– Então... você surtou mesmo? – Banner perguntou.

– Calma é que eu não fiquei. – Lena retrucou divertida.

– E ele não atirou em você? – Banner riu.

– Se ele atirasse, não faria tanto estrago. Por isso ele não atira. Sabe que não é tão fácil me matar. – Lena respondeu brincando com um frasco de ensaio vazio.

– Como assim? Você pode ser inteligente, e esperta, e ter um nível de percepção elevado, mas não é imortal. – ele falou.

– Nunca disse que sou imortal. Só que não é fácil me matar. – Lena respondeu.

– Como você sabe? Já tentaram? – Banner riu.

– Já. E conseguiram. – Lena respondeu baixo.

– Como assim? Você é uma espécie de fantasma? – Banner brincou.

– Cuidado. Se me irritar puxo seu pé enquanto dorme. – ela brincou parecendo séria o fazendo rir. – Não. Eu consegui sobreviver. Sou como você. Uma sobrevivente, não um fantasma.

– É, mas nunca me falaram de você, e o mundo não te conhece. – ele falou.

– E nem a você. Só as pessoas que precisam te conhecer te conhecem de verdade. Assim, só as pessoas que precisam, me conhecem. Mas não num casulo no fim do mundo. Me escondo abertamente. – Lena cruzou os braços orgulhosa.

– Isso foi uma indireta? – ele perguntou a olhando.

– Talvez. – Lena deu de ombros sorrindo. Banner deu ar de riso.

– Coitada. – ele falou voltando a mexer no algoritmo.

– Que ousadia é essa, Banner? – ela retrucou.

– A mesma que você usa pra fazer piada do Hulk. – ele rebateu.

– Fascinante. Mas, então, como é ter um monstro verde e furioso preso em você e falando na sua cabeça o tempo todo, procurando qualquer oportunidade que encontrar pra sair? – Lena perguntou em tom provocativo.

– Exatamente como você deve imaginar. – ele respondeu sem olhá-la.

– Que seria? – ela se apoiou na mesa ao lado dele.

– Horrível. – ele respondeu sem olhá-la.

– Fascinante. – ela comentou. Fez-se um breve silêncio desconfortável. Ambos se sentiam extremamente desconfortáveis, mas nenhum tinha coragem ou assunto. Até que Banner quebrou o silêncio.

– Você... tem... – ele gaguejou. Lena o olhou. – Um...

– “Um...”? – ela perguntou. – Vamos doutor. Fale comigo.

– Hã... namorado? – ele completou. Lena tentou compreender a pergunta.

– Ah! Sim. Se eu tenho um namorado? Tenho. – ela respondeu. Depois franziu o cenho. – Eu acabei de falar dele.

– Ah! Verdade. – ele riu sem jeito.

– Tudo isso é a simples necessidade de ter um assunto pra conversar? – ela riu. Ele corou um pouco. – Mas e você?

– Hã? Eu o quê?

– Você tem namorada? – ela perguntou.

– Hã... não. – ele falou baixo.

– Por quê? Você é um cara esperto, inteligente... e até bonito. Tem seu charme. – ela falou.

– Você acha é? – ele a olhou. Depois suspirou olhando pro que fazia. – Lena, se você entende de radiação gama e no que é usada, sabe que eu não posso... me relacionar com outras pessoas. – ele falou tristemente.

– Nem todo mundo sabe disso. – ela retrucou se dirigindo a outra mesa.

– Sugere que eu mate alguém envenenado? – ele perguntou.

– Não foi o que eu disse. –ela respondeu.

– Então o que quis dizer?

– Exatamente o que eu disse. – Lena respondeu calmamente mexendo no computador.

– É. Você entende o que se passa na cabeça das pessoas. – ele riu.

– Não exatamente.

– Não exatamente. Me diga uma coisa em você que não seja complicada de se entender. – ele pediu.

– Meu nome. Eu acho. – ela falou depois de muito pensar. – Não. Até isso é complicado.

– Como assim? Não sabe seu nome?

– Não exatamente. Inicialmente, em minha certidão de nascimento, está registrado “Helena Sousa Carter”, mas em minha lápide e registros da SHIELD, está como “Helena Rogers Carter”. – ela contou.

– Rogers? Tipo... como do Steve Rogers? –ele perguntou surpreso.

– “Tipo” não. Exatamente. – ela respondeu.

– Você é parente dele?

– Sou. – Lena respondeu.

– Então... você também tem radiação no DNA. – ele falou.

– Sim. Mas não a mesma que a do seu. A minha não é nociva. É radiação Vita concentrada. – ela respondeu.

– Vita. – ele respondeu.

– Você usou a radiação errada, doutor. Faltava só um pouco pro senhor acertar o soro, doutor. – Lena contou.

– Obrigado por me mostrar a fonte da minha frustração. – ele ironizou mudando de mesa pra pegar um instrumento qualquer.

– De nada, doutor. Estarei a disposição, sempre que aparecer uma oportunidade. – ela brincou. Ele riu baixo.

– Que horas são? – ele perguntou. Lena olhou no relógio.

– Se estivermos sobre os EUA, pro Atlântico, seria... 18:12, se estivermos pro Pacífico... 19:12. – ela respondeu.

– Passamos o dia todo aqui? – ele perguntou surpreso.

– Nada melhor que fazer algo que gosta sem ver o tempo passar, sem se preocupar com nada. –Lena comentou. – Bom, quero deixar bem claro, que esse dia não foi assim pra mim. Tive preocupações de mais por hoje. E algo me diz que as coisas só vão piorar. Talvez eu consiga ter um troço, e com sorte, isso faça com que me dispensem da tarefa e me mandem de volta pra casa. – ela comentou.

– Se quer tanto ir pra casa, por que não foi? Ao que parece, Fury gosta de você, você tem amigos, e seu namorado é piloto. Pode ir quando sentir vontade. – ele questionou.

– É complicado. – ela falou desviando o olhar.

– Claro que é complicado. Estamos falando de Helena Carter. – ele brincou a olhando. Lena deu um pequeno sorriso. Ele se deslocou para uma mesa voltada para uma das janelas, mexendo com um aparelhinho detector de radiação. Banner viu soldados passando na frente da sala. Escoltavam um homem que olhou pra sala. Lena se colocou ao lado de Banner, e o homem sorriu para os dois. Banner tirou os óculos coçando os olhos, e Lena estremeceu por dentro. A escolta passou.

– Ah! Não...- Lena gemeu se afastando.

– Conhece esse cara? Sabe quem é? – Banner perguntou.

– Sei. Encrenca. – ela respondeu.

“- Romanoff para Carter, responda”. – Lena ouviu a voz de Natasha pelo comunicador.

– Agente Carter. – Lena respondeu pelo comunicador.

“ – Você viu a escolta?” – Natasha perguntou.

– Vi. Ele é exatamente como no sonho. – Lena comentou.

“- Sonho?”- Natasha estranhou.

– Depois eu conto. O que foi? – Lena questionou.

“- Fury quer que você traga o Banner pra ponte.” – Natasha respondeu.

– Tá. Estamos indo. Ah! Como ele está? – Lena perguntou se referindo a Charle.

“- Vivo. Mas encontramos outro cara. Você vai gostar de ver isso.” – Natasha falou empolgada. “- E só pra avisar, pode relaxar agora. A ajuda maior já chegou.”

– Quero só ver. Já estamos indo. – Lena falou.

“- Seja breve.” – Natasha falou e desligou.

– E aí? Vamos? Fury quer nos mostrar uma coisa lá na ponte. – Lena falou para Bruce.

– Sei. É o pequeno detalhe que passou pela janela? – Bruce ironizou.

– Relaxa. Pode ser divertido, Verdão. Vamos. – Lena deu um leve tapinha em seu ombros.

– Verdão? Essa é nova. – ele comentou largando as coisas e a seguindo pra fora do laboratório. Lena riu bem humorada.

– Não tem muitos amigos, né? – Lena comentou.

– Não existem muitas pessoas que gostariam de ser amigos de alguém como eu. –Banner falou.

– Pessoas tolas. Você é legal. – Lena concluiu. Banner riu enquanto se direcionavam à ponte de comando.

Ao chegarem, viram eles reunidos em volta de uma mesa. Banner se afastou pra um canto, e Lena foi até Steve.

– Vocês estão bem? – Lena perguntou tocando os ombros de Steve. Ele a olhou e concordou. Lena viu Natasha sentada e foi até ela. – Onde está Charle?

– Está bem. Foi pro quarto dele. – Natasha respondeu.

– Você está bem? – Lena perguntou.

– Estou é que... não encontramos ele. – Natasha respondeu desviando o olhar.

– Vamos encontra-lo, Natasha. – Lena jurou.

– Eu sei. – Natasha falou firmemente e um vídeo apareceu na mesa. Viram Fury e Loki numa câmara. Loki estava preso em uma jaula de aço e vidro temperado com grossura de 4 cm.

“ – Caso não esteja claro, - Fury falou se aproximando e mexendo num computador.- Se tentar fugir, até se arranhar o vidro, - abriu uma escotilha bem abaixo da jaula.- É uma queda de 10.000 metros numa armadilha de aço! – ele falou. Loki olhava pelo vidro. – Entendeu como funciona? – ele fechou a escotilha. – Verme, - ele apontou para a jaula. – bota. – ele indicou o computador.

– É uma jaula impressionante. – Loki comentou se afastando do vidro. Lena sentiu calafrios ao ouvir a voz dele. A mesma voz que lhe pareceu no sonho. – Creio eu que não tenha sido feita para mim. – ele pareceu bem humorado.

– Foi para uma coisa bem mais forte que você. – Fury respondeu.

– Ouvi falar. Uma fera irracional. – Loki falou para a câmera. Natasha olhou preocupada para Banner que parecia se divertir. Lena deu ar de riso olhando o vídeo. – À que ponto chega seu desespero? Que precisa chamar criaturas perdidas para defende-lo? – Loki zombou.

– A que ponto chega meu desespero? –Fury ironizou indignado. – Você ameaça meu mundo, você rouba uma força que não tem como controlar, você fala de paz e mata porque acha graça. Você me deixou MUITO desesperado. Talvez, você se arrependa disso. – Nick propôs. Loki fez uma careta de dor.

– Uh! Mas como dói em você ter chegado tão perto. Ter o Tersseract. Ter poder. Ilimitado poder. E pra quê? – ele sorriu. – Uma luz para toda a humanidade compartilhar. E depois ser lembrado do que é o verdadeiro poder.

Fury permaneceu sério, e fungou.

– Me avise se o verdadeiro poder fizer uma revista ou algo assim. – Fury falou se afastando.”

O vídeo acabou.

– Ele é cativante, né? – Bruce comentou divertido.

– O Loki vai prolongar isso. Então, Thor, o que ele planeja? – Steve perguntou olhando para um homem que estava a frente da mesa. Ele era alto, tinha cabelos loiros e vestia um traje medieval de batalha com um peitoral prateado. Era loiro com um corte que descia até os ombros. Era muito bonito, e tinha ar nobre.

– Thor? – Lena perguntou para Natasha que confirmou num simples aceno.

– Ele tem um exército. Os chitauris. Não são de Asgard nem de nenhum reino conhecido. Quer lidera-los contra o seu povo. – ele falou se virando para todos. – Eles lhe darão a Terra. Creio que em troca do Tersseract.

– Um exército? – Steve repetiu. – Do espaço?

– Ele só entendeu essa parte? – Lena sussurrou para Natasha que apenas suspirou.

– Ele está construindo outro portal. Por isso precisa de Erik Selvig. - Banner revezou o olhar entre Steve e Lena.

– Selvig? – Thor repetiu.

– Ele é um astrofísico. – Banner respondeu.

– É um amigo. – Thor retrucou.

– Loki o enfeitiçou de alguma maneira. E também um dos nossos. – Natasha falou lançando um rápido olhar para Lena que parecia compartilhar dessa tristeza. E ela compartilhava.

– Por que ele se deixou ser capturado? – Steve perguntou. – Não vai liderar as tropas daqui. – ele debochou.

– Sério? É só essa a parte que ele entendeu? – Lena sussurrou indignada.

– É a parte que interessa a ele. – Natasha deu de ombros.

– Não devemos nos concentrar no Loki. – Bruce falou passando perto de Lena. – O cérebro dele é como um saco de gatos. Aquele cara é maluco. – ele falou com o apoio de Lena.

– Cuidado com o que fala. Loki pode estar além da compreensão mas é de Asgard. E ele é meu irmão. – Thor defendeu.

– Ele matou oitenta pessoas em dois dias. – Natasha rebateu.

– Ele é adotado. – Thor respondeu rapidamente, e Lena segurou o riso.

– Eu acho que tem a ver com mecânica. – Bruce olhou para Lena que parecia interessada. – Irídio. Por que ele precisa de irídio? – Banner perguntou. Lena ia comentar mas uma voz a interrompeu antes que pudesse falar.

– É um agente estabilizador. – uma voz masculina falou. Uma voz que Lena achou que nunca teria a oportunidade de ouvir pessoalmente. Eles olharam na direção da voz e viram Coulson se aproximando com um homem. – Eu só tô te sugerindo, escolhe um dia. Eu te levo a Portland. Mantenha a chama acesa. – ele falou para Phil que concordou se afastando.

– Tony Stark? – Lena perguntou boquiaberta, e Natasha concordou com um lento aceno.

– Assim, o portal não vai se desfazer como fez na SHIELD. – ele se aproximou enfiando as mãos nos bolsos. Vestia um terno escuro, e uma gravata que Lena julgou ser medonha. Mas ele é rico. Então tanto faz. – Não fica chateado comigo não. Até que você bate bem. – ele deu um tapinha no braço de Thor que franziu o cenho o olhando.

– Eu perdi alguma coisa. – Lena concluiu baixo para Natasha que concordou.

– Continuando, o portal pode abrir bem e ficar aberto o tempo que Loki quiser. – ele falou se direcionando aos controles da ponte, passando por Hill que desviou o olhar irritada. – Ham... ergam o mastro! Icem as velas. – ele falou para os agentes que o olharam sem entender. Lena franziu o cenho estranhando. – Ele tá jogando Gálaga! – ele apontou para Ben, que estava em sua mesa no canto da ponte. Todos olharam, menos Hill que revirou os olhos. – Achou que não notaríamos, mas notamos. – ele concluiu. Ele cobriu o olho esquerdo com a mão, como se comparasse algo. Então abaixou. – Como o Fury vê isso? – ele perguntou para Hill.

– Ele se vira. – Hill respondeu.

– Que cancera. – Stark comentou. – O resto dos materiais brutos, o agente Barton pode conseguir facilmente. – ele falou mexendo nos computadores. – O único componente principal que ele ainda precisa é uma energia de alta densidade. Alguma coisa pra... dar partida no motor. – ele comentou virando-se pros outros.

– Quando foi que virou perito em astrofísica termonuclear? – Hill perguntou desconfiada.

– Ontem. – ele respondeu. – O pacote, as anotações do Selvig. A teoria de extração. Mas só eu li aquilo? – ele pareceu indignado, Lena ia levantar a mão, mas Natasha abaixou no mesmo instante segurando seu pulso.

– Loki precisa de alguma energia específica? – Steve perguntou.

– Ele tá começando a me irritar. – Lena comentou.

– E você também. – Natasha retrucou entre dentes. Lena se encolheu ficando quieta.

– Ele teria que aquecer o cubo a 120.0000000 Kelvin só pra atravessar a barreira de Colombo. – Banner falou pensativo olhando para Lena que concordava entendendo.

– A não ser, que o Selvig tenha descoberto como estabilizar o túnel quântico. – Tony retrucou.

– Assim ele obteria a fuzão de íons pesados...

– Em qualquer reator do planeta. – Lena completou junto com Banner enquanto Tony se aproximava.

– Finalmente! Alguém fala a minha língua. – Stark declarou.

– Foi isso o que aconteceu? – Steve parecia perdido na conversa. Lena o olhou seriamente negando com a cabeça, e ele se calou.

– É um prazer, doutor Banner. – Stark falou enquanto apertavam as mãos. – O seu trabalho sobre colisão anti-elétrons é sem igual. Sou um grande fã seu. Adoro quando perde o controle e vira um monstro verde furioso. – ele comentou.

– Obrigado. – Banner falou um pouco sem jeito olhando para Lena que deu um sorriso divertido.

– O doutor Banner só está aqui para ajudar a rastrear o cubo. – Fury entrou na ponte. – Esperava que se juntasse a ele, assim podemos dispensar a srta Carter.

– Agora é que eu não vou embora! – Lena retrucou em bom tom.

– Eu começaria pela lança. – Steve aconselhou. – Pode ser mágica, mas o funcionamento lembra em muito as armas da HIDRA.

– Isso eu não sei. – Fury retrucou. – Mas ela recebe energia do Cubo. E eu quero saber como o Loki conseguiu transformar dois dos homens mais inteligentes que eu já conheci em “macacos voadores.”

– Macacos? – Thor repetiu. – Essa eu não entendi.

– Eu sim! – Steve levantou a mão rapidamente. Todos o olharam. – Eu... entendi a referência. – ele falou como quem perde uma piada. Lena cobriu o rosto com as mãos apoiando os cotovelos na mesa.

– Querem começar o show? – Tony perguntou para Lena e Banner.

– Por aqui, senhor. – Banner indicou o caminho para o laboratório. Eles se afastaram rumando pro laboratório. Lena olhou para Fury como uma criança pidona e manhosa. Fury suspirou divertido. Indicou o corredor com um aceno, pra que ela fosse com os dois. Lena sorriu e no mesmo instante se levantou os seguindo feliz da vida.

E Ben voltou a jogar Gálaga.