Mundos distintos. escrita por PunkOfPiltover


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá minha gente! Aqui estou eu contribuindo para o mês yuri. Escolhi um ship que eu havia esquecido há muito tempo, Bubbline. Apesar de tudo, ainda considero um ship muito fofo, e espero que muitos estejam de acordo comigo! A história se passa no ano atual, 2015. Sem mais, aproveitem!



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Sempre que eu chegava à sala, era recebida por muitas pessoas. E sempre eu a via. Ela ficava no fundo da sala, passava despercebida, falava com uma ou duas pessoas no máximo com quem tinha alguma amizade, eu sempre quis admirá-la por mais tempo, mas eu sempre era cercada por um mar de gente e não podia mais olhá-la.

Vivíamos realidades diferentes. Eu gostava de rosa, mesmo meu cabelo eu havia pintado de rosa. Ela usava roupas escuras, às vezes combinava tonalidades de preto cinza ou vermelhas, sempre combinavam muito com sua pele pálida, seus olhos castanhos que quase pareciam vermelhos, ou com o cabelo preto que ia até depois da cintura. Eu era muito popular e primeira da turma em questão de notas. Ela ignorava a existência da maioria dos alunos e dormia na maior parte das aulas. Eu era extremamente apaixonada por ela. Ela detestava garotinhas populares e adocicadas como eu. Mesmo realidades tão diferentes ironicamente alguma hora se encontram. Eu sempre considerei acreditar em explicações científicas, por isso nunca acreditei em coisas como destino, até o dia em que nossas realidades se encontraram.

Tudo começou no show de talentos. Eu o considerava uma total perda de tempo, mas muitos dos meus amigos me pressionaram dizendo que eu tinha uma voz ótima e deveria arriscar. E informações vazaram que ela participaria também! Por ser extremamente fechada, poucas pessoas conheciam sua voz, habilidades, enfim, do que ela gostava no geral. E ela nunca participava de nada que envolvesse palco, por isso, todos da sala haviam ficado extremamente curiosos com o que ela faria, inclusive eu, que me empolguei em participar para tentar impressioná-la.

Eu sabia que ela gostava de rock pois uma vez a ouvi falando disso com um de seus amigos, que parecia até mesmo seu irmão, pois ambos usavam roupas parecidas, possuíam a mesma cor de cabelo e olhos. E eram extremamente próximos, o que me deixava com uma pontada de ciúmes. Na maior intenção de agradá-la, procurei por muitas músicas que eu pudesse cantar e no fim decidi pela música True Colors, da Cyndi Lauper. Minha voz era doce e melodiosa, não combinaria com a voz rouca da cantora e nem era exatamente o rock que eu estava procurando, mesmo assim, logo que terminei de cantar, recebi muitos aplausos e acabei saindo toda feliz do palco.

Passaram-se muitos outros candidatos e logo, em ultima posição, veio o que eu - e talvez metade da sala – finalmente esperávamos: Ela. E ela estava segurando... Um violão? Ele era personalizado ao estilo dela. Preto com caveiras vermelhas estampadas, eu não conseguia imaginar algo que combinasse melhor com ela. Ela logo se sentou em um banquinho que trouxe junto de um mini amplificador - Deus, ela é forte! - e olhou para todos com um olhar indiferente, esperando o silêncio para poder começar a tocar. E eu reconhecia aquela música! Hotel California, estava entre minhas pesquisas. Ela não cantava, apenas tocava, e muito bem por sinal! Ela não tocou a música inteira, porém foi o suficiente para ganhar muitos aplausos e cochichos e expressões muito surpresas e quase incrédulas, afinal, aquela era a garota de preto, que nunca falava com ninguém ou fazia alguma coisa pública, tocando e humilhando todos do show de talentos, inclusive eu mesma. Ainda sim, obviamente eu ganhei o concurso. Ela havia se saído muito melhor que eu, porém, minha popularidade levou muitos alunos a votarem em mim. Ela ganhou o segundo lugar, embora. E, quando todos estavam prontos para sair, um funcionário subiu ao palco, pegou o microfone e anunciou:

– O diretor considerou que esta foi uma apresentação magnífica há muito não vista no colégio. E declarou que, para alegria de todos, as vencedoras deveriam se apresentar juntas, afinal, se sozinhas já abalaram com todos, juntas seria um espetáculo imperdível! A primeira e segunda colocada, por favor, compareçam ao palco novamente.

Detrás das cortinas do palco eu a encarei. Ela apenas deu de ombros, guardou seu violão, cutucou outra participante e pediu a guitarra dela emprestada, após conseguir o que queria, verificar as cordas, ela caminhou em minha direção, arqueou uma das sobrancelhas e simplesmente disse:

– Cantarei e tocarei Nothing Else Matters, seria meu planejado para o concurso, mas não pude arrumar uma guitarra a tempo. Agora tenho uma. E você será minha segunda voz. A letra está ali em cima do amplificador, caso a queira.

Por sorte, eu também conhecia essa música. Não precisava de letras, e eu poderia acompanhá-la na segunda voz. Ao chegarmos no palco, fomos recebidas com muitos aplausos e gritos, a maior parte direcionados para mim. Estamos em um ano onde o rock é pouco apreciado entre os adolescentes, mesmo assim, assim que ela começou a tocar, todos gritaram mais alto, com se reconhecessem a música. Ela começou a cantar e sua voz quase rouca com tom sinistro combinava perfeitamente com a música que ela escolhera. E eu a acompanhava especialmente no refrão. Nossas vozes se uniam de forma inexplicável, sendo ambas tão diferentes. E ao final, todos ficaram de pé para gritar e aplaudir e eu mesma já estava eufórica. Ela apenas parecia indiferente como sempre. De volta para a parte de trás do palco, ela devolveu a guitarra e agradeceu enquanto a garota parecia que iria explodir. Acho que ela havia ganhado uma fã. Eu estava me preparando para ir embora quando notei uma mão pálida no meu ombro. Quando me virei pra ela, ela abriu um sorriso quase sem graça e se afastou um pouco, estendendo uma mão de cumprimento para mim.

– Devo admitir, você cantou bem ali. Sou Marceline, a propósito.

– Obrigada! E sim, eu sei o seu nome.

Quando ela arqueou uma sobrancelha para meu tom eufórico eu me dei conta. Eu sou popular e não sou amiga dela. Eu não deveria ser vista como o tipo que presta atenção ao nome dela nas chamadas, ou ao menos reconhecer que ela existe. Rapidamente fiquei com o rosto vermelho e segurei sua mão.

– D-Digo... Eu sou Bonnibel, mas acho que você já sabe disso.

Ela logo soltou uma risada melodiosa e eu ajeitei uma mecha para trás da orelha.

– É difícil não saber. Vai estar livre hoje ou irá exercitar esse seu super cérebro até desmaiar de tanto ler livros?

E foi desta maneira estranha que viramos amigas. Eu sempre ia visitá-la, descobri logo que ela era maior de idade e havia repetido um ano. Ela também não se dava bem com o pai há tempos e havia decidido morar sozinha. Trabalhava de manhã e por isso vivia dormindo na aula. Ela havia gostado de mim pela minha voz, então em sua casa, ignorávamos nossos status no colégio e conversávamos quase sempre sobre música. Ela contava sobre seus gostos e fazia careta para os meus, mas sempre acabávamos rindo da situação e nos divertindo. Não podíamos nos ver por muito tempo graças aos meus pais super protetores, mas cada pouco tempo com ela era mágico. Cada mais coisas que eu sabia faziam eu me apaixonar cada vez mais. E com o tempo começou a ser doloroso, pois me dei conta que este era um sentimento que ela talvez nunca fosse retribuir, pois eu mesma tinha medo de estragar nossa amizade confessando-o para ela.

Em certo dia, desviamos o caminho da casa dela e fomos para um lugar diferente. Eu arqueei uma sobrancelha interrogativa e ela disse que iríamos apenas ver uns amigos dela. Fomos parar em uma garagem velha e espaçosa, que descobri estar sendo usada como um refúgio de uma pequena banda, onde também descobri que Marceline fazia parte desta. Ela cantava. Reconheci rapidamente um dos amigos como aquele cara que ela costumava ficar junto na sala, e, percebendo que eu estava encarando-o, ela se apressou em apressá-lo.

– Esse aqui é o Marshall Lee. Ele estuda conosco também.

– É um prazer vê-la no meu cafofo, princesa.

Ele me deu um sorriso estranho e eu decidi me afastar, desconfortável. Fora ele, havia uma garota ruiva que se apresentou como Phoebe e já aparentava não ter ido com a minha cara. Também dois garotos que se apresentaram como irmãos, um de cabelo loiro e outro mais velho de cabelo laranja, o primeiro era Finn e o outro Jake. Eles eram bem enérgicos e engraçados, e Finn parecia especialmente encantado comigo. Eu me diverti conhecendo os amigos de Marceline e ainda pude ouvi-los tocar um pouco e fiquei maravilhada com o privilégio de ter um show particular só para mim. Obviamente ainda me incomodava o quão perto Marshall parecia ficar de Marceline, mas logo Finn veio puxar assunto, a maior parte do tempo me fazendo rir com sua fofura e falta de jeito, mas de repente ele pareceu ficar muito corado de repente e olhou para mim um pouco nervoso, e antes que eu pudesse perguntar o que estava errado, ele soltou tudo de uma vez de uma forma que quase me fez não entendê-lo.

– Você é muito divertida e eu gostei muito de você, eu queria saber se você não gostaria de sair comigo algum dia desses!?

Eu arregalei os olhos em surpresa e surgiu uma tensão no ar quando eu não soube como respondê-lo. Logo senti um braço enlaçando o meu e eu estava sendo puxada por uma presença extremamente conhecida.

– Vamos lá Bonnie, está ficando tarde e não quero seus pais preocupados.

Eu arqueei uma sobrancelha para o novo apelido. Finn abaixou a cabeça e eu pude ouvir seu coração partindo, o que me deixou culpada. Logo quando saímos da garagem eu me virei para ela, confusa.

– Marceline, por que tanta pressa?

– Eu já disse o moti...

– Mas e o Finn!?

– Ah, não liga pra ele. Ele fica encantado rapidinho por qualquer garota bonita que ele tem chance de conversar.

– Mas ele realmente pareceu chateado e eu não o respondi...

Logo ela parou de caminhar e se virou para mim. Ela não parecia com um humor muito bom.

– O que foi Bonnie? Você iria aceitar o convite dele? Iria começar a namorar com ele?

– Marceline, eu não quis dizer iss...

– Pois foi o que pareceu!

– Marceline, o que há com você? Não me diga que você está... Com ciúmes?

Ela hesitou quando eu disse isso e se virou para continuar a andar, porém, eu a impedi e a puxei, com uma grande coragem me aproximei para beijá-la e ela prontamente retribuiu, mas logo depois ela me empurrou com força.

– Não brinque comigo!

Ela assumiu uma pose ameaçadora e logo terminou saindo correndo. Eu sequer sabia onde eu estava. Perdida, de coração partido, eu nunca imaginei que meu primeiro beijo pudesse ser uma memória tão ruim.

De alguma forma eu consegui chegar em casa. Estava tarde, levei uma bela e longa bronca por isso. Não nos falamos mais depois daquilo, mesmo e principalmente na escola, ela me evitava. Eu mal conseguia concentrar-me nos meus estudos, mais chorava no meu quarto do que fazia qualquer outra coisa. Minhas notas decaíram e todos de repente ficaram preocupados comigo, mas eu dizia apenas que era uma fase estranha de minha vida e logo melhoraria.

Um dia, em um acesso de coragem que eu nem sabia que eu tinha, eu corri até a casa dela e bati, bati muito, até ela me atender, e ela estava de péssimo humor, mas não me impediu quando tentei entrar em sua casa, ou subir para seu quarto, ou mesmo sentar-se em sua cama, ela apenas ficou longe, pegou uma cadeira giratória e sentou-se de forma que a frente do corpo estava apoiada contra o encosto da cadeira e ela estava debruçada sobre ele, e dali ela me encarava, com olhos julgadores, impacientes, e eu pude apenas respirar fundo e tentar pensar em algo para me desculpar, mas ela logo me cortou com palavras doloridas que quebraram minha coragem em vários pedaços:

– Você veio aqui para brincar comigo, Bonnie? Rir?

Eu tive que respirar fundo novamente, e logo a olhei tristemente, sem entender o porquê da frieza repentina.

– Marceline... Por que essa reação agora? O que eu te fiz para você pensar que brincarei com você?

Ela zombou e revirou os olhos, logo se levantando. Estava inquieta, andava de um lado para o outro e fazia gestos raivosos enquanto falava:

– Não se faça de boba. Alguém deve ter contado para você... Provavelmente aquele maldito do Finn! Com certeza dedurou... Que eu estava apaixonada por você... E agora você quer usar isso contra mim, me fazer cair nos seus charmes para depois me zoar na frente de todos os seus amiguinhos populares!

Ela já estava tremendo e tinha parado de andar. Eu havia me surpreendido. Marceline... Estava apaixonada por mim? Eu pisquei surpresa algumas vezes, mas logo tomei coragem para me aproximar, a olhei nos olhos e logo sorri, a puxando para um abraço reconfortante em seguida.

– Isso é bobeira, eu sequer sabia que você estava apaixonada por mim! E estou imensamente feliz em saber disso. Eu também sou apaixonada por você, desde quando éramos apenas estranhas, o sonho da minha vida era apenas poder falar amigavelmente com você algum dia!

Ela pareceu relaxar depois de um tempo e se entregar ao abraço, logo senti uns tremores e ouvi soluços, concluindo que ela estava chorando. Só pude esfregar círculos calmantes em suas costas e deixá-la chorar.

Depois desses eventos, nos oficializamos como namoradas. Mesmo nossa sala ficou sabendo e viramos notícia do mês, quase celebridades. Marceline pouco se importava com sua nova fama e já assustava e afastava seus fãs, preferindo sempre seu canto escuro. Agora, eu arrumava desculpas para meus pais nos fins de semana que estudaria na casa de uma amiga e dormia na casa de Marceline. Fazíamos todo o tipo de coisa juntas, sempre nos divertindo, só eu e ela.

E essa é a prova de como realidades totalmente distantes podem se chocar algum dia e se tornarem uma só. E a história de como eu passei a acreditar em acontecimentos não tão científicos assim, como o destino, as personalidades totalmente opostas conseguindo se amar, e claro, no amor verdadeiro e na sorte, no caso minha, de ter alguém como Marceline me amando.


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Notas finais do capítulo

Siiim, eu sei. Eu acho que não me encaixo pra fazer one shots afinal. Ou finais. Mas fiz o melhor que pude! E espero que vocês tenham gostado.



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