Love (sem stage) escrita por Nadencia


Capítulo 1
Conhecendo




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A aula tinha sido como sempre, chata e tediosa. Eu havia ficado quieto durante toda sua duração, apenas desenhando e tentando ouvir as explicações dos professores. Chegara em casa cansado, não fisicamente, porque eu mal me levantara, mas psicologicamente, por ter passado horas sem dizer uma só palavra.

Almocei com meus pais e quando eles foram trabalhar decidi ir para biblioteca, estudar desenhar, ouvir musica. Melhor do que ficar trancafiado no meu quarto.

Chegando lá eu me sentei na primeira mesa vaga que encontrei. A caminhada não era longa, cerca de quatro quarteirões. Porém fazia frio e a caminhada fora pior do que de costume, o vento frio pareceu penetrar no meu ser, então nem vi onde me sentei.

Tirei da mochila meu caderno de desenho e meu celular, com fones. Liguei a musica e comecei a desenhar coisas aleatórias. Depois de um pouco decidi desenhar algo que estivesse ali, próximo de mim. Então levantei a cabeça e me dispus a caçar coisas boas para serem desenhadas.

E o vi.

Um garoto, de cabelos pretos sentado com a cabeça entre os braços musculosos, que ficavam estranhamente bem no moletom azul dele. Os olhos fechados e aparência cansada. Perfeito para ser desenhado. Ele nem ia me ver.

Agradeci mais uma vez à mágica de enxergar de longe, conseguida graças aos meus óculos.

Dispus-me a desenha-lo. Meus desenhos não são obras de arte, mas é possível reconhecer o que eu representei. E eu gosto muito de desenhar, assim como gosto do rock que estava ouvindo.

Quando o desenho estava quase pronto, ele abriu os olhos. Com um sobressalto, eu risquei, sem força, ainda bem, o desenho.

–Droga –não consegui deixar de murmurar.

Apaguei o estrago e não voltei a olha-lo. Terminei o desenho com a imagem mental que eu tinha. Não ficou tão ruim.

Comecei a desenhar outras coisas, e perdido nos desenhos não percebi que ele me fitava, até receber uma mensagem de minha mãe, dizendo que ela chegara em casa e que já era hora de eu voltar.

Aí que fui ver, os olhos cinzas tristes dele, cravados em mim. Acho que ele nem estava ali de verdade, estava perdido em milhões de pensamentos. Mas mesmo assim, me senti envergonhado. Teria ele percebido?

Penso nisso antes de dormir, enquanto repasso o dia. Faço isso sempre, e além de relembrar o dia, destaco as coisas que foram boas. Se eu não fizer isso, só enxergo coisas sem utilidade, e acabo pensando na minha própria inutilidade, no quanto eu sou sozinho e na maneira que isso me doí.

Abro os olhos quando o despertador toca e eu não quero me levantar. A cama me envolve, e lá eu sei que sou feliz. O mundo lá fora não é nada convidativo. Mas a voz de meu pai me dá coragem para enfrentar mais esse dia.

Então vou pra escola, infeliz.

Sento-me no meu lugar sem olhar para a cara de qualquer colega. Pego o caderno de desenho e começo esboços sem proporção alguma. Deixo minha mão correr livremente.

–Eu vi você ontem, Izumi. –alguém diz. Levanto a cabeça assustado, alguém me chamando sem ser para colar do meu dever de casa? –Estava desenhando, não é?

–S-sim. –minha voz saí rouca. Limpo a garganta e olho para cima. E lá estão os olhos cinzas. –Na biblioteca. Né?

–É. –ele sorri. –Sou o Ryoma. –estende a mão.

–Prazer, Ryoma. –era pra eu já saber o nome, ou pelo menos o rosto dos meus colegas de classe, estamos em pleno março! Mas eles raramente me dirigem uma palavra sequer, então não consigo gravar muito bem. E são muitas pessoas. Para que ele saiba meu nome, suponho que seja um dos populares que conhece todo mundo.

–Posso ver o desenho? –ele se senta na cadeira que em breve será ocupada por uma menina metida. Faltam alguns bons minutos para que dê o horário das aulas, quase ninguém chegou. –Eu percebi uma hora que você estava me desenhando. –ele estreita os olhos de brincadeira, porque mantém o sorriso. Nem parece que é o mesmo menino de ontem.

–Pode...-eu fico sem jeito sempre que tenho que mostrar algum desenho. –Eu... não desenho muito bem, então...-rio desconfortável. –Não pense que você é feio, só porque no desenho é isso que parece. Ok?

–Sem essa –ele ri de forma contagiosa, acabo rindo e me sentindo menos desconfortável. Mostro o desenho e por um instante ele permanece quieto, apenas olhando cada traço. Então olha para mim, os olhos brilhando. –U-A-U. Você não desenha muito bem, tipo, onde? Isso ... é muuuito doido cara! –elogia animado.

–Ah, que isso. –eu rio envergonhado. Elogios são tão incomuns que eu não sei direito o que responder. Não acho que meus desenhos sejam obras de arte, tenho muito o que desenvolver ainda, então digo de coração. –Tenho que melhorar muito ainda.

Ele gargalha por conta da voz enfática que usei. Minhas bochechas coram.

–Ei, Izumi. –ele diz depois de parar de rir. –Por que não lancha conosco? Eu e meus amigos, e tals. Sei que você lancha aqui sozinho, e isso não parece nada legal.

–E-eu... –fico sem ter o que responder. Sempre quis ter alguém com quem conversar durante os intervalos... e esse é o jeito mais simples de me oferecer isso. –Não irei atrapalhar vocês?

–Que isso, cara! –ele dá um tapa de leve em meu ombro, sorrindo com covinha na bochecha esquerda.


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Notas finais do capítulo

Espero que não tenha ficado tão ruim quanto eu acho que ficou kkkkkkkkkk



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