Um mês de desespero escrita por Leon Yorunaki


Capítulo 5
IV: Foresight


Notas iniciais do capítulo

A jornada de um treinador não é fácil como parece ser. Himiko, por exemplo, agora tem que carregar o peso de uma culpa. Como ela irá lidar com isso?



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Um bom tempo havia se passado desde a chegada de Himiko a Petalburg, mas o desespero ainda transparecia em seu rosto. A situação do Sentret que ela havia capturado ainda era delicada, mas o que pesava mesmo em sua cabeça era a morte do Zigzagoon.

Não haviam passado mais do que algumas horas juntos, mas era como se a garota e o Pokémon já tivessem formado um vínculo. O momento em que Himiko atirara a pokébola no Zigzagoon mais cedo se misturava em sua mente com a visão dele se contorcendo no chão após ser atingido pelo relâmpago. E isso só ocorrera porque ele havia tentado protegê-la do Sentret que a atacara.

Aquele era apenas o primeiro dia de jornada, e já havia culminado em uma tragédia.

E se eu tivesse ignorado aquele Sentret doente?

A garota não conseguia deixar de pensar nas possibilidades. Havia trocado uma vida ao tentar salvar outra. Será que valera o preço?

E se tivesse sido o Futa?

O rosto de Himiko começou a se encher de lágrimas. Ela não conseguiu pensar em mais nada. Havia perdido a noção de quanto tempo estava ali quando a enfermeira a cutucou no ombro.

— Não quer ir para o quarto? — perguntou ela. — Você deve estar desconfortável aí.

Por quarto, ela se referia a um cômodo em anexo ao centro Pokémon, aonde se encontravam alguns beliches e um banheiro comunitário. Era um local dedicado aos treinadores em viagem, que podiam descansar e tomar um banho enquanto os Pokémon estavam sendo tratados. Um privilégio dos treinadores certificados, assim como o tratamento subsidiado para os Pokémon. Himiko fez uma nota mental para agradecer mais uma vez ao Prof. Birch, enquanto olhava para o relógio na parede ao lado e percebia que havia passado quase uma hora chorando em uma cadeira bastante desconfortável.

— Como ele está? — Himiko perguntou, em relação ao Sentret. Futa e os outros dois estavam bem apesar do susto, e já descansavam em suas pokébolas.

— O estado dele se estabilizou ainda a pouco. — a enfermeira respondeu, em um tom não muito animador. — Ele não corre mais risco de morte, mas ainda não conseguimos avaliar a extensão dos danos. Ele vai passar a noite sob observação, e talvez tenhamos uma resposta mais conclusiva pela manhã.

Himiko não conseguiu se alegrar muito com o diagnóstico dado. Em condições normais, não era necessário mais do que cinco ou dez minutos para reanimar um Pokémon, por mais que ele estivesse bastante machucado. O fato de não conseguirem nem mesmo identificar o problema em mais de uma hora era sinal de algo muito mais sério.

— Vamos, descanse. Está tudo sob controle. — a enfermeira insistiu. — Vai lhe fazer bem.

Himiko olhou para a enfermeira, e percebeu que ela estava quase tão abatida quanto a garota. Acabou decidindo por tentar descansar um pouco. O dia seguinte prometia ser longo.

— — —

Himiko se viu acordada em uma sala escura e vazia, amarrada a uma pesada cadeira. Notou imediatamente as paredes pintadas em um tom de vermelho vivo, com detalhes negros que, para ela, pareciam sombras dançando de forma macabra. Uma mesa de mármore preto se encontrava em sua direção. Havia uma pequena pilha de papéis sobre ela, sob um aparador dourado em formato de uma Arbok.

Ela não conseguia vislumbrar se havia alguma porta no recinto, mas instantes depois, uma das paredes começou a se mover, revelando uma porta secreta por onde entrava alguém.

Himiko reconheceu o garoto de cabelos avermelhados que entrara. Era por causa dele que ela estava naquela situação. O jovem fez questão de ignorá-la até o momento em que ele se sentou à mesa, quando a analisou friamente antes de pronunciar a palavra pela primeira vez à garota.

— Parece que a curiosidade matou o Meowth, não?

Himiko não respondeu. Algo lhe dizia que não era o momento.

— O que veio fazer aqui em baixo? — perguntou ele.

A garota olhou fixamente para o rapaz a sua frente. Não havia nenhum sinal do sorriso desdenhoso que ele costumava apresentar quando adentrava a loja de souvenires. Aliás, nem parecia a mesma pessoa.

— Eu trabalho aqui. — Himiko não estava em posição de responder agressivamente como fez. Fora o impulso.

— Mentira! — O garoto pegou a estátua de Arbok, levantando-se. — Agora, fale a verdade, ou irei lhe acertar com isso aqui!

Himiko estranhou a súbita reação do jovem. Principalmente por não ser uma mentira completa. Talvez fosse uma chance de se safar.

— Eu fico na loja aqui em cima, Kamon! Não tenho culpa se você não presta atenção!

O rapaz deu um pulo para trás com a menção de seu nome. Himiko demonstrava um misto de raiva e mordacidade. Talvez até um pouco de alívio, ao notar um broche negro com a letra R na roupa de Kamon.

— E o que veio fazer aqui embaixo? — perguntou ele.

— Eu quero ser útil. Fazer trabalho de campo. — blefou a garota, enquanto tentava se lembrar de algum trecho de conversa que ouvira na loja. — Acho que posso contribuir em algo na pesquisa.

— E porque eu deveria acreditar em você? — Kamon parecia relutante.

— E porque não deveria? Se eu não quisesse ajudar os Rockets, não teria vindo até aqui.

Nenhum dos dois parecia acreditar no que estava acontecendo. Himiko sorriu, ainda sem crer que o plano maluco que tivera parecia dar certo. Kamon estava em choque pelo quanto a garota parecia saber.

Ele decidiu dar uma chance a ela. Puxou uma navalha de seu bolso e cortou as amarras que prendiam Himiko.

— Muito obrigada. — disse ela, estendendo a mão. — Podemos conversar com calma agora?

Kamon apertou a mão de Himiko, e nesse momento a escuridão tomou conta do ambiente. Himiko sentiu que era puxada pela nuca e, quando se deu conta, estava flutuando por entre um grupo de árvores, até que parou suavemente sobre um galho largo, a uns quinze metros do chão. Logo abaixo, duas pessoas passavam correndo. Aparentemente, uma jovem de longos e escuros cabelos estava fugindo de um rapaz encapuzado. Himiko teve uma visão privilegiada do momento em que a jovem tropeçou em uma raiz de árvore e foi alcançada por ele.

— Não pense que pode fugir de mim, Roxy.

A jovem tentou chutar o rapaz, mas ele conseguiu evitar o golpe segurando a perna dela.

— O jogo acabou. A partir de amanhã, sou eu quem vai assumir as coisas por aqui.

— Seu cretino!

O rapaz encapuzado puxou uma adaga de suas vestes.

— Butterfree, pó do sono! — disse ele.

Himiko apagou instantes depois da jovem que estava caída metros abaixo.

— — —

O sol batia pela janela na direção do rosto de Himiko. Ela definitivamente não havia descansado bem aquela noite. Também pudera, fora assombrada por um pesadelo.

Himiko conseguiu se lembrar de dois momentos distintos. O primeiro era mais uma lembrança do que um pesadelo em si. Ela havia sido de fato aprisionada na mesma sala em que havia sonhado, havia alguns dias, ainda em Mahogany. Ela viria a descobrir, momentos depois, que o rapaz com quem ela conversara não era Kamon, mas sim Peter; ele era um dos administradores da base secreta dos Rockets, e conhecido mais pelos disfarces e planos sujos do que pela capacidade de batalhar. Fora o motivo pelo qual o plano maluco de Himiko havia dado certo, em primeiro lugar.

O segundo momento do sonho, porém, era mais complicado de se interpretar. Himiko nunca havia visto nenhuma das duas pessoas antes. Nem mesmo reconhecera o local onde o sonho se passara. Por outro lado, o sonho havia sido tão vívido que ela ainda ouvia os gritos daquela jovem ecoando por sua cabeça.

Himiko tentou pensar em outra coisa, em uma tentativa de tentar apagar da mente o pesadelo que tivera. Não seria necessário muito esforço, dado o que ainda viria a acontecer.

Ela se dirigiu ao Centro Pokémon, após notar que haviam apenas dois treinadores dividindo as acomodações com Himiko, e que ambos ainda dormiam. A enfermeira que havia falado com ela na noite anterior estava saindo pela porta do centro, indo para casa depois do que provavelmente havia sido um plantão cansativo. A garota foi até a recepção, atrás de informações a respeito do Sentret, e, encontrando uma enfermeira no corredor, descobriu que ele ainda estava internado e sem melhora aparente.

— Não conseguimos descobrir o que há de errado com ele. — dizia ela, enquanto analisava um laudo. — Ele está consciente e os sinais vitais estão todos estáveis, mas não responde a nenhum estímulo motor.

— Ele vai ficar bom? — perguntou Himiko, com a voz levemente esganiçada devido à preocupação.

— Não posso dizer antes de analisar com calma. — disse ela. — Estou justamente a caminho da UTI para ver se houve alguma melhora.

Himiko afastou-se, notando a pressa da enfermeira. O quadro parecia bem mais grave do que ela poderia imaginar. Ela conteve o impulso inicial de segui-la (a UTI era de acesso restrito aos funcionários) e decidiu por tomar um café, antes de sair pela cidade.

Foi enquanto comia que teve a ideia de entrar em contato com o professor Birch. Os acontecimentos daquela noite não eram da alçada dele, mas pelo menos a garota poderia ouvir uma voz confortadora.

— Bom dia, Birch falando. — sua aparência no videofone era a de quem já estava ocupado com alguma coisa. Himiko ficou aliviada em saber que não o havia acordado.

— Bom dia, professor!

— Oh, bom saber que está bem, Himiko! — ele parecia animado. — Pelo visto já conseguiu chegar a Petalburg. Como foi a viagem?

— Um pouco turbulenta, peguei uma tempestade ontem no caminho…

Himiko então contou o que acontecera naquela noite. O professor parecera bastante impressionado com o relato.

— Um acontecimento incomum com seu Zigzagoon, eu diria. — ele dizia, demonstrando preocupação. — Eles costumam ser resistentes a eletricidade, mas não é a primeira vez que algo assim ocorre.

— Entendo. — Himiko ficou um pouco decepcionada, mas sabia que não havia nada a ser feito.

— Por outro lado, foi sua descrição do Sentret que me deixou intrigado. Vou procurar alguma coisa a respeito, em todos esses anos de pesquisa é a primeira vez que ouço falar de algo assim.

— Talvez alguém daqui do centro Pokémon possa lhe informar melhor. — Himiko pontuou, no mesmo momento em que uma outra enfermeira cutucava seu ombro.

— Você é Himiko, não? — perguntava ela. — Tem um rapaz querendo falar com você na recepção.

A garota ficou sem reação, mas decidiu ir.

— Passe a linha para ela, Himiko. — Birch pediu, antes que ela se despedisse.

— Tudo bem, professor. Mando notícias mais tarde. — disse ela, dando lugar à enfermeira enquanto ia, curiosa, até a recepção. Quem poderia saber que estou aqui?

Himiko não reconheceu a pessoa que a aguardava. Era um jovem rapaz, que segurava uma sacola de viagem. Usava uma camiseta branca com estampa de um pássaro (ela descobriria se tratar de um Pokémon chamado Pelipper), e seu crachá o identificava como um entregador.

— Bom dia, você é Himiko M. Senri? — perguntou ele, enquanto a garota assentiu. — Tenho uma encomenda com o seu nome aqui. — Ele a entregou uma pequena caixa que tirou da sacola, que parecia leve para o seu tamanho. — Preciso que me mostre um documento para comprovar…

Himiko parou de ouvir quando viu o nome no pacote, quase deixando-o cair.

O remetente era Norman Meanders.


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Notas finais do capítulo

Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Algumas respostas vão aparecendo, mas outras perguntas vem surgindo.
Se quer saber as respostas, é só continuar acompanhando. E se quiser especular, a seção de comentários está aí pra isso!

Notas do in-game: Nenhuma. Nem todo capítulo precisa de avanço no jogo, né?



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