Frágil Guerreira escrita por Cari-chan


Capítulo 3
Última parte.


Notas iniciais do capítulo

Se desejarem escutar a música que propôs no capítulo da cantora Kelly Clarkson, intitulada como Because of you (Por causa de voc&ecirc, aqui está o link,
 
—-» http://www.youtube.com/watch?v=9cyLfJQ0p8g
 
Boa leitura!



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Passaram-se meses. Meses aos quais, para mim, pareciam anos. Anos de puro inferno. Conseguia ouvir já os sons de um novo dia. Pessoas andando de um lado para o outro. O som dos comerciantes. Estava na varanda. Cinco metros. Seria a altura suficiente para que eu morresse? Já nada me prendia a este maldito mundo. Não tinha nada. Absolutamente nada. A não ser… coloquei a mão na barriga. Estava grávida.

 

Não daquele episódio horrendo que aconteceu a uns tempos atrás. Teria somente umas semanas. Não o fazia por prazer. Fazia-o porque ele assim desejava. E, felizmente, ou infelizmente, fiquei grávida. Estava a ser obscena. Um filho é uma dádiva. Talvez, talvez conseguisse recuperar o meu casamento. Sasuke certamente que ficaria feliz. Agarrei-me a essa esperança.

 

Kelly Clarkson – Because of you (Tradução)

 

 

Eu não cometerei os mesmos erros que você.

Eu mesma não me deixarei causar tanto sofrimento ao meu coração.

Eu não vou me permitir.

Eu não vou cair aos pedaços, que nem você caiu.

Eu aprendi da maneira difícil,

a nunca me deixar chegar até esse ponto.

 

 

Sai de casa, olhando de um lado para o outro como se fosse uma fugitiva. Não via os meus amigos á bastante tempo. Sasuke arranja sempre uma desculpa. Doente. Trabalho. Sem tempo. Tinha receio em andar na rua. Alguém podia olhar para mim. Dirigir-me a palavra. E ele podia ver. Agora, andava com roupas compridas. Um calor demoníaco.

 

Tinha marcas pelo corpo todo. Não podia dar-me ao luxo de que alguém visse. O meu rosto era o único que sobrevivia aos maus-tratos, ele sabia perfeitamente, que assim, daria nas vistas. Tentei de tudo. Tentava de tudo. Largá-lo? Ameaçou matar-me. Amaldiçoou pessoas de quem gosto. Ele dizia sempre que me amava apesar de tudo. Pedia-me perdão. E eu, e eu o perdoava. Eu era a má esposa e ele era o bom marido.

 

 

Por sua causa,

Eu nunca ando muito longe da calçada.

Por causa de você,

Eu aprendi a jogar do lado seguro.

Assim eu não me machuco.

Por sua causa, Eu acho difícil confiar.

Não só em mim, mas em todos a minha volta.

Por causa de você,

Eu tenho medo.

 

 

 

 - SAKURA-CHAN!  -parecia um Deus a me chamar. Tinha tantas saudades de Naruto.

 

Sorri como á muito tempo já não sorria. Já nem sabia como o fazer. Naruto, como sempre, tinha aquele sorriso tão característico dele. Um calor amistoso apoderava-se do meu ser.

 

  - Naruto! Bom dia! – acenei amigavelmente, e principalmente, alegremente. No mesmo instante veio-me o rosto do meu marido á mente. Baixei rapidamente a mão e olhei para o chão.

 

- Sakura-chan, estás melhor? O Sasuke disse-me que tens andado doente e com muito trabalho. – reparei no notável tom de preocupação. Sentia necessidade daquela protecção. Verdadeiro carinho.

 

 - Eu, eu estou melhor Naruto, não te preocupes. E tu, como é que estás? – só me apetecia abraçá-lo. Contar-lhe tudo. Chorar prantos. Tirar o Mundo de cima dos ombros.

 

 - Ahhhhhh eu estou sempre bem Sakura-chan! – sorriu mais abertamente – mas, porque é que estás a usar essas roupas compridas? Está tanto calor! – não sabia o que lhe responder. Não era do meu feitio andar toda encapotada.

 

 - Como tenho estado doente, não posso abusar. – levantei o rosto e tentei sorrir. Ele parecia desconfiado.

 

- Tu estás toda suada. Isso também não te faz mal? – passou-me a mão pela testa. Ato que me deixou vulnerável. O seu cuidado comigo estava a dar cabo de mim. A dar fim á minha postura de “está tudo bem”.

 

 

A inevitável lágrima rolou de um dos meus olhos. Tinha de me aguentar. Não podia-me abater. Ele não podia saber o que se passava. Tinha vergonha de mim. Tinha vergonha de contar a alguém. Receava que depois, Sasuke me batesse mais.

 

 

- Estás a chorar? Sakura-chan, o que é que se passa?! – sabia que ele queria fazer-me aquela pergunta desde o início. Ele conhecia-me. Eu o conhecia.

 

 - Chorar? Eu?! Não Naruto! Foi uma gota de suor. E, tens razão, é melhor tirar esta roupa, faço isso quando chegar ao hospital. Oh, e olha, já estou atrasada! Até logo! – sai a correr sem esperar que ele dissesse mais alguma coisa.

 

 

*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*

 

 

Cheguei ao hospital e vesti uma roupa que tinha guardado dentro do cacifo. Não me olhava ao espelho a já algum tempo. Roxas. Negras. Amarelas. Futuras. Presentes. Antigas. Tinha o corpo todo marcado.

 

Tudo porque ele chegava maldisposto. O jantar não estava como ele queria. Via-me a falar com colegas de profissão e achava que o traia. Atirava-me a todos. Na boca dele, eu era uma autêntica mulher da má vida. Não me deixava de amar. Dizia-me sempre. E eu acreditava. Perdoava-o. Naquele dia, podia ser que as coisas mudassem. Ele iria ser pai. Tudo o que ele sempre quis. E eu, bem como o nosso filho, teríamos paz na nossa vida.

 

 *.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*

 

Abri a porta de casa com um formigueiro no corpo. Estava ansiosa por lhe contar. Vê-lo feliz, sem ser com aquela cara que me assustava, fazendo com que passasse a maior parte do tempo calada para não o irritar. Vinha do quarto. Os meus olhos brilharam de esperança.

 

- Amor, tenho uma surpresa para ti. – aproximei-me um pouco mais dele. Ansiava ouvi-lo a nos felicitar. A me beijar o rosto. A fazer uma festinha na barriga. Sinceridade pura.

 

- O que é? – olhou para mim intrigado.

 

-Eu estou … estou grávida Sasuke! Vamos ter um bebé! – toquei-lhe no peito e olhei para ele desejosa por uma reacção. – Não estás feliz?

 

Atirou-me para longe. Os seus olhos faiscavam. Agarrou-me pela roupa até sentir o seu hálito junto á minha cara.

 

 

 - Quem é o pai? – o tom era feroz. Estava farta de ser ofendida. Farta. Tomei a atitude que já a muito tempo devia ter possuído.

 

- Quem é o pai? Quem é o pai?! Estou farta Sasuke … farta! Se duvidas assim tanto de mim porque continuas comigo? Se achas que eu não te amo porque é que insistes nesta relação?! Se achas que ando com todos porque é que não me deixas! – Queria gritar até ficar sem voz. Gritar para não ouvir o sofrimento que sempre queria sobrepor-se. O medo que queria tomar conta de mim.

 

 

Eu perco meu caminho,

E não leva muito até você mencionar isso.

Eu não posso chorar,

Porque eu sei que isso é fraqueza nos seus olhos.

Eu sou forçada a fingir um sorriso,uma risada,

Todos os dias da minha vida.

Meu coração não pode quebrar.

Quando não estava inteiro para começar.

 

 

Um soco apanhou-me totalmente desprevenida. Fora tão intenso que o meu corpo foi atirado contra a parede. Não me abati. Nunca mais. Sentei-me e limpei o sangue que me escorria da boca. A raiva acumulada estava finalmente a sair.

 

 

- Pensas que és muito forte quando me bates? O que é que sentes? Prazer?! Acho-te ridículo! És um monstro! – gritei tão alto. Era como se eu quisesse que aquela dor saísse de alguma maneira.

 

 

Ele estava parado. Incrédulo. Talvez pensou que não tivesse coragem de o enfrentar. Sentei-me no sofá, a dor do muro tinha começado a aumentar, e a minha boca sagrava imenso.

 

 

Num abrir e fechar de olhos, ele apareceu frente a mim, puxando-me para o chão para depois pontapear-me nas costas. Gemi de dor. Tentei levantar-me, mas, infelizmente não consegui. Agarrou-me pelos cabelos levando-me para o banheiro, colocando a minha cabeça na sanita. Gritava de desespero. Gritava de dor.

 

 

 - Esse filho não é meu! Eu sei! Eu amo-te mais que tudo na vida! E tu não me dás o devido valor! - colocava a minha cabeça lá dentro com mais veracidade.

 

 

Num momento de desalento, achei uma força oculta e soltei-me. Arranhei-o no pescoço enquanto ele tentava lutar contra mim. Não consegui fazer outra coisa. Tentei escapar, comecei a correr, mas, a dor não me permitia. Empurrou-me pelas escadas abaixo. Pensei que iria morrer. Tentei proteger a cabeça.

 

 

- Por favor, Sasuke, pára. Desculpa. Por favor. – já não sabia o que fazer. Temia pela vida do meu filho.

 

 

Pisou-me no estômago com força. Como se eu fosse algum tapete. Uma. Duas. Três. Quatro. Soltei um grito terrível e vomitei ao mesmo tempo. Tinha de encontrar forças para fugir. Levantei-me e tentei ir em direcção á porta, mas, em vão. Ele agarrou-me pelo pescoço e apertou-o com força. Faltou-me o ar. A cabeça a andava á roda. O meu corpo ficou mole. Desmaiei uns momentos depois.

 

 

Por sua causa,

Eu nunca ando muito longe da calçada.

Por causa de você,

Eu aprendi a jogar do lado seguro.

Assim eu não me machuco.

Por sua causa,

Eu acho difícil confiar.

Não só em mim, mas em todos à minha volta.

Por causa de você,

Eu tenho medo.

 

 

*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*

 

 

 - Sakura. – ouvia uma voz do além. – Sakura-chan? – abria os olhos com dificuldade. A luz cegava-me. Tinha dores pelo corpo todo. Não conseguia falar.

 

- Oh, graças a Deus, Sakura-chan, pensei que nunca mais acordasses. – destingui um sorriso feminino. Os curtos cabelos negros. Olhos calorosos. Shizune.

 

 

 Por uns momentos o meu corpo congelou. Estaria em minha casa?! Estaria no hospital?! Sasuke saberia onde estava?! O que teria contando pelo meu lamentável estado? Aos poucos conseguia distinguir tudo. A casa acolhedora fez-me ver que não estava em casa. As paredes de um tom azul-bebé. Suspirei de alívio. Paz. Por uns instantes.

 

 

- Tsunade-sama vai ficar tão feliz quando souber que já acordaste! Vou avisá-la! – levantou-se de onde estava sentada. O medo veio novamente. Gemi na tentativa de chamar a atenção.

 

 - Oh, Sakura, não te esforces, ainda estás muito fraca. – veio novamente ao meu encontro. – Estiveste quatro dias sem dar um sinal de vida. Pensamos que nunca mais irias acordar.

 

 - Não…. Sasuke. - Tinha a boca seca. Custava-me articular palavras.

 

 

Ao ver a minha aflição, não só nas palavras, mas, também no olhar, apercebeu-se do que falava. Parecia que lhe havia dado a triste confirmação da verdade. O rosto endureceu. Aproximou-se do jarro de água que estava em cima de uma pequena mesa, internou num copo e levou-me á boca. Senti-me outra.

 

- Sakura, o Sasuke, foi ele que te fez isto? – parecia querer medir cada palavra, cada pausa, cada respiração. Conseguia notar que tinha algum receio em tocar nalgum ponto sensível em mim. Possivelmente, quebrar-me. Quebrada, sabia eu, já estava á bastante tempo.

 

 - Foi. – não consegui colar os meus olhos aos dela. Sabia que era verdade, mas, não significava que não a sentisse. Aquela pura crua realidade.

 

 

Naquele instante isso para mim não era o mais importante. O meu filho. Só queria saber se ele estava bem. Não o conseguia sentir. Num gesto lento, coloquei a mão sobre a barriga. A minha mão tremia.

 

Shizune deixou uma lágrima correr, para, logo depois, passar a manga da camiseta no rosto. Teria aquela simples gota algum significado? É mais fácil, por vezes, e menos doloroso, não acreditarmos do que acreditarmos. Simples. Se acreditarmos, esperamos algo em troca. Possível desilusão. Se não acreditarmos não esperamos nada. Não queria nada daquela lágrima.

 

 

- Lamento muito Sakura-chan. – A voz enfraquecida e baixa. Agarrou-me a mão com força.

 

 

Seria ainda possível, abrir mais uma brecha dentro de mim? Tinha tantas feridas por curar. Como conseguiria suportar a dor de perder um filho?! Todas as dores são diferentes. Já não sabia como senti-las. Diferenciar. Parecia que estava acalcanhada. Tornara-se hábito sofrer. O meu problema foi tentar procurar soluções no vazio. Numa gruta escura que nunca mais tinha fim. Como é que eu deixei esta situação chegar a este ponto? Como?! E, mais, porquê? Lamentar. Chorar. Desesperar. Foi só isso que fui capaz de fazer estes meses. Atitude. Perseverança. Pensamento próprio. Tirara-me tudo. Ele tomava todas as decisões. Porque, apenas, não fui suficientemente forte para o deixar. Agora, por causa da minha incapacidade, deixei que ele fizesse mal ao único ser que preenchia a minha existência. Não fui capaz de protegê-lo.

 

Todos nós caímos. Só que, desta vez, eu não ficaria á espera que alguém me viesse levantar. Não me deixaria ficar no chão a chorar a minha desgraça. Tomaria uma atitude.

A minha mão desceu vagarosamente da barriga para pousá-la ao lado do meu corpo. Voltei o rosto. Suspirei. Engoli a raiva. Absorvi a dor. Não iria chorar mais. Seria forte. Shizune percebeu que precisava de ficar sozinha. Reflectir. Fechei os olhos. A vingança foi a primeira imagem que me apareceu.

 

*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*

 

 

A sala de Tsunade estava consumida por um calor desagradável. Tinha desaparecido á quatro dias. Hoje fazia cinco. Ninguém compreendia o meu desaparecimento. Tinha evaporado da face da terra.

 

 - Como é que é possível? – o meu marido batia com as mãos na mesa. – E os guardas á entrada da Vila? Não viram ninguém suspeito?! – estava descontrolado. Á nora.

 

 

Marcas de unhas, ainda por cicatrizar, eram visíveis no seu pescoço. Tentava com algum custo, escondê-las mas, eram demasiadas. Naruto olhava para ele com atenção. Sasuke nunca se descontrolava. Nem por um segundo. Ele sabia, que, eventualmente, poderia estar preocupado comigo. Afinal era sua esposa. Só que, a sua postura nos últimos dias ponderava por um desespero em nada concreto. Não conseguia perceber. Tsunade levantou os olhos.

 

 

- Uchiha, não podemos fazer nada. – cruzou as mãos – se ela talvez foi raptada, o que é o mais provável, temos de aguardar instruções dos raptores. Eles certamente que querem alguma coisa em troca. Não vamos agir de cabeça quente. – não deixava de fixar o par de olhos cor de amêndoa nos orbes negros. Nas marcas evidentes.

 

 - Sasuke, essas marcas no pescoço, como é que as fizeste? – a desconfiança pairava dentro daquelas quatro paredes. Ninguém queria acreditar. Seria demasiado evidente ou estariam a tirar conclusões precipitadas?!

 

 - Isto?! – passou as mãos pelos pescoço – foi a maldita gata da minha vizinha. – o ar superior que tinha. Não houve viva alma que engolisse aquela desculpa. Apesar disso, ninguém foi capaz de enfrentá-lo. Encarar a verdade.

 

 - Ba-chan, o que vamos fazer? – a voz de Naruto era segura. Atenta. Tinha consciência que a sua maneira de ser, não era a de alguém astuto, mas, se era alguma coisa relacionada com os amigos, e quando o ponto era o sofrimento de um deles, não baixava guarda. Conseguia notar que Tsunade sabia alguma coisa. Tentaria descobrir.

 

  - Tsunade-sama, a paciente do quarto duzentos e quatro já se encontra melhor. – para tentar levantar aquele mau ambiente, apareceu Shizune, sempre com a sua indiscrição.

 

- Naruto, vamos aguardar. Já procuramos aos arredores de Konoha, e não a encontramos. Só nos resta esperar. – a conversa morreu ali. Sasuke desnorteado. Naruto desconfiado. Uma Shizune com uma notícia na ponta da língua.

 

 

*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*

 

 

Quando começaram as buscas, na tentativa de encontrar-me, nos arredores da Vila de Konoha, Shizune contou-me o que se passara. Naquela noite, quando ia para casa, viu um Sasuke enraivecido sair, batendo atrás de si, a porta com toda a sua força. Parecia que a minha casa tinha-se abanado. Preocupada, pensando que havíamos discutido, decidiu ir ter comigo. Bateu uma vez. Não houve resposta. Duas vezes. Silêncio absoluto. Três vezes. Um gemido que parecia ecoar naquela noite silenciosa. Apavorada, abriu a porta, que pelos vistos não estava trancada, e deparou-se comigo estendida no chão. Segundo ela, parecia um feto, todo enrolado. Delicado. Indefeso. Levou-me rapidamente para sua casa. Suspeitou, desde logo, que Sasuke tinha me feito aquilo. O hospital seria um risco demasiado grande. Poderia ser encontrada.

 

E, nessa mesma noite, o meu marido apareceu em casa de Tsunade dando a notícia de que não havia vestígios de mim em lado nenhum. Os seus olhos cheios de veias de sangue. Suado. O corpo trémulo. Estava enraivecido por ter fugido, e ao mesmo tempo, receava que contasse tudo a alguém. Na altura, obviamente, Tsunade-sama, não associou a isso.

 

No dia seguinte quando Shizune contara o que vira, queria tomar uma atitude. O problema estava em não ter provas contra ele. Eu estava em coma. Quem iria confirmar a história? Logo depois, de eu ter desperto, Tsunade veio ao meu encontro.

 

- Sakura, eu como hokage desta vila, tenho de tomar uma postura. Sasuke não pode sair impune pelo que te fez. – conhecia demasiado bem a minha mestra. O seu lado maternal. Justo. Só que isto não era um assunto da Vila, era um assunto que eu queria resolver sozinha. De uma vez por todas.

 

- Confie em mim…. mestra. Só, por favor, não faça nada contra o Sasuke. Não ainda. – enchi os pulmões de ar. Soltei-o. Só eu poderia desfazer-me daquele passado. Não queria viver eternamente agarrada a ele.

 

- Sakura-chan! – a porta abriu-se – eu sabia que só poderias estar aqui! – Naruto foi para perto da cama e abraçou-me. Retribui o abraço.

 

 - Desculpem-me, mas, não consegui impedi-lo. – afinal, quem alguma vez conseguiria contê-lo de alguma coisa?

 

 - O Sasuke … eu não quis acreditar, mas, pelos vistos, é verdade. Ele vai ver! Vou dar cabo dele! – levantou-se eriçado, dirigindo-se rapidamente para a porta.

 

 - Não. Por favor, Naruto. Eu não quero que faças nada. – levantei o braço. Doía-me. Gemi de dor.

 

 - Sakura-chan, mas, eu não posso…. – a minha voz cortou-a.

 

 - Confia em mim. É tudo o que te peço. – voltou o olhar. Cerrou o punho. Sabia que ele me ouvia. Compreendia.

 

- Como queiras. Só te peço uma coisa. Se decidires aproximar-te dele, avisa-me. Não te quero sozinha com aquele… com aquele … - a raiva era demasiada. Acertou com o punho na parede.

 

 

*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*

 

 

As semanas passaram-se. Sasuke estava de tal maneira obcecado, que nem se apercebia que Naruto me ia visitar todos os dias. Estava melhor.

 

Olhei pela janela. O céu de um tom alaranjado denunciava que a noite cairia em breve. Sabia que a esta hora ninguém estaria em casa. Mas, na minha sim. Sai pela janela, olhando o horizonte, decidida em enfrentar, o meu maior pesadelo. O momento era agora.

 

 

*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*

 

 

Abri a porta. Não fiz questão de silenciar os passos. Estava na cozinha. Senti-me nauseada quando se aproximou de mim. Não me movi. Não falei.

 

 - Oh Sakura! Sakura! Estive tão preocupado contigo! Onde estiveste? Por onde andaste? Se tu soubesses ao ponto que te amo, tu não me fazias isto! – o seu estado lastimável metia-me dó. Parecia uma autêntica criança a agarrar-me as roupas. Estava asqueroso. Sujo.

Amar-me?! Apetecia-me rir-me da cara dele. Amo-te. Uma mera palavra que não me dizia nada. Não dá boca dele. Sujeitei-me a ouvi-la, por tanto tempo, sem um significado aparente. As atitudes para comigo foram sempre contraditórias. Constantemente.

 

 

 

Soltei-o lentamente de mim. Encarei-o. Levantei o braço acertando o meu punho em cheio no rosto. Voou de encontro á parede da sala. Sabia que ele tinha mais força que eu. Tinha consciência disso. Só que, ele não tinha algo que eu agora possuía. Força de vontade. Corri novamente contra ele e esbofeteei-o. Sem parar. Agarrou-me o braço.

 

 

 - Decidiste ser dura comigo agora? Tenho pena de ti. És uma fraca! O que é que tu és sem mim?! O quê?! Nada! Absolutamente nada! – ria ás gargalhadas. Parecia um louco. O sangue jorrava da boca. Nariz.

 

 

Ninguém usava técnicas ninjas. Ele, bem como eu, parecíamos querer medir forças físicas. Enquanto tentava desviar-me dos seus ataques, dizia alto, que podia acabar comigo simplesmente com um dedo. Acreditaria cegamente nas suas palavras a uns tempos atrás. Agora não. Eu já não era a Sakura que ele conhecia. Num momento de desvio, acabei por cair por entre as coisas espalhadas por todo o lado. Estava estendida no chão. Ele ajoelhou-se.

 

 

 - O que é que tu vais fazer agora?! Hei Sakura?! - o seu tom era sarcástico - Vou fazer algo que já devia ter feito á muito tempo. Matar-te! Não mereces estar neste Mundo! – pensei que seria o meu fim.

 

 

- SAKURA-CHAN! – Naruto apareceu, ainda hoje, não sei de onde.

 

 

Apesar do tempo que já passou, consigo ainda visualizar tudo em câmara lenta. Sasuke olhou involuntariamente para trás. Um segundo de distracção, muitas vezes, é morte certa. Naruto vinha de encontro a ele para o tirar de cima de mim. Coloquei a mão atrás, e retirei uma kunai. Os orbes negros encararam-me. Tarde demais. Espetei-a em cheio no lado esquerdo dele. O sangue negro caiu sobre mim. Tombou para o lado. Terminou. O pesadelo finalmente tinha acabado.

 

 

Naruto pegou-me ao colo. Sentou-me no chão, encostando-me a uma parede. Chorava.

 

  -Sakura, tu podias ter morrido! Ele podia ter-te morto! – encostou a minha cabeça contra o seu peito. Não sabia o que sentir. Chorar?! Gritar?! Estava estática.

 

- Eu posso morrer…. – a voz saia fraca – mas eu não vou te deixar em paz. Tu nunca terás paz! – a voz sairá com mais intensidade no fim. Começou a rir-se. Vomitou uma golfada de sangue.

 

 

A minha face enraiveceu. Afastei Naruto de mim, e parti para cima de Sasuke. Esfaqueio-o até me fartar. Espetei a kunai quantas vezes me apeteceu. O sangue saltava-me para a face. Não parei. Não conseguia parar.

 

 

 - Sakura - Naruto aproximou-se de mim - Ele já está morto – continuava – SAKURA! – parei. Virei-me para ele. As primeiras lágrimas vieram. Coloquei as mãos ensanguentadas na face. Solucei. Gritei.

 

 

Fiquei ali rodeada pelos braços de Naruto. A chorar. Eu queria efectivamente matá-lo. Foi o meu primeiro pensamento. Seria uma má pessoa por querer tal coisa a alguém?! Por uns longos e dolorosos minutos, senti-me igual a ele. Chorava sempre que me batia. Parecia realmente arrependido. O problema é que não o estava. Gotas falsas. Agora, eu sentia o mesmo. Não chorava, porque tudo tinha terminado. Chorava porque tinha sido igual a ele. Paguei-lhe na mesma moeda, quando, tudo o que eu queira, ela que ele sofresse tal como eu sofri.

 

 

Eu assisti você morrer.

Eu ouvi você chorar,

Toda noite no seu sono.

Eu era tão jovem, Você deveria saber mais e,

não simplesmente contar com o meu apoio.

Você nunca pensou nos outros.

Você só viu sua dor.

E agora eu choro,

No meio da noite

Pelo mesmo maldito motivo.

 

 

 

 - Tu não és igual a ele. – o meu olhar direccionou-se para Naruto – Tu és muito melhor. Nunca duvides disso. – abraçou-me com força -  Foste muito corajosa. Tenho imenso orgulho em ti. – deu um leve sorriso.

 

 

Aquelas palavras ficariam para sempre tatuadas em mim. Uma nova vida seria recomeçada. Tinha a certeza. A esperança dizia-me que sim.

 

 

- Deixa-me uns minutos sozinha, por favor, Naruto. – levantei-me. Encarei-o. Sem uma palavra, saiu silenciosamente.

 

Agarrei em petróleo e derramei por toda a casa. Um singelo fósforo iria destruir, todas as possíveis memórias que teria. Aquela casa era uma delas. Para trás deixei, uma casa em chamas, uma vida de sofrimento.

 

 

*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*

 

 

Passaram-se seis anos. Tenho uma vida estável. Emprego. Amigos. Aprendi a confiar nos outros novamente. A confiar em mim própria. Os dois anos de maus tratos a que fui sujeitada, sei que nunca serão apagados. Agora, olho em frente.

 

Apesar de tudo, sei que ainda sou jovem e tenho a vida toda para a construir. O que assisti acabou. O meu desmoronamento terminou. Tento manter-me ocupada para não pensar no passado. Sei que aquilo por que passei já não volta, mas, agora que já não sou a vítima. Ver as coisas do lado de fora, é duro. Penso muitas vezes no filho que não tive oportunidade de conhecer. Muitas vezes, tento encontrar no rosto de cada criança, o bebé que nunca conheci.

 

 

Podemos cair, ser fracos, podem maltratar-nos, violarem-nos, espancarem-nos. Mas, sempre temos uma opção. Levantarmo-nos. Todos temos uma voz interior, apenas temos de ir procurá-la, mesmo que seja lá no fundo de nós. Ela dar-nos-á força. Acreditem. Sei que não posso depender dos outros. Nunca mais. Agora, Naruto está casado com Hinata e ambos têm uma filha linda. Tinha de fazer a minha vida. Sozinha ou com alguém. Na verdade acho que perdi o meu coração. Não sei onde o deixei.

 

 

- Sakura, vamos? – sol brilhava sobre a sua face. O sorriso discreto.

 

 - Sim, já vou Shikamaru! – talvez até soubesse onde ele estava.

 

 

Não era por ele já estar morto que estava totalmente em paz. Aquele maldito olhar, aquelas malditas palavras, as marcas que ficaram nunca sairiam de mim. Sabia que continuaria a olhar por cima do ombro. Sempre.

 

Por sua causa,

Eu nunca ando muito longe da calçada.

Por causa de você,

Eu aprendi a jogar do lado seguro.

Por sua causa, Eu dou o meu melhor,

apenas para esquecer tudo.

Por causa de você,

Eu não sei como deixar alguém se aproximar de mim.

Por sua causa,

Eu estou envergonhada da minha vida,

porque ela está vazia.

Por sua causa,

Eu tenho medo.

 

Fim.

 


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Notas finais do capítulo

 
Olá!
 
Bem, finalmente, a minha mini-fic terminou. Confesso, não sei como tive coragem para escrever certas coisas. Não é do meu feitio.
 
Em suma,
 
 
Agradeço a todos os que me enviaram reviews! =D
 
Fizeram com que quisesse terminá-la, e colocar os capítulos os mais rápido possível.
 
 
Também não posso deixar de agradecer, a quem leu, mas, não deixou review. Se o contador de leitores aumentava, era porque alguém se interessava.
 
 
Mas, estão sempre a tempo de dizer-me o que pensam!
 
 
 
Estaria aqui .. para vos ler! Sempre.
 
Um beijo no coração de todos vocês,
 
Cari.
 
Para uma última reflexão .. deixou-vos este pequeno texto, suponho eu, seja conhecido da maioria.
 
Um velho índio descreveu certa vez em seus conflitos internos:
"Dentro de mim existem dois cachorros, um deles é cruel e mau, o outro é muito bom e dócil. Os dois estão sempre brigando..."
Quando então lhe perguntaram qual dos cachorros ganharia a briga, o sábio índio parou, refletiu e respondeu: "
Aquele que eu alimentar" - Autor desconhecido