First Date escrita por Ametista


Capítulo 16
16º: Giripan


Notas iniciais do capítulo

Gosto das minhas velhas solitárias que moram com trocentos gatos ;u;
Música: https://www.youtube.com/watch?v=C4Y1LjoHcik



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Afinal, quem era aquele homem no parque?

Kiku Honda ia lá todas as sextas-feiras, às vezes para alimentar alguns gatos, às vezes para meditar, ou até só para vê-lo. Não sabia certamente quem era, afinal, nunca chegara a trocar alguma palavra com ele, mas ele sempre estava lá. Usava uma blusa larga, e branca, com jeans e tênis bastante desgastados. Talvez até morasse ali. Quem sabe.

O japonês, apesar de não ter conversado com ele, se sentia um tanto conflitado em relação ao estranho moreno do parque. Por um lado, era um desconhecido, provavelmente desabrigado, e a única coisa que fazia era dormir ou brincar com gatos. Pelo outro, já tinha dado mais "presentes" a ele do que a qualquer outro. Bem, não eram exatamente presentes: eram bentôs, garrafas de água, roupas novas - as quais ele nunca parecia usar - meias, e muitas outras coisas geralmente banais, mas que para ele, talvez pudessem ser úteis. Honestamente, Kiku assumia que o homem era um mendigo, e que realmente iria precisar de tudo aquilo. Depois de dar tantas coisas a ele, o japonês não pode evitar em notar que faltava algo.

Será que não foi água o suficiente? Bentôs com muito arroz? Jeans largos demais? Kiku se afogava em pensamentos e preocupações, sem chegar a simples conclusão de que só faltava um 'olá', 'tudo bem?', 'como vai?'ou algo assim. Queria mesmo dizer alguma coisa. Mesmo que fosse só um bom dia, o asiático não podia evitar em querer conversar com o outro.

Marcou uma teria uma semana. Só uma, para que não pudesse se deixar procrastinar. Diria simplesmente um "Bom dia". Nada demais, mas que para ele, talvez pudesse ser um grande alívio. Kiku chegava a imaginar a voz do outro: seria aguda, como a do amigo italiano, ou talvez grave e direta, como a do alemão? Algo lhe dizia que não era nenhuma dessas. Era algo completamente diferente, inusitado. Algo pelo que o pequeno não podia esperar para descobrir.

Depois de uma semana, Kiku se encontrava no parque novamente. Claro que o homem também estava lá. Coragem, Kiku, você consegue. É só um 'ohayou', nada demais. o japonês engoliu em seco, e suspirou. Por quê tinha de ser tão difícil afinal?

Deu um passo a frente. O homem estava no banco de sempre, deitado de barriga para cima com um gato nas mãos. Não falava nada, claro. Nunca falava nada. Tinha também sempre um olhar distante, como se estivesse pensando em alguma coisa completamente diferente da realidade. Ele não sabia, mas esse era exatamente o caso.

Outro passo. Agora, até que já estava perto. Talvez o outro já soubesse que estava ali. Kiku não sabia bem se queria que soubesse ou não. Deu outro passo, e mais um, até que o homem acenou. D-droga... sentiu as bochechas esquentarem, e se segurou para não cobrir o rosto. Agora não. Era um japonês, e um japonês que se preze não poderia desistir. Ainda mais agora.

"O-ohayou..." disse, num tom baixo e quieto, mas que aparentemente foi o suficiente para que o outro escutasse.

"Oi." respondeu, e o menor imediatamente virou-se para vê-lo ao invés de encarar o chão. "Você vem sempre aqui?"

Mas que pergunta é essa? Kiku pensou, mas não disse nada a respeito.

"T-todas as sextas, sim." respondeu, e o outro pareceu ter rido. Droga, tinha mesmo que perder o sorriso? Por quê tinha de ser tão tímido?

"Tava brincando." disse, no mesmo tom de voz calmo e um tanto monótono. Ainda assim, isso não incomodava o japonês, que parecia um tanto muito encantado com a voz do outro. "Eukaristó."

"H-hã?" inclinou a cabeça, confuso. "G-gomen, não falo...esta linguagem." disse. Honestamente, Kiku não sabia o que era. Era tão...diferente.

"Grego. Quer dizer 'obrigado'." o outro explicou, e o japonês sentiu-se corar novamente.

"P-por que obrigado? Não fiz nada demais, eu...você realmente precisou daquelas coisas?" indagou.

"Na verdade, não. Mas eu vou usar." admitiu, e o outro decidiu não questionar. "É uma filosofia de vida. Só vou ter o que é necessário."

"Entendo..." comentou. "A-ah, me desculpe, não..não perguntei o seu nome ainda."

"Heracles. E você é?"

"H-Honda Kiku. Quero dizer, Kiku Honda. P-perdão, não me acostumei com a ordem do Ocidente." desculpou-se, e Heracles deu de ombros. Não se importa com nada que eu digo...bem, pelo menos me sinto seguro em saber que não vai se chatear facilmente.

"Tanto faz. Você tem alguma comida aí com você?" perguntou, e Kiku ergueu a sobrancelha.

"Tenho, mas...por que motivo?"

"Vou dar pro gato." respondeu, sem cerimônias. É...bem honesto.

"P-pro gato? Esteve dando meus bentôs pro gato?" Kiku parecia surpreso, e realmente estava. Preparava a comida com todo o carinho e dedicação que tinha, e mesmo que gostasse de gatos, isso lhe eraq um tanto estranho.

"Eu comi alguns, dei outros pro gato." respondeu, e estendeu a mão. "Me dá a comida?"

"...hai." o japonês entregou o sanduíche que tinha embalado, ainda um pouco confuso. "O gato é seu?"

"Não, eu só cuido deles. Estamos em uma jornada juntos pelas ruas. São meus amigos." explicou, desviando o olhar, mas voltou a focar nos olhos do outro logo. "E eu gosto muito de gatos."

"A-ah...ele tem um nome?" perguntou, e ficaram em silêncio por um minuto.

"Senhor gato." respondeu. Deve ter pensado nisso agora...

"Neko-san? É...é um bom nome." disse, e pode jurar que o outro sorriu, discretamente. Kiku também não pode evitar e sorriu. Logo depois, corou, e cobriu o rosto. "M-mil desculpas, eu-"

"Seu sorriso é bonitinho."

Agora estava mais vermelho ainda. Como assim, bonitinho?

"A-arigatou.." disse, ainda escondendo o rosto. Esperava um 'de nada', ou algo assim, mas Heracles já tinha a atenção focada em outra coisa.

"Olha, são navios..." disse, e apontou para o mar, do outro lado da praça, perto da calçada da praia. Kiku assentiu com a cabeça.

"São muito grandes...gosta do mar?" perguntou, e o outro deu de ombros novamente.

"Não me importo muito. Gosto de pescar. Mas eu gosto de barcos. A vida é como um barco, ela vai navegando até..."

"Até nunca mais?" o japonês sugeriu, mas Heracles fez que não com a cabeça.

"Até o porto da morte." completou. Muito honesto... "Me lembra o rio Estige do Mundo Inferior."

"A-ah, sim, da mitologia grega, certo?" disse, e o outro assentiu com a cabeça. O sorriso foi mais claro desta vez.

"Sim. Minha mãe costumava ler essas histórias pra mim. Também me chamou com um nome de um herói grego." disse, encarando o horizonte. Parecia ainda mais distante agora para o japonês, mas até que ficava bonito assim. Kiku corou, e tentou afastar o pensamento da cabeça. "Ela me deixou muitas coisas. E depois, me deixou sozinho." disse, com um suspiro.

"Ela...te enviou para cá?" perguntou, mas o grego fez que não.

"Ela parou no porto." disse, e o japonês se sentiu um pouco mal por ter perguntado. "Não sei bem como eu faria as coisas sem o que ela me deu como base. Eu não sou muito bom em me organizar sozinho." disse, e Kiku teve uma ideia. Talvez fosse um pouco ridícula, mas se já tinha ajudado este homem tanto, não via motivos para não ajudar mais.

"E-eu...eu posso ajudar você se precisar." disse, tentando não deixar óbvio que estava envergonhado. "Pode ficar na minha casa até estar completamente estável."

"Hã? Ah, não, eu prefiro ficar no par-"

"P-pare com isso, não pode ser assim! Você precisa de uma casa, e de ajuda. E-eu quero ajudar." interrompeu, e notou que o grego tinha os olhos bem mais arregalados.

"C-certo..." disse, e o japonês sorriu.

"Ótimo. Você vai ficar na minha casa até ter dinheiro para comprar a sua." disse, e o outro assentiu com a cabeça.

"Mas eu posso ficar mais tempo também. Homossexualidade masculina não era errada na Grécia antiga." disse, e o japonês escondeu o rosto.

"N-não estamos falando sobre essas coisas!" interviu, e o outro riu.

"Tá. Mas eu não ia me importar."

"T-talvez depois. Eu ainda não te conheço bem, eu...eu..."

"Ué, por quê tá gaguejando? Não precisa ficar nervoso." Heracles ergueu a sobrancelha, e Kiku resmungou alguma coisa.

"N-não estou..."

"Shhh..." o grego abraçou-o pelas costas, o que o fez corar e por um segundo, ficar parado, sem reação. "Não seja tão estressado."

"H-hai..."

"Hm...olha, nós estamos saindo juntos agora. É quase um primeiro encontro." observou o grego, e foi repreendido pelo outro.

"N-ninguém chamou isso de encontro, eu...encontros t-têm que ser românticos, isso...não é encontro." tentou convencê-lo, mas o maior ergueu a sobrancelha.

"É pra eu fazer ser romântico?"

"N-não! O-olha, talvez depois...talvez depois nós possamos ir em um encontro, mas-"

"Segundo encontro? Quando?"

Kiku suspirou. Não ia fazê-lo entender tão cedo.

"D-depois. Daqui a um mês."

"Vou me lembrar...eu acho." Heracles respondeu, e Kiku suspirou fundo. P-por favor, não esqueça até lá.


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Notas finais do capítulo

AÍ ESTÁ :V