Sixteenth Moon escrita por Nath Schnee


Capítulo 4
Terceiro Capítulo – 2 de Setembro


Notas iniciais do capítulo

Olá! Desculpem-me a demora. Primeiramente devo agradecer a todos que comentaram nos outros capítulos, que são: Little Hathaway, Snow Faun, Eden e Evah. Muito obrigada, pessoal!
Quanto a minha demora... O motivo foi o fato de eu, aparentemente, estar em um bloqueio criativo quase todo dia. Além disso, eu também consegui adiantar um pouco outros dois capítulos. Mas, mesmo tendo-os quase completos, acho que vou postar mensalmente, pois é mais fácil para mim.
Eu sei, eu sei, muitos leitores detestam aquelas "histórias fantasmas" que além de atualizarem de forma irregular ainda demoram para fazê-lo... E por isso peço perdão novamente. Eu simplesmente não consigo escrever e/ou publicar regularmente.
Enfim, vamos parar de enrolar.
Boa leitura.



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Jardim Secreto


F
iquei tanto tempo encarando Ravenwood que já poderia me passar por uma das estátuas de mármore. Ou pelo menos foi o que pensei, pois não contei quanto tempo fiquei pensando se deveria entrar ou não. Não havia aonde ir, na realidade, mas eu estava inquieta e desconfortável. Estava, sim, aliviada de ter saído daquele lugar infernal chamado “escola”, mas não queria ficar em casa.

A propriedade de meu tio sempre pareceu gigantesca. Localizava-se em um morro como se fosse um desafio. O portão era de um ferro enferrujado e deformado e quanto mais perto você chegava da mansão, mais poderia pensar que ninguém ali iria viver. Pelo menos em tamanho talvez fosse impressionante. Pequenas palmeiras e ciprestes a flanqueavam como se fosse uma verdadeira fortaleza.

A mansão em si era no estilo neoclássico grego e isso era algo que a deixava ainda mais diferente de qualquer outra fazenda que tivesse visto em Gatlin. As colunas dóricas com a tinta branca descascando por conta de descuido seguravam o teto que parecia inclinado para a direita dando a impressão de que, se Ravenwood fosse uma pessoa, ela seria uma velha com aparência de 400 anos e com artrite. A varanda coberta — onde eu me localizava — estava se despedaçando e parecia também estar se soltando da casa. Eu mal podia acreditar que estava ali em cima sem que ela desabasse. Uma hera densa crescia descontrolada nas paredes externas e nas janelas de tal forma que eu mal podia acreditar que havia luz do sol no lado de dentro da casa. Tudo dava a impressão de que a casa estava afundando na terra onde fora construída, como se estivesse indo para o inferno.

Considerando a origem da espécie de meu tio Macon, não era uma grande surpresa.

Acima da porta havia um lintel sobreposto. Símbolos haviam sido entalhados ali. Para qualquer pessoa normal — ou seja, para os Mortais —, eram apenas as fases da lua e uma palavra em uma língua desconhecida. Mas não. Para Conjuradores como eu aquilo não era apenas uma palavra em outra língua, era a definição da espécie daquela família. Pelo pouco que me permitiam saber, as fases da lua indicavam que as pessoas que ali moravam não pertenciam ao Mundo Mortal. As letras, pelo que eu imaginava, significavam Incubus.

Quando finalmente entrei na mansão, fui alegremente recebida por Boo Radley, como se ele tivesse ficado ali o tempo todo e não seguido o rabecão até a escola comigo. O cachorro latiu e abanou o rabo com energia. Acariciei sua cabeça e olhei ao redor.

A Cozinha parecia ter adivinhado que eu estava sem fome, pois até mesmo a mesa de jantar havia sumido de vista, porém essa era a única diferença. A casa continuava com seu aspecto de Luz como anteriormente com suas paredes beges, cortinas cor de creme, teto branco, escada com cor de marfim e estátuas de mármore.

Segui para o meu quarto e ali deixei minha mochila. Deitei-me na cama de barriga para cima encarando o teto de gesso do mesmo modo que encarara Ravenwood anteriormente. Não estava prestando atenção nele realmente. Meu pensamento não estava em algo. Estava em alguém.

Ethan.

E se eu estivesse enganada? E se, naquele momento, eu estivesse olhando para alguém completamente diferente? Afinal, o que eu estava tendo era apenas um sonho no qual eu nem podia vê-lo direito.

Mas não. Não podia ser outra pessoa. Era ele, eu tinha certeza, não sabia como tinha, mas tinha. O problema era: e se fosse? Qual seria a diferença? Como qualquer “atleta” normal ele deveria agir como todos os outros. Nunca tentaria se aproximar de mim e mesmo se tentasse eu seria obrigada a afastá-lo. Não queria que ele percebesse que, no final das contas, eu era como todos diziam.

Fiquei ali pelo que pareceu ser uma hora completa, mas provavelmente foram apenas alguns minutos. O tempo parecia estar passando com um terço da velocidade normal. Tentei ler. Bukowski, T.S. Eliot, Plath... porém os livros que me tiravam do meu mundo não o estavam fazendo mais. A todo o momento, o pensamento de eu estar na “casa mal assombrada” da qual as pessoas diziam surgia em minha mente e eu voltava a me perguntar se algum dia teria paz.

Levantei-me e desci as escadas para o hall. Eu ainda não havia visto Macon depois do café-da-manhã e esperava que ele não percebesse minha ausência tão cedo. Aliás, mesmo se ele me encontrasse no caminho para a saída e questionasse aonde eu iria, nem eu mesma saberia responder. Não se havia alternativas quando se era nova na cidade e não se tinha amigos.

Resolvi apenas ouvir meus instintos — ou seja lá o que estivesse me guiando para fora da segurança de Ravenwood — e seguir um caminho de cascalho ao lado direito da mansão. Ele fazia curvas em campos mal cuidados e alamedas com árvores sem poda que cresciam selvagens e com muitos arbustos em volta. Eu não me importei com a aparência do lugar até que cheguei a um muro de pedra. Estava gasto em alguns lugares e totalmente quebrado em outros. Forcei uma cortina de vinhas que quase me impedia de passar pela entrada em arco. O cheiro daquele lugar era levemente azedo junto com algo mais que logo o identifiquei: limão e alecrim. Fazia sentido, pois as árvores que eu havia visto antes de passar pelo muro eram limoeiros.

A todo o momento eu encontrava alecrins. Algumas folhas e galhos causavam arranhões em minha pele, mas minha curiosidade me fazia continuar. Aquele parecia ser um jardim murado, ou até mesmo secreto. Eu não podia simplesmente desistir agora que eu estava ali.

Passei por uma última moita e perdi o fôlego.

— Uau...! — olhei ao redor, admirada.

Um campo gigantesco com grama alta se estendia até outro pomar de limões do outro lado. A luz do sol fazia-o parecer ainda mais verde do que qualquer lugar que eu já tivesse visto. A terra virara lama e tudo estava molhado por conta da chuva, mas isso apenas dava um aspecto mais natural a paisagem. Havia também enormes carvalhos de aparência centenária cobertos por musgo que criavam enormes sombras em contraste com a grama quase brilhante.

Em suma, aquele lugar era simplesmente lindo.

Segui até o meio do campo e me sentei. Não ligava para o fato de provavelmente estar sujando a roupa ao me sentar no capim molhado e na lama por baixo dele. Que diferença faria eu sujar minha roupa em um lugar como aquele se toda noite acordava suja de lama por conta de um pesadelo?

Deitei-me e encarei as nuvens. O dia podia estar claro naquele momento, mas raramente ficaria ensolarado, assim como meu humor raramente se tornava bom. Eu sentia dó daquela cidade, enquanto eu estivesse ali e as pessoas não quisessem isso, eu seria o equivalente a uma temporada de furacões. Quanto mais me fizessem triste ou com raiva, pior ficava o clima. Talvez, se eles soubessem, ficariam com medo.

Tanto medo quanto eu.

Olhei para um dos grandes carvalhos, o que estava mais próximo de mim. Eu me lembrava de quando era criança e estava visitando tio Macon junto com Ridley. Eu me lembrava de diversas vezes a encontrar entre os galhos de uma árvore, de diversas vezes encontrá-la fazendo algo que não deveria, como tentando Conjurar algo que sabia que não daria certo ou lendo um Livro Conjurador que era proibido para nós.

Lembrei-me também do modo que ela me provocava quando eu tentava avisá-la das conseqüências me chamando de “Leane-Beanie” e vários outros nomes que eu não gostava na época e reclamava.

Ali, observando a brisa passar por entre as folhas do velho carvalho, eu sentia falta até mesmo daquilo. Estava completamente sozinha.

Olhei para o céu cinzento e ergui minha mão direita, movendo-a lentamente. Uma das nuvens se tornou mais rápida que as outras e se moveu até estar na minha direção.

Diferentemente de acordar suja depois dos pesadelos, eu tinha certeza de que aquilo era meu poder agindo. Eu não sabia ao certo se era eu que tornava alguns detalhes do sonho realidade, mas controlar as nuvens eu tinha certeza. Fazer aquilo era fácil e eu ainda podia lembrar o dia em que descobri ser capaz de fazê-lo. Eu estava na janela da casa de minha avó em Barbados em uma das poucas vezes que viajei para algum lugar sem estar com Ridley. Tinha tido mais um dia difícil na escola. Estava apoiada na janela, chorando, quando olhei para o céu e senti raiva de sempre estar nublado e chuvoso, de sempre me sentir fraca ao chorar... Com raiva de tudo. Lembro-me de sacudir a mão. Uma das nuvens se desfez em pedaços e desapareceu.

Depois disso, se tornou cada vez mais fácil controlar, eu até achava um pouco divertido, mas também tinha medo. Se eu podia controlar cada vez mais, significava que podia controlar cada vez mais meu dom. Ou pior... podia estar ganhando mais poder a cada dia que se passava.

Encarei uma das nuvens, concentrada em sua forma abstrata sobre mim. Movi meus dedos e a nuvem virou uma linha em ziguezague. Um raio. Como todos aqueles das tempestades que eu fazia involuntariamente. Torci um pouco a mão e a nuvem se tornou um círculo. Não, não um círculo e sim uma lua cheia. Mas a lua tinha um significado diferente para mim do que seria para os Mortais. Ela era tudo o que determinaria meu lado, Trevas ou Luz, na Ordem das Coisas. Ela escolheria, junto com minha própria natureza, quem eu seria. Tudo isso na noite do meu aniversário, dali a menos de 170 dias.

A lua que me Invocaria seria a mesma que Invocara minha prima. A mesma lua que me tirou a única amiga que tinha.

Fechei os olhos com força e ignorei minhas lágrimas. Não havia porque chorar por Ridley. Ela era das Trevas agora e, pelo pouco que eu entendia de Conjuradores das Trevas, ela provavelmente nem pensava ou lembrava mais de mim.

Afastei meus pensamentos. Não queria pensar em Ridley, não queria saber sobre minha Invocação e nem sobre os sonhos que estava tendo com um garoto que nem conhecia. Queria apenas ficar ali, deitada, por um longo tempo.


Não percebi o tempo que fiquei ali, deitada, com os olhos fechados até que voltei a olhar para cima e percebi que o sol tingia o céu, antes cinzento, de laranja. Talvez eu tivesse dormido, talvez não. Levantei-me rapidamente e me limpei. O que eu estava pensando? Que poderia simplesmente sair de Ravenwood como se não houvesse qualquer conseqüência?

Corri todo o caminho de volta, torcendo para saber aonde estava indo. Voltei a atravessar o arco de pedra e todas as alamedas. Senti tanto alívio quanto medo ao ver Ravenwood. Podia até ter lembrado o caminho de volta, mas agora provavelmente teria que lidar com algo ainda pior que me perder:

Um irritado Macon Melchizedek Ravenwood.

Apertei o gatilho acima da porta e tentei regularizar a respiração. Esperava encontrar uma mansão sombria e com aparência de raiva como tio Macon ficaria.

Estava enganada.

Ela continuava iluminada como se nada tivesse acontecido. Boo dormia profundamente nos pés da escada e, mesmo tendo sua aparência como a de um grande lobo negro, parecia em paz como tudo ao redor.

Fiquei ali por alguns segundos. Não sabia ao certo o que estava esperando, talvez ser chamada com um grito de algum lugar da casa, ou até mesmo tio Macon surgindo repentinamente na minha frente.

Mas não. Nada aconteceu.

Tentei subir as escadas rápida e silenciosamente. Boo apenas se mexeu, procurando uma posição melhor para dormir. Entrei em meu quarto e paralisei. Em vez de encontrar as paredes brancas de sempre, encontrei uma delas riscada com caneta preta, um poema escrito na parede. Era a minha letra, minha caligrafia, mas eu não tinha feito aquilo. Andei lentamente até lá. Ainda assim, eu sabia da onde surgira. Eu mesma havia escrito aquele poema durante a aula.

Balancei a cabeça. Eu deveria estar acostumada a esquisitices. Tudo só pioraria até meu aniversário, então não deveria ficar assustada com aquilo. Sentei-me na cama e o encarei. Será que conseguiria fazê-lo sumir? Controlar pelo menos aquela parte do dom?

Não tentei, mas pretendia tentar em algum momento. Olhei pela janela. Onde antes havia um pôr-do-sol agora havia apenas resquícios de sua luz.

— Lena? — gritou meu tio e eu pulei de susto. Ele bateu na porta, provavelmente apenas por educação, pois eu sabia que uma porta nunca impediria sua espécie de ir a algum lugar.

Todos os Incubus tinham a visão, a audição e o olfato aguçados. Mas não era apenas isso que os tornavam poderosos. Todos tinham a capacidade do que chamávamos de Viajar. Desmaterializar-se em um lugar e voltar a surgir em outro nem um segundo depois. Eu ficava feliz em saber que tio Macon era um cavalheiro em não surgir do nada dentro do meu quarto.

— Pode entrar, tio M.

Ele abriu a porta, mas permaneceu no corredor.

— Vejo que já está familiarizando-se com seu novo lar. — disse indicando a parede.

Dei de ombros. Estava pensando em depois tentar desfazer aquilo, mas não achava que minha poesia ficaria tão ruim na parede. Resolvi mudar de assunto.

— Onde estava, tio Macon? Não o vi desde manhã. — eu estava curiosa para saber por que ele não percebera minha ausência. Sabia que Incubus não podiam sair à luz do sol, mas eu não o vira em momento algum depois do café-da-manhã. Porém tinha que ser cautelosa. Macon era muito inteligente.

— Dormindo. — respondeu.

Eu não me lembrava se Incubus dormiam, mas não importava. Mesmo que a resposta fosse negativa, ele diria que não era importante eu saber o que ele estava fazendo. Ou seja, nada que eu pudesse saber. Enquanto eu não fosse Invocada, só tinha permissão para aprender o básico de tudo. Por alguns segundos pensei que ele daria alguma explicação melhor em seguida, mas ele apenas mudou de assunto como eu fizera anteriormente:

— Não está treinando? — questionou indicando minha viola de arco.

— Eu treino na escola. — disse eu, torcendo meu colar em meus dedos. Era um costume que eu tinha quando ficava nervosa.

Ele me olhou com uma expressão ilegível e percebi o porquê. Eu estava segurando o corvo dourado de meu colar. Vovó dissera que ele fora de minha mãe, a que morrera junto com meu pai em um incêndio quando eu tinha dois anos. Fitei-o por um tempo, imersa em pensamentos. Todos os pingentes que eu tinha naquele colar me faziam não me esquecer dos bons momentos e pessoas de minha vida, eles me faziam me lembrar deles, exceto aquele. Aquele corvo dourado era o único que não me fazia lembrar nada nem ninguém e sim apenas imaginar uma pessoa que eu não tivera chance de conhecer. Tio Macon já estava se virando para ir embora como se soubesse o que eu faria a seguir.

— Espere, tio M. — supliquei. Ele parou, mas não se virou. Não era preciso pensar muito para saber o que eu diria em seguida. — Por favor, eu só queria saber o motivo pelo qual ninguém nunca fala sobre eles. Ou então queria saber quem eram. Não posso ao menos saber os nomes dos meus pais? Pelo menos isso?

— Já debatemos esse assunto, Lena, e sabe que a resposta é "não". Talvez após sua Invocação. Mas hoje não.

— Por favor.

— Não.

Ele foi embora e permaneci ali, encarando o lugar que ele ficara antes, ainda com aquelas questões em minha mente. Não entendia qual era o problema em eu saber o nome dos meus pais. Eles estavam mortos, o que faria de mal saber sobre eles?

Agiam como sempre agiam quando eu resolvia questionar o que acontecia quando alguém iria para as Trevas. Isso me fazia pensar... E se meus pais também tivessem sido das Trevas? E se todo esse tempo minha família quisesse na verdade evitar que eu fosse? Mesmo que eu não ficasse sabendo quem eles eram, quem garantiria que eu não seria Invocada para o mal?

Talvez eu não pudesse mudar um futuro aonde eu iria para as Trevas.

Talvez ninguém pudesse.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Encontraram algum erro? Podem me dizer pelos comentários! Ficarei muito feliz em receber um Review! Tem vergonha de comentar? Me envia uma MP! Ok, parei de irritar, mas saibam que ficarei feliz em receber ambos.
Esse capítulo, como viram, não teve muitos acontecimentos "importantes", por assim dizer. Mesmo assim, espero que tenham gostado.
Até logo!



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