vai pro seu dormitório, se arruma, coloca sua melhor roupinha de loja de departamento, e encontra com a gente na porta da G6. — decretou, discando no celular.

Pisquei atordoada, enquanto ela falava no celular com Armin. Eu não me sentia muito confortável com a ideia de sair com Ambre. Ela era sempre toda cheia de joias caras, roupas de griff e sapatos altos.


— Já pode considerar resolvido. — Ambre falou autoritária, desligando o celular.
— Ambre, a entrada dessa boate é metade do meu salário. — falei exagerada.
— E você acha que eu não sei? — ela perguntou retoricamente, impaciente — Mas você não precisa se preocupar com isso, a gente vai entrar vip, a Japa aqui ta saindo com o promoter da festa. — contou, orgulhosa.

Li acenou e mandou um beijo. Revirei os olhos.

— Se você souber escolher o decote certo, tenho certeza que você consegue arranjar algum gostosão pra te pagar umas bebidas e ainda te dar uns amassos! — a loira garantiu — Agora vai lá, anda cacete. — me enxotou, entrando de volta no carro — A gente vai passar no bar, e por volta de 1h vamos pra G6. Só não se atrasar que você entra vip com a gente. — contou, ligando o carro.

Eu ergui as sobrancelhas. Nem havia concordado em ir, e ela já tava me dando itinerário. Era muito abusada!

— Vai lá miga’, você tem muito trabalho a fazer. — Li falou, acenando enquanto Ambre arrancava com o carro.


–-

Eu não estava mesmo considerando ir pra festa. Só queria pensar sobre tudo que tinha acontecido. Queria remoer o sentimento de raiva e arrependimento. Sim, eu estava arrependida por ser idiota o suficiente de acreditar em alguém tão cheio de lábia quanto o Lysandre, mesmo depois da minha experiência com meu primeiro namorado. Estava arrependida por deixar as coisas entre Castiel, e eu, chegarem tão longe...

Por Deus, oque eu faria com Castiel?

Eu sabia que ele queria fazer muitas coisas comigo, mas oque eu faria com ele, era outra história. Eu sabia que por trás das roupas descoladas, a pose de “ foda-se o mundo ”, o cabelo comprido e o sorrisinho debochado, havia uma pessoa frágil e dedicada.

Castiel era tão frágil que pequenas palavras de seus amigos o tiravam do sério... Tão frágil que sem querer, ele deixava transparecer em pequenas atitudes, como deixar o olhar vagar sem esperanças, e a maneira melancólica que tocava guitarra.
Era tão dedicado aos seus amigos, que tinha a capacidade de tomar as dores deles para si mesmo, e sofrer com seus sofrimentos.

Uma qualidade rara e muito adorável, que beira quase ao defeito. Eu me identificava com Castiel principalmente por isso, porque sou capaz de sentir a dor dos outros, e querer ajudar a todo custo. Por isso minha profissão. Eu quero ajudar a cuidar, quero fazer a diferença nas pessoas, e não só existir entre elas... Eu quero estender minha mão ao Castiel, e cuidar dele...

— Precisamos conversar. —

Quase pulei, tamanho o susto. Eu havia acabado de abrir a porta do dormitório, perdida em mim mesma e nos meus pensamentos, quando vejo Rosalya dentro do quarto me esperando, sentada na cadeira da mesinha do computador.

— Caralho. — arfei, fechando a porta atrás de mim — Rosalya, você ainda vai me causar um infarto. — confessei, colocando a bolsa no chão, ao lado da minha cômoda.
— Não, não vou. Por que você não pode morrer até a gente ter nossa conversa. — decretou, pulando da cadeira para ficar nas minhas costas.
— Que conversa Rosa? — perguntei cansada — Eu acabei de chegar de um plantão de 24h, tudo que eu quero é tomar um banho e dormir. — confessei, procurando uma roupa pra dormir nas minhas gavetas da cômoda.

Rosalya bufou, e cruzou os braços. Tirei meus sapatos, coloquei em baixo da cama e peguei meu par de chinelos ( sim, esse era meu local para guardar meus calçados, visto que não tinha mais espaço por ali ).

— Por que você e o Lys terminaram, e eu fui saber disso pelo Castiel? — ela perguntou, cheia de insinuação na voz.
— Eu me pergunto a mesma coisa. — falei, tentando soar desinteressada.

Mas eu queria saber oque se passou na cabeça do Castiel pra ele ir contar isso pra Rosalya.

— Lucy, por que você não conta as coisas pra mim? Somos amigas não somos? — ela perguntou, parando na minha frente, com maior cara de cachorro abandonado.

Revirei os olhos. Eu estava enfrentando meus próprios dramas, não tinha paciência para Rosalya no momento.

— Somos. — concordei, dando a volta nela para pegar minha toalha de banho — Por isso, você começa. Por que você não está lá no seu bar? — perguntei, tentando desviar do assunto.
— Por que o Castiel me ligou, e disse pra eu voltar pro dormitório e esperar você chegar, porque você estava precisando de uma amiga no momento, já que terminou com o Lysandre “ cheia de sangue nuzoi ”. — contou, ansiosa.

Parei na porta com a toalha no ombro e uma peça de roupa na mão.

— Não terminei com ele com “ sangue nuzoi ”. — retruquei, saindo porta a fora, estressada.
— Foram palavras do Castiel. — ela falou, me seguindo pelo corredor — De qualquer forma, eu larguei o Leigh lá no bar e vim ver como você tava. Você me deve uma explicação Lucy! — ela insistiu, nos meus calcanhares.

Tentei me manter calma. Eu já estava tão estressada, e ainda precisava lidar com pessoas me pressionando e dizendo oque devo ou não fazer.

Entrei no banheiro feminino do dormitório, e parei encarando a minha amiga chata.

— Eu não sei porque o Castiel te ligou falando pra você vir pro dormitório, se você quer o motivo deveria perguntar a ele. — comecei, tentando não soar grosseira — Mas, se você quer saber como que ele sabe disso, é simples. Ele estava no apartamento na hora, e assistiu toda o situação. Só isso. — expliquei de uma vez.

Rosalya abriu a boca e esbugalhou os olhos.

— O Castiel ficou assistindo vocês discutirem, e terminarem? — ela perguntou descrente — Não acredito! — completou chocada.
— Acho que oque merece o foco nessa situação, foi oque o Lysandre fez. — comecei, indo para dento da cabine para tomar banho.
— Ah... A Nina... Eu imaginei que o motivo do término foi esse. — ela falou entendendo oque eu quis dizer, escorada na porta da minha cabine — Foi principalmente por isso que eu vim pro dormitório, associei uma coisa a outra quando o Castiel me contou que você e o Lys tinham terminado. Eu só queria te dar um apoio sabe? Me mostrar presente nesse momento de sofrimento. — tagarelou.

Prossegui meu banho sem falar mais nada, deixando Rosalya descascar a Nina e o Lysandre pra mim. Eu não queria discutir e nem retrucar. Não poderia dizer que não estava sofrendo, eu estava sofrendo. Não por amor, e sim por orgulho ferido.

Terminei o banho me vesti com o moletom que havia pego, e deixei a toalha enrolada no cabelo. Assim que sai da cabine, Rosa me recebeu com um abraço apertado. O abraço não me pegou de surpresa, mas o fato dela estar quase chorando sim.

— Ai amiga, você é tão forte! Mas não precisa ser assim o tempo todo. — ela começou, me segurando pelos ombros e me olhando nos olhos — Eu to aqui pra você! — completou, voltando a me abraçar, ou estrangular.

Me senti acolhida, e confortável. A vontade de chorar voltou, mas o lugar não era propício.

— Vamos chorar as pitangas dentro do quarto, onde ninguém pode ver. — falei, tentando dar um sorriso.

Ela assentiu, e fomos para o quarto.

Não demorou vinte minutos de “ choração feminina ”, e Ambre ligou para Rosalya, dizendo que Leigh havia dito para ela, que Rosa estava no dormitório me esperando chegar. Logo, se Rosalya estava comigo, ela tinha o dever de amiga de me convencer a ir para a G6. Achei que Rosalya fosse dar uma de suas conhecidas ‘patadas’ em Ambre, mas ela simplesmente concordou, dizendo que tudo que eu precisava era de uma boa noitada.

Eu tentei retrucar até o último instante, mas Rosalya sabe ser persuasiva.

— Entra vip na G6? Você sabe a raridade disso? Eu to tentando conseguir Vips pra mim e pro Leigh há quase um ano. — ela contou, revirando as próprias gavetas.
— Achei que não fosse muito com a cara da Ambre. — provoquei, desanimada jogada na cama.
— Ela é mimada, e fútil. Mas, sabe como curtir. — garantiu, pegando um pedacinho de pano vermelho de dentro da gaveta — Aproveita que ela ainda não sabe que você gosta do Castiel, e curte bastante com ela. — alfinetou com um sorrisinho provocativo, me jogando o pano vermelho.

Me sentei na beliche, e peguei o pano. Aquilo, por incrível que pareça, era um vestido.

— Rosa, não brinca com isso, a coisa é seria. Eu não posso sair de um namoro e ir logo ficando com o melhor amigo do meu ex. — confessei, averiguando o “vestido” — O Castiel é um cara incrível, mas ele se precipita e faz muitas maluquices... Tenta se fechar no mundinho de depressão dele... Isso é triste, e irritante. — confessei — Rosa, sem chances de eu usar esse vestido, meus peitos não cabem aqui. — falei, jogando o vestido de volta pra ela.

A expressão da garota se iluminou. Ela pegou o vestido de volta sorridente.

— Consegui te fazer confessar que gosta do Castiel, e ainda te convenci a ir pra boate. — ela cantarolou, feliz consigo mesma.

Sentei na cadeira da mesinha derrotada, e me deixei levar por Rosa, sem esquecer de atualizar meus status.




–-



Rosalya me enfiou em um vestido preto, tomara de caia, que apertava meus seios. Ela me mostrou a etiqueta, dizendo que era de griff e que nunca havia usado porque os seios dela não ficaram “ bons o suficiente” na peça; Se bons o suficiente pra ela, era tudo apertado dentro do tubinho preto, então eu estava ótima. Ela escovou meu cabelo em impressionantes vinte minutos, e me permiti usar pelo menos minhas botas de salto ( aliás, a única que eu tenho ) . Ela fez questão de me maquiar, e me fazer usar um de seus colares.

Pensei em tomar um táxi até a tal G6, já que já se passavam da meia noite e não tinha mais ônibus, mas ela fez questão de me levar, com a desculpa de que tomaria a estrada de todo jeito, já que precisava voltar para o bar.

A princípio eu não queria ir, estava muito para baixo com toda a situação do término, e do meu rolo estranho com Castiel, mas depois de tanto Rosalya tagarelar, cheguei a conclusão que eu merecia mais. Eu não podia ficar arrasada por causa de um relacionamento em que eu sai humilhada, e que nem houve sexo.

Rosalya me abraçou, me enxotou para fora do carro e foi embora. Eu atravessei a rua chocada com o tamanho da fila na porta da boate. Deveriam ter pelo menos cem pessoas ali esperando!

A rua era no centro da cidade, um lugar muito conceituado. O letreiro pequeno e em neon, brilhava escrito G6, a porta discreta e pesada estava sendo guardada por três homens enormes vestidos de terno preto; Dois ao lado da porta, um de cada lado, e um segurando uma prancheta nas mãos mais a frente, fora da marcação com fita, que impedia as pessoas da fila de se aproximarem demais.

Era exatamente como nos filmes. Mas eu, por ter morado no interior a vida toda, não tive a chance de ver um lugar desses de perto. Eu sequer sabia, que eu poderia entrar em um deles algum dia, minha vida era estudar, trabalhar, e vez ou outra tomar uma cerveja em algum barzinho com os amigos.

Assim que parei na calçada da boate, Ambre apareceu do meio da fila com Li, e agora Charlote. Ela parecia estar se vangloriando das outras pessoas, por entrar na frente delas.

— Uh, você chegou! — Li falou animada, e bateu duas palminhas.

Parecia estar alterada de bebida já.

— Rosalya te ajudou a se vestir. — Ambre falou convicta — Até que não ta ruim. — completou, dando um sorrisinho de aprovação.

Li fez um sinal de “joinha” para mim, e Charlotte se ofereceu para guardar minhas chaves, identidade, cartão de débito e meus trocados, dentro da bolsinha dela. ( Sim, estava tudo ‘guardado’, no meu decote ).

Passamos pelos seguranças sem eles nem pedirem para ver nossas identidades. Isso me deixou chocada.

Atravessamos aquela porta, andamos poucos passos em um corredor vazio espelhado e iluminado. Então, outra porta. Uma maior e toda acolchoada. Havia um homem e uma mulher, muito bem vestidos e sorridentes, esperando ali. Eles colocaram pulseiras prateadas, de papel plastificadas, em nossos pulsos, nos elogiaram com muita educação, e entramos.

O mundo por dentro da porta, era outra coisa. Do lado de fora, quem via a pequena portinha voltada pra rua não imaginava como o interior era grande, e a música era nítida e alta. A rua não tinha nenhum som, só a falação das pessoas na fila, mas ali dentro, o som reverberava em vibrações.

O chão era de um piso grande e vermelho Duas paredes eram vermelhas escuras, e as outras duas eram coloridas, de um jeito simétrico.

O espaço era metade de um campo de futebol americano, fora o segundo andar. Tinha um bar muito elegante, que seguia todo o caminho da parede da direita com bancadas de madeira reluzentes caríssimas; Era comprido, e tinha garçons e garçonetes o suficiente para não fazer fila e nem alvoroço por ali. Seguindo a parede à esquerda, haviam alguns lugares confortáveis para se sentar, como assentos de viagem chiques, e uma mesinha entre eles. E no meio de tudo isso, uma pista de dança apinhada de gente, com um pequeno palco de fundo, onde via-se um DJ, e duas dançarinas no palco distribuindo shots de bebidas para alguns rapazes assanhados.

Olhei tudo admirada. Eu nunca havia visto nada do tipo pessoalmente. Nada tão grande, elaborado, e chique.

Senti um par de mãos tocar meu ombro, e me virei alarmada.
Nathaniel me olhava com um meio sorriso tranquilo.

— Vou procurar as outras garotas, fica de olho na nossa nerdzinha aqui — Ambre falou aos gritos para ele, se pendurando no meu ombro para chegar até ele — E você, vê se não abusa, muito, do meu irmão. — completou, maliciosa.

Fiquei ligeiramente sem graça, principalmente quando vi o sorriso que Nathaniel deu com o comentário dela. Mas não houve tempo de retrucar, Ambre saiu desbravando o lugar se enfiando entre as pessoas, com Li e Charlotte em seus calcanhares.

Nathaniel passou a mão pelas minhas costas nuas e foi me guiando até uma escada, quase escondida, atrás do bar. Lancei o olhar cauteloso para ele enquanto caminhávamos entre as pessoas, e ele me lançou aquele sorrisinho de bom moço.

Em cima da escada havia um segurança, fechando a passagem de subida. Ele checou nossas pulseiras, e Nathaniel o cumprimentou de forma gentil. Assim que passamos, me toquei que eu estava, no que deveria ser a área vip. A musica que tocava ali era outra, e bem mais baixa; Os vidros escuros eram a prova de som, não deixando a algazarra lá de baixo vazar ali para cima. Cerca de quarenta pessoas estavam conversando, dançando, se agarrando e bebendo por ali. A luz era bem amena, deixando-se ver claramente apenas os puffs que estavam espalhados estrategicamente pelo espaço.

Nathaniel tirou a mão das minhas costas, deslizando os dedos pela minha pele até meus ombros. O encarei interrogativa. Ele me lançou um olhar engraçado, como se estivesse sem jeito, e então me abraçou.

Fiquei momentaneamente constrangida. Eu nunca tive problemas com contatos físicos, principalmente pela cultura francesa, mas durante todo esse tempo convivendo socialmente com Nathaniel, e em nossas conversas didáticas, nunca recebi um típico beijo no rosto em forma de cumprimento, quem dirá abraços.

— Sinto muito. — ele falou, com o rosto ainda no meu pescoço — Imagino como você deve ta se sentindo pela situação com o Lysandre. — completou, em um tom cauteloso.

Seu hálito estava na minha orelha, e ele deslizou as mãos pelas minhas costas. Eu não sabia dizer, se aquele toque era fraternal e acolhedor, ou tinha alguma outra conotação.

— Não sinta. — falei, tentando quebrar o clima tenso que se formava entre nós devido ao assunto “Lysandre”.

Ele se desvencilhou do abraço, deslizou as mãos pelo meu braço esquerdo, e segurou a minha mão entre as suas.

— Sei que, muito provavelmente, você nem queria estar aqui. — ele começou, segurando minha mão delicadamente, e me olhando nos olhos — Mas a Ambre consegue ser bem persuasiva... — completou, desviando o olhar para o lado.
— Ah, então ela te persuadiu também? — perguntei, entendendo a última frase dele.

Pelo menos, não estávamos mais no assunto Lysandre.

Ele me deu um sorriso meio amarelo, e soltou minha mão.

— Não se preocupa, eu respondo pelos meus atos. — garanti, tentando não fazê-lo culpar a irmã por eu estar ali.

Mas, a frase saiu meio grosseira, e ele franziu as sobrancelhas ofendido.

— Sou bem grandinha. — completei, tentando soar descontraída, afinal eu não queria enche-lo de foras, a toa.
— Não tenho dúvidas! — ele falou, dando um rápido sorriso, enquanto passava os olhos pelo vestido que eu usava — Aliás, belo vestido. — completou, desviando o olhar.
— Valeu. — respondi meio sem jeito — Você também não ta nada mal. — completei, tentando novamente descontrair.

Mas a verdade, é que só então eu havia reparado no que ele estava vestindo.
Usava uma regata cinza, jeans escuros e tênis de couro. Algo que eu nunca o vira usar.

Nathaniel andava sempre com roupas de griff, mas eram tão clássicas e simples que poderiam passar despercebidas.

Ele era o típico garoto certinho, que acorda cedo pra estudar, é monitor da turma, e faz academia todos os dias à tarde.
Loiro, com o cabelo sempre bem penteado, roupas bem passadas, que vivia transitando pela faculdade com seus livros de Biomedicina . O típico irmão mais velho que cuidava a irmã caçula mimada. Eu sabia de tudo isso, porque conversamos muito desde que nos conhecemos, sempre achei que era pelo fato de sermos da área de biológicas.

— Ah, vindo de você, é um elogio e tanto. — ele falou fazendo uma pequena reverencia exagerada.

Fiz um aceno displicente com a mão, e ele segurou meu pulso delicadamente.

— Vamos nos sentar, e beber um pouco. — ele sugeriu, enlaçando os dedos nos meus.

Tentei me desvencilhar de forma educada, mas percebi um sujeito querendo se aproximar de mim, então resolvi deixar Nathaniel ficar de mãos dadas comigo, até chegar nos puffs, afim de evitar uma aproximação desnecessária de alguém.

Nos sentamos, e logo ele acenou. Um dos garçons que transitavam discretamente por ali, se aproximou. Fiquei meio receosa se pedir algo pra beber, só de imaginar os preços, mas depois que percebi que na área vip a bebida era liberada, me soltei.

Conversamos primeiro sobre minha profissão, e sua futura profissão de biomédico, enquanto intercalávamos bebidas diferentes. Nathaniel me surpreendeu com a quantidade de drinks exóticos e super fortes que ele conhecia.

E em uma hora ali sentada conversando, eu já estava começando a entrar no clima das risadas constantes, e relaxamento muscular, de tanta bebida.

— Com licença. — o garçom que nos servia, se aproximou, desconfortável — O senhor de camisa branca... — ele apontou para um rapaz moreno, há cinco passos de mim — Está interessado em saber se a senhorita aceitaria conversar com ele. — completou, e ficou parado esperando uma resposta.

Eu olhei pro rapaz em questão, e fiquei alguns segundos completamente aérea. Eu estava recebendo uma cantada de um cara em uma boate, por um garçom.
Horrível.
Me levantei automaticamente e me peguei rolando os olhos, Nathaniel ainda sentado, sorriu para o garçom, como quem pede desculpas.

— Qual seu nome? — perguntei ao garçom, segurando em seu ombro para me firmar em meus saltos.
— Julian. — ele respondeu, parecendo surpreso.
— Julian, faz o favor de dizer pro 'senhor de camisa branca', que eu estou não interessada em morenos. — falei, tirando minha mão do garçom enquanto dava uma risada meio amarga em seguida.

Claro que eu não queria morenos. Não queria nada que me lembrasse o Lysandre. Eu estava muito puta com ele.

Julian se permitiu sorrir, e lançou uma olhada para Nathaniel antes de sair.
Nathaniel se levantou e se aproximou de mim, então eu entendi que tanto Nathaniel quanto Julian haviam interpretado errado oque eu disse.
Pareceu que eu estava dando uma indireta para Nathaniel, por ele ser loiro!

Céus.

Tomei fôlego para explicar isso Nathaniel, afim de não deixar um clima tenso entre nós, mas ele já estava com as mãos em mim, e a boca colada na minha.




–--

Certo, Nathaniel e eu nos beijamos na área vip. Não vou dizer que eu não deixei, porque eu deixei. Mas tudo começou de um jeito meio sem querer. Pelo menos da minha parte.

Não foi nada fogoso demais, ou vulgar. Ele segurou minha nuca, e minha cintura, e então me beijou. Foi suave, e tranquilo. Como uma brisa de verão.

Quando nos separamos, ele deslizou a ponta dos dedos pelas minhas costas, e desceu o nariz pelo meu pescoço. Eu me arrepiei, sem saber se era pelo toque nas minhas costas, pela bebida que já estava começando a subir, ou pela forma que ele inalava meu perfume.

— Desde que eu te conheci... — ele começou, me apertando contra si delicadamente, ainda com o rosto no meu pescoço — Que eu espero a chance de te beijar. — confessou, dando um beijo sutil no meu pescoço, por cima do colar que eu usava.

Me desvencilhei dele, meio sem graça. Se eu estivesse completamente sóbria, estaria roxa de vergonha, mas a bebida me ajuda a passar por certas situações.

— Jura? — perguntei meio descrente.

Eu nunca havia notado. Sério. Sempre acho que estou maldando demais das pessoas.

— Por que você acha que eu to aqui Lucy? — ele perguntou, se aproximando novamente — A Ambre disse que te traria pra cá, então eu vim pra te encontrar. — contou, vindo me beijar novamente.

Mas desta vez, eu escapuli. Chamei Julian, e pedi três doses de absinto. Eu já havia bebido duas, e isso que me deixou meio que nas nuvens.

Julian foi buscar as doses, e Nathaniel me encarou de sobrancelhas arqueadas. Eu fiz uma careta, e logo Julian trouxe a bebida.

— Mais absinto? — ele perguntou descrente — Precisa se embriagar pra passar uma noite comigo! Sou tão ruim assim? — completou divertido, escondendo o rosto com as mãos.

Eu sabia que ele estava fazendo graça, mas sua brincadeira tinha um fundo de verdade.
Virei as três doses de uma só vez, sentindo minha cabeça girar. Nathaniel se aproximou e me segurou pela cintura, com um sorrisinho nos lábios.

— Não é por causa de você. — confessei, me agarrando em sua nuca para estabilizar os saltos no chão.

Ele assentiu, como se soubesse do que eu estava falando.

— Tudo bem Lucy, eu sei que oque ele fez com você te machucou. Você tem o direito de extravasar, sem ninguém te julgar. — garantiu, passando a mão pelos meus cabelos — Eu te ajudo a esquecer ele. — garantiu, me olhando nos olhos.

A luz neon do lugar passou em seu rosto, e o âmbar de seus olhos tomou um brilho dourado. Eu poderia dizer que ele era um cara bonito, ele tinha olhos bonitos, mas... Não então eu me lembrei, do que eu tentei reprimir a noite toda. Os olhos acinzentados, mais sinceros e lindos que eu já vi na vida.

Nathaniel estava achando que eu estava enchendo a cara por causa do Lysandre, que eu estava querendo afogar as mágoas por causa do meu término. Eu deixaria ele achar isso, afinal eu não podia dizer a verdade, iria ser ainda pior.

— Vamos descer, quero dançar. — falei, sentindo minha língua pesar um pouco.

— Tudo oque você quiser. — garantiu atencioso, e logo depois selou os lábios nos meus rapidamente.

Então gentilmente me tomou pela mão e foi descendo as escadas comigo.

Cada toque gentil e suave de Nathaniel, era uma ferroada na alma. Uma lembrança de que o motivo pelo qual eu queria tanto afogar as mágoas, não era Lysandre. O "motivo", não tinha o toque nada gentil, e nem a sutileza de Nathaniel.
O motivo pelo qual eu estava tão conturbada, tinha os cabelos compridos, os olhos acinzentados mais lindos que já vi, e o melhor beijo que eu já pude provar na vida.

Castiel.
Castiel.
Castiel.
Castiel!

Mesmo que tivesse sido algo rápido e conturbado, eu sentia, que ninguém nunca iria me beijar, me segurar, me tocar, e me apertar como Castiel. Ele era o motivo das minhas noites mal dormidas, mesmo depois de um plantão hospitalar violento. Ele era o motivo de eu não poder mais lidar comigo mesma.

Visualizei a pista de dança lotada. A musica pop tocando alta; Eu já nem sabia distinguir detalhadamente oque tocava.

Então, empurrei todos aqueles sentimentos para dentro, e fui dançar; Por hora, era tudo oque eu podia fazer pra amenizar . O álcool ajudava.


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Notas finais do capítulo

Como sempre não betei! kkk Espero que deixem reviews me dizendo oque acharam, mas por favor sem machismo e crucificação a Lucy, ok?!

Lembrando que proximo capítulo, volta normalmente o pov do Castiel.

REVIEWS? *-*



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