Crônicas de um Bebê escrita por Kuroashi Boy


Capítulo 7
Dia de Quê




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Uma das consequências de quando você é um ser humano iniciante, é que você não sabe absolutamente nada do mundo. Uma prova disso é que, se bebês soubessem as coisas à partir do nascimento, eu nunca teria deixado o Doflamingo me adotar. Não que eu não goste dele, eu até gosto, é que eu prezo pela minha segurança mesmo.

Enfim, como eu ia dizendo, quando nós, seres humanos iniciantes, aprendemos a arte de pronunciar palavras, uma série de questões nascem em nossa cabeça. Bebês chegam até a ser filósofos, pois nós questionamos tudo que existe no mundo, até as coisas mais óbvias.

E, para respondê-las, nós utilizamos nossos pais, já que ainda não conhecemos o Deus Google. Então quando nossos pais, seres humanos veteranos, não sabem responder às nossas perguntas, é porque é algo simplesmente complexo demais para ser respondido e, muitas vezes, nem resposta tem.

Neste momento eu, Donquixote Law, estou no meu berço, lugar onde meus pais me colocam quando não estão mais com paciência de cuidar de mim. Fico analisando as barras que me prendem e, percebo pelo tipo de material e grossura do móvel, que eu sou uma espécie de animal enjaulado e devo ser tão insuportável que nem mesmo o meu pai bonzinho vem me tirar daqui. Então resolvo fazer o que qualquer bebê faria numa situação dessas e começo a chorar pra ver se chamava a atenção de um deles.

– N-Não chora, Law! – E sempre dava certo, porque o Rosinante vinha me salvar.

– Papá! – Então eu parava de berrar e abria meus braços, junto com um sorriso enorme, aguardando ele me pegar no colo e me tirar da solidão.

– Tá com fome? Quer comer alguma coisa? Vamos, eu vou te dar alguma coisa pra comer!

Eu nem precisava dizer nada, ele mesmo tratava de responder às próprias perguntas. Será que os pais tem um sexto sentido e por isso acham que conseguem ler a nossa mente? Bom, o importante é que ele me levou até a cozinha e sentou comigo na mesa, me dando aquela gosma que ele chama de papinha. O meu outro pai também estava lá, provavelmente fazendo o almoço.

– Papá! – Segurei um troço meio esférico, meio retangular, observando atentamente aquela coisa. – O que é isso?

– Um copo, é onde você bebe.

– Um copo...

Peguei aquele objeto super interessante, observando cada detalhe reluzente, desde a parte de fora até a de dentro. Dei algumas lambidas também e tentei colocar tudo na boca pra sentir o mágico gosto do vidro, mas não cabia então eu fiquei super irritado e simplesmente taquei aquela porra com todas as forças no chão, quebrando-o em pedacinhos.

– Porra, ele quebrou meu copo! – Doflamingo ficou com raiva, então eu pensei: fiz merda.

– V-Você se machucou, Law? – Mas o Rosinante era mais gentil, ele se preocupava com a minha segurança mais do que com o preço do objeto.

Em resposta, eu apenas coloquei a minha mão na boca, sem nenhum motivo aparente, eu simplesmente gostava de fazer isso, me levantei e fui embora, fugindo da futura bronca que eu poderia levar e me dirigi até a sala de estar, sentando no sofá e pegando o controle remoto da televisão, observando todas as teclas e a textura dos botões, além do gosto também, já que eu enfiei aquele treco na boca.

– L-Law, controles remotos não são comestíveis... – Rosinante havia me seguido e tirou aquele troço de mim, antes que eu engolisse e morresse.

– Por quê?

– Porque eles não tem um gosto bom.

– Por quê?

– Porque não foram feitos para serem ingeridos...

– Por quê?

– P-Porque eles servem pra gente ver televisão...

– Por quê?

– Porquê... ah, fiquei sem resposta.

Como eu disse anteriormente, já que o meu pai disse que não tem resposta, é porque não tem mesmo. Adultos tem a obrigação de saberem de tudo para nos transmitir conhecimento e sanar nossas dúvidas, então, quando algo não tinha resposta, deixamos a questão de lado.

Então eu deixei o objeto com gosto ruim de lado e prossegui com a minha aventura pela casa, voltando até a cozinha afim de irritar o meu pai malvado, porque irritar os pais é o dever de toda criança que se preze. Enfim, fui até ele, puxando suas calças para obter sua atenção, mas fui subitamente ignorado, então puxei com mais força de vontade até ele se cansar e dirigir seus olhos até a minha pessoa.

– Que que tu quer?

– O que o papai tá fazendo?

– Cozinhando.

– O quê?

– Hambúrguer.

– Por quê?

– Pra vocês comerem. Quer que eu te ensine a fazer?

– Quero!

Pela primeira vez eu pensei que o papai malvado estaria interessado na minha presença insignificante, então eu fiquei feliz. Ele me pegou nos braços, me dirigindo até lá no alto, em frente à frigideira lotada de óleo e duas carnes estiradas nela. Eu fiquei observando a fritura, que pulava pra todos os cantos e parecia bem quente. Só que ele me colocou tão perto do eletrodoméstico demoníaco que o óleo acabou espirrando na minha cara.

– Aai, isso dói!

– Fufufu, é pra você aprender que só adultos podem cozinhar. – Aí eu percebi que havia caído nos cruéis planos demoníacos dele e Doflamingo me pois no chão. – Agora vaza daqui!

Naquela hora eu me dei conta de que o meu pior inimigo era meu próprio pai, então eu fiz o que qualquer criança faria numa situação dessas e saí correndo pela casa, em busca da única pessoa naquele ambiente que se importava comigo de verdade.

– Paaaaiee! – Fui correndo atrás do Rosinante com olhos cheios d'água para amolecer o coração dele e deu certo, já que ele me pegou no colo.

– L-Law, o que houve?!

– O papai jogou óleo na minha cara!

– O QUÊ? – Agora que eu incriminei o Doflamingo, Rosinante foi até ele com raiva. – Doffy, o que você fez?!

– Depende, o que ele disse?

– Ele disse que você jogou óleo na cara dele!

– Que exagero! Ele se aproximou muito do fogão e acabou espirrando um pouco nele, eu não tenho culpa.

– E por que você deixou o Law ficar perto do fogão quente?!

– Tsc, ele veio sozinho. Esse bebê é muito indisciplinado, nós precisamos aumentar a educação dele.

Resultado, a situação toda se virou contra mim. O Doflamingo me colocou no meu quarto, enjaulado na porra do berço pra eu ficar bem longe do monstro fogão, deixando-me emburrado e com os cenhos franzidos. Meu papai bonzinho sentiu pena da minha situação deplorável e veio até mim, sentando-se ao meu lado.

– Não fica assim, Law, logo ele deixa você sair daí.

– Ele é muito chato! Por que o papai me odeia?

– Não fala isso, o Doffy te ama! Ele só demonstra o amor dele de forma diferente.

– Mas por que ele é mau comigo?

– É o jeito dele de agir, ele não faz de propósito.

– Ele é mau com você também?

– Às vezes, quando eu faço alguma coisa que irrite ele.

Foi aí que eu percebi que existem muitas formas de demonstrar amor. Alguns eram mais doces e sensíveis como o Rosinante, outros eram cruéis e impiedosos como o Doflamingo, então eu me dei conta de como esse sentimento poderia destruir e, ao mesmo tempo, ser uma zona de conforto para o ser humano.

– Pai, o que é o amor?

– Ahn... ah, o amor é um sentimento lindo de quando você deseja ter alguém bem perto de você!

– Então o papai não me ama, ele me expulsou de perto dele!

– Não é isso, é que cozinha não é lugar de criança, então ele achou mais seguro te colocar aqui.

– Eu também não quero ficar perto dele... é perigoso...

– Não fala isso, vocês dois precisam ficar mais juntos! Vem, vamos ir até o papai Doffy.

– Tá!

O papai finalmente me tirou da jaula aterrorizante e nós fomos até a cozinha, onde o meu outro pai já havia terminado os preparativos do almoço e servido a mesa. Nos sentamos juntos, como uma família completamente normal e civilizada, e eu até pude comer o mesmo que eles.

– Doffy, o Law disse que quer passar mais tempo com você!

– Sério? Eu achei que ele me odiasse.

– Não fala isso, é claro que ele te ama! Não é, Law?

Eu respondi que "sim" com a cabeça, já que eu não gostava muito de falar com o Doflamingo porque ele me intimidava.

– Hm... então tá, o que você quer fazer? Quer passear?

– Passear? – Perguntei. – Pra onde?

– Não sei. Querem ir ao zoológico?

– O que é isso?

– É uma ótima ideia! – Rosinante exclama. – Eu adoro zoológicos, tem muitos animais bonitinhos!

– Zoológico é onde os animais bonitinhos ficam presos em jaulas pra diversão dos humanos. – Doflamingo explica.

– Hm... então vamos!

Nós tomamos um banho e trocamos de roupa, entrando no carro a caminho do tal zoológico. Na janela, eu ficava observando as nuvens andando pelos céus e o nosso carro indo numa velocidade muito superior a qualquer outra coisa. Aliás, uma questão filosófica: é o carro que anda ou é nós ficamos parados e a natureza se move, fazendo parecer que somos nós?

Mas deixando essa pergunta de lado, apesar de eu ter quase certeza que são as nuvens que se movem e não o carro em si, nós finalmente chegamos a nosso destino e lá eu pude ver uma espécie de jardim cheio de jaulas enormes com animais dentro, além de várias crianças da minha idade e bebês em carrinhos.

– O que é aquilo? – Apontei pra uma das grandes jaulas, onde tinham muitas árvores.

– Ali é onde ficam os macacos! – Rosinante exclamou. – Você já viu na TV, lembra?

– Verdade... e o que é aquilo? – Dessa vez, era uma outra jaula muito maior, cheia de pássaros.

– Oh, lá é onde ficam as araras. – Doflamingo disse. – E elas conseguem imitar a voz dos humanos.

– Sério? Os animais falam?!

– Elas não falam, só imitam a voz, mas não sabem o que significa.

– Vamos até os animais grandes! – Meu papai gentil sugeriu, então ele segurou minha mão e começou a correr, me arrastando por aí até chegarmos a um pequeno lago. Não sei como, mas ele não caiu durante o percurso.

– Olha lá! – Exclamei, apontando pra um bando de animal que eu não sabia se era um pássaro ou um peixe muito estranho, só sei dizer que era rosa.

– Olha só, um montão de flamingos!

– Que nem o papai malvado?

– Sim, que nem o papai malvado!

– Ei, ei, ei. – Doflamingo não pareceu gostar da comparação, mas logo dirigiu sua visão pra outro local. – Fufufu, ali tem um monte de Rosinante também.

– Uoou, aqueles são muito bonitos! – Bebês se encantam muito facilmente com as coisas. Meus olhos brilharam quando o papai malvado apontou pra um monte de cavalos que corriam pelo pasto.

– Awn, eu amo cavalos! – Rosinante parecia um bebê, porque os olhos dele brilharam também. – É o meu animal preferido!

Acho que aquela tinha sido a primeira vez que fazíamos algo verdadeiramente em família, sem nos estressarmos ou sem que alguma coisa desse errado. Quer dizer, o Doflamingo quase me "esqueceu" dentro da jaula do leopardo e o Rosinante cismou em querer subir no pescoço da girafa, mas foi brutalmente negado.

Fim.

Dia de Escola.


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Notas finais do capítulo

Pergunta filosófica: vocês acham que o carro fica parado e a estrada, nuvens, etc se movem sozinhas, possibilitando que nós andemos, ou é o carro que anda sozinho?



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