Sierra

Dou mais um mergulho na enorme piscina de minha casa, quer dizer, quase minha, já que a casa é do meu padrasto. Hoje estou tão feliz que nem consigo expressar minha alegria. Minha mãe teve mais uma ideia para colocar meu padrasto contra a filhinha dele.

Mas antes, acho que devo contar um pouco mais da minha história. Sou a segunda filha de quatro irmãos. Quando meus pais se separaram eu e meu meio-irmão mais velho, Bredley, ficamos morando com a mamãe enquanto meus irmão mais novos, Natasha e Allan ficaram com meu pai. Há algum tempo atrás minha mãe se casou novamente com meu padrasto, Edward. E ele tem uma filha. Aline Dawson.

Aline é ligeiramente irritante em tudo que faz, até entendo porque a mãe dela a abondou quando ainda era um bebê. Ela sempre consegue fazer tudo certinho e isso me irrita. Na minha opinião, doçura demais enjoa e Aline é doce demais. Me pergunto como ainda consigo ficar no mesmo cômodo que ela.

Para minha sorte mamãe não gosta de Aline, e nós duas decidimos transformar a vida daquela criatura irritante em um inferno. E até que tem dado certo, só não é perfeito – ainda – porque meu irmão não aceita todas as maldades que eu e mamãe planejamos. No inicio não entendi o porquê, mas depois ele me confessou que estava apaixonado por Aline. Isso me fez odiá-la mais ainda, pois eu meio que tenho uma paixão platônica por ele desde os meus quinze anos quando o beijei. Eu sei que parece meio estranho, mas não consigo deixar isso de lado, é mais forte que eu. O pior de tudo é que tenho que ficar ouvindo ele falar o quanto ela é bonita e perfeita. Argh! Isso me dá náuseas.

Depois que vi ela se inscrevendo para a Seleção me inscrevi também, não posso deixar ela conquistar o príncipe, tenho que mostrá-la que sou melhor do que ela. E farei o príncipe se apaixonar por mim.

Eu e mamãe bolamos mais um plano para colocar Aline em seu devido lugar – no quarto, de castigo. Mamãe teve a ideia de quebrar minha caixinha de música que ganhei da minha irmã – Natasha – no meu aniversário de quinze anos e colocar a culpa na Aline, dizendo que ela quebrou a caixinha ao entrar no meu quarto. Aí tive a ideia de colocar um valor especial na caixinha e dizer que ela foi presente da minha vó. Sou atriz e vai ser muito fácil chorar na frente do meu padrasto e colocar a culpa na filhinha querida dele.

Saio da piscina e pego meu relógio de pulso na mesinha e sento-me na cadeira de sol. A essa hora Aline já deve ter chegado da caminhada que foi fazer e acredito que mamãe já deve ter colocado nosso plano em prática.

Alguns minutos depois Aline chega com a toalha e me entrega. Sorrio maliciosamente pra ela e agradeço. Depois de me secar volto para dentro de casa e passo pela sala para confirmar com a mamãe nosso plano, depois subo para meu quarto e tomo uma ducha. Quando termino de trocar de roupa me olho no espelho e coloco um pouco de colírio nos olhos – para ajudar com as lágrimas – e começo a chorar e chamo a mamãe.

O pai de Aline a colocou de castigo como eu e mamãe prevíamos e ela ficará sem assistir ao Jornal Oficial. Pelo menos eu não terei que aturá-la durante o Jornal Oficial.

Durante o Jornal, quando Grivery é apresentado eu e mamãe ficamos em silêncio esperando ele apresentar as selecionadas. E fico impressionada com algumas. Confesso que a maioria é bonita, mas garanto que consigo ultrapassá-las – nada que um pouco de atuação não dê jeito.

Bred chega no momento em que Gryvery está apresentando a quinta selecionada e eu o amaldiçoo por ter ficado com aquele sorriso idiota e subir as escadas correndo ao ver quem foi apresentada.

– Aline Chermontt Dawson, de Paris, Designe de moda e cantora, Dois. Tem 18 anos.

Minha vontade é pegar essa maldita televisão e destroçá-la, mas me controlo. Pego o controle para desligar a droga da TV, mas aí sou surpreendida novamente pela voz de Grivery.

– Sierra M. De La Blonde, de Paris, atriz, Dois. Tem 19 anos.

Nesse momento só um pensamento passa pela minha cabeça: Aline Dawson, eu tirarei todas as suas chances de ser perfeita. Todas.

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Rennata

Chego em casa depois de mais um dia de trabalho e vou direto para o sofá para descansar minhas pernas. Faço uma nota mental enquanto coloco meus pés em cima da mesa de centro: não posso esquecer de pedir a meu personal traine que pegue mais leve com os exercícios essa semana. Alguns minutos depois a empregada – Cecília – chega perto de mim e diz que minha mãe está me chamando no escritório. Peço a ela para levar suco e biscoito para meu quarto assim que meu irmão chegar e sigo para o escritório.

A maioria das pessoas acha que a vida de uma modelo é fácil, mas a verdade é que não é. Nenhuma profissão é fácil, a não ser que você leve ela na brincadeira. Mas no meu caso, é meio difícil você levar uma profissão como a minha – de modelo – na brincadeira quando se tem uma mãe exigente. Ela sempre cobra a perfeição de mim e de Lee – meu irmão –, nunca entendi isso. Pois, veja bem, nós temos uma vida mais do que boa, nunca precisamos nos matar de trabalhar, mas, mesmo assim, ela insiste que trabalhemos pesado. Não a jugo, amo minha profissão e trabalho com gosto, mas é horrível sentir minhas pernas latejando todos os dias após o trabalho – de tanto ficar naqueles saltos enormes – e não receber um mísero elogio.

Bato na porta do escritório dela e ouço um “entre” abafado. Abro a porta e não me surpreendo em vê-la lendo seus papeis-com-coisas-importantes. Sento-me na cadeira em frente a sua mesa e espero ela falar.

– Seu fotógrafo me mandou algumas fotos do seu último ensaio fotográfico – diz sem olhar para mim.

– E o que a senhora achou das fotos? – perguntei curiosa e esperançosa ao mesmo tempo.

– Ficaram espontâneas demais – ela levanta o olhar para mim –, você não deveria se soltar tanto.

– Mas mãe, eu amei aquelas fotos. Me senti tão bem, pela primeira...

– Uma modelo não deve mostrar simpatia – me interrompe. – Uma modelo deve mostrar autoconfiança e superioridade.

– Mas...

– Chega! Você está dispensada.

Me levanto e caminho para sair da sala e assim que abro a porta ela me chama novamente. Olho para ela e mais uma vez deixo a esperança de um elogio crescer dentro de mim.

– Não me decepcione novamente – diz e volta sua atenção para os papeis.

Subo para meu quarto, sento-me na cama e deixo a raiva fluir. Já cansei de tantas críticas. Nunca consigo agradá-la e nunca sou boa o suficiente. Tiro meus saltos – com raiva – e os jogo em direção a porta do quarto, nesse momento a porta se abre e meu irmão quase é atingido por um deles.

– Wou! O que aconteceu? – Ele pergunta.

Conto e desabafo tudo pra ele. Lee é meu melhor amigo e sempre me entende porque mamãe cobra a mesma perfeição dele. Na verdade, acho que não discutimos com a mamãe todos os dias porque papai fica do nosso lado e ele sempre consegue acalmar a mamãe.

– E como está o trabalho de ator? – pergunto.

Nesse memento Cecília entra no quarto com uma bandeja com suco de laranja e alguns cookies. Agradeço a ela e olho para meu irmão esperando a resposta.

– Está bom. O seriado que estou fazendo tem um ótimo roteiro e o elenco também é legal, com a exceção de uma garota.

– Humm. Quem?

– Ela é tão irritante que nem lembro o nome dela. Ela é daquelas que acha que tudo deve estar ao seu dispôr.

– Você não parece confiante com as palavras – provoco-o.

Ele semicerra os olhos pra mim, mas não diz nada sobre o assunto.

– Você não deveria assistir ao Jornal Oficial? – pergunta ele.

Arregalo os olhos e me lembro que já estava na hora do Jornal.

– Droga! Me passa o controle, por favor – peço.

Ele me passa o controle e ligo a TV no canal do Jornal Oficial. Grivery já estava apresentando a terceira selecionada.

Me inscrevi na Seleção para provar para minha mãe que sou boa o suficiente, e também porque sempre quis conhecer o príncipe. Acho os dois lindos e seria uma honra conhecer a família real.

Fico impressionada com algumas selecionadas. Todas são bonitas e esbanjam beleza, a quinta selecionada deixou Lee de queixo caído, tive até que bater e seu ombro para trazê-lo de volta.

Estava analisando a expressão de Daniel quando a sexta selecionada foi apresentada e Lee arregalou os olhos e resmungou do meu lado. Não entendi o porquê. mas também não perguntei. Logo depois a sétima selecionada foi apresentada, dessa vez, me deixando surpresa.

– Rennata Lightwood, de Oregon, modelo, Dois. Tem 17 anos.