Le voisin d'à côté! - O vizinho ao lado escrita por Hamal, Rosenrot


Capítulo 1
Capítulo 1 - Velha infância


Notas iniciais do capítulo

A imagem desse capitulo é de Minha autoria (Amanda)... uma obra prima maravilhosa da arte moderna... por isso se forem copiar e fazer dinheiro com essa lindeza.. por favor me deem parte dos lucros pela criação dessa obra-primaMais uma vez um beijo especial as meninas do Templo das bacantes, que estão em nossos corações ♥ e uniram essas duas birutas em um shipp eterno de amor, nos proporcionando a oportunidade de descobrir esse casal tão diferente e apaixonante *-*



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No Santuário de Atena, na Grécia, logo pela manhã ocorria uma reunião formal no Templo do Grande Mestre. Shion convocara todas as crianças predestinadas a se tornarem cavaleiros de ouro e que já estavam reunidas no Santuário, para lhes apresentar o futuro cavaleiro de Aquário. Ao lado de cada criança havia um tutor, um antigo cavaleiro ou sábio estudioso de determinada constelação, o qual seria o responsável pela educação, cuidados e leitura dos pergaminhos milenares que transmitiam os conhecimentos de cada armadura sagrada!

Diante daquela fileira de homens com crianças ao lado, havia um ruivinho por volta dos oito anos, muito sério e tímido, que permaneceu em silêncio durante todo o discurso do Patriarca. Assim que fora oficialmente apresentado e terminada a reunião, o pequeno saiu de mãos dadas com seu tutor sob os olhares curiosos dos demais aprendizes.

No entanto, havia um garotinho muito bonito, de enormes e brilhantes olhos azuis, que parecia, além de curioso também, muito eufórico!

Enquanto entrava na décima segunda casa de mãos dadas com seu tutor, o menininho olhava para trás todo sorridente, vendo o garotinho ruivo descendo as escadarias. Finalmente teria um vizinho para brincar nas horas vagas!

Afrodite passou aquela noite ansioso. Desde que chegara ao Santuário, ficava a maior parte do tempo sozinho, isolado na ultima casa zodiacal, tendo contato com as outras crianças apenas quando tinham treinamento em conjunto na arena. Ter um vizinho, com quem pudesse brincar e conversar era simplesmente perfeito!

Assim que amanheceu, levantou-se da cama todo afoito. Concluiu as tarefas que seu tutor lhe passou. Estudou os pergaminhos da armadura sagrada de Peixes, teve aulas de grego com o instrutor, já que Saga e Aiolos, que costumavam dar as aulas para as crianças tinham saído em missão. No fim da tarde, desceu as escadarias até Aquário todo serelepe. Queria dar as boas vindas ao novo amiguinho, que agora morava ao lado de sua casa.

Vestindo uma túnica de treinamento e sandálias gregas, o garotinho de cabelos azul piscina até os ombros, chegou em frente ao Templo de Aquário e viu quando o tutor do vizinho entrava em casa. Chamou pelo homem perguntando sobre o pequeno morador da casa. Tinham ordens para que não deixassem seus Templos, mas eram tão novinhos ainda que o tutor de Aquário não viu problema em deixar o pequeno sueco entrar para conhecer o vizinho. Ensinou-lhe o caminho da biblioteca e enquanto Afrodite seguia com passinhos apressados, o homem foi para a cozinha preparar um suco para os garotos.

Quando viu entreaberta a porta que o instrutor de Aquário lhe indicara, Afrodite espalmou a mãozinha na madeira e abriu devagar, vendo o garotinho ruivo lendo um livro grosso e antigo. Se espantou! – “Uau! Deve ter mais de um zilhão de páginas!” – pensou sua imaginação infantil. Então, quando viu que o ruivinho levantou o olhar para si, disse com um sorriso enorme no lindo rosto:

– Olá! Eu sou o seu vizinho da casa de cima. O meu nome é Afrodite! E o seu? Você já leu tudo isso ai? Do que é esse livro que você está lendo? – disse o tagarela com as mãozinhas para trás das costas e esticando os olhos para ler o título do livro, mas quando viu que estava escrito em um idioma que não conhecia desistiu. Olhou apreensivo para os olhos avelãs e aguardou a resposta.

Desde que chegou Camus estranhava tudo. Todas aquelas pessoas estranhas, usando roupas engraçadas, as casas de pedra... Contudo, não reclamava. Na verdade o menininho ruivo pouco falava. Passara quase todo o tempo, desde sua chegada, na enorme biblioteca do Templo de Aquário. O ruivinho ficara simplesmente maravilhado com ela! Adorava ler e aquela biblioteca era tão grande! Tão cheia de livros incríveis! Mal podia esperar para ler a todos.

Estava concentrado naquele livro antigo escrito em uma língua que não conhecia. Contudo, as letras escritas à mão e as ilustrações à pincel eram tão maravilhosas que ele se perdia em admiração! Quando ouviu o barulho da porta se abrindo deu uma olhada rápida e viu um menino da sua idade entrando na sala. De início ficou olhando para ele curioso. O tinha visto na reunião do dia anterior. Os cabelos eram tão azuis quanto seus olhos, era muito bonito e exalava um cheirinho gostoso e agradável. Mas falava sem parar! O problema é que começara há pouco tempo as aulas de grego e não entendia absolutamente nada do que ele dizia. Meio com vergonha e sem saber o que responder, apenas permaneceu calado olhando para ele em silêncio.

– Ei! O gato comeu sua língua? Como é seu nome? – repetiu Afrodite, mas novamente não obteve resposta. Tristinho, deduziu que o menino ruivo não tinha gostado da visita, então o sorriso que trazia no rosto sumiu e diante do silêncio do outro garoto, Afrodite deu dois passinhos para trás e se virou, caminhando lentamente até a porta.

Camus, ainda em silêncio, tentava entender o que ele falava, mas quando o viu ficar tristonho e se afastar lhe dando as costas, saltou da cadeira afoito, correu até o menininho, agarrou em sua túnica e puxou de leve. Quando ele parou e se virou para olhá-lo, o ruivinho soltou o tecido e abaixou os olhos envergonhado. Em seguida, disse com grande dificuldade e um sotaque bem carregado:

– Non… je ne… eu non f-falar grec... – tentou se fazer entender e corado de vergonha, Camus apontou para si mesmo com o dedinho – Camus... je m'appelle Camus. – disse e depois apontou para o outro, torcendo para que ele tivesse entendido.

Logo o sorriso de antes voltou ao rostinho bonito de Afrodite e ele entendeu que o outro não lhe respondia porque não tinha ainda aprendido o idioma. Também pudera, o ruivo tinha acabado de chegar ao Santuário, quando ele já estava ali há meses!

– Ah, entendi! Você ainda não fala grego! O meu mestre disse que você é da França! Lá é legal? Ah... desculpa! Bem, o meu nome é Afrodite! Muito prazer, Camy. – disse, espalmando a mãozinha no próprio peito quando disse seu nome novamente e pronunciando o nome do francesinho como ouvira ele dizer e então estendeu a mão para que Camus a apertasse.

E assim, mesmo com a barreira do idioma entre eles, se deram as mãozinhas e se sentaram lado a lado no divã da biblioteca de Aquário, onde passaram horas foleando livros em silêncio.

Camus mostrou para Afrodite um guia de viagens com fotos de pontos turísticos da França. O pisciano, por sua vez, girava o grande globo terrestre que ficava sobre a escrivaninha, até achar seu país natal. Quando encontrou apontou com o dedinho.

– Aqui! Eu morava aqui, na Suécia! É legal lá! – dizia e Camus olhava, ora para o globo, ora para o novo amigo, sem desmanchar a carinha séria de costume.

Logo o tutor do francesinho entrou na sala novamente. Já tinha ido até lá antes levar suco para os garotos, mas agora teria que dizer ao visitante que já estava em sua hora.

– Com licença! Senhor Afrodite, já está tarde! Deve voltar para seu templo.

– Aaaaaah! Sim senhor! – disse fazendo uma carinha desanimada – Bom, eu vou indo! Até outro dia, Camy!

Sem saber dos hábitos polidos e um tanto quanto frios dos franceses, Afrodite puxou Camus pelos ombros e lhe deu um abraço, rápido e forte. Depois correu até a porta e pegou na mão do tutor de Aquário. Antes de deixar a sala ainda acenou para o novo amigo com um sorriso.

Camus se assustou um pouco com aquele abraço e novamente ficou sem saber como reagir. Quando Afrodite se afastou ele acenou de volta e só quando o menino foi embora o ruivinho se permitiu sorrir.

Assim que o tutor voltou, foi até a biblioteca dizer a Camus que logo o jantar estaria pronto. O pequeno aquariano olhou para ele e disse com certa espontaneidade na voz:

– Il est mon voisin jusqu'à la maison top, non? Le futur chevalier de Poissons... Il a une drôle d'odeur! C'est vraiment délicieux! Mais... eh, bien, je vais revenir à la leçon. Je lisais le livre que vous me demandiez. – (Ele é o meu vizinho da casa de cima, não é? O futuro cavaleiro de Peixes... Ele tem um cheirinho engraçado. Mas é muito gostoso! Bem... eu vou voltar aos estudos! Já li o livro que me pediu.)

O tutor sorriu para ele confirmando todas as perguntas e afirmações. Logo o ruivinho voltou a seus afazeres, porém sem conseguir esquecer aquele menino alegre do cheirinho bom que o visitou mais cedo.

Assim passaram-se os dias e as semanas. Afrodite vinha todos os fins de tarde visitar Camus e o francesinho sempre o esperava ansioso. Devagar ia aprendendo a língua grega e a comunicação entre eles ia melhorando a cada dia. Em uma das visitas, Camus resolveu tirar uma duvida que o corroía há tempos.

– Aphrodite... pourquoi você cheira a... roses? – perguntou para o amiguinho, que estava sentadinho ao seu lado no tapete da biblioteca fazendo um desenho junto com ele. O ruivinho sentia aquele cheirinho bom e se perguntava por que o amigo perfumava a tudo por onde passava.

– Ah, eu não sei! Acho que é porque eu mexo nas rosas. Mas você não pode mexer nelas! Elas têm veneno! – disse Afrodite falando meio sério enquanto olhava para ele – O mestre me disse que só eu posso mexer nelas, porque eu nasci diferente! É como se eu fosse uma delas, então nós temos o mesmo cheiro e elas não fazem mal para mim! – sorriu e entregou o desenho que fazia para Camus – Toma! Eu desenhei você!

Quando Camus olhou para o desenho em suas mãos, começou a rir. Era uma das poucas vezes que Afrodite via o amigo rir com vontade.

– Você desenha très mauvais! – disse o ruivinho ainda rindo enquanto olhava seu retrato no papel, um garoto palito, com um cabeção enorme, cabelos vermelhos com franja espetada para cima, um beição arcado para baixo, sobrancelhas unidas e em formato de V. Realmente era uma carranca feia, porém muito engraçada.

– E você fala grego muito mal! – respondeu Afrodite também rindo e jogando os lápis de cor em Camus, que desviava facilmente – Hoje é domingo! Vamos brincar na arena com os outros garotos?

Camus subitamente parou de rir e ficou pensativo. Não gostava muito de interagir com os outros meninos e nem de brincar com eles, pois alguns tiravam sarro de seu sotaque carregado. Contudo, também não queria dizer não amiguinho e magoá-lo. Dessa forma, apenas fez que sim com a cabeça e começou a guardar os lápis na caixinha.

Os dois então desceram a longa escadaria animadinhos e de mãos dadas, brincando de pular os degraus, porém, ao se aproximarem da arena o francesinho ficou calado e se sentou em um degrau, apenas observando os outros meninos brincarem.

Afrodite percebeu que Camus ficava muito tímido perto dos outros cavaleiros, então apenas abanou as mãozinhas cumprimentando os colegas mais chegados, como Mu, Máscara da Morte, Shura e Milo, que brincavam de pega-pega e se sentou ao lado do ruivinho. Vez ou outra lhe dizia de qual país cada um deles veio, além de outras particularidades, como quem era o mais bagunceiro, quem tinha a fama de ser o mais brigão entre outras fofocas brandas.

Depois de um bom tempo sentados ali, Afrodite percebeu que não adiantava querer fazer o amigo interagir com todos. Era o jeito dele e já era um milagre que aceitasse brincar consigo. Ainda assim, Camus era criança como todos. Por isso o pequeno sueco pegou na mão do amiguinho e o puxou para se levantar:

– Vem, vamos brincar em outro lugar! Aqui está chato! Não gosto de brincadeiras de correr! Vamos brincar na minha casa? Podemos brincar de esconde-esconde!

– Oui! – respondeu Camus simplesmente. Subiram as escadarias chegando em Peixes quase sem fôlego. Descer era sempre mais fácil que subir!

– Está com você! Eu vou me esconder! Só não vale me procurar no jardim, porque você não pode entrar lá! Conte até trinta! Valendo! – disse o pisciano já saindo correndo aos risos.

Enquanto corria, olhou para trás e viu o amigo encostando o rosto em um dos pilares e começando a contagem. Desviou o caminho e, em vez de entrar em sua casa, deu a volta por trás, para se esconder nos fundos do Templo, porém qual não foi sua surpresa ao chegar à parte de trás de sua casa e ver Saga e Aiolos aos beijos! Afrodite ficou estático. Quase nem respirava para não ser visto pelos dois cavaleiros mais velhos! Achou estranho, mas ficou um tempo olhando com certa curiosidade.

Enquanto isso, na entrada do Templo de Peixes, Camus terminava sua contagem.

– 28, 29... 30! J'y vais! - (Lá vou eu!) – falou o pequeno em voz alta saindo à procura do amigo. Não seria difícil achá-lo, pois com seus sentidos aguçados Camus se guiava pelo cheiro. Contudo o roseiral atrapalhava e confundia um pouco.

Simultaneamente, enquanto Camus procurava por Afrodite, Aiolos se afastava de Saga ainda ofegante.

– Saga... aqui não! Alguém pode nos ver!

– Ninguém vem aqui. Todos temem as rosas venenosas! Mas tudo bem. Me encontra em Gêmeos daqui a uma hora?

– Sabe que não devíamos... tudo bem... daqui a uma hora. Agora vai!

Combinaram entre beijos e discretamente se afastaram um do outro e seguiram cada um para um lado, nem sequer imaginando que o pequeno sueco tinha presenciado tudo!

Exatamente nesse instante, Camus se aproximou sorrateiro de Afrodite. Vendo o amiguinho de costas não perdeu tempo.

– Pris! Esta con você! – gritou, mas Afrodite não teve a reação esperada, pois continuava quietinho e estático, olhando pra frente – Aphrodite? C'est bien? – perguntou curioso e um pouco preocupado.

Afrodite virou o rosto para Camus, um pouco assustado, mas de repente começou a rir colocando as mãozinhas sobre a boca, meio envergonhado. Por que afinal o mestre Saga e o mestre Aiolos estavam se beijando? E por que eles se beijavam na boca? Respirou fundo e se recompôs.

– Sim está tudo bem! Ah, você me achou muito rápido! Assim não vale! Achei que aqui na minha casa iria conseguir disfarçar o meu cheiro! Vai, sua vez! Você se esconde e eu te procuro! – disse o sueco encostando a testa em um pilar e começando já a contagem.

Brincaram por longos minutos. Depois ainda lancharam juntos e só a noite cada um voltou para sua casa.

No dia seguinte mais uma semana se iniciava e com ela a mesma rotina se repetia. Os pequenos estudavam o dia todo e apenas no finzinho da tarde lhes sobrava tempo para serem crianças normais.

Embrenhado em seu roseiral, Afrodite podava com maestria suas lindas, porém nocivas rosas. Naquela tarde fora Camus quem subira até Peixes para visitar o amiguinho. Quando o aquariano entrou no Templo, sentiu que o cosmo de Afrodite estava no jardim e rumou para lá instintivamente. Nunca tinha visto tamanha beleza em sua vida! O jardim era esplêndido, com roseiras enormes e majestosas pencas de rosas brancas, negras e vermelhas.

Como fora várias vezes advertido por Afrodite, para que não se aproximasse de seu jardim, Camus ficou parado na porta apenas olhando de longe! Hipnotizado! Tão deslumbrado estava com aquelas flores, não percebeu que andava a passos minúsculos até elas! Era como se uma força de atração o puxasse para perto. Queria tocá-las, senti-las, mesmo que morresse logo em seguida! Estava fascinado, enfeitiçado! Esticou um bracinho e estava prestes a tocar na pétala aveludada de uma rosa negra quando foi desperto do transe por um grito.

– CAMY, NÃO! – a voz de Afrodite soou forte e desesperada e logo sua mãozinha pequena agarrou o braço do francês e o puxou para longe dali! Para dentro do Templo de Peixes – Não pode tocar nelas, Camy! São perigosas! Quer perder seu dedo? As negras são afiadas como lâminas! Machucou?

– Ah... non...

Não sabia se Camus tinha chegado a tocar na flor, pois agira tão rápido que nem se deu conta direito, mas enquanto estava segurando a mão dele perto de seu rosto para procurar alguma ferida, estranhamente se lembrou na cena que vira no dia anterior e que povoou seus pensamentos quase que a noite toda, até enfim conseguir cair em sono profundo. Lembrava-se de Saga e Aiolos se beijando atrás de seu Templo e em sua cabecinha infantil tentava entender porque eles faziam isso. Sabia que os mestres eram muito amigos, sempre andavam juntos e saiam em missão juntos. Seria normal, então, os amigos se beijarem daquele jeito? Não. Talvez só os amigos que se gostavam muito!

Tomado por esses questionamentos, que lhe matutaram na cabeça o dia todo também, Afrodite puxou Camus para mais perto de si, pela mão que já segurava e sem dizer qualquer palavra ou dar qualquer explicação, fechou os olhinhos azuis e deu um selinho estalado e demorado nos lábios do amigo. Agira por puro instinto, mimese e curiosidade!

Assustado, o ruivinho arregalou os olhos depois daquele selinho estalado e olhou confuso para o amigo. Tocou os lábios com os dedinhos e perguntou:

– Pourquoi fez isso?

Camus não entendeu o que significava aquele beijo. Em sua mente infantil e sem malícia, apenas achou o ato estranho, da mesma forma, aliás, que achava esquisito os abraços. Seria outra tradição grega? Ficou ali paradinho olhando o amigo a espera da resposta.

– Porque... não sei! Acho que os amigos fazem isso! Pelo menos foi o que eu vi dois amigos fazendo! – disse Afrodite dando de ombros, meio confuso. Não sabia mesmo explicar porque havia beijado os lábios de Camus. Só quis fazer aquilo porque viu Saga e Aiolia fazendo.

Camus franziu as sobrancelhas e perguntou:

– Fazem? Tem... certitude? É... étrange! – disse o francesinho rindo, pois a ideia de sair por ai beijando os outros lhe parecia bem esquisita. Porém, se era um costume de amigos, não devia ser de todo mal.

– Sim! Tenho certeza! Eu vi! Quer fazer de novo? Agora que você sabe? – perguntou Afrodite todo sorridente.

Camus ficou olhando pro amiguinho por um tempo, maquinando em sua cabecinha o por quê dos amigos se beijarem na boca. Afrodite era seu melhor amigo, então se beijar os lábios do amigo era um maneira de demonstrar amizade, não teve dúvida.

– Oui. – disse e esticou o pescoço fazendo um biquinho, enquanto fechou os olhos e deu outro selinho em Afrodite, que já fazia o mesmo, também de olhos fechados e com o biquinho a postos!

Dessa vez o selinho foi um pouco mais demorado. Ficaram ali com as boquinhas pequenas coladas uma à outra, até que Camus abriu um dos olhos, depois outro. As íris avelãs encontraram as azuis muito claras de Afrodite, que também já fazia o mesmo gesto, para verificar a reação do amigo. Foi quando se afastaram ao mesmo instante e se olhando curiosos e um tanto quando espantados, disseram quase ao mesmo tempo, em uníssono!

– Écaaa! – Camus limpando a boca com as costas da mão e Afrodite rindo, fazendo uma carinha de nojo. Logo o francês começou a rir junto com o amigo e ficaram ainda por um tempo às gargalhadas.

Assim, a amizade de Camus e Afrodite seguia regada a risos, brincadeiras e muito companheirismo. Deixaram os beijos de lado e continuaram apenas com as brincadeiras de crianças. Como habitavam as duas ultimas casas do Santuário, quase nunca os outros meninos vinham visitá-los, já que não era nada fácil subir aquelas enormes escadarias. Afrodite esperou muito para ter um vizinho com quem pudesse brincar, já que ficara meses isolado entre o Templo do Patriarca e a casa vazia de baixo. Quando Camus chegou foi como um raio de sol, que estampou instantaneamente um sorriso no rostinho do sueco.

Já Camus, muito tímido, agradecia por Afrodite ser extrovertido e alegre, pois se não fosse ele ter vindo até si, provavelmente nunca teriam se tornado amigos, já que era assim com os outros garotos, que o achavam chato e sério demais! Não que o ruivo não se desse bem com os outros. Com o passar dos anos, Camus se tornou colega de todos, porém não conseguia ter com eles a liberdade e afinidade que só sentia com o futuro cavaleiro de Peixes. Eram quase inseparáveis, onde um estava logo o outro aparecia.

O tempo passou, as crianças cresceram e agora eram jovens fortes e determinados! Com quinze anos, já eram extremamente poderosos! Afrodite se tornara um cavaleiro letal e temível! Mestre na arte de manipular suas rosas assassinas! Camus já dava indícios de que seria o maior mago do gelo a usar a armadura sagrada de Aquário! Contudo, mesmo já sendo muito poderosos, ainda não estavam prontos. Principalmente Camus! A ele faltava o treinamento derradeiro, sua prova mais difícil! Por muito tempo o ruivo adiou sua partida, mas não podia mais esperar. Precisava se refugiar na Sibéria com seu tutor, pois somente no frio extremo de lá seu cosmo despertaria por completo.

Não havia contado isso ao melhor amigo, pois queria lhe poupar o sofrimento. Sabia que Afrodite era apegado demais a si e que os outros jovens o evitavam, já que temiam o veneno que ele exalava em seu cosmo. Porém não podia mais esperar! Na manhã seguinte o helicóptero o pegaria e o levaria embora. Essa noite, então, seria a última que passaria ao lado do vizinho, antes de um longo período de ausência. Estava triste, melancólico, mas não era uma escolha e sim uma necessidade! Somente fortalecendo seu cosmo no frio intenso da Sibéria a armadura finalmente o aceitaria. Resignado, parou alguns metros antes do jardim magnífico da casa de Peixes e chamou:

– Afrodite! Está ai?

– Oi, Camus! – respondeu o pisciano saindo de trás de uma roseira grande e florida. Usava um avental de jardineiro por cima da roupa e terminava de podar uns últimos galhos – Já estou indo ai! – guardou a tesoura de jardinagem no bolso do avental, limpou as mãos do tecido grosso e foi até o amigo com um sorriso – E ai? O que manda? Já jantou? Vou fazer pizza! A massa está quase pronta! Quer jantar aqui?

– Non jantei non. Pizza me parece ótimo! Eu preparo o suco! – Camus deu um dos seus raros sorrisos aceitando o convite. O sotaque carregado não o abandonou mesmo após anos morando longe da França.

Quanto a seu intento, ainda não havia encontrado uma maneira de dizer ao amigo que teria que partir. Por isso, achou melhor ir com calma.

Na cozinha, enquanto o sueco preparava a pizza Camus fazia um suco de laranja. O esfriou usando seu cosmo, apenas para fazer graça. Assim que a pizza foi ao forno se sentaram lado a lado bebendo o suco e conversando amenidades, até que ela ficasse pronta. Foi em um momento de silêncio, enquanto comiam, que o ruivo viu sua chance.

– Afrodite... eu... bem, eu preciso te contar uma coisa... – disse olhando para seu copo. Era muito difícil dar a notícia, portanto prosseguiu com voz triste e baixa – Eu... estou indo embora.

Quando ouviu aquilo, Afrodite baixou a cabeça e pousou o garfo na borda do prato. Engoliu o pedaço de pizza que tinha na boca, o qual desceu cortando sua garganta e de olhos baixos, fixos ao prato quase vazio disse em tom baixo:

– Eu sei, Camus. Eu... bem, meu mestre me disse que os cavaleiros do gelo devem viver um período em uma zona do planeta onde o frio é extremo, para fortalecerem seu cosmo. Só não sabia quando você ia. – levantou o olhos encontrando os olhos avelãs angustiados de Camus. Pegou o copo de suco e deu um gole. Novamente desceu rasgando sua garganta – Quando você vai? Daqui uma semana? Um mês?

– Amanhã. – respondeu o francês olhando para ele.

– Amanhã? Já? – agora sim Afrodite ficou surpreso. Achava que teria mais tempo para se despedir do amigo.

Iria sentir muita falta dele. Praticamente cresceram juntos. Dividiam sonhos, medos, duvidas, confidências... Estava tão acostumado com o vizinho de baixo que só de pensar na casa vazia novamente seu peito ficava apertadinho. Camus era seu melhor amigo. Via os outros meninos raramente, mas mesmo quando estavam juntos, eles o evitavam, por causa do cosmo venenoso. Seria um período bem difícil, onde ficaria em total isolamento. Porém entendia que a vida dos cavaleiros era cheia de provas, privações e separações. Por isso olhou para Camus e deu um sorriso melancólico, tentando disfarçar a tristeza que sentia.

– Vou sentir sua falta! Ninguém sobe até aqui para me visitar! Mas também... eu não faço questão. – disse o sueco tomando outro gole de suco, depois colocou o copo sobre a mesa e desmanchou o sorriso, voltando a ficar sério e tristonho. Então, olhou novamente para Camus e fez uma pergunta simples – Camus... posso escrever para você? Será que posso te mandar cartas?

O ruivo não se surpreendeu pelo amigo saber da viagem. Afrodite sempre fora muito esperto. Em silêncio pegou uma caneta e anotou no guardanapo um endereço, na verdade uma caixa postal e entregou a Afrodite.

– Eu também vou sentir sua falta. – falou olhando o amigo nos olhos.

Camus era sempre muito contido, porém estava sofrendo muito com aquela despedida. Assim, resolveu acabar logo com ela, antes que acabasse chorando! O que seria motivo para que Afrodite o sacaneasse eternamente! Sendo assim, de modo contido e inseguro, se aproximou do sueco e lhe deu um abraço forte e apertado.

– Non será pra sempre, non? Logo estarei de volta! Somos vizinhos! Cuida do meu templo pra mim? – falava com a voz quase embargada, porém disfarçando e se segurando como dava – Vou tentar treinar o mais rápido que puder. Você vai ver! E quando voltar, estarei vestindo a armadura sagrada de Aquário... e... quero vê-lo vestido com a de Peixes! – terminou de dizer ainda abraçado a ele. Respirava fundo, pois queria guardar na memória o cheiro de rosas que o amigo exalava. Não tinha medo dele, pois sabia que o sueco jamais o iria ferir e, mesmo que suas toxinas o atingissem, simplesmente as congelaria nos vasos sanguíneos. Sendo assim, afundava sem medo o nariz nos cabelos dele, aspirando seu perfume natural. Seriam anos sem sentir aquele cheirinho tão gostoso de novo!

Afrodite, por sua vez, apertava o amigo contra seu corpo como se assim pudesse impedi-lo de partir. Aproveitou aquele abraço por longos minutos, sem soltar Camus, como se com ele pudesse dizer o que com palavras não conseguiria, já que sua garganta estava apertada, quase o sufocando. Não iria chorar! Eram cavaleiros, homens e sabiam de seus deveres e obrigações. Segurou o quanto pode e quando percebeu que não iria aguentar, se afastou dele, lhe dando as costas e indo em direção à pia, onde disfarçadamente enxugou uma lágrima.

– Bem! Eu espero estar vestindo a armadura de Peixes sim! – disse dando uma risadinha enquanto colocava os pratos na pia – Ainda tenho que treinar na Groelândia por um período! Aumentar meu cosmo e manipular venenos mais potentes! Mas tenho certeza de que serei o cavaleiro de Peixes! E continuaremos sendo vizinhos! – sorriu, agora olhando para ele já mais recuperado.

Camus ainda ficou por um bom tempo no Templo de Peixes e jogaram conversa fora até tarde da noite. O francês então voltou para sua casa e terminou de arrumar as malas, com as poucas coisas que levaria na mudança. Seu voo sairia logo pela manhã.

Na casa de Peixes, Afrodite mal dormira. Passou o resto da noite no jardim, concentrando seu cosmo para tentar criar uma rosa sem veneno para dar de presente ao francês. Desde que se tornaram amigos, Camus sempre admirara e falara de seu jardim e de suas rosas! Sempre falava, com brilho nos olhos, da beleza delas e de como as pétalas pareciam feitas de veludo! Sempre tivera vontade de tocá-las, porém Afrodite nunca o permitiu. Não queria que o amigo fosse envenenado, ou tivesse um dedo decepado.

Pensando nisso, o sueco fez de tudo para criar uma rosa tão linda quanto as letais, porém que não oferecesse perigo algum, só para dar a Camus o prazer de tocar em uma! Depois de centenas de tentativas, conseguiu enfim criar uma rosa vermelha lindíssima, quase sem veneno. Estava exausto! Por isso acabou adormecendo ali mesmo, no roseiral mortífero da casa de Peixes, com a rosa de Camus na mão.

Despertou quando um raio de sol tocou seu rosto. Já ia virando para o lado quando se lembrou da partida do amigo.

– Camus! – disse de supetão e então deu um pulo do chão num sobressalto. Atravessou a casa como um raio e correu escadaria a baixo chamando pelo amigo – Camus! Camus! Camus!

Não o encontrando ali, seu coração disparou! Passou a noite toda tentando fazer a rosa para ele e não ia conseguir entregá-la? Não! Se tivesse sorte ele ainda estaria no heliporto e foi justamente para lá que Afrodite correu!

Quando avistou o lugar, o helicóptero que levaria Camus ao aeroporto já começava a girar as hélices bem devagar. Mesmo assim, Afrodite infringiu as regras e correu até ele, gritando enquanto se aproximava abaixado.

– Camus! Camus! Eu fiz! Consegui fazer uma sem veneno! – dizia praticamente gritando, devido ao barulho ensurdecedor que o motor e a hélice da aeronave produziam. Todo sorridente, ergueu a rosa que trazia consigo na mão para que o amigo pudesse vê-la.

De dentro da cabine, Camus não esperava ver Afrodite outra vez, logo não conseguiu disfarçar o sorriso quando o viu todo descabelado correndo na direção do helicóptero. Ficou surpreso ao olhar a rosa nas mãos dele.

Do lado de fora, com a mão espalmada na lateral da aeronave, Afrodite olhou para Camus com um sorriso enorme no belo rosto.

– Eu fiz uma para você! Para você saber como é tocar nelas! Abre aqui, mestre! Entregue para ele, por favor! Essa não tem veneno! – pediu para o tutor de Camus que estava do lado da janela.

O homem, que acompanhou de perto o crescimento e a amizade sólida daqueles dois, não deixou por menos, abriu a janelinha de vidro e pegou a rosa com cuidado, para não se ferir com os espinhos. Recolheu a mão para dentro da cabine e entregou a flor a Camus, que finalmente pode saber como era tocá-las, segurando, encantado, a rosa entre seus dedos.

Do lado de fora, Afrodite olhava para ele num misto de alegria, por ter conseguido lhe entregar a rosa a tempo e tristeza, por ver seu único e adorado amigo indo embora.

– Menino! Se afaste! O helicóptero vai levantar voo! – pediu um funcionário do hangar.

Sem tirar os olhos de Camus, Afrodite foi dando pequenos passos para trás, esboçando um sorriso triste enquanto acenava para ele.

Quando o helicóptero partiu o ruivo ficou olhando por um tempo ainda na direção do amigo, até que, o perdendo de vista, voltou sua atenção à lindíssima rosa em suas mãos. Tocava as pétalas com cuidado, confirmando suas suspeitas de anos. Eram realmente macias e aveludadas! Apertou delicadamente a flor junto ao peito, se encostando na lateral da aeronave. Sem seu amigo os dias na Sibéria seriam ainda mais gelados e tristes.


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Notas finais do capítulo

Weee fic quentinha saindo do forno... SIM o casal é esse... Afrodite e Camus, esse shipp surgiu no rpg/ fic Templo das bacantes (olha o spoiller uahha) e desde então nós duas não conseguimos mais parar de shippar, pois as possibilidades de romance entre eles são muitas, as vezes o diferente pode ser ótimo meninas... sem reconceitos ein? adoro um Poison ice... MASSS vamos fazer vocês de apaixonarem por um Frozen Rose ;) (nome que a nossa amiga Casty deu para esse shop haha), lembrando que a fic ainda tem mais 2 capitulos que logo serão postados. beijinhos



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