Desci do ônibus apressada. Aquele dia havia começado errado...

Peguei meu malão com uma mão, Wending, minha coruja, com outra, e espremi a carta com outra.

Logo que adentrei King's Cross, achei um carrinho e depositei minhas coisas lá.

Fui caminhando, pensando em como continuar a carta, pois não era apenas uma carta, era a carta!

Acontece que eu estava escrevendo para ela, para minha musa, minha inspiração!

Seu nome era Katie Bulvorgard, ela estudava o sexto ano de Hogwarts como eu, na Corvinal, junto comigo.

A conhecia desde os 11 anos, mas, recentemente comecei a me apaixonar por ela. Não tinha como me declarar, e se ela não fosse lésbica, como eu? E se ela não correspondesse?

Passei a barreira entre as plataformas 9 e 10, e embarquei no trem.

A viajem foi igual: sentava na cabine, conversava com meus amigos- Maudree Potter, Layos Ningt, Karl Veid e Laiana Duddle-, logo o assunto morria e eu ia escrever ou ler alguma coisa. Mas teve uma coisa diferente: a Katie viera conversar comigo!

–Oi, Winnes!- ela cumprimentou.

–Pode me chamar de Lya!- respondi.

–Ok, Lya, eu sou a Katie, não sei se sabe...- claro que eu sabia.

A Katie e eu éramos muito diferentes fisicamente: eu era alta e um pouco gorda, ela tinha estatura mediana e era leve como um folha de papel; eu nasci trouxa, ela vem de uma linhagem inteiramente bruxa; eu usava óculos por baixo de meus cabelos loiros, e pela frente de meus olhos azuis, ela soltava o cabelo preto uns 20 centímetros abaixo dos meus, e seus olhos marrons-claro davam uma sensação de segurança...

–Posso sentar?- ela perguntou.

–Claro!

–Para quem está escrevendo?

–Ninguém!- disse escondendo a carta.

–Ah, deixa eu ver!- disse sentando-se ao meu lado e buscando a carta.

–Não!- arqueei para o lado, ela arqueou junto para pegar.

Subi no banco e ergui a carta com a mão. Ela pulou tentando pegar.

–Me dá!

Nessa hora, o trem brecou e ambas caímos no chão, tal como a carta.

Katie foi agil de pegá-la rapido, e leu. Fechei os olhos. Imaginei os seus correndo pelas letras e surpreendendo-se. Acabei por abrir os olhos. Vi que não estava enganada em minha imaginação.

Ela lia cada palavra com surpresa:

Querida Katie,

Não sei se você sabe quem eu sou. Meu nome é Lya Winnes, Corvinal. Sei que não sou boa para compor, mas:

Passo a tarde debruçada

Sobre os livros, estudando

Mas é olhar seu sorriso

Que o mundo desaparece

Seu olhar é confortante

Seu cabelo sedutor

Meu coração derretido

Com se andar suave

Não importa o que passe

Faça chuva

Faça sol

Mas tudo o que importa

É te ter em meus braços

Te acolher ao meu peito

Tocar sua boca

Em um beijo perfeito!

Eu te amo, Katie, como diz no poema, seja minha, por favor!

Você é minha musa, minha inspiração!

Ela terminou de ler com lágrimas nos olhos, depositou a carta no banco e saiu sem me olhar.

Ela tinha odiado, eu sabia!

Sentei no chão, com as costas no banco, o joelho encolhido; amacei a carta, e posicionei-a dentro da minha mão, sobre o coração, e chorei.

Derramava lágrimas e mais lágrimas a esmo, agora viver não tinha mais sentido.

Moudree chegou, seguido por Layos, Karl e Laiana.

–Que foi?- perguntou ele, sabia que estava preocupado, éramos quase irmãos, embora ele fosse da Grifinória.

–KB!- às vezes, quando queríamos privacidade, tratávamos quem gostamos pelas iniciais.

–O que ela fez?- perguntou Layos com cara de "vou matá-la".

Eu ri.

–Não gostou! Da carta, não gostou! Saiu chorando!

Eu era a unica dos 5 sem namorado(a): o Karl e Laiana estavam juntos, o Layos estava com uma menina da Sonserina, chamada Manoelle Noil, e o Moudree estava com a Sandry Spolkies, Lufa-lufa.

A Laiana riu.

–Você acha isso engraçado?- acusei.

–Claro! Você não sabe nada de amor! Ela gostou, não, ela AMOU! Ela se emocionou com a carta, nenhuma menina chora quando não gosta de uma carta, elas ficam sem graça e saem discretamente! Ela só não queria que você a visse chorando!

–Como você tem tanta certeza?- disse limpando os olhos.

–Porque me aconteceu! Quando o idiota do Halliens escreveu para mim, fiquei se graça, mas quando o Karl me escreveu, agi como a Katie...

–O que você sugere que eu faça?

–Não sei como conquistar uma garota, mas se elas forem como os homens, acho que posso ajudar...

Passamos o resto da viajem bolando um plano.

Os meninos sabiam como conquistar e a Laiana falava sobre como seria conquistada. O plano ficou bom, e eu começaria ao chegar em Hogwarts.

–X-

Como planejado, eu esperei para entrar depois da minha turma.

Entrei no salão, e constatei que tinha dado certo: meu lugar seria ao lado da Katie.

Ela conversava com as amigas, como se eu não existisse.

Lá pelas tantas, ela fez um gesto no qual sua mão raspou na minha. Foi um gesto sutil, mas percebi ser proposital, pois ela demorou mais de 2 segundos para tirar.

Percebi que ela deixou um papelzinho. Vi meu nome escrito, e abri.

Querida Lya, sei que você sabe quem eu sou, pois se declarou por escrito. Quero dizer que adorei, mas peço que você fique no salão até depois, pois quero conversar com você.

Beijos

Katie

Acabei de ler sabendo o que me esperava: ela ia dizer que não queria nada comigo.

Mostrei para a galera o bilhete e a Laiana fez que sim coma cabeça, e eu fiquei olhando com cara de ponto de interrogação. Ela começou a escrever num guardanapo, mas foi detida quando os alunos novos entraram, houve a seleção, os avisos do diretor, o banquete e, finalmente, o fim do banquete.

Quando todos se retiraram, eu e a Katie ficamos no salão.

–Então?- perguntei.

Ela não respondeu, apenas encostou seu corpo no meu, e me beijou. Senti sua respiração. Fechei os olhos e cedi. Ela acabou soltando e disse:

–Acho que isso responde a sua pergunta: sim!

Nos beijamos de novo, e de novo. Muitas vezes, até que as badaladas da torre marcaram meia-noite. Então nos abraçamos e fomos para a Sala Comunal, completamente vazia.

–X-

O ano passou muito rapido. nem percebi quando o verão deu espaço ao outono, que cedeu para o inverno, até que finalmente a primavera chegasse com novas flores.

Era um lindo dia de Maio. Eu estava sentada ao pé de uma árvore, lendo um livro, minha namorada deitava sobre minhas pernas, brincando com um fiozinho solto da minha calça; Laiana estava subindo a árvore com a ajuda de Karl; Moudree arrancava fios de grama, Layos chorava o término com a namorada em seu colo.

–Não aguento mais!- disse Katie do nada.

Fechei o livro.

–O que Kaká?- perguntei.

–Tudo! Isso está muito tedioso! Odeio tempo livre!

–Discordo!- comentou Maudree.- É a melhor coisa que já aconteceu!

A Katie se levantou e foi falar, não, discutir, pouco, brigar com ele. De novo!

–Chega!- gritei.- Não aguento mais vocês discutindo!

E com isso saí.

–Li, espera!- a Katie gritou de volta.

–O que você quer?- gritei.- Já não causou o suficiente?

–Então é isso que você pensa de mim? Que eu só sei causar?- ela rebateu lamentando a voz.

Sabia que tinha dado errado.

–É! É o que eu penso!

–Então chega! Estou farta! Nosso relacionamento termina aqui, Winnes! Agora!

–Vá ser feliz então! Você não é nada para mim!

Mentira! Ela era minha vida!

–X-

Fiquei chorando por umas duas horas, até que o Maudree apareceu, sabe-se lá como, na Sala Comunal.

–Não fica assim! Vai passar! Você vai esquecer ela assim...- ele estalou o dedo para mostrar.

Eu ri. Sabia que não era assim.

Ele passou o dedo por meu rosto, secando minhas lágrimas. Foi se aproximando até que estávamos quase colados e nossos lábios se tocaram.

O mundo sumiu...