O sol já havia sumido e a lua enfeitava o céu, a cada metro andado pelo carro da mamãe a sombra das montanhas ia sumindo, os vales, o verde.

Tudo ficava cinza pelos asfaltos e prédios, e a luz dos postes e até mesmo da própria cidade chegavam a me cegar, o ar aqui não era como em Cavencity minha cidade natal, era poluído.

- Como eu amo a civilização! – disse irônica aumentando a música que tocava em meus fones.

- Nanda! – minha mãe me censurou mas eu a ignorei. Depois da morte do meu pai, o que eu mais faço da vida é ignorar.

- Mãe olha aquele shopping! – minha irmã Candice deu um grito fino apontando para um enorme prédio – Em Cavencity não tinha isso! Essa cidade é demais!

Minha mãe sorriu para ela e eu aumentei ainda mais os fones a ponto de não ouvir mais nada, o trajeto até a nova casa levou no mínimo meia hora, devido ao transito.

Minha mãe parou o carro em frente a uma casa simples com um gramado verde escuro cuja casa era grande demais para três pessoas, era azul e branca as cores favoritas de minha mãe.

- Você me ouviu! – minha mãe disse arrancando os fones de meu ouvido.

- O que? – eu disse e ela bufou.

- Isso aqui – ela ergueu os fones – está confiscado, a gente já conversou muito sobre isso.

- Mas mãe... – tentei argumentar, mas o claro “Não” que ela me deu fez com que eu bolasse um plano para pega-los de volta sem ela saber.

Sai do carro batendo o pé e entrei na casa antes de todo mundo, estava toda cheia de caixas e moveis novos que minha mãe havia comprado. Subi para o andar de cima em busca do meu quarto, mas só encontrei dois, um era da minha mãe e não acredito!

- Mãe eu não vou dividir o quarto com essa patricinha de beverly hills!

- Eu que não quero dividir com essa nerd! Imagina quando aqueles livros que ela tem ficarem empoeirados? Meu pobre nariz não vai agüentar!

- Olha aqui sua idiota! Primeiro – eu disse me pondo em frente a ela - Meus livros nunca ficam empoeirados! E segundo o único nariz que vai sofrer aqui é o meu com aquele incenso horrível que você coloca no quarto!

- Já chega vocês duas! – minha mãe berrou nos lançando um olhar fulminante. – Só pensam em brigar, estamos começando uma vida nova! E espero que vocês não incluam essas discussões idiotas nela!

- Mas mãe – Candice fez voz manhosa – aquele quarto será de nós duas?

- Será seu Candice! – minha mãe respondeu impaciente.

- O que? – eu perguntei incrédula.

- Hahaha – Candice riu – com licença eu vou pro MEU QUARTO! – ela me lançou um olhar debochado e subiu as escadas.

- Onde eu vou dormir? No gramado ali da frente? – eu disse irônica me encostando à parede.

- Vem comigo! – minha mãe disse puxando minha mão e me arrastando escada acima, passamos por todos os quartos e chegamos ao fim do corredor.

- Eu vou dormir aqui no chão?

- Muito engraçadinha! – minha mãe disse puxando uma escadas que estava presa ao teto.

- Não brinca mãe! – eu disse arregalando os olhos e esboçando um sorriso.

- Vamos suba! – ela disse e eu não pensei duas vezes e subi. Ele estava cheio das minhas milhares de caixas contendo livros, roupas e objetos “peculiares” como minha irmã diz.

- Sempre soube que você queria um quarto assim.

- Quartos no sótão são os melhores! – eu disse a abraçando – Obrigada.

- Não foi nada! – disse ela retribuindo o abraço.

- Fernanda você é mais velha que sua irmã, mais responsável. – ela disse separando o abraço e me encarando fundo nos olhos. Odeio quando ela faz isso – Quero que você se controle, não fique agindo como criança, você esta no ultimo ano! Já vai pra faculdade.

- Eu ia pra faculdade de Cavencity! – eu disse mal humorada.

- Eu também sinto falta de lá, mas eu fui mandada pra cá tente entender!

- Tudo Bem mãe! Eu cuidarei da Can junto com você! – eu disse a abraçando novamente.

- Que tal um pizza como jantar hoje? – ela me perguntou.

- Parece ser uma ótima idéia – respondi e comecei a desembalar minhas coisas.

Fiquei pelo menos duas horas arrumando minha estante de livros, olho ela com orgulho. Minha cama já estava montada com um colchão só coloquei o lençol.

Minha tão fiel escrivaninha também estava ali coloquei meus livros favoritos sobre ela, eu sem modéstia alguma era uma ótima escritora e também tocava violino. Candice odeia violino, o que nos causou muitas discussões. Às vezes eu me pergunto o porquê de eu ser irmã dela, não temos nada a ver.

Ela era mais nova que eu, no entanto parecia mais velha, tinha cabelos longos perto do bumbum e era uma loira radiante. Seu temperamento era forte e era uma patricinha assumida.

Importa-se demais com aparência, quer sempre ser a mais bonita, a mais bem vestida, ela é descolada conhece a escola toda e sempre tem gente a sua volta. Namora quem quiser, principalmente se esse alguém for o capitão do time de futebol ou basquete.

E eu?

Sou mais velha que ela, só que baixa. Meus cabelos dão abaixo dos ombros e são castanhos. Culpa do meu pai. Prefiro livros a pessoas e coisas intelectuais, praticamente não tenho amigos, na verdade tenho três: Fred, Mônica e Julie que deixei em Cavencity.

Tratando-se de garotos eu sou uma piada, nunca namorei e bom... Nem beijei ninguém, e o mais perto que cheguei do capitão do time foi quando ele me pediu as respostas da prova de matemática.

A única coisa que nos ligava além da família é claro, são nossos olhos azuis que pegamos da mamãe. Nós brigamos sempre, mas quando alguém mexe conosco nos protegemos sempre! Na escola, por exemplo, quando alguém mexia comigo Candice sempre dava um jeitinho na pessoa.

Desci para jantar e passei pelo quarto de minha irmã ela olhava uma foto, que eu deduzi ser de nossa família.

- Can? – eu a chamei.

- Hum? – ela disse se virando rapidamente, ela estava chorando.

- Qual é? Se anima vai! Estamos em Yesterville! Você sempre quis vir pra cá. – eu disse tentando animá-la.

- É que eu queria que ele estivesse aqui. – ela se referia ao nosso pai, eu ignorava sempre falar dele, aquilo doía muito.

- Eu também, mas agora temos que ir comer pizza pra você ganhar peso e eu poder te chamar de gorda! - eu disse rindo e acabei arrancando um sorriso dela.

Quando fiz menção de sair do quarto ela me puxou para um abraço e sussurrou um “Obrigado” em meu ouvido e saiu em minha frente. Quando desci minha mãe e ela estavam sentadas no chão comendo pizza.

- Portuguesa! – eu disse pegando um pedaço – é a minha favorita!

- Você diz isso toda vez! – Candice disse revirando os olhos.

Conversamos sobre a decoração, o trabalho da mamãe e sobre dar um jeito no jardim e então o sono foi chegando.

- Vamos todos dormir porque amanhã será um longo dia. – minha mãe disse pegando a caixa de pizza.

- Escola Nova! – Candice deu um grito animado.

- Eee escola nova! – eu fingi animo.

Afinal nada como ser uma pessoa desconhecida e esquisita no meio de uma multidão de adolescentes loucos e superficiais. Olha, vai ser ótimo!