Sempre escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 1
Sempre - Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

O lado bom de ter ficado sem internet foi que eu pude escrever mais, muito mais do que o costume. Já tinha feito uma da Belatriz, então por que não escrever sobre meu personagem preferido de Harry Potter?



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Aquela deveria ser apenas mais uma noite comum no vilarejo de Godric’s Hollow.

Os passos trêmulos, hesitantes — mas também ansiosos e desesperados — iam devagar até o corpo ali caído. O bebê de pé no berço chorava copiosamente. Talvez soubesse o que estava acontecendo, talvez não; a cicatriz no meio da testa com certeza deveria estar doendo. O homem olhou de relance para a criança órfã. As orbes negras fuzilaram, num segundo, o menino que sobreviveu, mas, imediatamente, desviou o olhar. Não era culpa de Harry Potter, afinal. Pelo menos não tão grande quanto à dele.

Rendido ao horror, Severo Snape caiu de joelhos. À frente, morta no chão, Lilian Potter.

O rosto do homem, rígido, paralisado. As mãos quiseram abraçar o corpo de Lilian e, ao mesmo tempo, não. Pensou que não era digno de tal, não depois de tê-la traído, de tê-la condenado à morte certa.

Jamais deveria ter revelado os versos daquela maldita profecia a Lorde Voldemort. Snape sabia agora, pois pagara o pior e mais alto preço.

E o bebê, Harry Potter, chorava...

Snape, mergulhado na amargura, no absoluto terror, nos mais tenebrosos e profundos temores, mordeu o lábio inferior com força. Ele queria sentir aquela dor, a física, pois tinha plena convicção que esta seria muito mais atrativa que a ferida psicossentimental jazida dentro dele.

Nunca fora uma pessoa amorosa, nunca havia demonstrado afeto por outros. Compaixão, alegria extravagante ou até mesmo vontade de sorrir, para ele, nada significavam além de luxo, um luxo pomposo e descartável. Porém, mesmo em suas mais sérias convicções, Severo sempre se via desmontado ante ao sorriso radiante de Lilian Evans, sua única amiga, seu único amor.

Lutou contra a própria hesitação e tomou o corpo dela nos braços, apertando-o contra o seu. Obviamente, ela não se movia. Ao mais, estava gelada, fraca, mole...

Morta.

E Severo sentiu as próprias emoções fluírem como uma torrente para fora de si, emergirem dele como um vulcão recém-despertado. Ele gritou angustiado e chorou, chorou como nunca havia chorado na vida. Os olhos ardiam, queimavam, mas ele sequer se importou. Era Lilian tudo para ele, e ele a havia perdido. Perdido Lilian Evans, perdido a si mesmo.

O menino no berço, que ainda chorava, foi contemplado por Snape mais uma vez. O rosto da criança, tão idêntico ao do pai, Tiago Potter. Severo semicerrou os olhos, desejando com todo seu ser que fosse ele, Harry Potter, a maldita cópia de Tiago, a outra vítima da noite, não Lilian. Qualquer um, menos Lilian. Um sentimento amoroso-rancoroso atrelado à dor da perda e ao egoísmo, Snape sabia. Mas naquele instante, com a mulher morta em seus braços, o bruxo não pensou em outra coisa.

— Você... — Snape, ainda abraçado a Lilian, sussurrou para o bebê. — Você é fruto da minha perda... Harry Potter.

O pequeno Harry, aos poucos, parou de chorar, e olhou para o bruxo à frente.

— Você, foi por sua causa — condenou Snape. — Por sua causa... Você é igual a ele, igual ao seu maldito pai! Deveria ter morrido hoje também, Harry Potter! Você... Você...

Foi então que Severo prestou atenção ao esverdeado nas íris do bebê. Não havia nada de Tiago Potter ali, mas sim de Lilian. Os olhos de Lilian. Pasmo, o rosto de Snape embranqueceu. Ele sentiu uma mistura estranha de desgosto e alívio. Não era Lilian, mas era um resquício dela, uma prova de que ela um dia fora real, que um dia estivera viva. E mais, aqueles pequenos olhos verdes que o fitavam perdidamente, representavam uma parte de Lilian que havia sobrepujado a Maldição da Morte. A Avada Kedavra não foi capaz de fechar aqueles olhos definitivamente, Voldemort não foi capaz de fazê-lo, e Harry Potter sobrevivera, uma parte de Lilian sobrevivera; e isso acalentou um pouco, mesmo que de forma superficial, o atribulado coração de Severo Snape.

E Lilian também estaria viva dentro de Severo. Sempre.

Um ruído alto de motocicleta despertou Snape de seus pensamentos. Alguém estava vindo, provavelmente um encarregado a mando de Dumbledore para resgatar o menino Harry, pensou Snape. O bruxo, então, deitou cuidadosamente o corpo de Lilian sobre o chão e, por uma última vez, alisou-a no rosto, despedindo-se. Depois, fitou o menino que sobreviveu, Harry Potter, novamente e, após suspirar profundamente, disse:

— Tenho a impressão de que o verei outra vez, Potter. Cuide-se até lá.

O corpo de Severo mesclou-se a escuridão sufocante, aparatando dali segundos antes de Rúbeo Hagrid abrir a porta com brusquidão.


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Notas finais do capítulo

Thats all Folks!

Até mais o/