Pensei que os treinamentos não podiam me desgastar mais ainda. Eu estava errada. Eles podiam sim. O treinamento na câmera de gás, me deixou pior do que qualquer outra coisa.

Apesar de todo o sofrimento físico que o gás traz e os delírios mentais, fiquei feliz pelo meu desempenho na prova. No segundo dia eu e Danilo fomos os primeiros a conseguir resistir sem desmaiar aos 10 minutos na câmera de gás. Ainda passamos mal, depois que saímos de lá de dentro, mas pelo menos já havíamos conseguido.

No terceiro e o quarto dia nesse treinamento tivemos que aguentar a 15 e 20 minutos, respectivamente, lá dentro. Os quinze minutos, eu e mais três pessoas da minha turma conseguimos. Mas no outro dia, durante os 20 minutos eu acabei desmaiando nos últimos minutos. Fiquei com raiva de mim mesma por não ter sido capaz de aguentar firme 20 minutos, mas depois que Danilo veio conversar comigo, eu me acalmei e percebi que não precisava me preocupar com isso. Tinha sido apenas um deslize, um erro de concentração. Era normal.

E no último dia, onde ficamos 30 minutos na câmera de gás, eu me concentrei o máximo possível e consegui me manter acordada por todo o tempo. Quando Júlio abriu a porta consegui sair para fora sem que ele precisasse me carregar e não dormi depois. Permaneci tomando oxigênio acordada. Foi uma grande vitória para mim! E Júlio também pareceu satisfeito com isso.

Gosto dele como professor. Melhor do que qualquer outro, apesar de todo o seu jeito arrogante e rude. Fiquei triste quando no dia seguinte ao último dia do treinamento da câmera de gás ele anunciou para toda a turma:

– Soldados, quero lhes dizer, que vocês superaram mais uma etapa e concluíram hoje a segunda fase do treinamento. A partir de semana que vem, vocês estarão na terceira e última fase. Mas eu não serei mais o professor. Alexandre volta de férias e ele terminará de ensinar tudo que precisam saber.

Ninguém disse nada em toda a sala, mas dando uma olhada rápida nos rostos dos meus colegas, todos pareciam decepcionados. Provavelmente, assim como eu, imaginaram que Júlio iria terminar o nosso treinamento, e preferiam que assim fosse, pois ele era bem melhor que o Alexandre.

– Eu vou me oferecer para ajudar Alexandre no que for preciso — continuou Julio — Mas talvez não nos vejamos mais. Então quero que saibam que eu tenho certeza que vocês serão ótimos soldados, e que me sinto orgulhoso de vocês. - seus olhos brilharam, enquanto ele olhava para Danilo, Carol, John, Eric e para mim. - Vocês estão dispensados por hoje. Aproveitem o resto do dia para descansar e amanha também. A próxima fase será ainda mais difícil.

Com essa todos começamos a deixar a sala, felizes por termos sido liberados hoje bem mais cedo do que o normal.

Danilo saiu correndo em direção ao irmão e lhe deu um abraço de urso, enquanto batia nas suas costas. Era uma despedida. Agora só se veriam por aí, nos corredores do quartel. Não teriam mais a chance de se verem todos os dias, o dia inteiro. Eu entendia o lado deles. E também me sentia triste. Queria continuar vendo Júlio diariamente, queria continuar escutando suas explicações.

Fui para perto da dupla, que ainda conversava, meio abraçados. Sei que talvez sentimentalismo devesse ficar fora dos muros do quartel, só que eu precisava me despedir e agradecer a Júlio por tudo. Ele foi quem me ajudou a melhorar meu desempenho e alcançar meus colegas, podendo assim me sentir melhor aqui dentro.

– Obrigado por tudo — Eu estiquei a mão para Júlio — Nunca vou esquecer a ajuda que você me deu.

Primeiro ele olhou pra minha mão como se não entendesse o que eu estava fazendo, em seguida esticou a sua também e pegou na minha, dando um aperto forte e caloroso, olhando firme dentro dos meus olhos.

– Não tem do que, soldado. Fico feliz em ter te ajudado.

– Er... Então até mais — fiquei confusa e perdi as palavras com aqueles seus olhos negros me encarando. Soltei sua mão e sai pela sala, voltando para o dormitório e mais uma vez escutando o conselho de Júlio: descansar o máximo possível para a próxima fase do treinamento.