Relicário de uma vida [Hiatus] escrita por Farfalla


Capítulo 1
Parte I — O Despertar


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal!
Depois de tanto pensar e "despensar", acabei criando uma história Ulquihime!
Sem muita enrolação, espero que curtam da mesma forma que estou adorando escrever :3
Apenas um breve prólogo para apresentar o fim e o recomeço um pouco sombrio



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O que acontece depois que um hollow morre? Eles podem ao menos morrer, já estando mortos? As perguntas feitas por muitos sequer passaram na cabeça de Ulquiorra enquanto mantinha seu braço estendido na direção da garota ruiva.

De alguma forma, a mão do Espada pulsava, ansiando pelo toque dos dedos delicados que se inclinavam em sua direção em resposta.

Não podia compreender a expressão dela, que indicava pena e também perda. O que ela estava perdendo? Um inimigo que tentara matar seus amigos e tirar a sua vida estava lentamente virando pó; ela só tinha a ganhar. Ainda assim...

A mão dela passou direto através da fumaça de poeira que seu corpo se tornava. Era quase cômico. Ulquiorra acreditava que finalmente havia chegado perto de entender os seres humanos — de se lembrar como era ser humano —, mas no final ele iria apenas mergulhar na escuridão sem ter alcançado qualquer objetivo.

Ter nascido da descrença o fazia morrer em descrença também. Não importava o quanto aquela mulher o indignasse, não importava aquele sentimento estúpido de pena que sentia, a conclusão sempre fora óbvia: Ulquiorra não podia ser salvo. E ele sabia disso, bem como sabia que as marcas escuras do rastro de lágrimas que marcavam sua face eram resquícios humanos.

Não ousou piscar. Gravou na memória a expressão dolorida daquela humana, para carregar consigo para onde quer que fosse levado agora.

Ele queria dizer que ela preferiria ter morrido por suas mãos que pelas de Aizen ou de algum outro Espada, mas as palavras desnecessárias não saíram de sua boca: ela descobriria mais cedo ou mais tarde.

Quando a escuridão o engoliu completamente, sentiu seu rosto se retorcer em pena com aquele pensamento, mas já não importava, seu corpo não mais existia.

"Seu coração estava... bem em minhas mãos."


— Papai! — o garotinho gritou alegremente.

O homem sentado de pernas cruzadas à sua frente tinha a pele branca, cabelos negros e grandes olhos castanhos. A barba mal feita lhe dava uma aparência desleixada, e ele tinha um cheiro estranho. Mesmo assim, o garotinho estava satisfeito, porque tinha certeza que havia pronunciado pela primeira vez uma palavra corretamente.

— Papai — repetiu.

— Nora, o moleque está falando — foi a resposta do homem.

A cabeça de uma mulher — Nora, provavelmente — apareceu na porta aberta. As mãos dela deviam estar ocupadas com alguma coisa no outro cômodo, pois parecia se esticar para vê-los. O garotinho pensava que ela era muito bonita. Nora tinha a pele morena e cabelos pretos como os do homem, mas os olhos cor de esmeralda eram pequenos e charmosos.

— Ma... — o garotinho se atrapalhou; não se dando por vencido, se esforçando e tentando de novo: — mamãe!

Um sorriso deslumbrante se abriu no rosto de sua mãe, e ele pensou que se ela fosse sempre brilhar daquele jeito, então aprenderia a falar muito mais coisas.

— Hã?! O que é essa cara idiota? — O pai do garoto o olhava com uma expressão estranha.

O sorriso de Nora desapareceu.

— Não fale assim com ele, Bart.

— Ele é meu filho, e falo como quiser. Não faça esse tipo de expressão estúpida, garoto.

— Bart! Ele só tem um ano! Ele não sabe o que você está falando, e muito menos o que está fazendo!

O garotinho olhava sem compreender, mas, de alguma forma, o jeito como seus pais falavam o deixava triste. Ele abriu um sorriso e se inclinou para frente, caindo com o corpo sobre o pai, e apertando os bracinhos sem força num abraço desajeitado na perna do homem.

— O que pensa que está fazendo, seu moleque idiota? — Bart gritou.

Com a enorme mão direita, alcançou o pequeno e frágil corpo e o arremessou para longe com um forte tapa. Em meio à confusão e à dor, o garotinho viu que a mulher corria para ele, gritando com desespero nos olhos.

— Ulquiorra!


O ex-Espada sentiu-se despertar, embora só houvesse a escuridão diante de si. Ele havia acabado de ter... um sonho? Não se lembrava de já ter tido algum antes.

Quando tentou mover o corpo, notou que não tinha um para mover. A sensação estranha dos membros ainda estava ali, mas se encontrava num lugar onde não existia simplesmente nada.

Então terminaria assim, uma consciência solitária para sempre. Ele conseguia pensar em coisas piores, como ter que passar a eternidade olhando para a cara de Aizen. Apesar de tudo, ele era um ser desagradável e desprezível. Ulquiorra não era o tipo de Espada que morria de amores pelo Shinigami, estava apenas agindo pela própria curiosidade.

Pensou por um momento na cena do casal que vira anteriormente. Para dizer a verdade, eles não eram completos estranhos. O garotinho que lhe fornecera a visão os chamara de mãe e pai, e Ulquiorra se perguntou se todos os pais eram daquele jeito.

Focou na mulher, e percebeu que a lembrança da aparência dela — em especial os olhos — era perturbadora. Ele automaticamente pensou em tocar o próprio rosto, mas não havia membros para responderem ao seu comando.

E não era só a semelhança com ele próprio que o incomodava. Tinha algo mais. A expressão de preocupação no rosto da mulher. O que aquilo o lembrava?

Em um flash lhe veio à mente o último rosto que viu antes de sucumbir à escuridão. Um rosto marcado pela dor. Um pequeno rosto redondo emoldurado por longos cabelos laranjas. A mão estendida em sua direção. O seu coração.

Orihime. Orihime Inoue.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? :3
Já estou providenciando o próximo capítulo e devo sempre atualizar rapidinho ^^
Beijinhoss ;*