Davina - No limite de um amor veloz. escrita por Lya De Volkan


Capítulo 2
GP da Austrália - Abril de 1968


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura e não se esqueçam e favoritar e comentar ok? Beijinhos.



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Era um belo outono amarelado, lembro-me que cheguei na Áustria no domingo de manhã após uma cansativa viagem de avião, durante toda a madrugada do sábado eu pensei no teste que faria, estava nervoso e animado. Não esperava consegui-lo tão rápido logo após a minha dispensa militar em Janeiro daquele mesmo ano. Será que eu iria conseguir? Eu era bom o bastante? Essas perguntas ecoavam em minha mente durante um longo tempo. Eu nunca me considerei o piloto mais rápido do mundo, mas eu era o mais cauteloso com toda a certeza, eu não estava querendo desafiar a morte e o perigo daquele esporte de loucos, mas eu queria fazer o que eu gostava.

Fui convidado pelo Jackie Stewart, um piloto veterano da Tyrrell, equipe para qual eu faria o teste, para uma estadia em sua casa no país. Tentei negar, não queria incomodar uma pessoa que eu tinha acabado de conhecer, mas ele e sua magnifica mulher, a Helen, insistiram para eu ficar com ele, não tinha como negar. Acabei por aceitar. Jackie passava as tardes livres no quintal de sua linda casa, jogávamos ping pong, tênis e as vezes um pouco de futebol, brincávamos com seus filhos, o Paul e o Mark que na época eram pequenos, com 3 e 2 anos, eu adorava aquelas crianças. Mas nada tomava mais espaço em nossas conversas do que o automobilismo. Coisa que para a minha família, era uma escolha péssima.

Nasci na França no dia 25 de fevereiro de 1944. Caçula de um casal mesclado, fui criado no meio da alta sociedade francesa da época, meu pai era dono de uma empresa de joias bem sucedida em Paris, teve que esconder os 4 filhos com o sobrenome materno para que não fossemos perseguidos pelos nazistas na época da guerra. Por causa do sangue judeu, nosso sobrenome era Goldenberg, mas para nos esconder, usamos o Cevért da minha mãe durante um longo tempo. Com o fim da guerra, meu pai ainda tentou mudar nosso sobrenome novamente para o Goldenberg, mas já éramos conhecidos como os Cevért e assim ficou.

Com o tempo, eu fui ensinado a refinada etiqueta francesa, com direito a aulas de piano e boas maneiras para cavalheiros da sociedade. Mas nada tão bom comparado a musica, eu nasci amando a musica clássica, o som do piano e o conjunto de instrumentos era um dos meus meios de buscar a calma e a paz.

Fora as artes, eu tinha outra grande paixão, a velocidade.

Comecei a correr aos 15 anos de idade, no bairro da minha casa com meus amigos de infância e mocidade, como os irmãos Vicente e Pierry, os colegas de escola Eugene, Jacob e o Carl. Corríamos até altas horas da noite, apostávamos e competíamos entre nós, mas sempre na amizade e com respeito um pelo outro.

As noites da badalada Paris eram só festa, íamos para bailes, boates, muitas vezes escondidos de nossos pais por causa de sua educação conservadora. Mas quando se é jovem, você só quer aproveitar o que a vida tem a lhe oferecer, boas festas, bons amigos, boas bebidas e boas mulheres. Seria mentira minha em dizer que não havia mulheres em nossas saídas a noite. Eu nunca tive problema em sair com uma moça que me agradasse, era só chegar perto dela e saber conversar, se fosse uma boa conversa, aconteceria um beijo e se fosse um beijo com sentimento, poderia até acontecer um namoro.

Em toda a minha vida eu já tive varias namoradas, das mais variáveis, mas me deitei com pouquíssimas. Queria no mínimo cultivar a minha cultura judia nesse lado, eu não precisava me deitar com todas, e eu só me deitava com as que não eram mais virgens. Eu não queria ter a responsabilidade de tirar a virgindade de uma moça, eu tinha os meus princípios éticos e morais para não fazer isso.

Meus amigos se mordiam se inveja e de raiva ao mesmo tempo, inveja por todas as garotas só olharem pra mim, sem querer ser esnobe, e de raiva por eu não ir para a cama com todas elas. Eu já não me importava, eu ainda não tinha conhecido a garota ideia e tinha consciência disso, uma garota com quem eu fosse casar e construir uma família. Mas como eu me achava novo de mais pra casar, continuei apenas namorando.

Com o tempo, minha paixão pela velocidade foi crescendo, meu nível de loucura chegou a me fazer andar de motocicleta, mas eu não estava satisfeito, eu queria mais. Tomei uma decisão, eu iria para os carros. Naquela época era praticamente um suicídio correr em carros de corrida profissional, minha família não me apoiou nessa minha aventura sobre quatro rodas e eu tique que lutar para conseguir o que queria. E assim comecei a minha carreira na Fórmula 2000, me destacando em oito das dez corridas que participei. Não demorou muito para eu chegar na Fórmula 3 pela equipe Centauro, apenas com 21 anos.

Em uma das corridas, impressionei o grande Jackie Stewart com minha velocidade e com o meu cuidado na pista, meu modo dócil como ele costuma falar, e então me indicou para um teste da Tyrrell para o campeonato de Fórmula 1 de 1968.

–Está confiante? –Jackie me perguntou após me entregar uma garrafa de cerveja e se sentou em uma das cadeiras ao meu lado no jardim de sua casa, era um lugar extremamente bonito e foi projetado pela Helen.

–Estou sim, só um pouco ansioso, afinal de contas é a Fórmula 1. Mas darei o meu melhor nesse teste. –o respondi arrancando um sorriso do seu rosto, a cada dia que se passava nos tornávamos mais próximos um do outro. Ele me passava sua experiência de piloto veterano e eu ouvia atentamente.

Ele me disse que antes do meu teste, um grupo de mulheres iria treinar no autódromo, fiquei interessado em saber como seria uma corrida de Fórmula 1 só de mulheres.

–Perigo. As mulheres são perigosas por natureza, dentro de uma pista de corrida então...qualquer coisa no meio de uma briga pode virar uma arma, até mesmo suas unhas. –comecei a rir com sua declaração, não tinha como não rir com ele dizendo aquilo, mas eu não achava que era tudo isso. –Verdade, por que você não me vê brigando com a Helen? Já viu o tamanho das unhas dela?

E foi assim nossas tardes na Áustria, de conversas e risos na casa do Jackie, brincadeiras com seus filhos, momentos bem gratificantes entre amigos. Na segunda de tarde, o Dennys Cooper e sua esposa Jéssica também vieram para a casa de Stewart acompanhar os testes.

Então chegou o dia do grande teste, eu iria competir com mais seis pilotos pela vaga na Tyrrell e me senti animado, se tem coisa que eu adoro tanto quanto correr é um bom desafio. Desafios são bons para ver onde se pode chegar, se você pode conseguir aquilo que deseja.

Fui designado para o carro de número dois da marcar ELF, faltavam algumas horas para o teste e Jackie nos levou para a arquibancada do autódromo de Zeltweg Airfield, era inicio de tarde, umas duas horas e vinte minutos de acordo com o horário local se eu me recordo bem. Lembro-me que assim que chegamos lá, a corrida de treino das mulheres já tinha começado e tinha uma grande quantidade de pessoas, apenas para ver um treino.

Tinha dois carros um do lado do outro como se disputassem a pista. Era incrível ver que mesmo sendo uma corrida de treino, elas disputavam com vontade. Comecei a achar interessante.

–São boas não é? São minhas grandes promessas para essa temporada, a que tem mais cartas apostada é a de capacete verde e amarelo. –Ron Dennis, diretor da McLaren comentou com o Jackie sobre as garotas e eu não pude deixar de ouvir a conversa. Realmente, a de capacete verde e amarelo era bem veloz e sempre estava fechando a passagem da de capacete branco.

–De que países elas são? –Jackie perguntou e eu esperei a resposta de Ron.

–As duas são do Brasil, mas pagamos uma grande quantia em dinheiro para poder tirar a de capacete amarelo da Lotus e traze-la para a McLaren. –fiquei intrigado, se uma pilota valia tanto assim, então ela deveria ser muito boa mesmo. Me aproximei do Ron e me apresentei formalmente, depois perguntei:

–Como elas se chamam? –como quem tivesse ganhado um prêmio, ele sorriu e me respondeu:

–A número 6 é Abigail Mansell, a de número 4 é Marie-Rose Prost, a de número 3 é Neyde Piquet, aquela de capacete branco, e a de número 1 é a minha mais nova estrela para esse campeonato, seu nome é Davina Senna e ela é nova na equipe, mas promete muito.

Voltei a observa-las, como os homens elas eram bem competitivas. Mas a tal Davina acabou se destacando das outras por sua velocidade e sua ousadia dentro daquela pista, ela fazia ultrapassagens bem articuladas e impulsivas, e um tanto agressivas, mas sempre ficando na frente das outras. Era uma briga pela liderança entre a Senna e a Piquet, as vezes a Prost se aproximava mas não conseguia ultrapassa-las.

Foi uma corrida bem interessante de se ver, elas já estavam na Fórmula 1 e eu ainda faria um teste para entrar nela, aquilo me fez sorrir com meu pensamento tolo, se elas estavam ali é por que mereceram e por que tinham se destacado entre outras.

Quando a corrida acabou e as meninas alinharam seus carros do lado do boxe principal, a medida que elas iam saindo de seus carros, tiravam seus capacetes e assim eu olhava seus rostos. Eram verdadeiros anjos sobre quatro rodas, rostos tão delicados quanto bonecas de porcelana, mas a que eu queria ver não mostrou o rosto, entrou de capacete dentro do boxe.

Deixei minha curiosidade de lado e fui me preparar para o meu teste que seria logo após o treino delas, todas as meninas do boxe me olhavam com aquele olhar de desejo, eu conhecia bem aqueles olhares desde os meus 15 anos de idade e aprendi a me dar com eles da melhor maneira possível, para não ser um cara grosso com nenhuma delas.

Me concentrei e rezei, a bandeira de largada balançou e o teste começou. Estava nas mãos de Deus.


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Notas finais do capítulo

E ai? Amor a primeira vista? Atração? Admiração? Esse François...



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