The Bastard Heir escrita por Soo Na Rae, Lady Ravena


Capítulo 29
Capítulo 25 - As Senhoras Tiram o Vestido Depois do Baile


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Capítulo 25 - As Senhoras Tiram o Vestido Depois do Baile

Coçou a cabeça, sentindo cada vez mais calor. Sua pulsação queimava nas veias e artérias. Detestava permanecer ali, na sala de reuniões do Rei. Tomara banho e criados limparam seus machucados. Não fraturou nada grave, apenas uma leve torção no tornozelo que se recuperaria em menos de dois meses. Desde o dia, não vira mais Otto. Não que esperasse vê-lo, era óbvio que a princesa contaria tudo o que aconteceu e Otto suspeitava que seu irmão já soubesse de seus planos. O Senhor Comandante furtivamente se escondeu até mesmo do mais fiel soldado. E tudo o que restava era Cora, que sabia onde ele estava e lhe sorria sarcasticamente. Dunkelheit a odiava de verdade por isso. Como podia o seu Senhor Comandante confiar mais em uma... Uma prostituta?

– Senhor Falk. – chamou o primeiro ministro, assentado na cadeira do Rei. William raramente tratava destes assuntos, o rei preferia ficar solitário em seu quarto. Esta não era a posição de um rei, mas quem era ele para julgar?

– Comandante Falk, por favor. – pediu, embora fosse ridículo dizê-lo.

– Claro, comandante. – Hartwig colocou as mãos em frente ao queixo e se apoiou nelas. Os olhos pesavam, mostrando visivelmente que ele queria terminar aquilo o quanto antes. O baile começaria em duas horas, qualquer um estaria mais interessado nele. – O senhor, no dia de 12 de Julho salvou a princesa Hannelore de um possível assassinato.

– Eu não a salvei, apenas tentei. – corrigiu Dunkel. O primeiro ministro assentiu.

– E por este ato, hoje tem ferimentos, vejo. – ele examinou seu pé. – Espero que esteja bem.

– Sim, senhor.

– Quando o senhor salvou a Princesa Hannelore, ou tentou, viu mais alguém na cena? Talvez vestígios? Você é um soldado treinado, saberia identificar vestígios na floresta. Por que estava lá? Sabia sobre a tentativa de assassinato? Ou ouviu os gritos da princesa?

– Eu a encontrei por acaso, estava sentada no poço, apreciando uma flor de inverno. – explicou Dunkel. – Fiquei observando-a, como qualquer garoto bobo ficaria ao encontrar uma linda dama em devaneios. Quando ela caiu, meu único instinto foi correr para ajudá-la, mas acabei caindo também e machuquei meu tornozelo.

– A Princesa diz que estava com Otto, seu tio, e ele a empurrou para o poço. E que você desceu depois com a ajuda de uma escada improvisada, mas quando ela tentava subir, caiu sobre você e isso o machucou.

– De fato tentamos sair, mas eu já estava machucado.

– E sobre Otto...?

– Não o vi na cena. Na verdade, acho que a princesa apenas se desequilibrou e caiu no poço. Duvido que tenha sido uma tentativa de assassinato.

– Verdade? Então supõe que a princesa esteja mentindo? – Hartwig o encarou.

– Não mentindo, senhor. Mas talvez enganada. Não vi Otto, mas talvez ele a tenha dito algo indelicado que a deixou brava e ela acabou entrando em pensamentos e não notou o quanto estava próxima do poço. Talvez tenha sido apenas um mal-entendido...

– Então você afirma não ter visto Otto na floresta?

– Sim.

– Jura diante dos homens e diante de Deus que esta é a verdade?

Dunkel colocou a mão sobre o peito. Sua boca travou. Aquilo não era verdade. Não podia jurar diante de Deus, não podia dizer que a Princesa estava mentindo. Mas Otto era seu Senhor Comandante, devia-lhe fidelidade exclusiva. A ele, e ao Rei. Fechou firmemente os olhos e então seus pensamentos se voltaram para Leonor, sua prima, sua irmã, filha e protegida. A garotinha que estava sob seus cuidados desde que a mãe biológica morrera. Leonor, a menina que tocava alaúde, que sorria, que cantava... lembrou-se dela. E pensou. Otto sabia sobre Leonor, ele é quem havia disponibilizado todos os documentos para que Dunkel se tornasse o protetor legal de Leonor. Otto sabia de tudo. Ele sabia sobre seu amor incondicional por ela. Sabia sobre como daria tudo para protegê-la.

Otto não hesitaria em descontar em Leonor qualquer coisa que ele fizesse ali. Não podia trair o Senhor Comandante. Por Leonor, não podia.

– Juro. – disse, decididamente, a voz firma. A expressão no rosto de Hartwig suavizou.

– Assim seja. Pode se retirar, Senhor Falk.

Dunkelheit fez uma mesura rígida e virou-se para a porta, abandonando a sala de reuniões o mais rápido possível. Suas mãos suavam frias e o calor dera espaço ao enregelamento. As iluminuras das paredes pareciam segui-lo com os olhos. Fazendo o caminho em direção ao seu quarto, avistou no final do corredor Hannelore, conversando com uma de suas damas. Respirou fundo e virou-se, brutamente, partindo de volta para a sala de reuniões. Tudo o que menos queria no momento era encará-la. Seria mais fácil assim.

Dunkel esperou, virou-se, olhou para o corredor vazio e suspirou, recomeçando a caminhar para seu quarto.

– Está se escondendo de quem?

A voz o pegou de surpresa, tanto que saltou para o lado. A porta dos aposentos de Cora se abriu ligeiramente. A menina colocou a cabeça para fora, dando a impressão de que estava sem roupas. Isso o fez corar.

– Não é da sua conta.

– O que você fez? – ela insistiu. – O que falou? – os olhos de Cora pareciam torcer todas as palavras de dentro de Dunkel. Ele odiava aqueles olhos.

– Não é da sua conta, cortesã. – repetiu. Cora abriu a porta completamente, revelando-se vestida com um traje belíssimo de tecido fino e detalhes adoráveis. Seria lindo no corpo de qualquer outra dama. Menos nela.

– Você me chamou de quê?

“Cortesã” era como os nobres se referiam às prostitutas de um rei ou alguém tão importante quanto. Cora erguia as sobrancelhas, cruzando os braços debaixo dos seios, deixando-os erguidos. Isso o irritava, como se ela estivesse fazendo de propósito.

– Nada. – respondeu, bufando e recomeçando a caminhar. Cora segurou seu braço, porém Dunkel não se importou com isso. Desvencilhou-se e retornou ao trajeto. Entrou em seu quarto, fechou a porta. Olhou ao redor com calma. E então suspirou. – Santo Deus...

Olhou seu pé, doía levemente, embora estivesse muito inchado e com hematomas horríveis. Era como se a dor já não o incomodasse, havia treinado sua vida inteira para combater e aguentar a dor que um tornozelo torcido não era tão ruim assim. A cama o convidava a se aproximar, embora soubesse que tivesse de se preparar para o baile. Ainda lhe restava uma tarde para fazê-lo. Antes cedo que tarde. Desabotoou a camisa, dobrando-a sobre a cama. Arriou as calças e também a dobrou. Chamou as criadas e ordenou que fervessem a água do banho, e em dez minutos já estava mergulhado até a cabeça. Dunkelheit adorava os banhos quentes no inverno.

Com a cabeça vazia e pronta para pensar qualquer coisa, acabou por se pegar pensando em Otto. Não que isso fosse realmente estranho, pois tinha de tentar visualizar o próximo passo de seu comandante caso quisesse estar bem com ele. Talvez tivesse cometido um grande erro ao mentir perante o primeiro ministro. Talvez fosse melhor reconhecer o erro e confessar a algum padre. Talvez... Não. Leonor estava segura assim, então não havia talvez. Protegê-la ia além de seu relacionamento com a Igreja. Dunkel a protegeria de todos, inclusive de Deus.

Saiu das águas, vestiu roupas limpas para o baile. A máscara que encomendara era vermelha, com o leão formando os traços. Penteou os cabelos e perfumou-se sozinho. Detestava a ajuda dos criados, principalmente pois as criadas gostavam de passar as mãos em suas cicatrizes, como se fossem o sinal de grandes vitórias, quando na verdade era o contrário. Nunca se machucou durante os treinos, nunca se machucou em um combate. Mas Otto castigava aqueles que não seguiam suas ordens assim como queria.

– Senhor Falk? – uma criada adentrou o quarto, a cabeça baixa e loura. Em sua mão, um bilhete. Ela entregou-lhe o papel e fez uma mesura rápida, saindo do quarto com a mesma rapidez com que entrara. Dunkel achou estranho que fizesse tudo aquilo sem toda a delicadeza e atenção que normalmente eram voltadas aos nobres, mas assim que leu o que ela trazia, entendeu porquê tanta inquietação e urgência.

“Muito bem. Faça seu papel de príncipe encantado – S.C.”

Otto sabia que ele havia mentido. Respirou fundo. S.C. significava Senhor Comandante, o título que usava para se referir a Otto e ele a si mesmo, afinal todos saberiam de quem era o bilhete caso assinasse com “Otto” ou “O.v.S.”.

Dunkel ficou pensativo. Otto o estava encorajando a ir para o baile e aproveitar a oportunidade para se envolver mais com a princesa. Ele era o segundo plano, aquele utilizado caso os outros não funcionassem. Se não conseguisse matar Hannelore antes de sua coroação, então ele teria de se casar com ela e assim facilitar as coisas para Otto, quem sabe convencer Hannelore a abdicar a coroa ou mesmo... Finalizar o trabalho. Claro que Dunkel ignorava isto, afinal tinha certeza de que Otto conseguiria o que queria muito rapidamente. Ele sempre realizava seus planos com sorte e uma outra dose de perfeccionismo. Um grande estrategista, mesmo.

Inquieto, Dunkel olhou ao redor. Era como se mil olhos estivessem a observá-lo agora. Por trás das paredes, no forro do teto, debaixo das tábuas de madeira. Olhos analisando cada passo, cada suspiro. E Otto sabia tudo o que fazia. Era assustador ter esta desconfiança, saber que não podia falhar em nenhum quesito. Entretanto o baile de máscaras poderia despistar isto, afinal todos estariam mascarados. Inclusive a princesa. Não seria difícil encontrá-la, é claro, pela estatura e os cabelos, facilmente. Uma loira entre uma família de cabelos negros é notável. Mas outra coisa, ainda mais assustadora, o deixava mais inquieto: Cora. Ela estaria no baile também. Não sabia quais planos ela teria, a cabeça da moça sempre foi um oceano do qual só conhecia a arrebentação da maré. Os respingos no caís.

Dunkel olhou para fora, o Sol estava descendo pelas colinas e montanhas ao redor de Overath. O castelo escurecia a medida que a luz solar diminuía, porém os criados logo iam acendendo velas. Os primeiros nobres abandonaram seus quartos, indo em direção ao Salão de Festas. Provavelmente a maioria só desceria quando o céu estivesse escuro. Dunkel não queria sair, essa era a verdade. Queria continuar lá dentro, apenas dormindo ou pensando. Talvez tirasse aquelas roupas e voltasse para a banheira, onde era mais confortável. Deitou-se numa posição fetal na cama. O terno amassou-se, mas não se importou com isto. Subiu a máscara até os cabelos e abraçou o travesseiro contra o rosto. As cobertas estavam macias e cheirosas. De olhos fechados, sentia a leve brisa da janela, sentia o cheiro das velas recém-acesas, ouvia o som dos passos.

Acordou estupefato. Abandonou a cama com rapidez e jogou-se contra a porta, abrindo-a. Desceu as escadas com rapidez e no caminho esbarrou com uma dama do baile. Pediu perdão, mas continuou descendo. Quando alcançou o Salão de Festas, a música já havia começado, as pessoas circulavam de um lado para o outro.

– Senhoras e senhores, a Princesa Hannelore, de Overath! A Primeira Dama Gênova, de Overath! – um homem que parecia o mestre de cerimônias anunciava aos pés dos tronos, ocupados pelos monarcas – O Primeiro Ministro, Hartwig, de Overath e, Vossa Majestade, Rei William de Overath.

Todos aplaudiram, e Dunkelheit seguiu-os. O que mais havia de fazer? A cabeça ainda estava pesando para os lados e os pensamentos não eram certos. Sabia apenas de uma coisa: estava atrasado para o baile. Ao menos havia tempo para uma dança com a princesa. A família real sentou-se nos tronos e os músicos recomeçaram a tocar. Cavalheiros convidavam jovens para bailar e o salão voltava à agitação, agora com pés rodando para lá e para cá. Dunkel nunca achou graça em dançar. Era divertido lutar, a luta era uma dança mais emocionante. Uma dança onde você não sabe qual será o próximo passo do oponente, mas pode supor. Os bailes sempre o entediaram, mas como um bom soldado do Rei, faria o que seu Senhor Comandante ordenasse.

Caminhou em direção ao trono, na esperança de que ninguém convidaria Hannelore antes que alcançasse o local, entretanto uma multidão de jovens eufóricas o atrapalhou, todas soltando gritinhos e girando ao seu redor, tocando seus ombros e peito, os músculos de seu braço e costas. Elas riam. Dunkel realmente detestava bailes. Quando, finalmente, foi abandonado pelas garotas, não encontrou a princesa no lugar onde deveria estar. Nem mesmo próxima. Havia se perdido na multidão. Provavelmente dançando com outro. Suspirou, considerando que tinha de encontrá-la e esperar o momento em que terminasse a dança para ir convidá-la. “Mas ela estará cansada”, ponderou. Talvez a chamasse para beber alguma coisa no jardim.

– Sabe, alguns rapazes costumam oferecer sombra às moças, mas você é quase uma construção. – ouviu ao pé do ouvido. Virou-se, surpreso, e viu-a. A moça riu. Sua voz estava arrastada, o que significava que já havia bebido um pouco e a máscara abafava-a, obrigando-o a se aproximar para ouvir o que ela dizia. – Belos ombros. Você parece uma muralha. Sabe usar a espada?

– Sei. – respondeu, olhando ao redor.

– Que interessante. Já conheci homens que usassem a espada, um deles a usou em mim. – e então gargalhou, ruborizando em seguida – Minha cabeça está doendo tanto...

– É o efeito do vinho. Você não deveria beber tanto.

– Ah, só bebi um pouquinho – ela fez um biquinho. Os cabelos castanhos estavam trançados atrás das costas, seu vestido era de um vermelho intenso. O colar era sustentado pelos seios, e o decote era extremamente ousado na opinião de Dunkel. “Eu só atraio mulheres depravadas” pensou consigo mesmo, meio melancólico. – Então, meu senhor, vai me mostrar como usa a espada?

– Não estou com ela. – respondeu, tentando se livrar o mais rápido da moça.

– Ah, está... – Ela aproximou-se, tocando-o na virilha. Dunkel sentiu uma onda fria percorrer o corpo. Deu um passo atrás e abaixou-se para esconder o volume. Ela riu. – Você mentiu para mim, não sabe usar a espada.

– Sei usar uma espada. Sou um soldado treinado.

– Mentira. Somente mentiras. És um mentiroso descarado, meu senhor! Mas posso ensiná-lo a utilizá-la corretamente... – e então o envolveu pela cintura – Vamos dançar. Sinto que já estou girando...

E então ela o conduziu numa volta. Dunkel segurou-a pelas costas e respirou fundo. Se tinha de dançar para se livrar dela, então era melhor ser o pior parceiro de todos. Assim que começaram a sincronizar os pés, pisou-lhe os dedos. A moça gemeu de dor e saltitou para trás. Encarou-o e então riu baixinho.

– Nem mesmo sabes dançar. Que esperar de um homem assim?

– Eu lamento. – esforçou-se para sorrir de lado. Ela deu de ombros, agarrando-o novamente. A moça pousou a cabeça sobre seu peito, ela era bem mais baixa e delicada. Suas mãos eram suaves e os cabelos cheirosos. Dunkel permitiu-se afundar um pouco na trança de madeixas encaracoladas. Dançaram mais um pouco, até que, de relance, visse a princesa despedindo-se de seu par. Ela retornava para o trono, calmamente. Soltou-se da moça. Ela ergueu a cabeça, estudando-o. – Tenho de ir.

– Espere!

– Desculpe, tenho de ir. – repetiu, e já a havia deixado. Dunkel empurrou a todos que conseguiu, barões, duques, viscondes... Nobres superiores e inferiores a ele. Agarrou o braço fino da princesa com força, como que para se assegurar de que ela não iria desaparecer. Quando notou o que fazia, soltou-a. – Princesa...

– Oh, meu salvador! – ela sorriu, animada. – Pensei tanto em ti estes dias, em sua bravura em ir me salvar! Tenho de recompensá-lo.

– Nada fiz. Acabei por colocar nossas vidas em risco mais ainda. – resmungou. – Mas... Se machucou?

– Não, graças a ti não me feri. – então ela fechou o sorriso – E contigo? Por que sustentas o peso em apenas uma perna?

Ela notou.

– Meu tornozelo ainda não se recuperou muito bem.

Hannelore tocou a boca com ambas as mãos, exclamando em horror. “Uma verdadeira dama. Diferente de Cora e daquela moça bêbada”, pensou. A princesa olhou-o mais um pouco e então esticou-lhe a mão.

– Não tenho muito o que oferecer. Mas posso dançar. – e então o segurou pela mão delicadamente – Venha, a música ainda não acabou.

Dunkel se deixou ser guiado por Hannelore. Deslizando suavemente pelo salão, ela se deixou ser tocada por ele, que tentou não parecer tão nervoso. Abaixou a mão até suas costas e com a outra a segurou com firmeza. Hannelore mantinha o rosto erguido, olhando dentro de seus olhos.

– Seu nome é Dunkelheit de Falk, correto?

– Sim, senhora. Mas abdiquei minhas terras e meu título de herança para servir ao exército e à coroa. Sou apenas um mestre de campo, assumo as tropas, organizo-as. Posso movê-las como bem entender, desde que o Senhor Comandante me dê a ordem ou direito para tal.

– O Senhor Comandante é meu tio, certo? Otto. – ela abaixou os olhos – Ele está desaparecido. É terrível o que fez, não? Abandonou-nos para que não fosse penalizado... Meu próprio tio. – e então suspirou. – Eu deveria esperar que nem todos seriam realmente bons. O mal corrompe os corações dos homens ambiciosos.

– E dos homens honrosos também. – acrescentou, entretanto notou que não deveria ter dito isso. – Não a vejo com muita frequência pelo castelo.

– Isto é verdade. Mas sou uma princesa há algumas semanas. Preciso aprender a ser uma, antes de escolher meu esposo. – e então Hannelore girou lentamente. – Ainda me assusta isto.

– Tenho certeza de que encontrará o esposo que procura.

– A questão é: quem eu procuro? Eu nunca pensei nisto...

– Alguém que possa protegê-la. Que possa abdicar de todos os seus valores e direitos para servir a ti.

– Creio que esteja querendo me dizer que devo escolhê-lo. – a princesa sorriu, sarcástica.

– Oh, acho que me precipitei. – e então sorriu, gentilmente. – Estou querendo dizer que sou um candidato a altura. – e piscou.

– Todos são, até que se descubra seus segredos. – e então ela voltou a rodopiar. – As pessoas são todas boas, tirando os defeitos. É fácil ver o mundo assim.

De repente ela parou e olhou para o lado, para trás de Dunkel. O rapaz virou-se e observou o garoto que se prontificava ali. Petrificado. A princesa soltou-o rapidamente, quase enrubescida. Dunkel sentiu que sua dança havia terminado.

– V-você estava dançando, desculpe – o garoto novo gaguejou.

– Imagine, a música já estava acabando. – ela olhou para Dunkelheit – Agradeço, Senhor Falk, por tudo o que fizeste por mim. Creio que posso confiar no senhor.

– O prazer foi totalmente meu. – curvou-se – Em qualquer momento, estarei aqui para servi-la, princesa.

Ela sorriu, segurando o braço do garoto.

– Vamos dançar. – disse a ele e então sorriu, puxando-o delicadamente.

Dunkel os viu desaparecer atrás da multidão. Aos poucos, seu coração foi afundando e se tornando duro. Até que notou que estava terrivelmente arrasado. Não queria admitir que adoraria ter continuado dançando e conversando com a princesa, porém não fazia parte de seu hábito mentir sem propósito. Seria aquilo inveja pelo garoto baixo que havia roubado-lhe Hannelore? Ou seria ciúmes pelo fato da princesa estar nos braços de outro agora. Em todo caso, sentia-se mal. Ainda mais pelo que ela dissera. “Creio que posso confiar no senhor”. De todas as pessoas, ela iria confiar nele. Dunkelheit sentiu-se um monstro dentro da pele de um rapaz alto, musculoso e moreno.

– Você está aí! – sentiu seios macios se chocando contra seu braço. A moça bêbada sorria, abraçando-o. – Fiquei louca procurando-o. Por favor, vamos dançar!

– Estou cansado no momento.

– Você sempre me rejeita. – ela suspirou – Sou tão feia assim? Ou talvez seja meu corpo... – ela olhou o decote – Não o agrado? Estou fedendo?

– Imagine, está perfeita.

– Então qual o motivo para me recusar tanto, Dunkel? – ela cruzou os braços – Você realmente só serve para ser um vigia de porta.

Dunkelheit sentiu os músculos enrijecerem. O suor escorreu por suas costas. Ergueu a mão lentamente, tirando a máscara da moça com medo e terror. Quando viu seu rosto, mordeu a língua para não gritar. Cora sorriu-lhe. Os olhos estavam vermelhos, como se tivesse chorado minutos antes, e os lábios estavam pintados pelo vinho.

– Não sabia que queria ver meu rosto. – ela comentou, ainda segurando-o pelo braço. – Se está cansado, podemos caminhar pelo castelo. Adoraria ver os quadros na Sala das Iluminuras.

Sentiu a garganta fechando-se. Queria correr dali, enquanto Cora não o devorasse com seus dentes de demônio. Porém ela o guiou até a saída do Salão de Festas. Subiram as escadas e começaram a apreciar as iluminuras. Então a garota estancou no passo, parada. Parecia hipnotizada por algo. Cora tinha lindos olhos, uma pele amorenada embriagante e cheirava a lírios, vinho e suor. Ela ergueu a cabeça.

– Dei-te a chance de salvar Hannelore e conseguir a coroa e você a desperdiçou. Agora a menina está louca nos braços de outro idiota que não nos servirá para nada. – ela resmungou.

– Perdão? Você planejou entregar Otto para me dar a oportunidade?

– É claro. – Cora revirou os olhos, encostando-se contra a parede. O vestido contrastava com o azul de Overath com que fora pintada a parede. Parecia em uma pose medieval, os cabelos para trás dos ombros, o rosto bem iluminado e um leve sorriso travesso. – Mas você não conseguiu. Você é mesmo um inútil, Dunkie. Não sabe conquistar nem o coração de uma princesinha fofinha e boazinha. – ela o cutucou no peito, levemente. – Terei de arranjar outro, deste jeito.

– Eu sirvo a Otto.

– Eu sei – ela sorriu, deliberadamente linda e irresistível. – Mas isso não me impede de usá-lo. E agora que não tem mais serventia para mim, tenho de descartá-lo. – ela olhou para as próprias unhas.

– Como pretende me tirar do jogo?

– Não jogando com as mesmas peças, é óbvio. – ela riu – Eu sou uma menina boa, Dunkie, acredite em mim. – aproximou-se dele e envolveu-o pelo pescoço, seu hálito roçou o rosto de Dunkel e ele sentiu a tentação de se inclinar e beijá-la. – Você pode ser útil para outras coisas, entretanto.

Os lábios de Cora pressionaram os seus, com força brutal. Não foi muito delicado ou romântico, como Dunkelheit esperava que fosse seu primeiro beijo. Assim que Cora encostou nele, distanciou-se e sorriu. Então invadiu-o novamente, com mais ferocidade. Ela parecia uma leoa, com o controle de tudo, e ele, mero cervo, esperando ser morto. O gosto de álcool da boca de Cora manchou a sua e o corpo dela se encaixou nas curvas de seu peito, ombros e pernas. Pressionou-a contra a parede, com as mãos em sua cintura. Tomou coragem para puxar as rédeas, e Cora aceitou sem reclamar. Sob a mão de Dunkelheit, Cora suspirou e sorriu, avermelhada e sem fôlego. Mas foi tomada por outra série de beijos, sem intervalos. As mãos de Dunkel subiam por sua cintura e acariciavam os braços, ele a arrepiava com seu toque simples e delicado. E do mesmo modo como começaram, separaram-se de repente.

Ofegando, Dunkel sentiu a língua com uma nova textura, algo mais áspero. Notou que estava salivando e sentiu-se envergonhado por isso, afinal não sabia beijar e Cora era quase uma profissional. Em seguida, concluiu que isso era a coisa mais ridícula do mundo e que em primeiro lugar não deveria ter feito aquilo, em segundo lugar, havia tocado no corpo de uma mulher pela primeira vez, e a adrenalina pulsava por suas veias com excitação da experiência com certeza entusiasmante.

– Você é terrível. – ela comentou, segurando sua mão, de um modo delicado e romântico que Dunkel não achou possível que ela fizesse. Cora sorriu. – Mas eu sou uma ótima professora.

– Me ensine, então. – ouviu-se dizendo, e se surpreendeu com aquilo. Cora encarou-o e então abriu um sorriso grande, puxando-o pela mão. Percorreram o corredor, até a porta de seu quarto. Ela o abriu com um empurrão de cintura e o convidou a entrar. Quando notou que já estava lá dentro, Dunkel sentiu o arrependimento subir por suas entranhas e o pânico atingi-lo.

– Finalmente. – ouviu-a sussurrar e em seguida foi tomado por uma forte pancada no estômago. Não, não foi uma pancada. Foi um abraço. Ela o envolveu com força e beijou-lhe o pescoço com leveza. – Venha, Dunkie.

Com todos os membros se transformando em pedra, Dunkel sentiu-se entorpecido. E em seguida caminhou debilmente para a cama, onde se sentou e esperou-a. Cora beijou-o com doçura. Prazerosamente, demorando-se a desatar os botões.


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Notas finais do capítulo

Vestido Cora: http://www.polyvore.com/baile_de_mascaras/set?id=173461537
Sofia: Estou terminando o capítulo, só está faltando criatividade! Eu prometi, Lady, e irei cumprir.
E por favor, enviem para nós a foto de uma moça entre 15 e 25 anos, não importa a aparência (pode ser estrangeira), com o nome da modelo e no mínimo três fotos dela. As quatro melhores vão ser escolhidas para algo que nós temos em mente mais para frente...
E é só! Beijo e queijo da Meell!