A Missão escrita por StefaniPPaludo


Capítulo 10
Diário




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Meu primeiro dia de volta ao quartel.

Minha primeira missão foi buscar a nova soldado no hospital e levá-la para sua turma. Me surpreendi quando a encontrei ainda dormindo. Estava com um rosto tão angelical, tão delicado, em nada combinando com os moldes do quartel. Me senti meio mal por ela estar aqui, no meio de tanta gente tão diferente dela. Tentei ser delicado acordando-a, para tentar recompensar o fato de estar trazendo de volta para essa realidade que deveria lhe ser tão dura.

No dia anterior eu passei algum tempo pensando em como poderia lhe dar algumas dicas de como se dar bem aqui, sem que ficasse óbvio demais. A solução foi encontrada e eu apliquei a ela antes de chegarmos a sua sala de aula: a alertei que não fizesse nada de errado pois os mais valorizados aqui eram os disciplinados e dedicados e tentei lhe dar um alerta que também queriam os mais obedientes, para que fossem mais facilmente manipulados.

Quando chegamos à sala tive que ter uma conversa nada agradável com Alexandre. Se não me engano ele comentou alguma coisa sobre eu ter trazido uma pirralha para sua turma e como agora havia me rebaixado servindo de babá para escoltar crianças para brincarem de soldados aqui. Consegui me manter calmo, sem dar ouvidos ao que ele disse e depois de Liss estar devidamente apresentada à turma me retirei, sentindo um leve ressentimento de tê-la deixado tão delicada e frágil com alguém tão ardiloso quanto Alexandre. O que me confortou é que ela não estaria sozinha. Teria os colegas para a proteger e entre eles o meu irmão.

Segui de volta para as minhas tarefas após um mês. Supervisionei alguns soldados enquanto treinavam, após isso dei uma checada na área administrativa e na segurança. Todas essas eram as minhas obrigações diárias. Tomar conta para que tudo corresse normalmente sem nenhum problema.

Como tudo estava em perfeita harmonia, antes do almoço dei uma treinada na base. Liberando energia em chutes e socos em um saco-de-pancada.Foi bom colocar a força e agilidade em ação após tanto tempo.

Almocei e fui para minha aula diária aos novatos. Chegando lá encontrei apenas Liss, sozinha. Ela estava pálida, com o rosto abatido, parecendo que iria desmaiar a qualquer momento. Seu rosto era triste e após um instante tentando controlar meu lado solidário e manter a fachada durona acabei perguntando se ela estava bem. A principio ela disse que sim, negando qualquer problema, mas após eu insistir acabou admitindo seus problemas, de uma forma um pouco exaltada que eu acabei ignorando. O primeiro era que estava cansada; isso seria normal devido ao primeiro dia de treino que não estava acostumada. O segundo tinha a ver comigo, que segundo o que ela imaginava, uma hora eu queria matá-la e outra hora queria saber como estava. Não a culpei por imaginar isso, eu tinha que ser agressivo e autoritário com ela. Era a minha obrigação. O problema é que, como naquele instante, eu não conseguia me controlar às vezes e acabava sendo preocupado demais. E o terceiro motivo era que estava com fome. Não compreendi esse motivo muito bem a principio, mas depois percebi tudo: Alexandre havia punido-a deixando-a sem almoço. Era tão a cara dele fazer isso, mas eu não entendia o porquê. Ela nem bem tinha iniciado seu treinamento, qualquer erro ainda seria aceitável e ele deveria relevar. Não consegui me controlar e falei alguns palavrões em tom baixo.

Me lembrei que de manha ela não havia tomado café pois estava no hospital e não sobrou tempo. Logo me lembrei das barrinhas de cereal que carregava em minha mochila. Chamei-a e ela se aproximou meio temerosa, como se estivesse com medo de mim. Não gostei daquilo. Não queria ser visto como um cara insensível capaz de qualquer coisa, mas era assim mesmo que ela me enxergava. Coloquei em sua mão e fiz com ela fechasse a mão escondendo das câmeras o que havia lhe dado. Pedi para que fosse ao banheiro para que lá pudesse comer escondida e depois voltasse.

Enquanto permaneci sozinho na sala fiquei refletindo no que aquilo poderia me custar. Eu havia feito com ela desobedecesse as ordens de seu superior. Eu e ela seriamos castigados se alguém soubesse. Mas eu não podia ter a deixado naquele estado. Sem alimento. Ela não aguentaria por muito mais tempo, estava sem comer desde a noite passada. Era capaz de que desmaiasse na minha ou na próxima aula. E de certa forma se fosse levada para a enfermaria o caso seria do conhecimento de todos e Alexandre seria punido. Mas não era bom que acontecesse aquilo na frente dos colegas dela, iria estragar sua imagem, e Alexandre iria implicar ainda mais com ela por ter sido a responsável por todos terem descoberto que ele a havia deixado sem almoço.

É, eu havia feito a escolha certa. Agora era só torcer para nenhuma câmera ter pegado eu lhe dando alimento e ela comendo. Mas acho que isso não seria possível e mesmo que fosse ninguém fica vigiando as câmeras 24 horas por dia, todos tem mais o que fazer.

Dei a minha aula como sempre, tentando transmitir da melhor maneira possível tudo que eu conhecia sobre como salvar uma vida. Quando a aula acabou, voltei para meus afazeres regulares. Enquanto cuidava tudo no quartel, fiquei remoendo em minha cabeça a conversa com Liss. Parecia que havia mais coisa ali sobre o castigo que o Alexandre lhe dera, do que ela havia me contado.

Decidi descobrir mais sobre isso e achei que a melhor forma de se conseguir as informações que precisava era conversando com alguém que estava presente na hora que a punição foi dada. A pessoa ideal para me contar isso era seu colega e meu irmão, Danilo.

Pedi para que ele aparecesse no meu quarto à noite e foi o que ele fez. Disse para Danilo que havia descoberto que Alexandre tinha aplicado uma punição alimentar em um de seus alunos e ele confirmou tudo. Pedi para me contar a história como tinha acontecido isso e ele me contou detalhe por detalhe, desde o começo. Incluindo os castigos físicos que ele havia mandado Liss fazer e que eram absurdos de se cumprir. Como ela não havia conseguido ele deu essa punição do almoço. Danilo também me contou que ele tentou pegar ela na aula de história, pedindo para que ela contasse sobre como Tazur foi criada, mas ela felizmente sabia muito bem toda história e não deixou chance dele implicar.

Antes de Danilo ir embora, pedi para que ele se aproximasse mais de Liss e ficasse perto dela, a protegendo, pois como não estava muito bem adaptada e era tão diferente dos outros, devia se sentir muito insegura e sozinha. Ele prometeu que faria isso e quis saber qual o meu interesse na menina. Respondi que era o meu dever de justiça, a minha vontade de fazer o bem. E ele acreditou dizendo que eu sempre tive essa vontade de salvar os pobres e oprimidos.

Quando meu irmão foi embora, não pude deixar de sentir raiva de Alexandre. Como ele podia implicar tanto com uma garota tão frágil e pequena que estava no primeiro dia de treinamento?

Será que a resposta era essa mesma? Que ele gostava de implicar com quem não tinha a menor chance de se voltar contra ele? Contra os mais fracos. Se fosse isso mesmo, ele era um verdadeiro covarde e seu lugar não era no exército.


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Notas finais do capítulo

Só eu que amo essas partes do Diário do Júlio?? Se bem que eu sou meio suspeita para falar...



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